— O que houve? — olhei para Lucile sem saber o que fazer. Várias possibilidades terríveis vinha a minha mente.
Lucile estava na minha porta. Seu olhar desesperado, seu corpo enxarcado pelo dia chuvoso e em prantos. Em todos esses anos que somos amigos nunca a vi assim.
Ela me encarava. Abriu a boca para dizer algo, porém não saiu nenhum som além do choro.
Reagindo, a puxei para dentro de casa e peguei uma toalha e uma manta.
— Precisa se enxugar ou vai pegar um resfriado.
Ela começou a se enxugar devagar, como se nem soubesse o que estava fazendo.
Demorou para que começasse a falar e, quando começou, senti meu coração se partir por ela.
Minha melhor amiga havia descoberto uma doença terminal.
Enquanto falava, ela começou a chorar descontroladamente. E a única coisa que pude fazer foi abraçá-la, me amaldiçoando por não ter o poder de curá-la.
Quando finalmente consegui que se acalmasse e contasse direito, soube que o médico disse que teria no máximo um ano.
Ela ficava repetindo: Como ele poderia saber? Ele é Deus por acaso? Um ano. Eu teria que viver a minha vida toda em um ano.
Naquela noite, ela dormiu na minha cama, como quando éramos crianças, só que desse vez não havia sorrisos ou brincadeiras. Nós dois chorávamos. Ela por sua vida que se acabaria e eu porque perderia a pessoa que considerava uma irmã. Um ano. Era tudo que tínhamos.
Na manhã seguinte, conseguimos conversar melhor e ela me contou que não trataria o câncer porque já estava avançado e as chances eram mínimas e não mudariam tanto o tempo que lhe restava. O que ela pretendia era se casar o mais rápido possível. Sempre foi o seu sonho e o sonho da sua mãe o casamento. Elas estavam esperando o príncipe encantado. Só que agora não teria mais tempo de viver o conto de fadas se o encontrasse.
— Viverei meus sonhos em um ano. — Estava decidida.
Quando perguntei com quem se casaria, ela deu de ombros.
— Não seria por amor, pois envolver alguém seria crueldade. E nem por prazer. A última coisa em que consigo pensar é sexo.
Fiquei encarando seus olhos vermelhos pelo choro, até me decidir e dizer:
— Case-se comigo.
— O que? — ela me encara confusa.
— Não precisa ser por amor o seu casamento mesmo, então que ao menos seja por amizade. Nos conhecemos desde que éramos bebês. Você sempre será minha irmã de coração.
Era a verdade. E eu não teria nenhum problema em realizar esse seu desejo. Tenho algumas colegas para sexo, mas nada sério. Ninguém que devesse satisfações. Além disso, ela perderia tempo procurando o homem que faria esse papel. Eu não quero que além de tudo que estão passando sua família encontre um desgraçado que dará trabalho depois. Todos na família dela são um pouco ingênuos, acreditam fácil. Se não fossem os advogados já teriam caído em golpes terríveis.
Lucile sorri. E sei que significa que gostou da ideia.
— Você não existe. Faria mesmo isso por mim?
— Sou único, mas existo. — Dou uma piscadela. — E sim, faria qualquer coisa por você.
— Estou tentada a aceitar. — Ela colocou seu cabelo atrás da orelha, como sempre fazia ao pensar em algo sério.
— Então aceite — incentivei.
— Para as outras pessoas que não são da família pode ser real? Elas vão descobrir sobre a doença, mas eu gostaria que achassem que nos casamos por amor. Não quero partir como a coitadinha que... — não conseguiu terminar de falar. Seus olhos estavam marejados e lágrimas silenciosas desceram.
— Claro que podemos fazer isso. Não tenho ninguém que deva explicações. Vamos dizer que nossa amizade se tornou amor. Muitos já apostavam nisso.
Ela sorriu entre as lágrimas ao recordar das pessoas que apostavam em nós como casal. No fim, eles acertaram. Pena que de um jeito triste e doloroso.
Lucile segura a minha mão e aperta olhando em meus olhos.
— Então sim. Eu aceito.
JoshuaEstou cansado. Chega! Secretárias bonitas são um problema. Tudo se confunde com assédio. É a terceira que sai da empresa esse ano e ainda estamos em junho. Quando que um “bom dia” virou “quero te comer”?Estou cansado de frivolidades. Poderia simplesmente foder sem compromisso com elas, mas... Não posso. Meu nome é muito exposto no mundo dos negócios e preciso manter minha pose de marido apaixonado por minha esposa doente. É isso, mais uma vez terei que entrevistar secretárias. Já está virando rotina.Cheguei em casa, joguei minha pasta no sofá e fui direto ao gazebo, onde Lucile gostava de ficar.Ela estava em sua cadeira de rodas — o que só acontecia quando não se sentia disposta —, mexendo com as flores. Seus cabelos castanhos soltos e seu robe branco a deixam com a aparência de um anjo. Era quase uma pintura aquela bela mulher cheirando uma rosa e sorrindo brevemente. Lucile é linda.Me aproximo.— Boa noite, querida! — Beijo seu rosto. E ela me encara com seus intensos olho
Paris Barbara deixou o taco de sinuca bater sobre a mesa com força, causando um barulho que me assustou um pouco.— Merda! — reclamou chateada.Eu também estava irritada. Se não fosse os dois idiotas querendo opinar no nosso jogo, eu poderia ter ganhado, mas os imbecis conseguiram tirar minha atenção. E, pelo jeito, a de Barbara também. E as gargalhadas de Inalda não ajudam em nada. A mulher de cabelo azul conseguia se concentrar em qualquer coisa, em qualquer lugar.Olhei para Barbara e apenas dei de ombros. Já imaginava que esse era o motivo da sua ira. Aqueles malditos machos intrometidos.Antes que eu pudesse responder ao comentário que Barbara não fez, Inalda se adiantou:— Esse é o mal de ser uma aparição, Paris. Ser bonita tudo bem, mas você é ignorante de linda.Peguei minha cerveja e virei tudo. Os imbecis ainda estavam ao nosso redor. Será que eles acham que vamos transar porque mostraram interesse? Fala sério!Não retruquei a fala da minha best friend. Inalda era minha melh
Joshua— Senhor Anderson, as candidatas aguardam. — Fui avisado por Nice, funcionária do recursos humanos.A acompanhei até a sala onde ocorreria as entrevistas. Já está virando minha segunda sala depois de tantas entrevistas com secretárias. Sinto falta da senhora Martins. Tive que aposentá-la ano passado. Ela foi secretária do meu pai. Ele a cedeu para me ajudar e nunca mais a devolvi. Mas a mulher precisava descansar, mesmo sendo muito eficiente. Mais de quarenta anos na profissão. Fico feliz que esteja viajando com os bônus que recebeu tanto da minha parte quanto do meu pai, ela merece.Suspiro pensando se terei a sorte de encontrar alguém profissional dessa vez. Pedi que Nice selecionasse apenas pessoas acima de quarenta anos e sem olhar para aparência como costuma fazer.Assim que entrei, percebi que ela não levou a sério minha exigência. Todas as candidatas eram lindas e pareciam loucas para dar o golpe no CEO de rosto marcado. Era assim que algumas pessoas me chamavam. Outros m
JoshuaDepois de me despedir da ruiva, decidi não ficar mais. Sai do local e liguei para o Theo, meu melhor amigo, e chamei para beber comigo mais tarde. Primeiro eu passaria em casa para saber como Lucile está.Ao chegar em casa a encontrei dormindo.Tomei um banho rápido, lhe dei um beijo de boa noite e sai.Theo já me esperava no bar.— Pedi algo leve, já que amanhã ainda precisamos acordar cedo — ele disse depois que nos cumprimentamos.Me sentei ao seu lado no balcão do bar que costumamos frequentar.— O que é leve para você “fígado de aço”?— Uísque. Era isso ou água.— Excelente escolha — brinquei.Enquanto conversávamos, as bebidas foram servidas.— Como estão as coisas? Fiquei sabendo que contratou uma secretária nova e feia.Reviro os olhos para seu comentário e para o fato de alguém ter fofocado para ele. Esse incorrigível deve estar comendo alguma funcionária de língua solta.— Contratei uma secretária nova e menos propicia a problemas, como disse que faria. Mas ela não é f
Paris Seis da manhã, acordei e me tranquei no banheiro para um banho antes da minha entrevista. Ainda não sabia como seria a questão da aposta.Talvez as duas loucas me deixem trabalhar normalmente. Apesar de que não ligo. Vai ser divertido de qualquer forma. Eles podem descobrir a verdade, mas se preciso digo que uma fase ruim me deixou seja lá como eu deva ficar.Com esses pensamentos, sai do banheiro e encontrei as duas me esperando sentadas em suas camas com caixas e um sorrisinhos.— Achei que poderia escapar — brinquei, enxugando o rosto enquanto usava uma toalha cobrindo meu corpo.— Sem chance. — Barbara declarou.— Me desculpe, amiga, mas parece muito divertido para não fazer. — Inalda declarou abrindo uma das caixas.— Então vamos nos divertir. — Sentei na cadeira da única penteadeira em nosso quarto e elas vieram. Barbara indicava o que Inalda precisava fazer porque ela era estudante de direito, não entendia nada de maquiagem, assim como eu.Todas nós tínhamos planos para q
ParisPrimeiro dia de trabalho.Cheguei na empresa alguns minutos antes do horário, para começar a me acostumar com o lugar, conhecer.A recepcionista era uma jovem de cabelos platinados e corpo de modelo de passarela. Talvez seja preconceito por tudo que já vi e vivo, mas esperei ela me tratar mal por causa da minha aparência atual.Qual não foi minha surpresa ao ouvir:— Bom dia! Posso ajudá-la? — o sorriso em seu rosto era bastante gentil.Devolvi o sorriso.— Sou a nova secretária do senhor Anderson. Me chamo Paris.— Ah, seja bem-vinda! Me chamo Sandra. Agradeci e ela perguntou:— Já tem seu cartão de acesso e as informações sobre seu local de trabalho?— Sim. Último andar. — Isso, logo que sair do elevador verá a sala, que antecipa a do CEO, a sua. Lá também tem uma pequena cantina onde as secretárias dele preparam café, sala de impressão e tudo que necessitar para não precisar descer desesperadamente atrás de uma cafeteria ou copiadora.— Ótimo. Obrigada pela gentileza.— Que
Joshua — Bom dia, Paris!Quando cheguei, no seu segundo dia, ela já estava em seu lugar, e sorriu sem mostrar os dentes, como fez no primeiro dia. Não sei se era por vergonha do aparelho. De qualquer forma era um sorriso sincero.— Bom dia, senhor Anderson!— Venha a minha sala, por favor — pedi.Ela me acompanhou. Usava o mesmo vestido cinza da entrevista, ou algo muito igual.Mesmo por trás dos óculos velhos, pude ver que ela me olhava com certo interesse. Seus olhos castanhos seguiam meus movimentos, do mesmo jeito que notei no primeiro dia.Espero não ter problemas com ela também.— Sente-se — disse enquanto caminhava até o som e colocava minha playlist de quarta-feira. A primeira música é de Kenny Loggins. Gosto de trabalhar ouvindo música, virou um hábito.Ela obedeceu, sentando em uma das cadeiras em frente à minha mesa.— Acabei não mencionando ontem, porém precisa saber de um detalhe sobre mim, eu trabalho com música, e muitas vezes alta. Me ajuda a concentrar — expliquei o m
LucileTudo que mais quero nesse mundo é que Josh seja feliz. Eu sei que ele abriu mão de muita coisa para estar casado comigo. E também sei que irá sofrer quando eu me for. Sendo filho único, Theo e eu sempre fomos seus irmãos de coração. Nós três somos apegados demais. Tanto que o Theo evita me ver, pois sempre acaba em pedaços, ele é o mais sensível de nós, apesar do seu jeito superficial.O médico disse que não houve nenhuma mudança em meu quadro, ainda morrerei em breve. A doença continua seu caminho de destruição.Quando penso em Josh, às vezes me arrependo desse casamento. Se eu tivesse cabeça para isso, até teria um caso, só para Josh se sentir livre para ter também. Essas visitas a casas de swing não o satisfazem, eu sei. Na verdade, está mais o frustrando. Ele é uma pessoa que precisa se comprometer. E pelo que vejo quando ele fala dessa secretária nova, ou como olhou para ela quando chegamos à empresa, sei que isso não vai demorar acontecer.Só que essa menina precisa se cui