No carro, o silêncio entre eles era denso como névoa. Celina sentou-se com as pernas cruzadas, os braços firmes ao redor do próprio corpo, encarando a paisagem noturna de Dubai pela janela. Thor dirigia com os maxilares cerrados, os dedos apertando o volante com força. O ar condicionado parecia gelado demais, ou talvez fosse o clima entre os dois.Ele lançou um olhar de canto para ela. Seu rosto permanecia imóvel, mas havia algo nos olhos de Celina que gritava raiva, tristeza, decepção.— Você vai ficar calada até quando? — a voz dele cortou o silêncio, dura, impaciente.Ela não respondeu.— Você viu o que ele fez, não viu? Eu não ia ficar ali parado.Celina então virou o rosto devagar, os olhos verdes faiscando como vidro prestes a estilhaçar.— Eu vi sim. Vi um homem impulsivo, possessivo, batendo em outro como se eu fosse um objeto a ser disputado.Thor franziu o cenho, a respiração pesando.— Você não é um objeto. Mas ele não tinha o direito de encostar em você.Ela deu uma risada
Thor tentou se explicar, mas ela levantou a mão, pedindo silêncio.— Você tentou me manipular naquele almoço por causa de ciúmes do Louis. Na suíte me fez parecer insegura, exagerada... falou coisas horríveis. E depois de tudo isso... você saiu de madrugada pra procurar outra mulher, voltou como se nada tivesse acontecido... e ainda dormiu comigo como se fossemos um casal.O silêncio entre os dois era pesado.— Eu não vou fazer papel de amante, Thor. — ela disse, com firmeza. — Eu me respeito. Eu tenho dignidade.— E você? — ele rebateu, com a voz mais áspera. — É casada, Celina. Não tem o direito de me cobrar nada.Ela arregalou os olhos, ofendida.— Eu estou em processo de divórcio! — gritou, com a garganta embargada. — O meu casamento acabou no momento em que descobri a traição do César. Eu não menti pra você, não escondi nada. E mesmo assim... sou eu quem parece errada o tempo todo!Thor ficou em silêncio, o peito subindo e descendo com a respiração pesada.— O que você quer de mi
Celina desviou o olhar, sentindo os olhos marejarem de novo. Mas Thor a puxou levemente pelo queixo, fazendo-a encará-lo.— Você tem razão sobre tudo o que disse. Eu fui um babaca, arrogante, controlador. Me escondi atrás de uma fachada, de contratos, de um noivado de fachada… E tratei você como se fosse algo passageiro. Mas não é.A voz dele ficou mais baixa ainda, a respiração entrecortada.— Eu quero você. Não pra hoje. Não só por uma noite. Quero você na minha vida. Celina sentiu o coração acelerar. E antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, Thor se aproximou devagar, como se pedisse permissão com o corpo. Ela não recuou. Quando seus lábios se tocaram, o beijo foi lento, profundo, cheio daquilo que nunca conseguiram dizer com palavras.Dessa vez não havia pressa. Ele a segurou com cuidado, como se tivesse medo de que ela desaparecesse entre seus dedos. Suas mãos traçaram o contorno das costas dela enquanto ela se deixava levar, sentindo o calor do corpo dele se misturar ao seu
O silêncio da manhã foi a primeira coisa que atingiu Celina ao despertar. O lençol de cetim frio sob sua pele revelava que César não estava ali. Ela abriu os olhos lentamente, piscando contra a claridade difusa que entrava pelas cortinas entreabertas. Virou-se para o lado, confirmando o que já sabia: a cama ao seu lado estava intacta, como se ele sequer tivesse deitado ali naquela noite. Nos últimos meses, isso havia se tornado rotina: ele saía cedo e voltava tarde da noite, sempre alegando estar sobrecarregado no trabalho. Um suspiro escapou de seus lábios. Levantou-se devagar, os pés descalços encontrando o carpete macio enquanto caminhava até as grandes janelas do quarto. Puxou as cortinas, revelando a paisagem cinzenta lá fora. O céu carregado de nuvens, cinzento, trazia uma sensação estranha, uma melancolia que parecia invadir seu peito. Aquele céu refletia exatamente como ela se sentia por dentro. Suspirou fundo e murmurou para si mesma, quase sem perceber: — Agora ele
Celina abriu a porta do escritório, e seu mundo desmoronou. O ar sumiu dos seus pulmões. Seu coração deu um salto doloroso dentro do peito antes de despencar em um abismo de desespero. Ali, diante de seus olhos, estava César, seu marido, o homem que prometeu amá-la e respeitá-la, entrelaçado no corpo de outra mulher. Nicole estava jogada sobre a mesa, os cabelos loiros desarrumados, os lábios entreabertos em puro prazer. As pernas estavam enroscadas na cintura de César, as mãos cravadas em suas costas. A cena era crua, explícita, e Celina sentiu náuseas instantaneamente. Seu corpo congelou. O sangue gelou em suas veias. Ela queria gritar, mas a voz morreu em sua garganta. Queria correr dali, mas suas pernas não obedeciam. Nicole foi a primeira a notar sua presença. Em vez de pânico ou constrangimento, um sorriso surgiu em seu rosto. Um sorriso de satisfação. De triunfo. Celina sentiu o chão ceder sob seus pés. Os olhos de Nicole brilhavam com malícia, como se já esperas
Celina arqueou uma sobrancelha, avaliando-o por um instante. Ele não era como os homens que geralmente tentavam abordá-la. Não parecia apressado. Não usava uma cantada barata. Apenas oferecia algo simples, com uma confiança desconcertante. E, talvez pelo álcool, ou talvez porque precisava desesperadamente se sentir desejada depois de ser descartada como lixo, ela sorriu de canto. — Aceito. O homem inclinou levemente a cabeça, o sorriso de canto quase desafiador. — Você não parece do tipo que aceita bebidas de estranhos. Celina soltou um riso baixo, sem humor. — Talvez hoje eu seja. Ele a observou atentamente, os olhos escuros estudando cada detalhe de seu rosto. — Então hoje é um dia atípico. — Pode apostar que sim. O homem ergueu uma mão, chamando o garçom, e sem nem precisar olhar o cardápio, pediu: — O melhor drink do bar para esta senhorita. Celina observou enquanto o garçom assentia e se afastava. O homem então puxou um banco e se sentou ao lado dela, casua
A claridade atravessava as janelas, filtrando a luz do amanhecer e iluminando suavemente o ambiente luxuoso da suíte. O céu de São Paulo exibia tons alaranjados misturados ao azul suave do início da manhã, e a cidade começava a despertar abaixo dela. Celina despertou devagar sentindo-se desorientada, seu corpo afundando na cama macia, o lençol de algodão egípcio cobrindo sua pele desnuda. Piscou algumas vezes, tentando se situar. O teto alto, os móveis sofisticados, o cheiro amadeirado no ar… nada daquilo lhe era familiar, nada era seu Virou o rosto para o lado e sentiu o coração falhar uma batida. Ali, ao seu lado, o homem do bar ainda dormia profundamente. O peito largo subia e descia em uma respiração lenta e tranquila. Os lençóis cobriam a parte inferior de seu corpo, mas deixavam à mostra a pele quente e tatuada de seu braço, repousado sob a cabeça em um gesto despreocupado, como se nada no mundo pudesse perturbá-lo. Celina engoliu em seco, sentindo um turbilhão de e
Celina estacionou o carro na garagem da mansão e ficou ali por alguns instantes, respirando fundo. As mãos ainda tremiam no volante, e sua mente estava um turbilhão. A noite anterior parecia um borrão, um sonho — ou talvez um pesadelo. Desceu do carro com passos incertos e entrou na casa em silêncio. A mansão estava mergulhada na escuridão, apenas algumas luzes de presença iluminavam discretamente o caminho até o quarto. Subiu as escadas devagar, o coração acelerado. A cabeça martelava, reflexo da bebida e da falta de sono. Quando empurrou a porta do quarto e entrou, encontrou tudo escuro. Suspirou aliviada, pensando que poderia deitar e tentar esquecer tudo. Mas então, um clique suave ecoou no ambiente. A luz do abajur ao lado da poltrona foi acesa, e Celina conteve um grito ao ver a silhueta de César sentado ali, à sua espera. Os olhos dele estavam sombrios, o rosto rígido, uma expressão de puro ódio. — Onde você passou a noite? — a voz dele cortou o silêncio como uma l