Joguei-me na cama, pressionando o rosto contra o travesseiro, mas nada impedia minha mente de girar. O caso de Sebastian Valle voltou como um pesadelo recorrente. Ele sempre foi um canalha, daqueles que se acham, acima de tudo, intocáveis. Lembrei do nosso último encontro, do modo como ele se aproximou de mim sem permissão, das palavras sujas que sussurrou achando que poderia me dobrar como tantas outras mulheres antes de mim.Eu o afastei, claro. Não sou do tipo que abaixa a cabeça. Mas o problema de gente podre como ele é que, quando contrariados, tornam-se perigosos. E Sebastian provou que sabia jogar sujo.Depois daquela noite, ele fez questão de me lembrar que o mundo pertencia a homens como ele. Telefonemas no meio da madrugada, mensagens implícitas de que nada ficaria barato, olhares carregados de promessas que me davam náuseas. Ele queria me lembrar de que poderia conseguir o que quisesse — de um jeito ou de outro.E então, de repente, ele estava morto.Meu irmão era implacáv
Os dias passaram e meu humor oscilava entre pânico absoluto e surtos de irritação. Conferi a reserva no hotel pela milésima vez, chequei a decoração, as bebidas, os pratos… tudo precisava estar perfeito. Eu estava prestes a me declarar para Pedro e, se ia me humilhar, que pelo menos fosse num cenário digno de cinema.Para piorar, Charlotte não ajudava em nada. Ou melhor, ajudava, mas com aquela paciência insuportável, como se estivesse esperando o momento exato para dizer “eu avisei”.Peguei o telefone e liguei para ela novamente.— Charlotte, eu só quero confirmar se você acha mesmo que esse plano é o melhor.O silêncio dela do outro lado foi cortante.— Lily, se você me ligar mais uma vez para perguntar a mesma coisa, eu juro que vou fingir que não te conheço.Bufei, andando de um lado para o outro do quarto.— Então é assim? Na hora de se meter na minha vida, você é especialista, mas quando eu preciso de apoio, você some?— Lily, pelo amor de Deus…— Você nunca foi minha amiga de v
Senti uma mão pousar em meu ombro, firme e ao mesmo tempo hesitante. Virei o rosto e encontrei Alexander ali, parado como uma estátua de gelo. Seus olhos sempre impassíveis, agora tinham um quê de desconforto.Antes que pudesse evitar, me joguei nos braços dele, agarrando sua camisa com força. As lágrimas se intensificaram, e eu soluçava como uma criança perdida. Alexander ficou rígido, os braços ao lado do corpo. Depois de um instante interminável, ele ergueu uma das mãos e deu um tapinha nas minhas costas, como se eu fosse um animalzinho que precisava de consolo.— Vai ficar tudo bem — ele murmurou, a voz soando mais como uma obrigação do que um conforto.— Se ele morrer… — minha voz saiu entrecortada. — É minha culpa. Tudo isso é minha culpa.Alexander não respondeu, apenas continuou ali, oferecendo o único consolo que sabia dar: sua presença fria e impenetrável.Os minutos se arrastaram até que, finalmente, uma dupla de médicos se aproximou. Levantei de um pulo, me afastando de Al
— Dê-me o divórcio!Sabe quando você olha nos olhos de alguém e sente um calafrio na espinha? Pois é. E, naquele momento, eu não estava diante de um anjo. Eu tinha certeza de que demônios existem, e um deles usava terno italiano e ocupava uma cadeira de couro do outro lado da mesa.Passei horas esperando como uma estranha para ter uma “audiência” com o meu próprio marido. Mas, finalmente, lá estava eu, de pé, respirando fundo, enquanto ele mal levantava os olhos por cima dos óculos. Papéis espalhados, canetas rolando pelo tampo da mesa… Alexander Speredo, o homem mais frio e insensível que eu conhecia, me encarava com aquele olhar gélido que faria até o Polo Norte parecer quente.Seu silêncio durava. O que ele esperava? Um show? Talvez. Senti o nervosismo me consumir, mas mantive a pose. Afinal, tudo naquele escritório gritava “poder”, e eu? Eu queria só uma assinatura no maldito papel do divórcio. — Não vai dizer nada? — Cruzei os braços, mais para esconder o tremor nas mãos do que
Quando acordei, o primeiro rosto que vi não era exatamente o que eu esperava encontrar ao abrir os olhos. Um homem, talvez na casa dos trinta, me observava com um olhar preocupado. Não era o tipo de beleza que me faria suspirar, mas seus olhos suaves e o nariz bem delineado eram, de alguma forma, reconfortantes.— Você está bem, senhora? — ele perguntou, a voz doce como uma brisa de primavera.Notei que ele estava vestindo um jaleco branco. Ah, então deve ser o dentista. Soltei um suspiro de alívio e, enquanto tentava controlar a dor que ainda latejava na minha boca, disse:— Estou viva, mas meu dente está me matando. Você pode fazer algo a respeito?Ele soltou uma risada suave e me ajudou a levantar do chão, suas mãos firmes, mas gentis.— Siga-me até o consultório.E assim fiz, passando pela sala de espera sob olhares curiosos que, sem dúvida, me amaldiçoavam silenciosamente por ignorá-las enquanto ele me arrastava para fora. A dor era uma sombra tão insuportável que não me permitia
Passei na farmácia para comprar o medicamento e me dirigi apressadamente à estação de rádio onde trabalho como radialista. Assim que entrei no prédio, encontrei meu gerente descendo as escadas. O olhar dele se fixou em mim e eu sabia que o show estava prestes a começar.— Você planeja aparecer depois que a estação fechar? Você tem ideia de que horas são? — sua voz ecoou, quase um grito.— Pedi uma licença para hoje. Estou aqui apenas para pegar alguns materiais para o episódio de amanhã — lembrei, com um sorriso sarcástico. O homem parecia ter um ataque cardíaco ao ouvir isso. E então, a explosão:— Recusei seu pedido! O programa vai ao ar em meia hora! Se não tiver nada preparado, é melhor improvisar qualquer coisa! Você está tentando me matar, Charlotte Viradia?! Está planejando deixar toda a equipe desempregada?!Entrei no estúdio e fechei a porta, mas ainda conseguia ouvir os xingamentos voando como flechas. Quando finalmente tirei meu telefone da bolsa, a mensagem que ele enviou
Só ouvia rumores dele através dos jornais e revistas que, infelizmente, não podia evitar. E mesmo depois de tanto tempo, ainda reconhecia sua voz. Meu coração disparou, não por amor, mas por puro ódio!— Você parece muito bem, com admiradores ligando e pedindo para estar com você — ele continuou, seu tom frio e sarcástico.Fiquei em silêncio, lembrando da promessa que fiz a mim mesma de não falar com ele novamente. E, claro, havia o medo. Se aprendi algo sobre Alexander, é que ele era implacável e impiedoso.Agradecia a Deus, dia e noite, por ter me livrado desse demônio em forma de gente. Mas, aparentemente, superestimei minha sorte. Essa escoria ainda estava bordado na minha vida. Sabia onde eu trabalhava e me ligou, arruinando meu humor.Fiz sinal para que Tamilian cortasse a ligação, mas antes que pudesse fazer isso, Alexander declarou, com um tom que gelou meu sangue:— Nos encontraremos muito em breve, Charlotte.E desligou.Poderia alegar que fui ameaçada ao vivo, mas continuei
Eu já estava a um fio de perder a paciência. Qual é o problema desses homens? Será que todo narcisista que anda sobre duas pernas acaba na minha órbita?— Dr. Jamil, meu marido é um homem perigoso. Só de estar sentada aqui comigo, você está correndo risco. E não, não vou me divorciar — nem se eu quisesse, teria como!Ele apenas me encarou, calmo, como se a minha declaração não tivesse o menor impacto. Aquele olhar gentil, quase complacente, me irritava. Suspirei, aliviada por acreditar que ele, finalmente, ia parar com a insistência ridícula.— Eu vou embora. Talvez devesse procurar outro dentista, caso se sinta desconfortável. — Levantei-me, sem sequer esperar por uma resposta. — Tenha uma boa tarde, Dr. Jamil.— Pelo menos, tome seu café antes de sair — ele disse, a voz séria, quase uma ordem.Eu reviraria os olhos se não fosse pela sua postura firme. Me mantive na cadeira, resignada. A ideia de um dentista me obrigando a tomar café me pareceu tão ridícula que quase sorri. O garçom