CAPÍTULO 2

Paris

Barbara deixou o taco de sinuca bater sobre a mesa com força, causando um barulho que me assustou um pouco.

— Merda! — reclamou chateada.

Eu também estava irritada. Se não fosse os dois idiotas querendo opinar no nosso jogo, eu poderia ter ganhado, mas os imbecis conseguiram tirar minha atenção. E, pelo jeito, a de Barbara também. E as gargalhadas de Inalda não ajudam em nada. A mulher de cabelo azul conseguia se concentrar em qualquer coisa, em qualquer lugar.

Olhei para Barbara e apenas dei de ombros. Já imaginava que esse era o motivo da sua ira. Aqueles malditos machos intrometidos.

Antes que eu pudesse responder ao comentário que Barbara não fez, Inalda se adiantou:

— Esse é o mal de ser uma aparição, Paris. Ser bonita tudo bem, mas você é ignorante de linda.

Peguei minha cerveja e virei tudo. Os imbecis ainda estavam ao nosso redor. Será que eles acham que vamos transar porque mostraram interesse? Fala sério!

Não retruquei a fala da minha best friend. Inalda era minha melhor amiga. Como contradizer quem sabe tudo sobre sua vida? A mesma coisa podia ser dita de Barbara, pelo menos poderia dizer meses atrás. Porque ela já pisou feio na bola comigo há algum tempo.

A culpa de eu ser “ignorante” é dos meus pais. A mistura do genes dos dois deu em mim. Um loiro de olhos verdes e uma negra escandalosamente bela, deram a luz a uma morena de olhos verdes e escandalosamente bela.

E não é sendo ignorante como minha amiga fala, mas beleza é algo que transborda aqui. Falo desse padrãozinho imposto pela sociedade, porque para mim beleza é muito relativo. Apesar de saber que sou o padrão que muitas querem alcançar, o que mais me admira nas pessoas são o caráter, bondade, sinceridade... essas coisas tão essenciais e que muitas vezes falta, independente da aparência física.

E eu não era a única mulher linda em nosso trio. Inalda era perfeita com seu estilo roqueira tatuada de cabelos azuis e Barbara arrasava quarteirões com sua beleza sendo ruiva com sardas fofas. Fofas o bastante para que conquistasse meu namorado no passado e o tornasse meu ex. Mas isso é história para outro dia.

— Não sou a única aqui chamando a atenção. Vocês me culpam por tudo. Já se olharam no espelho hoje? — Fiz um biquinho fingindo estar chateada.

— A única modelo de passarela aqui é você. — Inalda brincou. Sua meta diária é me deixar vermelha de constrangimento pelo menos uma vez.

— Eu me acho linda. — Barbara se mostrou chateada.

Sinceramente eu também ficaria se ficassem elogiando outra mulher sem parar na minha frente, mesmo que soubéssemos que é só uma provocação de Inalda.

Para não deixar o clima chato nem respondi, decidi mudar o assunto.

— Eu desisto. Diz ai, qual vai ser o meu castigo? — lembrei minhas amigas que era uma rodada de apostas.

Houve um momento de silêncio e cochichos entre as duas antes da palavra “isso” ser pronunciada com empolgação pelas duas.

O sorrisinho da minha amiga Inalda deixou claro que coisa boa não viria. Espero que não me peça para fazer nenhuma dancinha sexy nesse lugar.

Olho para os idiotas ao nosso redor.

Deus me livre!

Inalda colocou a mão no queixo, exatamente como fazia quando precisava fazer uma escolha difícil. Olhou para Barbara e sorriu. Barbara devolveu o sorriso dizendo:

— Tantas opções... Mas essa é a melhor.

Cruzei meus braços, mostrando que estava ansiosa. Ao que parece os seres inoportunos entenderam que estavam sobrando, pois finalmente foram embora.

Sem olhar para o lado, vi de relance eles indo em direção ao balcão do bar, onde havia duas loiras quase nuas. Devem ter achado que a roupa era convite. Homens.

— Esperando... — voltei minha atenção para minhas amigas.

— Quero que você fique feia. — Inalda disse, e Barbara apoiou com palminhas.

A encarei com a sobrancelha levantada.

— Desenha que não entendi.

— Exatamente o que escutou, durante trinta dias quero você mais feia que a bruxa do 71. A Barbara vai cuidar disso com seu poderes mágicos de maquiadora.

— Vou te deixar igual uma personagem horrível de um filme em que trabalhei. Ela tinha duas verrugas. — Barbara disse empolgada.

Eu apenas olhei para ela sem acreditar.

— Mulher, eu tenho uma entrevista de emprego amanhã. Não pode mudar minha aparência.

— Ainda será você. Mas a sua pior versão. Aposta é aposta.

— Vai cumprir ou arregar? — Barbara atiçou.

— Com amigas como vocês ninguém precisa de inimigo.

— Não custa nada. Se alguém questionar na empresa, diz que você era de um jeito e mudou. Isso acontece sempre.

— E depois? Não vou trabalhar lá só um mês. Pelo menos é o que espero.

— Depois, pode continuar feia, se gostar. — Barbara ri, estava se divertindo.

— Ou pode dizer que estava passando por uma fase que acabou. — Inalda completa.

E Barbara atiça:

— Topa ou não?

Dei de ombros. Também curiosa por essa aventura.

Eu devo ser maluca de arriscar ser rejeitada por uma aparência que nem seria minha, mas por outro lado se não for escolhida pelas minhas habilidades pode ser até bom. Já passei por muita coisa com chefes abusados que me viam como um pedaço de carne que queriam comer.

Sorrio decidida.

— Topo.

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