Thor passou a mão pelo pescoço, nervoso tentando aliviar a tensão. Como se a tensão o estivesse sufocando, mas ela só aumentava. As lembranças vinham em ondas: o corpo de Celina se afastando, o olhar dela cravado no dele, a dor estampada no rosto dela, a forma como ela ficou ao vê-lo ali, no quarto, com a aeromoça. A reação dela… aquilo o atingiu em cheio. Aquilo mexia com ele mais do que estava disposto a admitir.Voltou a fitar o espelho, agora com um semblante endurecido, forjando a armadura que conhecia tão bem. Concluiu o que já tentava repetir como um mantra.— Foi melhor assim… — disse o olhar mais sombrio agora, em voz baixa, como se precisasse acreditar na própria mentira. — Agora ela não vai nutrir nenhum sentimento por mim. Vai me odiar. E é isso que eu quero… é isso que eu preciso. Ele fechou os olhos, engolindo em seco.— Nunca mais vou me prender a mulher nenhuma. Nunca mais vou dar a alguém o poder de me destruir.A frase ecoou no banheiro silencioso como uma promessa.
Do lado de fora do banheiro, Thor continuava sentado na poltrona, tentando focar no notebook. Mas não conseguia.As palavras de Celina ecoavam em sua mente. A firmeza com que ela o enfrentara. O olhar machucado. E agora, o silêncio... um silêncio pesado, preenchido apenas pelo leve som abafado de choro que escapava pelas frestas da porta.Ele apertou os punhos sobre os braços da poltrona, lutando consigo mesmo. Não queria sentir. Não queria se importar. Mas algo dentro dele o corroía por dentro, como uma lâmina fria arranhando a consciência.Thor se levantou e caminhou até a porta do banheiro. Encostou-se à madeira, fechando os olhos, respirando fundo. Ele ouvia os soluços abafados de Celina.Por um momento, sua mão subiu, como se fosse bater na porta… mas ele recuou.— Não se envolva. Não de novo — sussurrou para si mesmo, voltando lentamente para a poltrona.Celina, lá dentro, permanecia sentada no chão, os braços cruzados sobre os joelhos e o rosto enterrado neles. Sua maquiagem ha
O Rolls-Royce disponibilizado pelo próprio hotel parou em frente à entrada imponente do Jumeirah Burj Al Arab, um dos mais luxuosos hotéis do mundo, com sua arquitetura icônica em forma de vela reluzindo sob as luzes noturnas de Dubai.Celina saiu do carro com postura impecável, profissional, mesmo com os nervos latejando sob a pele. Estava decidida a manter o máximo de profissionalismo possível — ainda que estivesse prestes a passar alguns dias sob o mesmo teto que Thor Miller.Thor caminhava ao lado dela com a elegância e o silêncio que o tornavam ainda mais intimidador. Seu olhar permanecia fixo à frente, com uma expressão impenetrável, como se ignorasse por completo a presença da mulher que dividia com ele a viagem.Ao adentrar o saguão, os dois foram recebidos por uma recepcionista com um sorriso contido e olhos atentos. Sem demora, ela encaminhou-se a um terminal para verificar os dados da reserva.— Bom dia. Sejam bem-vindos ao Burj Al Arab. Poderiam me passar o nome da reserva
Capítulo 30 - COMO VAI SER FICAR AQUI SOZINHA COM ELE?A porta da suíte se abriu com um leve clique e, imediatamente, o concierge entrou com as malas. O ambiente era amplo, moderno, e as janelas de vidro do chão ao teto ofereciam uma vista hipnotizante para o Golfo Pérsico, onde o sol da manhã cintilava sobre as águas calmas como uma miragem dourada.“Malas entregues, senhor,” disse o concierge, com um leve sorriso profissional, já se dirigindo para a saída.Thor tirou uma nota generosa da carteira e a entregou ao rapaz, que agradeceu discretamente com um leve aceno de cabeça antes de desaparecer pelo corredor silencioso.Celina entrou logo atrás e parou no centro do quarto. Seus olhos foram imediatamente atraídos pela paisagem além do vidro — uma imensidão azul, serena e silenciosa que parecia não ter fim. Por um momento, ela se perdeu ali. Uma sensação estranha a invadiu, como se aquela vista simbolizasse o abismo que agora existia entre ela e tudo que acreditava sobre sua vida. E,
Atravessando o imponente saguão do restaurante reservado no Jumeirah Burj Al Arab, Celina caminhava ao lado de Thor com a elegância de quem sabia que todos os olhares estavam sobre ela. E estavam. Cada passo, cada movimento suave, cada balanço sutil dos cabelos castanhos perfeitamente escovados deixava um rastro de silêncio admirado e pescoços se virando discretamente.Thor Miller, à frente, percebia os olhares masculinos que se voltavam para ela. A percepção era incômoda, como uma irritação constante debaixo da pele. Aquilo o contrariava, embora ele mesmo não compreendesse por quê. Sua expressão mantinha-se fria, os olhos como gelo, e o maxilar contraído denunciava a tensão.Ao entrarem no espaço reservado, uma mesa com quatro acionistas estrangeiros e uma mulher os aguardava. Homens poderosos, acostumados com ambientes de luxo e negociações bilionárias. Levantaram-se para cumprimentar Thor, que retribuiu com um aceno seco e firme. Em seguida, apresentou Celina com poucas palavras:—
Celina se virou com um susto, os olhos encontrando os dele, que estavam tão próximos, tão intensos, tão perigosamente contidos.— Você acha que pode me provocar daquele jeito e simplesmente me ignorar? — Thor sussurrou, a voz grave e baixa, mas repleta de algo que ela não soube identificar de imediato. Raiva? Desejo? Um misto enlouquecedor dos dois?Celina tentou soltar o braço, o coração disparado, mas estava paralisada. Pelo toque. Pelo olhar. Pela tensão que se acumulava feito tempestade prestes a romper.E foi ali, naquele exato momento, que ela percebeu: algo entre eles estava prestes a explodir.A porta da suíte ainda balançava suavemente atrás deles quando o silêncio pesado voltou a tomar conta do ambiente. A tensão, antes contida no olhar trocado na reunião, agora tomava forma na distância entre os dois, como uma tempestade prestes a desabar.Thor ainda segurava o braço de Celina com firmeza, como se quisesse extrair alguma resposta daquela pele quente sob seus dedos. O olhar
Thor colocou o copo de uísque com força sobre a mesa da sala, o som seco ressoando no ambiente silencioso da cobertura. Em seguida, fechou a garrafa com brusquidão, mas sua inquietação não cessou. Pegou novamente o copo, agora pela metade, e caminhou até a enorme janela de vidro que ocupava toda a parede. Do outro lado, o mar do Golfo se estendia tranquilo sob o céu da tarde, contrastando violentamente com o caos que se instalava dentro dele.Levou o copo aos lábios e tomou mais um gole, sentindo o líquido arder pela garganta. Ele não estava sabendo lidar com aquilo. Com ela. Com os sentimentos que Celina despertava. Era como se ela o desestruturasse por dentro, derrubando cada uma das muralhas que ele construiu com tanto empenho. E ele odiava isso. Odiava estar fora do controle.Pensava nela no quarto ao lado, e isso o deixava ainda mais furioso. Apertou o maxilar e fechou os olhos com força, como se pudesse apagar aquela imagem da mente.— Droga... — murmurou.O copo agora vazio vol
Angélica estava com coração na mão. Ela era uma pessoa que não suportava ver o sofrimento de ninguém, principalmente dos que amava. Isabela continuou com a encenação e respondeu sua sogra:— Mas eu o amo — fingiu um soluço. — Eu amo demais seu filho. E ele está me deixando de lado… nem marca a data do nosso casamento. Eu tô começando a achar que ele tá me enrolando.Angélica suspirou. — Não diga isso. Às vezes o Thor precisa de tempo. Ele sofreu tanto depois que ficou viúvo… Mas ele escolheu você, Isabela. Não duvide disso.— Mas eu tô ficando deprimida com tudo isso. Eu me sinto invisível… sem valor. — fingiu mais uma vez, agora com a voz mais embargada. — Me ajuda, dona Angélica. Fala com ele. Eu só quero ser feliz com o homem que eu amo.Do outro lado da linha, houve um silêncio compreensivo.— Eu vou falar com ele, sim. E você, querida, tenta manter a calma. Nada de precipitações. Eu gosto muito de você.— Obrigada… obrigada mesmo. — disse Isabela, antes de desligar, fingindo est