Celina arqueou uma sobrancelha, avaliando-o por um instante. Ele não era como os homens que geralmente tentavam abordá-la. Não parecia apressado. Não usava uma cantada barata. Apenas oferecia algo simples, com uma confiança desconcertante.
E, talvez pelo álcool, ou talvez porque precisava desesperadamente se sentir desejada depois de ser descartada como lixo, ela sorriu de canto. — Aceito. O homem inclinou levemente a cabeça, o sorriso de canto quase desafiador. — Você não parece do tipo que aceita bebidas de estranhos. Celina soltou um riso baixo, sem humor. — Talvez hoje eu seja. Ele a observou atentamente, os olhos escuros estudando cada detalhe de seu rosto. — Então hoje é um dia atípico. — Pode apostar que sim. O homem ergueu uma mão, chamando o garçom, e sem nem precisar olhar o cardápio, pediu: — O melhor drink do bar para esta senhorita. Celina observou enquanto o garçom assentia e se afastava. O homem então puxou um banco e se sentou ao lado dela, casualmente, como se não houvesse dúvidas de que era ali que ele pertencia. — Parece que sua noite não foi das melhores — disse ele, com uma voz profunda e envolvente. Celina ergueu os olhos, estudando-o. Ele não perguntou o que aconteceu. Não demonstrou pena. Apenas a observava com um interesse genuíno. — Digamos que foi a pior noite da minha vida — ela respondeu, amarga. — Então talvez eu possa torná-la um pouco melhor. Celina soltou uma risada sem humor. — Difícil. O homem inclinou a cabeça, os olhos intensos analisando cada detalhe de seu rosto. — Eu aceito o desafio. Ela o encarou por alguns segundos. Havia algo nele que a intrigava. Um magnetismo irresistível. Talvez fosse a bebida. Ou talvez fosse o desespero. Mas, pela primeira vez naquela noite, ela sentiu algo além da dor. O garçom retornou com o drink, e Celina pegou o copo, levando-o lentamente aos lábios. O sabor era exótico, um equilíbrio perfeito entre doce e amargo, e deslizou por sua garganta como seda. — Impressionada? — ele perguntou, observando-a atentamente. Celina pousou o copo sobre o balcão e inclinou-se levemente para frente. — Um pouco. Ele sorriu. — Ainda posso te surpreender mais. — Você é sempre assim? — perguntou, brincando com o canudo do drink. — Assim como? — Confiante. Ele sorriu de canto. — E você? É sempre assim? — Assim como? — devolveu no mesmo tom. — Perigosa. Celina prendeu a respiração por um instante. Perigosa. Ninguém nunca havia usado essa palavra para descrevê-la. Mas, talvez, naquela noite, fosse exatamente isso que ela queria ser. Ela sustentou o olhar dele, saboreando o momento. — Acho que você gosta de perigo. O homem ergueu o copo, brindando no ar. — Apenas do tipo certo. Celina fez o mesmo, e os copos se tocaram levemente antes de ambos beberem ao mesmo tempo. — Está fugindo de algo? Celina desviou o olhar por um instante, observando a cidade. — Estou fugindo de mim mesma. Um silêncio carregado de tensão surgiu entre eles. Então, ele sorriu. — Quer continuar essa conversa noutro lugar? Ela arqueou uma sobrancelha. — Você nem sabe meu nome — murmurou. — E você não sabe o meu. Celina segurou o copo com força. Uma parte dela hesitava. Outra parte queria escapar da realidade a qualquer custo. E, naquele momento, ceder parecia a única opção. Ela pegou a bolsa, se levantou e olhou para ele. — Vamos. O homem segurou sua mão, e juntos caminharam em direção ao hotel. Sem nomes. Sem perguntas. Apenas um acordo silencioso de que, naquela noite, nada mais importava além do momento. A porta da suíte presidencial se fechou atrás deles, abafando o som do mundo lá fora. Celina caminhou lentamente até a grande janela redonda que dominava o cômodo, sentindo-se hipnotizada pela vista de São Paulo iluminada. A cidade parecia se estender infinitamente diante dela, mas nada ali fora importava. Ela apoiou as mãos na vidraça fria, respirando fundo. Sentia o coração ainda acelerado, mas não pelo motivo que deveria. O homem misterioso se aproximou sem pressa, parando logo atrás dela. Suas mãos firmes deslizaram suavemente pela cintura de Celina, puxando-a para mais perto. Ele inclinou o rosto, seus lábios roçando a pele exposta de seu ombro em um beijo lento e quente. — Tem certeza disso? — sua voz soou baixa, quase rouca contra sua pele. Celina fechou os olhos e sorriu de canto. — Pode ficar tranquilo — ela disse, girando levemente a cabeça para encará-lo de lado. — Eu sou adulta, não estou bêbada e sei exatamente o que estou fazendo. Ele a observou por um instante, como se estivesse avaliando sua resposta, mas então sorriu satisfeito. — Ótimo. Seus dedos deslizaram pelo corpo de Celina até encontrarem o zíper do vestido. Lentamente, ele o desceu, deixando o tecido escorregar por suas curvas até cair em um círculo de seda ao redor de seus pés. Ela não estava nua. Sob o vestido, vestia a lingerie luxuosa que havia comprado naquela manhã — um conjunto de renda preta que delineava perfeitamente suas curvas. Os olhos dele percorreram cada centímetro de sua pele exposta, como se estivesse diante de uma visão celestial. — Você é linda Celina sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ele sabia exatamente o que dizer, como se cada palavra fosse meticulosamente escolhida para fazê-la se sentir desejada. E funcionava. Com um movimento firme, ele a puxou pela cintura, colando seus corpos. Então, sem aviso, tomou seus lábios em um beijo que fez sua estrutura tremer. Era intenso, profundo, arrebatador. Celina sentiu as pernas fraquejarem quando ele aprofundou o beijo, dominando cada espaço, cada sensação. Os dedos dele percorreram suas costas nuas, segurando-a com firmeza antes de erguê-la no colo. Instintivamente, ela cruzou as pernas ao redor da cintura dele, sentindo a força e o calor de seu corpo contra o dela. Ele sorriu contra seus lábios. — Eu sei ser gentil — sussurrou. Com passos firmes, ele a levou até a enorme cama no centro do quarto, deitando-a com cuidado sobre os lençóis macios. Ali, sob a penumbra das luzes da cidade e embalados pelo desejo, eles se entregaram ao prazer com luxúria e intensidade. Nada mais existia. Nenhuma dor. Nenhuma traição. Apenas o instante.A claridade atravessava as janelas, filtrando a luz do amanhecer e iluminando suavemente o ambiente luxuoso da suíte. O céu de São Paulo exibia tons alaranjados misturados ao azul suave do início da manhã, e a cidade começava a despertar abaixo dela. Celina despertou devagar sentindo-se desorientada, seu corpo afundando na cama macia, o lençol de algodão egípcio cobrindo sua pele desnuda. Piscou algumas vezes, tentando se situar. O teto alto, os móveis sofisticados, o cheiro amadeirado no ar… nada daquilo lhe era familiar, nada era seu Virou o rosto para o lado e sentiu o coração falhar uma batida. Ali, ao seu lado, o homem do bar ainda dormia profundamente. O peito largo subia e descia em uma respiração lenta e tranquila. Os lençóis cobriam a parte inferior de seu corpo, mas deixavam à mostra a pele quente e tatuada de seu braço, repousado sob a cabeça em um gesto despreocupado, como se nada no mundo pudesse perturbá-lo. Celina engoliu em seco, sentindo um turbilhão de e
Celina estacionou o carro na garagem da mansão e ficou ali por alguns instantes, respirando fundo. As mãos ainda tremiam no volante, e sua mente estava um turbilhão. A noite anterior parecia um borrão, um sonho — ou talvez um pesadelo. Desceu do carro com passos incertos e entrou na casa em silêncio. A mansão estava mergulhada na escuridão, apenas algumas luzes de presença iluminavam discretamente o caminho até o quarto. Subiu as escadas devagar, o coração acelerado. A cabeça martelava, reflexo da bebida e da falta de sono. Quando empurrou a porta do quarto e entrou, encontrou tudo escuro. Suspirou aliviada, pensando que poderia deitar e tentar esquecer tudo. Mas então, um clique suave ecoou no ambiente. A luz do abajur ao lado da poltrona foi acesa, e Celina conteve um grito ao ver a silhueta de César sentado ali, à sua espera. Os olhos dele estavam sombrios, o rosto rígido, uma expressão de puro ódio. — Onde você passou a noite? — a voz dele cortou o silêncio como uma l
Celina ainda sentia o impacto da surpresa enquanto se sentava na cadeira de couro à frente da enorme mesa de mogno. O choque de o encontrar naquele escritório luxuoso, o homem misterioso da noite no hotel a deixou sem palavras por alguns instantes. Ele estava ali, à sua frente, como seu possível chefe. Thor Miller a olhava fixamente, os olhos intensos examinando cada detalhe de sua expressão. Como se estivesse se divertindo com a situação. Ele não parecia surpreso em vê-la, e isso só a deixava ainda mais nervosa. — Senhorita Bernardes — ele começou, a voz grave e carregada de uma calma irritante. — Por favor, fique à vontade. Celina engoliu em seco e tentou recuperar o controle de si mesma. Endireitou a postura e tentou parecer profissional. — Obrigada — sua voz saiu quase um sussurro Thor se recostou na cadeira, sem desviar o olhar. — Antes de começarmos, vou me apresentar. Sou Thor Miller, CEO da Miller Holdings. Meu avô, Thor Miller, e meu pai, Roberto Miller, construíra
Celina se virou e viu uma mulher lindíssima entrar sem hesitação. Sentiu o estômago despencar. A mulher foi diretamente até Thor e, por trás da cadeira, passou os braços ao redor do pescoço dele. — Que saudade, amor — disse ela, inclinando-se para um selinho rápido. Celina ficou paralisada. Seus olhos instintivamente desceram para as mãos de ambos. Ali estavam. As alianças douradas. Thor limpou a garganta e, com visível irritação, afastou a mulher com delicadeza. — Isabela — disse ele, em tom de advertência. — Já te falei que não aceito interrupções quando estou em uma reunião de trabalho. Isabela revirou os olhos e sorriu de lado. — Deixa de ser chato, amor. Ela olhou rapidamente para Celina, seu olhar carregado de desprezo. Celina sentiu como se tivesse levado outro tapa no rosto. Como ela pôde ser tão idiota? Isabela, aparentemente satisfeita, deslizou os dedos pelo ombro de Thor e saiu da sala. Thor ajeitou o paletó e voltou sua atenção para Celina, co
Celina encarava o teste de gravidez sobre a pia do banheiro da empresa, incapaz de desviar o olhar daquelas duas linhas cor-de-rosa. Positivo. Seu coração batia descompassado, e sua mente estava um caos. — O que eu vou fazer agora? — murmurou, passando as mãos trêmulas pelos cabelos. Ela começou a andar de um lado para o outro, sentindo o desespero crescer em seu peito. — Eu posso ser demitida… Não sei nem quem é o pai… Sua respiração estava acelerada. Sua cabeça girava. Não fazia ideia de quantas semanas estava, e essa incerteza a aterrorizava. Se fosse de César, seria um golpe do destino. Um último laço que a ligaria para sempre a ele, quando tudo o que queria era esquecê-lo. Se fosse de Thor… Celina apertou os olhos, recusando-se a terminar o pensamento. As lágrimas escorreram pelo seu rosto. Ela não estava pronta para aquilo. O som do telefone tocando na sala ao lado a fez prender a respiração. Ela ignorou, incapaz de se mover. O telefone tocou novamente. E nova
Celina saiu do consultório médico com as pernas trêmulas, sentindo o coração martelar contra o peito. Cada palavra da ginecologista ecoava em sua mente como um martelo em vidro frágil: "Um mês e três dias." "Precisamos marcar seu pré-natal." Ela entrou no carro quase no automático e fechou a porta com força. Suas mãos tremiam tanto que teve que segurar o volante por um instante antes de ligá-lo. Mas, ao invés de dar a partida, abaixou a cabeça e apoiou a testa no couro frio do volante. — Não… isso não pode estar acontecendo… — sussurrou, sua voz quebrada pelo choque. Fechou os olhos, tentando encontrar uma falha, uma possibilidade de erro. Mas os cálculos eram claros. O pai do seu filho só podia ser uma pessoa. Thor Miller. Seu chefe. O homem que ela odiava com cada fibra do seu ser. O homem arrogante, prepotente, frio e insensível. O homem que a tratava como se fosse descartável, como se sua existência se resumisse ao trabalho que fazia para ele. E agora… Celina
Celina estava sentada no chão frio, do lado de fora da casa que um dia foi sua. Seu corpo estava ali, mas sua alma parecia ter sido arrancada. As lágrimas escorriam em silêncio, molhando sua pele pálida. Seus pertences estavam espalhados pela calçada como se fossem lixo, roupas misturadas com documentos, sapatos. O vento da noite passava por ela, mas Celina não sentia frio. Não sentia nada além do vazio dentro de si. "Não sou nada. Não tenho ninguém." As palavras de César ecoavam em sua mente, cortando como lâminas afiadas. "Você era um nada quando se casou comigo. E vai continuar sendo." Seus dedos tremiam ao apertar a barra da própria blusa. O que vou fazer? Pra onde vou? Ela não tinha família para acolhê-la. Nenhum porto seguro. Seu mundo, que já estava desmoronando, agora havia ruído por completo. O barulho de um carro se aproximando tirou-a , por um breve momento, do estado de choque. Os faróis iluminaram sua figura encolhida no chão, e Celina ouviu o motor desligand
Ao ouvir toda aquela conversa, Celina tapou a boca para conter o soluço que ameaçava escapar. Ela sentiu a alma se despedaçar. A tontura veio forte, e ela precisou segurar-se na parede. Se Thor descobrisse sobre o bebê… Ele a obrigaria a abortar também. Celina sentiu o pânico tomar conta de seu corpo. Ela não podia contar. Não podia deixar que ele soubesse. Seus olhos arderam, e as lágrimas voltaram a cair. Virou-se e saiu correndo pelo corredor, sentindo o coração esmigalhado dentro do peito. Seu filho nunca poderia saber quem era o pai. E, assim, a decisão foi tomada. Ela protegeria seu bebê. Mesmo que isso significasse carregar esse segredo pelo resto da vida. Ao entrar em sua sala apressada, fechou a porta atrás de si, encostando-se nela como se precisasse de apoio para não desmoronar. Seu corpo tremia. O peito subia e descia de forma descompassada. Então, como se uma represa tivesse rompido, as lágrimas vieram. Ela deslizou até o chão, cobrindo