Joshua
Depois de me despedir da ruiva, decidi não ficar mais. Sai do local e liguei para o Theo, meu melhor amigo, e chamei para beber comigo mais tarde. Primeiro eu passaria em casa para saber como Lucile está.
Ao chegar em casa a encontrei dormindo.
Tomei um banho rápido, lhe dei um beijo de boa noite e sai.
Theo já me esperava no bar.
— Pedi algo leve, já que amanhã ainda precisamos acordar cedo — ele disse depois que nos cumprimentamos.
Me sentei ao seu lado no balcão do bar que costumamos frequentar.
— O que é leve para você “fígado de aço”?
— Uísque. Era isso ou água.
— Excelente escolha — brinquei.
Enquanto conversávamos, as bebidas foram servidas.
— Como estão as coisas? Fiquei sabendo que contratou uma secretária nova e feia.
Reviro os olhos para seu comentário e para o fato de alguém ter fofocado para ele. Esse incorrigível deve estar comendo alguma funcionária de língua solta.
— Contratei uma secretária nova e menos propicia a problemas, como disse que faria. Mas ela não é feia, só não se cuida. Essa palavra “feia” — faço aspas — é muito depreciativa e sabemos que usá-la para definir uma mulher pode mexer com ela para sempre. Sem contar que com os procedimentos disponíveis, e com dinheiro, pode se ter praticamente a aparência quiser.
Era realmente o que eu pensava. O que Paris, a moça que escolhi, tinha que mais diminuía sua beleza escondida era superficial, algo que cuidados e profissionais ajudariam.
— Gostei do discurso caloroso — debocha. — Eu preciso ver, mas, pelo que soube, é um canhão. E tem canhões que nenhum processo estético resolve.
Percebi que esse seria um assunto que ele vai adorar por um longo tempo. Theo tem esse defeito. Quando se trata de mulheres ele é bastante superficial. Lucile sempre diz que um dia ele vai “quebrar a cara” sendo assim.
— Não fale assim, Theo. Não sabemos sobre a vida dela — disse e virei minha bebida. Estava precisando mesmo de um álcool com meu amigo idiota.
— As pessoas são responsáveis por se cuidar. — Deu de ombros.
— E você foca demais na aparência.
— Claro, amigo, eu sou um gato. Só combino com gatas. E não venha me dizer que já namorou uma... como posso dizer... descuidada.
Ri. Aparência, esse era o maior defeito do meu amigo, mas tirando isso seu coração é imenso.
— Fica longe da empresa. Não quero que diga nada que possa magoar aquela moça. Ela pode ser tudo que preciso. E eu não suporto mais fazer entrevistas. Seja um bom amigo.
— Tá bom. Tá bom. Vamos mudar de assunto. Como foi lá na casa? Alguém interessante?
Minha vez de dar de ombros.
— Uma ruiva. Foi satisfatório.
— Credo! Sexo satisfatório é uma merda. Você devia ter uma amiga fixa. Alguém confiável e gostosa, claro. Alguém que te deixe mais que satisfeito.
— Estou bem assim.
— Vai mentir para outro. Nem Lucile acredita nisso.
— Minha vez de pedir para mudarmos de assunto.
Ele só deu seu sorriso cínico e pediu mais um drink. Aposto que Lucile e ele ficam discutindo minha vida sexual quando não estou por perto. Ter amigos abusados é isso.
Ficamos no bar conversando até pouco mais de meia noite, quando fui para casa descansar e ele foi para o seu apartamento com duas morenas que não paravam de olhar em nossa direção. Era para ser uma para cada, mas dispensei. E elas não se importaram em dividir o safado do meu amigo.
Realmente sinto falta da liberdade de uma troca de olhar se tornar uma tórrida noite de sexo... Isso até acontece, mas quero fora de uma casa de swing. Quero saber quem é a pessoa comigo, conversar... É ser muito exigente? Devo estar mentalmente mais velho que a minha idade mostra.
Dormi rindo desse pensamento.
Paris Seis da manhã, acordei e me tranquei no banheiro para um banho antes da minha entrevista. Ainda não sabia como seria a questão da aposta.Talvez as duas loucas me deixem trabalhar normalmente. Apesar de que não ligo. Vai ser divertido de qualquer forma. Eles podem descobrir a verdade, mas se preciso digo que uma fase ruim me deixou seja lá como eu deva ficar.Com esses pensamentos, sai do banheiro e encontrei as duas me esperando sentadas em suas camas com caixas e um sorrisinhos.— Achei que poderia escapar — brinquei, enxugando o rosto enquanto usava uma toalha cobrindo meu corpo.— Sem chance. — Barbara declarou.— Me desculpe, amiga, mas parece muito divertido para não fazer. — Inalda declarou abrindo uma das caixas.— Então vamos nos divertir. — Sentei na cadeira da única penteadeira em nosso quarto e elas vieram. Barbara indicava o que Inalda precisava fazer porque ela era estudante de direito, não entendia nada de maquiagem, assim como eu.Todas nós tínhamos planos para q
ParisPrimeiro dia de trabalho.Cheguei na empresa alguns minutos antes do horário, para começar a me acostumar com o lugar, conhecer.A recepcionista era uma jovem de cabelos platinados e corpo de modelo de passarela. Talvez seja preconceito por tudo que já vi e vivo, mas esperei ela me tratar mal por causa da minha aparência atual.Qual não foi minha surpresa ao ouvir:— Bom dia! Posso ajudá-la? — o sorriso em seu rosto era bastante gentil.Devolvi o sorriso.— Sou a nova secretária do senhor Anderson. Me chamo Paris.— Ah, seja bem-vinda! Me chamo Sandra. Agradeci e ela perguntou:— Já tem seu cartão de acesso e as informações sobre seu local de trabalho?— Sim. Último andar. — Isso, logo que sair do elevador verá a sala, que antecipa a do CEO, a sua. Lá também tem uma pequena cantina onde as secretárias dele preparam café, sala de impressão e tudo que necessitar para não precisar descer desesperadamente atrás de uma cafeteria ou copiadora.— Ótimo. Obrigada pela gentileza.— Que
Joshua — Bom dia, Paris!Quando cheguei, no seu segundo dia, ela já estava em seu lugar, e sorriu sem mostrar os dentes, como fez no primeiro dia. Não sei se era por vergonha do aparelho. De qualquer forma era um sorriso sincero.— Bom dia, senhor Anderson!— Venha a minha sala, por favor — pedi.Ela me acompanhou. Usava o mesmo vestido cinza da entrevista, ou algo muito igual.Mesmo por trás dos óculos velhos, pude ver que ela me olhava com certo interesse. Seus olhos castanhos seguiam meus movimentos, do mesmo jeito que notei no primeiro dia.Espero não ter problemas com ela também.— Sente-se — disse enquanto caminhava até o som e colocava minha playlist de quarta-feira. A primeira música é de Kenny Loggins. Gosto de trabalhar ouvindo música, virou um hábito.Ela obedeceu, sentando em uma das cadeiras em frente à minha mesa.— Acabei não mencionando ontem, porém precisa saber de um detalhe sobre mim, eu trabalho com música, e muitas vezes alta. Me ajuda a concentrar — expliquei o m
LucileTudo que mais quero nesse mundo é que Josh seja feliz. Eu sei que ele abriu mão de muita coisa para estar casado comigo. E também sei que irá sofrer quando eu me for. Sendo filho único, Theo e eu sempre fomos seus irmãos de coração. Nós três somos apegados demais. Tanto que o Theo evita me ver, pois sempre acaba em pedaços, ele é o mais sensível de nós, apesar do seu jeito superficial.O médico disse que não houve nenhuma mudança em meu quadro, ainda morrerei em breve. A doença continua seu caminho de destruição.Quando penso em Josh, às vezes me arrependo desse casamento. Se eu tivesse cabeça para isso, até teria um caso, só para Josh se sentir livre para ter também. Essas visitas a casas de swing não o satisfazem, eu sei. Na verdade, está mais o frustrando. Ele é uma pessoa que precisa se comprometer. E pelo que vejo quando ele fala dessa secretária nova, ou como olhou para ela quando chegamos à empresa, sei que isso não vai demorar acontecer.Só que essa menina precisa se cui
ParisSinceramente, não entendi nada da visita da senhora Anderson. Achei que ela ficaria feliz em ter uma secretária feia. Sempre imaginei que as esposas dos CEOs eram ciumentas. Por que insistir em melhorar minha aparência? Por que se oferecer para ajudar nisso?Começo a me arrepender dessa aposta. Percebi que as pessoas não me veem como uma mulher desprovida de beleza e sim uma relaxada. Se parar para pensar, é a verdade. Afinal, uma pessoa que trabalha pode muito bem cuidar mais da pele, do corpo...“Não esquece que essa não é você.”Quase ri alto da voz da minha consciência. Às vezes eu realmente me esqueço.— Foco, Paris! Não importa a sua aparência. Vamos parar de pensar em marido que não é seu e em esposas estranhas — resmunguei voltando ao trabalho.A senhora Anderson é linda como uma fada de ficção. É triste saber que está doente. Deve ser horrível para os dois.Afasto o pensamento triste e foco no trabalho, que não é pouco.Pouco tempo depois, Joshua foi levar a esposa em c
ParisQuinze dias se passaram desde que comecei a trabalhar com Joshua. Conciliar trabalho, último semestre de faculdade e a farsa da secretária feia é complicado, principalmente o maldito aparelho que machuca minha boca e incomoda quando converso. Penso em tirar ele quando não estiver perto das garotas. Isso seria roubar? Provavelmente.Mas até que me divirto com tudo isso. Gosto de saber que Joshua me conserva ao seu lado por minha competência, gosto de me sentir útil, necessária. E gosto mais ainda quando ele me defende. Já ouvi várias vezes ele discutir com cliente ou executivo, dizendo para esquecer minha aparência e focar no meu trabalho. Ele sempre repetia que a empresa não era uma passarela.Talvez eu seja emocionada, como Barbara diz quando falo sobre meu chefe, mas isso mexe comigo. É, acho que estou apaixonada, porém não sou burra e muito menos estou propicia a ser amante. Ainda que tivesse chance. Sei como é ser traída e não desejo isso para ninguém.Nesses quinze dias nun
JoshuaFaz mais de quinze dias que estou trabalhando com Paris, e já nem sei como seria a minha vida sem ela. Me acostumei com seu trabalho, com sua presença alegre e competência. Ela é uma pessoa incrível, não abaixa a cabeça, mas também não perde a razão. Além de termos gostos musicais parecidos, também gostamos de filmes de ação e livros de mistério, entre outras coisas.A conversa com ela se desenvolve sem dificuldades, seja em assuntos da empresa ou coisas pessoais. Acho que ela sabe tanto sobre mim quanto meus melhores amigos. Também sei muito sobre ela, suas amigas, seu desejo de se formar e ter seu próprio consultório, sobre sua família.A única coisa que não me atrevi a perguntar é sobre sua aparência. Mas confesso, quero ver Paris arrumada, bem cuidada. Ela merece externar toda beleza do seu interior.Tenho planos de levá-la a um evento de lançamento de celular no próximo mês. E gostaria que ela fosse diferente do que vejo no trabalho.— Senhor Anderson?— Sim.— Ouvi algo d
Joshua— Boa tarde, marido! — Lucile cumprimenta. Ela está na sala, deitada no sofá com uma manta e tomando um chá. Seus cabelos castanhos estão presos em uma trança.— Boa tarde, esposa! Como passou o dia?— O de sempre. Médicos, conversar com meus pais. A única diferença foi que o Theo esteve aqui.— É difícil para ele também.— Eu sei. Mas não quero falar sobre como essa doença maldita machuca todos que amo. Me fala sobre você. Como foi seu dia de trabalho com a Paris?Me sento e coloco seus pés no meu colo.— Produtivo. Pretendo levar ela para o evento que te falei.— Isso é excelente!— Quanta empolgação. Até parece que falei que vou levar a chefe das lideres de torcida para um baile.— Não deixa de ser parecido.— Nada a ver. Se trata de trabalho.— Tá. Tá. Se você diz. — Ela deixa a xicara sobre a mesa de centro. — Eu vou deixar aquela garota incrível. Está decidido.— E se ela não quiser?— Acha que ela vai recusar o pedido de uma moribunda? — seu rosto expressa decepção.— Se