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4 - DE VOLTA A REALIDADE

A claridade atravessava as janelas, filtrando a luz do amanhecer e iluminando suavemente o ambiente luxuoso da suíte. O céu de São Paulo exibia tons alaranjados misturados ao azul suave do início da manhã, e a cidade começava a despertar abaixo dela.

Celina despertou devagar sentindo-se desorientada, seu corpo afundando na cama macia, o lençol de algodão egípcio cobrindo sua pele desnuda.

Piscou algumas vezes, tentando se situar. O teto alto, os móveis sofisticados, o cheiro amadeirado no ar… nada daquilo lhe era familiar, nada era seu

Virou o rosto para o lado e sentiu o coração falhar uma batida.

Ali, ao seu lado, o homem do bar ainda dormia profundamente.

O peito largo subia e descia em uma respiração lenta e tranquila. Os lençóis cobriam a parte inferior de seu corpo, mas deixavam à mostra a pele quente e tatuada de seu braço, repousado sob a cabeça em um gesto despreocupado, como se nada no mundo pudesse perturbá-lo.

Celina engoliu em seco, sentindo um turbilhão de emoções de uma só vez.

Ela se sentou na cama rapidamente, segurando o lençol contra o corpo, como se precisasse desesperadamente de uma barreira entre ela e a noite anterior.

— O que eu fiz? — sussurrou bem baixinho

Seu coração batia forte. Ela tentou lembrar de cada detalhe, forçando a mente a resgatar os fragmentos da noite anterior, mas tudo parecia envolto em um nevoeiro confuso. Lembrava-se do bar, da tensão entre os dois, das palavras sedutoras daquele homem, do desejo crescente, dos drinks e das mãos firmes conduzindo-a até o elevador.

Lábios quentes explorando seu corpo. Respirações pesadas misturadas à penumbra. O toque firme de mãos hábeis percorrendo sua pele.

Depois disso… flashes desconexos, tudo era um emaranhado de fragmentos confusos.

O peito de Celina subiu e desceu com força. Ela nunca havia feito algo assim antes. Nunca.

Ela passou a mão no rosto, sentindo a pele quente.

— Meu Deus... que loucura foi essa?

O sussurro escapou de seus lábios, carregado de culpa e desespero.

Aquela não era ela.

Ou talvez fosse.

Talvez fosse a mulher que estava adormecida dentro dela, sufocada por anos de um casamento monótono e pela traição brutal que sofrera.

Mas nada daquilo justificava o vazio que sentia agora.

Ela olhou para ele novamente. O desconhecido com quem passara a noite, parecia absolutamente tranquilo, enquanto ela sentia o peso do mundo em seus ombros.

Celina sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ela mordeu o lábio, tentando conter a onda de emoções.

Com cuidado, deslizou o lençol ao redor do corpo e se sentou à beira da cama. Seus pés tocaram o chão frio, despertando-a ainda mais para a realidade.

Sentia a cabeça levemente pesada, não pela bebida em si, mas pelo impacto de tudo o que acontecera.

Ela precisava sair dali. Precisava respirar.

Levantou-se devagar, caminhando pelo carpete macio em direção às roupas espalhadas pelo chão. O vestido de seda que usara na noite anterior estava jogado próximo à poltrona. Sua lingerie, em algum ponto entre a cama e o caminho para o banheiro, os sapatos nem sinal.

Sentindo o rosto arder, pegou tudo rapidamente e entrou no banheiro, trancando-se ali dentro.

Apoiou as mãos na pia e ergueu o olhar para o espelho. O reflexo a encarou como um lembrete cruel da noite anterior.

Os olhos castanhos estavam marcados pelo cansaço, o batom vermelho desbotado nos lábios, os cabelos levemente desarrumados.

— Olha pra você, Celina — sussurrou para si mesma, sua voz trêmula. — O que você fez com a sua vida?

Celina sentiu um nó na garganta.

O silêncio do banheiro ecoou sua pergunta sem resposta.

Inspirou fundo e fechou os olhos por um instante, tentando afastar o peso esmagador da culpa.

Ela não havia feito nada de errado.

Estava solteira agora. Não devia mais nada a ninguém.

Mas, então, por que se sentia tão… perdida?

Em menos de 24 horas, viu seu casamento desmoronar e, sem nem pensar, se jogou nos braços de um desconhecido.

Isso não era ela. Isso não fazia sentido.

Ou fazia?

Talvez estivesse tentando preencher o vazio. Talvez quisesse esquecer.

Mas nada daquilo ajudava.

Ela respirou fundo, tentando conter as lágrimas. Não choraria ali. Não agora.

Vestiu-se rapidamente, evitando se olhar muito no espelho, ignorando o aperto no peito. Não queria encarar aquele homem mais uma vez. Não queria conversar, não queria prolongar aquela manhã constrangedora.

Só queria ir embora.

Abriu a porta do banheiro devagar, espiando para ver se ele ainda dormia.

Sim, ainda estava deitado dormindo.

Celina hesitou.

O lençol cobria suas partes íntimas, mas ele estava de bruços, um dos braços dobrado sob a cabeça, exibindo a musculatura definida e as tatuagens que percorriam seu ombro e braço.

Ela não havia reparado nelas na noite anterior. Agora, à luz do dia, conseguiu ver os traços marcantes das tatuagens em sua pele. Símbolos enigmáticos, frases em um idioma que ela não reconhecia, formas geométricas conectadas de maneira precisa.

Seu olhar subiu até o rosto dele.

Mesmo dormindo, havia algo nele que exalava perigo.

Um mistério que ela nunca iria desvendar.

E talvez fosse melhor assim.

Celina segurou a bolsa com força e caminhou em direção à porta, os pés descalços deslizando pelo chão sem fazer barulho.

Cada passo parecia um passo para longe do caos, da dor, da noite que agora queria esquecer.

Por um segundo, hesitou, deveria ao menos deixar um bilhete? Agradecer pela noite?

Sentiu um impulso inexplicável de acordá-lo, de perguntar quem ele era, de entender por que estava ali.

Mas não podia.

Por mais cruel que fosse, a realidade estava esperando por ela do lado de fora.

Com passos silenciosos, caminhou até a porta do quarto. Segurou a maçaneta e fechou os olhos.

— Me perdoa, Deus... — murmurou, antes de sair.

Abrindo a porta devagar, saiu silenciosamente da suíte presidencial, sentindo-se ao mesmo tempo aliviada por fugir daquela realidade e culpada pelo que acabara de fazer.

Atravessou o corredor do hotel sem olhar para trás.

Era hora de encarar sua própria vida novamente.

Sozinha.

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