Celina se virou e viu uma mulher lindíssima entrar sem hesitação. Sentiu o estômago despencar.
A mulher foi diretamente até Thor e, por trás da cadeira, passou os braços ao redor do pescoço dele. — Que saudade, amor — disse ela, inclinando-se para um selinho rápido. Celina ficou paralisada. Seus olhos instintivamente desceram para as mãos de ambos. Ali estavam. As alianças douradas. Thor limpou a garganta e, com visível irritação, afastou a mulher com delicadeza. — Isabela — disse ele, em tom de advertência. — Já te falei que não aceito interrupções quando estou em uma reunião de trabalho. Isabela revirou os olhos e sorriu de lado. — Deixa de ser chato, amor. Ela olhou rapidamente para Celina, seu olhar carregado de desprezo. Celina sentiu como se tivesse levado outro tapa no rosto. Como ela pôde ser tão idiota? Isabela, aparentemente satisfeita, deslizou os dedos pelo ombro de Thor e saiu da sala. Thor ajeitou o paletó e voltou sua atenção para Celina, como se nada tivesse acontecido. O sangue de Celina ferveu. Ela nunca se sentiu tão ridícula em toda a sua vida. Seu corpo travou, o sangue subiu para o rosto, e suas bochechas arderam. Por um momento, flashes da noite no hotel invadiram sua mente. Ela se viu novamente saindo do quarto às pressas, fugindo como uma criminosa ao amanhecer. Seus olhos brilharam de constrangimento. — Algum problema, senhora Bernardes? — Thor perguntou, fingindo inocência. Celina desviou o olhar, tentando recuperar a compostura. — Não… está tudo bem. — Continuando… — ele disse, sem emoção. — Você está apta para a vaga? Celina queria gritar não. Queria levantar, dizer que não aceitaria trabalhar para um homem como ele e ir embora. Mas, a realidade bateu com força, precisava daquele emprego. Seus olhos brilharam de raiva, porém sua voz saiu firme e decidida: — Sim. Thor a observou por um instante, parecendo medir sua resposta. Então, levantou-se da cadeira e estendeu a mão. — Bem-vinda à empresa. Celina apertou a mão dele, sentindo a frieza do contato. — Procure o RH para formalizar a contratação. Ela assentiu e saiu da sala, sentindo-se um caco, porém, prometendo para si mesma, que nunca mais um homem faria isso com ela. Depois de resolver sua contratação no RH, Celina saiu da empresa decidida esquecer aquela noite no hotel e assim fez. Sua adaptação ao novo emprego foi difícil, Thor era um chefe exigente, mas ela não desistiria, mostraria seu valor. Quinze dias após seu início, Celina observava Thor sentado à frente do último candidato do dia. A equipe finalmente estaria completa. Foram quinze dias intensos desde que ela começou a trabalhar ali, e ele exigia dela o máximo de profissionalismo. O homem que estava à sua frente naquela sala de entrevistas, não era o mesmo que ela conheceu no Skye Bar. Ali, Thor Miller era frio, analítico e implacável. Fingiu tão bem que a noite deles nunca aconteceu que, às vezes, Celina se perguntava se tinha imaginado tudo. A entrevista terminou, e Thor dispensou o candidato com um aceno de cabeça. Assim que a porta se fechou, ele virou-se para ela. — O que achou? Celina analisou suas anotações. — Ele tem experiência e um bom histórico profissional. Parece comprometido. Acho que podemos fechar a contratação. Thor assentiu. — Envie a proposta ainda hoje. Ela confirmou com a cabeça, e Thor voltou a atenção para seu notebook, encerrando a conversa. Celina apertou os lábios. Era sempre assim. Curto e direto, sequer a olhava por mais de alguns segundos. E isso a consumia de ódio. Não porque queria que ele a tratasse de forma especial, mas para ela, era inadmissível ter sido a outra, mesmo sem saber. E agora estava ali, convivendo com ele todos os dias, sendo tratada como se fosse invisível. Mas precisava daquele emprego. Sua nova rotina era exaustiva, e seu corpo sentia o impacto da mudança. Foram cinco anos vivendo no luxo, sem precisar se preocupar com nada além das aparências. Agora, trabalhava duro, se desdobrando para reconstruir sua vida. E ultimamente, algo estava errado. O cansaço era esmagador. O sono, incontrolável. E, por algum motivo, os cheiros estavam mais intensos do que o normal. O telefone tocou sobre sua mesa. — Senhora Bernardes, traga um café para mim. A voz dele era firme, autoritária. Celina fechou os olhos, respirando fundo antes de responder: — Sim, senhor. Já estou indo. Era a primeira vez que ele pedia algo assim. Talvez um teste. Talvez uma provocação. Levantando-se foi até a copa, preparou o café como sempre gostava: forte, com três gotas de adoçante. Assim que o cheiro intenso subiu, seu estômago revirou. Segurou o enjoo levando a xícara até a sala dele. — Com licença. Thor nem levantou os olhos. Apenas pegou a xícara e tomou um gole. — Está horrível. Faça outro. — Ele colocou a xícara de volta na mesa e continuou olhando para a tela do computador. Celina fechou os punhos com força. Pegou a xícara com raiva e virou-se para sair, quando ouviu a voz dele novamente: — Não vai perguntar como eu gosto do café? Ela cerrou os dentes e virou-se devagar. — Me desculpe. Como prefere? Ele ergueu o olhar, finalmente fitando-a. — Forte. Sem açúcar. Celina assentiu saindo da sala. Passando pela porta, murmurou baixinho: — Cada dia te odeio mais. Preparou o café novamente, ignorando o embrulho crescente no estômago. Quando voltou, Thor tomou um gole e disse: — Pode melhorar. Ela respirou fundo, segurando a raiva. — Vai querer algo mais? — Não. Ele sequer a olhou. Celina saiu dali com o sangue fervendo. Na hora do almoço, foi ao restaurante de sempre. Pediu sua comida, mas, assim que terminou de comer, sentiu um mal-estar insuportável. Levantou-se apressada e correu para o banheiro, vomitando tudo. Ficou alguns minutos ali, tentando entender o que estava acontecendo. Então a lembrança veio como um raio. Sua menstruação estava atrasada. O coração disparou. "Não. Não pode ser." Saiu do restaurante quase correndo indo até a farmácia mais próxima. Pegou um teste de gravidez e voltou para a empresa. Chegando,dirigir-se para o banheiro. Com as mãos trêmulas, abriu a embalagem. Fez o teste e o colocou sobre a pia. — Que dê negativo… Que dê negativo… Após cinco minutos de angústia, olhando para o resultado, sentiu o chão sumir sob seus pés. Positivo. Celina ficou imóvel, encarando o teste, incapaz de processar a informação. O ar parecia faltar. Sua visão ficou turva. E uma única pergunta ecoava em sua mente: O que faço agora?Celina encarava o teste de gravidez sobre a pia do banheiro da empresa, incapaz de desviar o olhar daquelas duas linhas cor-de-rosa. Positivo. Seu coração batia descompassado, e sua mente estava um caos. — O que eu vou fazer agora? — murmurou, passando as mãos trêmulas pelos cabelos. Ela começou a andar de um lado para o outro, sentindo o desespero crescer em seu peito. — Eu posso ser demitida… Não sei nem quem é o pai… Sua respiração estava acelerada. Sua cabeça girava. Não fazia ideia de quantas semanas estava, e essa incerteza a aterrorizava. Se fosse de César, seria um golpe do destino. Um último laço que a ligaria para sempre a ele, quando tudo o que queria era esquecê-lo. Se fosse de Thor… Celina apertou os olhos, recusando-se a terminar o pensamento. As lágrimas escorreram pelo seu rosto. Ela não estava pronta para aquilo. O som do telefone tocando na sala ao lado a fez prender a respiração. Ela ignorou, incapaz de se mover. O telefone tocou novamente. E nova
Celina saiu do consultório médico com as pernas trêmulas, sentindo o coração martelar contra o peito. Cada palavra da ginecologista ecoava em sua mente como um martelo em vidro frágil: "Um mês e três dias." "Precisamos marcar seu pré-natal." Ela entrou no carro quase no automático e fechou a porta com força. Suas mãos tremiam tanto que teve que segurar o volante por um instante antes de ligá-lo. Mas, ao invés de dar a partida, abaixou a cabeça e apoiou a testa no couro frio do volante. — Não… isso não pode estar acontecendo… — sussurrou, sua voz quebrada pelo choque. Fechou os olhos, tentando encontrar uma falha, uma possibilidade de erro. Mas os cálculos eram claros. O pai do seu filho só podia ser uma pessoa. Thor Miller. Seu chefe. O homem que ela odiava com cada fibra do seu ser. O homem arrogante, prepotente, frio e insensível. O homem que a tratava como se fosse descartável, como se sua existência se resumisse ao trabalho que fazia para ele. E agora… Celina
Celina estava sentada no chão frio, do lado de fora da casa que um dia foi sua. Seu corpo estava ali, mas sua alma parecia ter sido arrancada. As lágrimas escorriam em silêncio, molhando sua pele pálida. Seus pertences estavam espalhados pela calçada como se fossem lixo, roupas misturadas com documentos, sapatos. O vento da noite passava por ela, mas Celina não sentia frio. Não sentia nada além do vazio dentro de si. "Não sou nada. Não tenho ninguém." As palavras de César ecoavam em sua mente, cortando como lâminas afiadas. "Você era um nada quando se casou comigo. E vai continuar sendo." Seus dedos tremiam ao apertar a barra da própria blusa. O que vou fazer? Pra onde vou? Ela não tinha família para acolhê-la. Nenhum porto seguro. Seu mundo, que já estava desmoronando, agora havia ruído por completo. O barulho de um carro se aproximando tirou-a , por um breve momento, do estado de choque. Os faróis iluminaram sua figura encolhida no chão, e Celina ouviu o motor desligand
Ao ouvir toda aquela conversa, Celina tapou a boca para conter o soluço que ameaçava escapar. Ela sentiu a alma se despedaçar. A tontura veio forte, e ela precisou segurar-se na parede. Se Thor descobrisse sobre o bebê… Ele a obrigaria a abortar também. Celina sentiu o pânico tomar conta de seu corpo. Ela não podia contar. Não podia deixar que ele soubesse. Seus olhos arderam, e as lágrimas voltaram a cair. Virou-se e saiu correndo pelo corredor, sentindo o coração esmigalhado dentro do peito. Seu filho nunca poderia saber quem era o pai. E, assim, a decisão foi tomada. Ela protegeria seu bebê. Mesmo que isso significasse carregar esse segredo pelo resto da vida. Ao entrar em sua sala apressada, fechou a porta atrás de si, encostando-se nela como se precisasse de apoio para não desmoronar. Seu corpo tremia. O peito subia e descia de forma descompassada. Então, como se uma represa tivesse rompido, as lágrimas vieram. Ela deslizou até o chão, cobrindo
Celina chegou à casa de Tatiana ainda abalada com tudo o que tinha acontecido naquele dia, sentindo o peso do mundo sobre os ombros. Assim que entrou, desabou no sofá da sala de estar, exausta emocionalmente. Tatiana percebeu o semblante abatido da amiga e se sentou ao lado dela, segurando suas mãos com carinho. — Amiga, me conta tudo. Como foi a conversa com Thor? — Tatiana perguntou, com preocupação. Celina respirou fundo, antes de começar a falar, tentando manter a compostura, mas era impossível. Seus olhos marejaram e sua voz saiu embargada. — Eu ouvi Thor e Isabela conversando hoje... — Ela fez uma pausa, sentindo um nó na garganta antes de continuar. — Ela disse que pode estar grávida. E sabe o que ele respondeu? Que se isso for verdade, ela deve abortar. Ele não quer esse filho, Tatiana. Ele disse isso com uma frieza, uma crueldade... como se estivesse descartando uma vida como se fosse lixo. Tatiana arregalou os olhos, chocada com o que ouvia. — Meu Deus, Celina... —
No outro dia, Celina despertou com um peso no estômago que a fez correr para o banheiro. O enjoo veio com uma força avassaladora, e ela vomitou tanto que precisou sentar no chão frio para se recompor. Sentia-se exausta, mas sabia que precisava levantar. Ligou o chuveiro e entrou debaixo da água quente, deixando-a escorrer pelo corpo. Enquanto a água levava embora o suor e os resquícios da noite anterior, flashes do que aconteceu no hotel voltaram com intensidade. Thor sobre ela, seus olhos fixos nos dela, e a pergunta que ele sussurrou com curiosidade genuína: — Por que você? Por que de todas as mulheres que já passaram pela minha cama, você é diferente? Celina sentiu o arrepio que percorreu sua pele naquela noite. Thor havia deslizado a mão pelo rosto dela, afagando-a com uma suavidade que contrastava com sua usual brutalidade. Depois, ele a beijou, um beijo que fez suas pernas tremerem, um beijo que queimou em sua pele e deixou sua respiração entrecortada. E então ele sussurrou
Celina ficou paralisada. Seu coração batia tão forte que parecia querer sair de seu peito. Arregalou os olhos, incapaz de desviar o olhar da cena que se desenrolava à sua frente.Thor estava ali, com a calça arriada, sua funcionária sentada sobre a mesa, o vestido levantado, as pernas envolvendo sua cintura. A mulher jogava a cabeça para trás, gemendo alto, enquanto Thor, em um tom rouco e carregado de desejo murmurava palavras picantes para ela. O toque possessivo dele, a maneira como a segurava com força, contrastava brutalmente com a lembrança que invadiu a mente de Celina.De repente, flashes de dias atrás a golpearam com violência. Ela viu César no escritório, entrelaçado com Nicole, seu toque lascivo, o riso sarcástico da amante. Viu também Thor no hotel, naquela noite, afagando seu rosto com um carinho inesperado, olhando-a nos olhos como se enxergasse algo além de sua fachada de arrogância e frieza. Como ele podia ser tão bruto e insensível agora, depois daquele momento que co
Celina estava concentrada digitando novos contratos e revisando o que Thor havia dito que estava errado. Passou a manhã inteira focada nisso e só percebeu o tempo passar quando seu estômago roncou, indicando que já era hora do almoço.O telefone em sua mesa tocou, interrompendo seus pensamentos. Ao atender, ouviu a voz autoritária de Thor:— Venha até minha sala imediatamente.Sem tempo para questionar, Celina se levantou e caminhou até a sala do chefe. Ao entrar, ele nem ao menos a olhou, apenas ordenou friamente:— Vá até o restaurante onde costumo almoçar e traga meu pedido.Celina ficou surpresa com a audácia dele e, sem pensar, retrucou:— Como é que é?Thor arqueou a sobrancelha e falou com muita frieza: — Você é surda?Celina respirou fundo para conter sua irritação e respondeu com firmeza:— Não sou surda, senhor. Mas não seria mais prático pedir pelo serviço de entrega?Ele se levantou e se aproximou, ficando a poucos centímetros dela. O olhar intenso de Thor a desafiava.—