3. Ao Vivo e Sob Ataque Dentário

Passei na farmácia para comprar o medicamento e me dirigi apressadamente à estação de rádio onde trabalho como radialista. Assim que entrei no prédio, encontrei meu gerente descendo as escadas. O olhar dele se fixou em mim e eu sabia que o show estava prestes a começar.

— Você planeja aparecer depois que a estação fechar? Você tem ideia de que horas são? — sua voz ecoou, quase um grito.

— Pedi uma licença para hoje. Estou aqui apenas para pegar alguns materiais para o episódio de amanhã — lembrei, com um sorriso sarcástico. O homem parecia ter um ataque cardíaco ao ouvir isso. E então, a explosão:

— Recusei seu pedido! O programa vai ao ar em meia hora! Se não tiver nada preparado, é melhor improvisar qualquer coisa! Você está tentando me matar, Charlotte Viradia?! Está planejando deixar toda a equipe desempregada?!

Entrei no estúdio e fechei a porta, mas ainda conseguia ouvir os xingamentos voando como flechas. Quando finalmente tirei meu telefone da bolsa, a mensagem que ele enviou mais cedo quase me fez rir. “Se você não vier, eu morro.” Ele literalmente escreveu isso! Que gerente maníaco!

Mesmo sendo a pessoa mais dramática e irracional que já conheci, o jeito dele de administrar a estação funcionava. Nosso canal tinha altas classificações na Cidade A, e eu era a responsável pelo horário das 12h às 13h, o que significava mais ouvintes. Mas era muito fácil me substituir, e o homem precisava ser tão melodramático.

— Ele está sendo irracional de novo? — perguntou Tamilian, meu colega, enquanto se espremia na cadeira do estúdio.

— Pedi uma licença e a resposta dele foi melhor “morrer que faltar” — respondi, revirando os olhos. Meu colega, que nunca foi de falar muito, apenas acenou com a cabeça em compreensão. 

— Prepare-se. Você estará no ar em minutos.

E ali estava eu, sem ideia do que falar no programa. Tinha uma lista de músicas, mas o tema do dia estava completamente fora de lugar. O programa normalmente consistia em fazer uma pergunta aos ouvintes e depois receber suas respostas. Um formato que era a moda do momento. E eu, sem saber qual tema escolher, fiquei pensando na última experiência no dentista, que ainda me deixava em pânico. 

Depois de uma breve hesitação, decidi perguntar aos ouvintes sobre suas experiências com dentistas. Aposto que meu gerente vai ter um ataque cardíaco assim que ouvir essa ideia brilhante.

Quando entrei no ar, falei sobre como desmaiei de medo. Até Tamilian, normalmente impassível, riu atrás do vidro. As ligações começaram a entrar, e tudo ia bem até a terceira.

— Olá! — disse um interlocutor.

Sua voz soava estranhamente familiar.

— Bem-vindo! Poderia se apresentar aos ouvintes?

— Meu nome é Jamil e sou dentista. Estou ligando para compartilhar a história de um dos meus pacientes em vez de falar sobre uma experiência pessoal.

— Claro, já que está na profissão, deve ter muitas histórias para contar. Talvez você possa incentivar as pessoas facilmente assustadas como eu a ter mais coragem de ir ao dentista antes que seja tarde, e o estrago seja grande. 

— Não tenho certeza se minhas palavras trarão algum encorajamento, mas hoje uma jovem visitou minha clínica e eu senti como se a conhecesse de algum lugar. Seria a locutora que escuto quase todos os dias na hora do almoço.

Meu coração disparou. Não é que esse dentista fosse o mesmo que tinha se lembrado de mim? O reconhecimento era imediato. Mesmo Tamilian, atrás do vidro, fazia gestos para cortar a ligação, mas não tinha coragem de ser indelicada.

— Acho que você tem ouvidos afiados, Dr. Jamil. Agora que ligou, que mensagem gostaria de passar?

— Gostaria de saber se posso usar o número que ela deixou para entrar em contato com ela.

Engasguei com a saliva. Tossi por tanto tempo que até Jamil riu do outro lado da linha. Fiz um sinal vigoroso para Tamilian cortar a chamada, mas ele apenas apontou para cima, indicando que tinha ordens do gerente para manter a ligação. Sacrificando-me pelos ouvintes, imaginei.

— Não — respondi, firme. — Você não pode entrar em contato comigo.

— Bem, já que você me recusou em público e minha identidade já foi descoberta, não está se sentindo culpada por minha reputação destruída? Você deveria assumir a responsabilidade por mim, senhorita Charlotte.

Que falta de vergonha!

Antes que eu pudesse retrucar, a ligação foi cortada. Olhei para Tamilian, surpresa, mas seu olhar dizia que não tinha sido ele. Verifiquei a linha, e logo outra chamada entrou.

— Alô? — disse, assim que Tamilian me passou a ligação.

— Não tenho notícias suas há muito tempo, Charlotte — a voz do interlocutor causou arrepios que dançaram pela minha pele. Aquela rouquidão profunda… Essa frieza Tudo indicava uma pessoa em particular.

Por que, meu Deus?!

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