5. Café, Nariz Empinado e Outros Problemas com Machos

Eu já estava a um fio de perder a paciência. Qual é o problema desses homens? Será que todo narcisista que anda sobre duas pernas acaba na minha órbita?

— Dr. Jamil, meu marido é um homem perigoso. Só de estar sentada aqui comigo, você está correndo risco. E não, não vou me divorciar — nem se eu quisesse, teria como!

Ele apenas me encarou, calmo, como se a minha declaração não tivesse o menor impacto. Aquele olhar gentil, quase complacente, me irritava. Suspirei, aliviada por acreditar que ele, finalmente, ia parar com a insistência ridícula.

— Eu vou embora. Talvez devesse procurar outro dentista, caso se sinta desconfortável. — Levantei-me, sem sequer esperar por uma resposta. — Tenha uma boa tarde, Dr. Jamil.

— Pelo menos, tome seu café antes de sair — ele disse, a voz séria, quase uma ordem.

Eu reviraria os olhos se não fosse pela sua postura firme. Me mantive na cadeira, resignada. A ideia de um dentista me obrigando a tomar café me pareceu tão ridícula que quase sorri. O garçom trouxe o café e, claro, o bolo de morango que ele havia pedido. Fiquei ali, me perguntando como um dentista, de todas as pessoas, podia comer tanto açúcar sem remorso. Não eram eles que nos aterrorizavam com sermões sobre cáries?

Não trocamos uma palavra sequer durante o restante do encontro. Cada garfada parecia pesada, como se tivéssemos algo mais profundo para discutir, mas ninguém dizia nada. Quando finalmente terminamos, ele pagou a conta com a calma irritante de quem sempre tem tudo sob controle.

— Tome seus remédios no horário certo. Se a dor voltar, pode me ligar a qualquer hora. — Ele deu um meio sorriso, inclinando-se um pouco em minha direção. — Charlotte, você não precisa suportar tudo isso sozinha.

Fiquei parada, observando-o se afastar. Alto, confiante, o tipo de homem que raramente ouve um não. Nos três anos desde minha separação, apenas dois homens tentaram se aproximar de mim. O primeiro foi um ex-colega de trabalho da rádio. Coitado, achou que confessar seus sentimentos por mim era uma boa ideia.

Eu o rejeitei, óbvio. Minha vida não era normal ou livre o suficiente para simplesmente sair por aí namorando. Ele achava que era um assunto privado, mas a verdade? Nada na minha vida é privado. Alguém da família Speredo sempre está assistindo. E esse colega, bom, ele aprendeu isso da pior maneira.

Nunca soube exatamente o que aconteceu, mas sei que foi o suficiente para ele perder completamente o controle e berrar na minha cara:

— Você é uma maldição! Eu queria nunca ter te conhecido! Diga a seus homens que eu não quero mais nada com você!

Dois dias depois, ele largou o emprego. E agora, aqui estou eu, lidando com o segundo homem. O Dr. Jamil, com seu jeito tranquilo e... perigoso. Eu devia me preocupar com ele, mas, sinceramente, tinha preocupações maiores. Como pagar dois táxis, um dentista e ainda os remédios. Se continuasse assim, eu iria à falência antes mesmo de conseguir um divórcio.

Pelo menos, eu economizei pegando um ônibus pra casa. Assim que entrei, fui recebida por uma bagunça de proporções épicas. Caixas de analgésicos, travesseiros espalhados, e minha coberta, que de alguma forma tinha ido parar no chão da cozinha. A noite anterior tinha sido um desastre.

Joguei-me no sofá, tirando os sapatos com o pé e os chutando para longe. Abracei os joelhos e me senti uma merda. Minha vida era um laboratório, e eu, o rato de teste. Sempre vigiada, sempre manipulada. Nem minha dor significava algo para eles. Meus sogros me odiavam, meu marido me ignorava, e mesmo assim, não me deixavam partir.

Não sei por quanto tempo fiquei ali, afundada em autocomiseração, até que o telefone tocou. Meu coração disparou quando vi um número desconhecido na tela. Por um segundo, achei que fosse Alexander. Ele não me ligava há anos. E sinceramente, eu preferia manter as coisas assim.

— Alô? — Atendi com a voz trêmula.

— Ah, Lotte! — suspirei aliviada ao reconhecer a voz da minha avó.

— Vovó? — perguntei, franzindo a testa.

— Sua ingrata! É assim que me atende? Desse jeito, vou morrer logo, e será tudo culpa sua.

Revirei os olhos. Coloquei o telefone no viva-voz e o deixei sobre a mesinha de centro, enquanto abraçava meus joelhos de novo.

— Como você está, vovó? — perguntei, minha voz cheia de falsa doçura. — Está tudo bem aí com o tio?

Ela estava vivendo no luxo, é claro. Desde que me casei com Alexander, ela se mudou para a mansão Speredo e nunca mais olhou para trás. Mas, claro, sempre dizia que não podia viver sem mim. Estranho como ela estava respirando perfeitamente bem sem minha presença por perto. Uma velha tão sorrateira.

— Não estou nada bem sem você. Por que continua com essa teimosia? Volte para o seu marido. O que ganha morando sozinha?

— Paz. — Eu ri, uma risada amarga. — E eu poderia estar muito melhor se o maldito me desse o divórcio.

— Desavergonhada! — ela gritou, e eu agradeci por ter o telefone longe do ouvido. Você se atreve a chamar seu marido de maldito?! Eu realmente falhei em criá-la! 

— Vou desligar, vovó. Meu dente está começando a doer de novo.

— Espere! Seu marido acabou de entrar no corredor. Quer falar com ele?

O som do nome dele me congelou. Sem pensar duas vezes, apertei o botão de desligar. A última coisa que eu precisava era ouvir a voz fria de Alexander. Só de imaginar, meu estômago revirava. A noite prometia ser longa, com pesadelos cheios daquele rosto bonito e impenetrável.

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