Angélica estava com coração na mão. Ela era uma pessoa que não suportava ver o sofrimento de ninguém, principalmente dos que amava. Isabela continuou com a encenação e respondeu sua sogra:— Mas eu o amo — fingiu um soluço. — Eu amo demais seu filho. E ele está me deixando de lado… nem marca a data do nosso casamento. Eu tô começando a achar que ele tá me enrolando.Angélica suspirou. — Não diga isso. Às vezes o Thor precisa de tempo. Ele sofreu tanto depois que ficou viúvo… Mas ele escolheu você, Isabela. Não duvide disso.— Mas eu tô ficando deprimida com tudo isso. Eu me sinto invisível… sem valor. — fingiu mais uma vez, agora com a voz mais embargada. — Me ajuda, dona Angélica. Fala com ele. Eu só quero ser feliz com o homem que eu amo.Do outro lado da linha, houve um silêncio compreensivo.— Eu vou falar com ele, sim. E você, querida, tenta manter a calma. Nada de precipitações. Eu gosto muito de você.— Obrigada… obrigada mesmo. — disse Isabela, antes de desligar, fingindo est
O impulso de girar a maçaneta foi imediato. Queria ver se ela estava bem. Queria dizer… alguma coisa.Mas então lembrou da briga. Do olhar que ela lhe lançou. Das palavras duras. Sentiu o peito apertar, a vergonha do próprio comportamento ainda latente.Antes que decidisse abrir a porta, algo o distraiu: o toque do celular dela, vibrando sobre a cama. Ele olhou sem intenção de se aproximar, mas o nome que apareceu no visor o fisgou:"Gabriel."Seu sangue ferveu. Ele ficou paralisado por dois segundos. O celular tocou até parar, e por um momento tudo ficou em silêncio — exceto pelo som do chuveiro, ainda constante.Foi então que uma notificação apareceu na tela. “Linda, estou com saudades.”Thor pegou o celular sem pensar. Leu aquela frase e sentiu algo rasgar por dentro. Ficou parado por um momento, absorvendo o impacto. Seu peito se contraiu. Ele não tinha absolutamente nenhum direito de sentir nada, mas a sensação de desconforto foi inevitável.Celina fora aventura de uma noite e
A noite caía lentamente sobre Dubai, tingindo o céu de tons dourados e púrpura. A suíte de luxo parecia mais fria do que o ar-condicionado poderia justificar. Thor estava de pé na varanda, com uma nova garrafa de uísque em cima da mesa. Ele ainda sentia o gosto amargo da discussão com Celina, a conversa que ouviu dela com Gabriel e daquilo que se recusava a nomear: dor.Quando o celular vibrou em cima do aparador, ele respirou fundo. Estava pronto para ignorar de novo, mas ao ver o nome da mãe na tela, hesitou."Mãe"Atendeu, limpando a garganta e tentando soar menos destruído do que estava.— Oi, mãe.— Oi, meu filho… você está bem?Thor fechou os olhos por um segundo. A voz dela era um afago, mas também um gatilho. Ela sempre soube quando ele não estava bem.— Estou... — mentiu. — Um pouco cansado. Muitas reuniões.— Você não parece cansado, parece abatido. — disse com leveza. — O que está acontecendo, Thor?Ele andou até a poltrona e sentou-se, apoiando o cotovelo no joelho, a test
Thor a encarou, sério, o maxilar tenso. — Exatamente. A gente mal se conhece. E mesmo assim, você mexe comigo de um jeito que me tira do eixo — disse, quase num desabafo impulsivo, mas em seguida se calou, como se tivesse falado demais. Celina ficou imóvel por alguns segundos, surpresa com a sinceridade inesperada. Thor voltou a falar: — Você sempre parece estar escondendo alguma coisa — disse enfim, a voz mais baixa, carregada de algo que se parecia com frustração. — E você sempre parece querendo controlar o que não tem direito — retrucou, com firmeza. Houve um silêncio tenso entre os dois. Thor bebeu um gole do uísque. Celina voltou a comer, ainda que o apetite tivesse diminuído drasticamente. Thor inclinou o corpo para frente, a voz baixa, mas cheia de veneno. — O que eu não entendo, Celina, é essa sua pose de mulher ferida, quando claramente... já seguiu em frente. Ou será que foi só uma noite também com ele? Ela pousou os talheres sobre o prato com cuidado. — Eu
Num impulso quase inconsciente, Thor puxou Celina para si, encaixando o corpo dela contra o seu, como se só assim conseguisse respirar em paz.Celina despertou assustada. Olhou para ele, confusa, com os olhos ainda pesados de sono. Os rostos estavam próximos demais. O silêncio entre eles, intenso demais.Ela abriu a boca para perguntar algo.— Thor? — A voz de Celina saiu baixa, rouca pelo sono e pela surpresa.Os olhos dela, ainda meio perdidos, o encontraram no escuro. O quarto estava quieto, mas a presença dele era tudo, menos silenciosa. O corpo quente contra o dela, o braço ao redor da cintura, o cheiro familiar de perfume e algo a mais… algo que a fazia se sentir protegida e confusa ao mesmo tempo.Thor não respondeu de imediato. Apenas fechou os olhos e respirou fundo, como se aquele momento fosse a única paz que conhecia desde que chegara a Dubai.— O que está fazendo? — ela perguntou, com um tom mais firme agora, ainda que baixo.— Tentando dormir — ele disse, por fim, sem se
Celina desbloqueou a tela e leu a mensagem:"Bom dia, Celina.Durante o dia, as reuniões serão exclusivas para os acionistas homens, então você terá a manhã e tarde livres.Às 19h, um carro estará esperando na porta do hotel para levá-la ao jantar de negócios. Estarei te esperando lá.Ah, deixei café esperando por você na mesa da sala.PS.: Dormir ao seu lado pode se tornar um vício perigoso."Celina não conteve o sorriso. Era um sorriso radiante, bobo, daquele tipo que foge do controle antes mesmo da razão se manifestar. Ela sentiu o friozinho na barriga, o coração acelerar.— O que é isso, Celina? — sussurrou, fechando os olhos. — Você precisa se acalmar. Thor é inconstante. Um dia quente, no outro, um iceberg.Tentou se levantar, afastar as lembranças da noite anterior, a forma como ele a tocou, como a abraçou… como sussurrou palavras sem dizer nenhuma em voz alta.Mas era inútil.A lembrança dele, o cheiro dele no travesseiro, a mensagem… tudo nela gritava o nome dele.Ela sabia q
Depois do café da manhã que Thor havia mandado preparar, Celina voltou para o quarto sentindo-se leve, mas também tomada por um turbilhão de pensamentos. Abriu o closet e ficou parada ali, encarando os dois vestidos que tinha separado para o jantar daquela noite: o preto clássico de tecido leve, justo na medida certa, ou o verde esmeralda que destacava ainda mais seus olhos.Ela passou os dedos pelo cabide do vestido verde, mas logo seus olhos voltaram ao preto.— Hoje vai ser o preto — murmurou para si mesma, decidida. Era elegante, sóbrio, intenso… como a noite que ela pressentia que teria.O som do celular interrompeu seus devaneios. Ela olhou a tela e sorriu ao ver o nome de Gabriel piscando ali.— Gabriel? — atendeu com a voz suave.— Oi, moça bonita — disse ele com aquele tom sempre encantador. — Só queria saber como você está… acabei de chegar em casa agora, saí pra cantar num bar aqui perto. Foi incrível, mas confesso que fiquei pensando em você a noite toda.— Ah, Gabriel… Ho
O salão reservado no St. Regis Dubai exalava elegância, exalava luxo e sofisticação. O espaço estava iluminado por uma luz suave que refletia nos lustres de cristal, os arranjos florais discretos, as mesas impecavelmente postas. O som ambiente era preenchido por uma música instrumental elegante. Um evento exclusivo, com cerca de cem convidados, todos figuras importantes do mundo dos negócios. Thor já estava presente, usando um terno escuro de alfaiataria impecável, gravata preta. Seu porte firme e olhar atento faziam dele uma figura imponente entre os acionistas com quem conversava.Celina saiu do hotel onde estava hospedada com passos firmes. Usava um vestido preto clássico, justo na medida certa, que realçava sua silhueta, feito de um tecido leve que acompanhava seus movimentos com elegância. Seus cabelos estavam soltos em ondas sutis, que emolduravam seu rosto com suavidade. A maquiagem impecável realçava seus olhos verdes, e os brincos de ouro branco com uma pedra preta ao centro