Thor a encarou, sério, o maxilar tenso. — Exatamente. A gente mal se conhece. E mesmo assim, você mexe comigo de um jeito que me tira do eixo — disse, quase num desabafo impulsivo, mas em seguida se calou, como se tivesse falado demais. Celina ficou imóvel por alguns segundos, surpresa com a sinceridade inesperada. Thor voltou a falar: — Você sempre parece estar escondendo alguma coisa — disse enfim, a voz mais baixa, carregada de algo que se parecia com frustração. — E você sempre parece querendo controlar o que não tem direito — retrucou, com firmeza. Houve um silêncio tenso entre os dois. Thor bebeu um gole do uísque. Celina voltou a comer, ainda que o apetite tivesse diminuído drasticamente. Thor inclinou o corpo para frente, a voz baixa, mas cheia de veneno. — O que eu não entendo, Celina, é essa sua pose de mulher ferida, quando claramente... já seguiu em frente. Ou será que foi só uma noite também com ele? Ela pousou os talheres sobre o prato com cuidado. — Eu
Num impulso quase inconsciente, Thor puxou Celina para si, encaixando o corpo dela contra o seu, como se só assim conseguisse respirar em paz.Celina despertou assustada. Olhou para ele, confusa, com os olhos ainda pesados de sono. Os rostos estavam próximos demais. O silêncio entre eles, intenso demais.Ela abriu a boca para perguntar algo.— Thor? — A voz de Celina saiu baixa, rouca pelo sono e pela surpresa.Os olhos dela, ainda meio perdidos, o encontraram no escuro. O quarto estava quieto, mas a presença dele era tudo, menos silenciosa. O corpo quente contra o dela, o braço ao redor da cintura, o cheiro familiar de perfume e algo a mais… algo que a fazia se sentir protegida e confusa ao mesmo tempo.Thor não respondeu de imediato. Apenas fechou os olhos e respirou fundo, como se aquele momento fosse a única paz que conhecia desde que chegara a Dubai.— O que está fazendo? — ela perguntou, com um tom mais firme agora, ainda que baixo.— Tentando dormir — ele disse, por fim, sem se
Celina desbloqueou a tela e leu a mensagem:"Bom dia, Celina.Durante o dia, as reuniões serão exclusivas para os acionistas homens, então você terá a manhã e tarde livres.Às 19h, um carro estará esperando na porta do hotel para levá-la ao jantar de negócios. Estarei te esperando lá.Ah, deixei café esperando por você na mesa da sala.PS.: Dormir ao seu lado pode se tornar um vício perigoso."Celina não conteve o sorriso. Era um sorriso radiante, bobo, daquele tipo que foge do controle antes mesmo da razão se manifestar. Ela sentiu o friozinho na barriga, o coração acelerar.— O que é isso, Celina? — sussurrou, fechando os olhos. — Você precisa se acalmar. Thor é inconstante. Um dia quente, no outro, um iceberg.Tentou se levantar, afastar as lembranças da noite anterior, a forma como ele a tocou, como a abraçou… como sussurrou palavras sem dizer nenhuma em voz alta.Mas era inútil.A lembrança dele, o cheiro dele no travesseiro, a mensagem… tudo nela gritava o nome dele.Ela sabia q
Depois do café da manhã que Thor havia mandado preparar, Celina voltou para o quarto sentindo-se leve, mas também tomada por um turbilhão de pensamentos. Abriu o closet e ficou parada ali, encarando os dois vestidos que tinha separado para o jantar daquela noite: o preto clássico de tecido leve, justo na medida certa, ou o verde esmeralda que destacava ainda mais seus olhos.Ela passou os dedos pelo cabide do vestido verde, mas logo seus olhos voltaram ao preto.— Hoje vai ser o preto — murmurou para si mesma, decidida. Era elegante, sóbrio, intenso… como a noite que ela pressentia que teria.O som do celular interrompeu seus devaneios. Ela olhou a tela e sorriu ao ver o nome de Gabriel piscando ali.— Gabriel? — atendeu com a voz suave.— Oi, moça bonita — disse ele com aquele tom sempre encantador. — Só queria saber como você está… acabei de chegar em casa agora, saí pra cantar num bar aqui perto. Foi incrível, mas confesso que fiquei pensando em você a noite toda.— Ah, Gabriel… Ho
O salão reservado no St. Regis Dubai exalava elegância, exalava luxo e sofisticação. O espaço estava iluminado por uma luz suave que refletia nos lustres de cristal, os arranjos florais discretos, as mesas impecavelmente postas. O som ambiente era preenchido por uma música instrumental elegante. Um evento exclusivo, com cerca de cem convidados, todos figuras importantes do mundo dos negócios. Thor já estava presente, usando um terno escuro de alfaiataria impecável, gravata preta. Seu porte firme e olhar atento faziam dele uma figura imponente entre os acionistas com quem conversava.Celina saiu do hotel onde estava hospedada com passos firmes. Usava um vestido preto clássico, justo na medida certa, que realçava sua silhueta, feito de um tecido leve que acompanhava seus movimentos com elegância. Seus cabelos estavam soltos em ondas sutis, que emolduravam seu rosto com suavidade. A maquiagem impecável realçava seus olhos verdes, e os brincos de ouro branco com uma pedra preta ao centro
Celina, educada, tentou manter a cordialidade.— Claro que não, Louis.Ele sorriu, mas seus olhos analisavam cuidadosamente a dinâmica entre ela e Thor.— Você realmente chamou atenção no salão, Celina. Confesso que fiquei curioso para saber mais sobre sua trajetória. Está nesse meio há muito tempo?Celina sorriu com elegância, mesmo percebendo a tensão de Thor ao seu lado.— Na verdade, minha carreira sempre foi voltada ao corporativo, mas me adapto bem às situações. Gosto de ambientes desafiadores.Louis assentiu, impressionado.— É perceptível. Inteligência e presença são qualidades raras juntas, ainda mais no nosso meio.Thor não se moveu, mas apertou levemente a cintura de Celina, sinalizando desconforto. Ela sentiu e, sutilmente, se afastou apenas o suficiente para que ele percebesse que não estava ali para ser manipulada.— Obrigada, Louis. Aprecio suas palavras.Thor então interveio, com um sorriso enviesado.— A Celina tem um talento especial para se destacar em qualquer sala
Thor reaparecera como se nada tivesse acontecido. Impecável, com a postura de quem domina qualquer ambiente, uma taça em uma mão, e o olhar direcionado exclusivamente para ela. Mas, ao se aproximar, encontrou uma Celina diferente.Ela permanecia em silêncio, o semblante sério, os olhos distantes. Não era mais a mulher radiante que entrara no salão instantes antes, despertando olhares por onde passava. Algo nela havia mudado e Thor percebeu.Ele inclinou o corpo levemente, baixando a voz ao se aproximar.— Você está estranhamente calada... aconteceu alguma coisa?Celina ergueu os olhos lentamente, pousando-os nos dele com uma expressão que misturava ironia e indiferença. O tom da resposta foi seco, com um toque sarcástico, que cortou como lâmina.— Por que se preocupa? Achei que você fosse bom em desaparecer.Thor franziu o cenho, surpreso com a resposta. A mandíbula se contraiu, o semblante endureceu. Seu olhar, antes cheio de magnetismo, agora era o de alguém tentando manter o contro
O silêncio da manhã foi a primeira coisa que atingiu Celina ao despertar. O lençol de cetim frio sob sua pele revelava que César não estava ali. Ela abriu os olhos lentamente, piscando contra a claridade difusa que entrava pelas cortinas entreabertas. Virou-se para o lado, confirmando o que já sabia: a cama ao seu lado estava intacta, como se ele sequer tivesse deitado ali naquela noite. Nos últimos meses, isso havia se tornado rotina: ele saía cedo e voltava tarde da noite, sempre alegando estar sobrecarregado no trabalho. Um suspiro escapou de seus lábios. Levantou-se devagar, os pés descalços encontrando o carpete macio enquanto caminhava até as grandes janelas do quarto. Puxou as cortinas, revelando a paisagem cinzenta lá fora. O céu carregado de nuvens, cinzento, trazia uma sensação estranha, uma melancolia que parecia invadir seu peito. Aquele céu refletia exatamente como ela se sentia por dentro. Suspirou fundo e murmurou para si mesma, quase sem perceber: — Agora ele