Só ouvia rumores dele através dos jornais e revistas que, infelizmente, não podia evitar. E mesmo depois de tanto tempo, ainda reconhecia sua voz. Meu coração disparou, não por amor, mas por puro ódio!
— Você parece muito bem, com admiradores ligando e pedindo para estar com você — ele continuou, seu tom frio e sarcástico.
Fiquei em silêncio, lembrando da promessa que fiz a mim mesma de não falar com ele novamente. E, claro, havia o medo. Se aprendi algo sobre Alexander, é que ele era implacável e impiedoso.
Agradecia a Deus, dia e noite, por ter me livrado desse demônio em forma de gente. Mas, aparentemente, superestimei minha sorte. Essa escoria ainda estava bordado na minha vida. Sabia onde eu trabalhava e me ligou, arruinando meu humor.
Fiz sinal para que Tamilian cortasse a ligação, mas antes que pudesse fazer isso, Alexander declarou, com um tom que gelou meu sangue:
— Nos encontraremos muito em breve, Charlotte.
E desligou.
Poderia alegar que fui ameaçada ao vivo, mas continuei a encenar meu show como se nada tivesse acontecido. Assim que a luz verde que indicava que estava no ar se apagou, saí correndo do prédio da estação, ignorando o restante do meu trabalho.
Parando um táxi, dei ao motorista o endereço da clínica odontológica que visitei naquela manhã. Precisava entrar em contato com o Dr. Jamil imediatamente; a vida dele estava em perigo por minha causa!
Embora estivéssemos oficialmente juntos há apenas um ano, conhecia bem meu marido. Sabia que suas palavras eram como ouro. Cada letra que pronunciava era intencional e precisava ser levada a sério. Hoje, expressou seu descontentamento com meu “admirador” de forma bastante clara. A mensagem era óbvia: o assunto do Dr. Jamil precisava ser resolvido antes que ele decidisse tomar o controle.
Se você quer saber se Alexander estava com ciúmes, eu adoraria dizer que sim, mas a verdade é que não estava. Para ele, eu era simplesmente sua propriedade. E ele odiava quando outros ousavam tocar em seus pertences.
Tentei entrar em contato com o número da clínica que estava escrito na minha receita, mas não consegui, mesmo após várias tentativas. Foi só quando o táxi chegou à clínica que minha ligação finalmente foi atendida pela recepcionista.
— O Dr. Jamil ainda está na clínica? — perguntei, a ansiedade me apertando.
Nem sabia seu nome completo ou se ele realmente se chamava Jamil. Se não fosse esse o nome, teria que começar a descrever seu físico na esperança de que a recepcionista o reconhecesse. E, claro, tão nervosa estava que nem prestei atenção na receita que o dentista me deu. O nome dele estava lá.
— O Dr. Jamil terminou seu turno às 12h. Se você precisar marcar uma consulta, posso ajudá-la. Mas se for só uma pergunta, preciso verificar com ele primeiro.
— Sim, preciso perguntar sobre algo. Sou a paciente que esteve aqui esta manhã, Charlotte Viradia. Preciso falar com ele urgentemente.
— Ok. Vou entrar em contato com ele agora.
Enquanto esperava, me assustei com o som de um telefone tocando ao meu lado. Reflexivamente, virei a cabeça, apenas para encontrar o Dr. Jamil parado ali, me olhando com um sorriso largo.
— Estou ocupado agora — ele disse, atendendo ao telefone e desligando imediatamente.
Continuei a olhar para ele, intrigada. A voz de desculpas da recepcionista soou do outro lado do meu telefone:
— Desculpe, mas o dentista está ocupado agora. Se não for um assunto urgente, pode entrar em contato mais tarde, ou posso encaminhá-la a outro dentista.
— Obrigada, contatarei mais tarde — disse, desligando.
Dr. Jamil me observava, sorridente. Eu poderia admirar aquele sorriso, se não fosse a situação em que me encontrava.
— Desde quando você está aqui?
Ele parecia se divertir, e seu sorriso se ampliava a cada momento.
— Eu voltei para a clínica porque esqueci as chaves de casa e te vi aqui parada. Veio me encontrar?
Balancei a cabeça em um ‘sim’, analisando nosso entorno.
— Podemos ir a algum lugar calmo primeiro?
Ele assentiu, e, com um tom de comando, disse:
— Siga-me.
Logo estávamos em um café próximo. Não trocamos uma palavra no caminho. Assim que nos sentamos e pedimos nossas bebidas, não consegui me segurar.
— Sou uma mulher casada, Dr. Jamil.
O sorriso dele desapareceu, dando lugar a um olhar sério.
— Você não está usando seu anel de casamento. Isso é só sua maneira de me rejeitar?
— Não precisaria mentir sobre isso. Escolhi vir aqui e falar com você por respeito, não para te ridicularizar.
— Seu marido é o homem que ligou logo depois? — ele me interrompeu, sua expressão se endurecendo. Percebendo meu silêncio, acrescentou: — Vocês não parecem se dar bem, afinal, ele disse que não se encontram há muito tempo.
— Isso… é um assunto pessoal.
— Eu me envolvi no momento em que decidi ligar para o seu show — declarou, ousado.
Olhei para ele, surpresa. Ele não tinha noção do perigo!
— Agora eu me apaixonei ainda mais por você desde que me rejeitou — ele continuou.
Só consegui ficar parada, incrédula. Como assim “se apaixonou”? Somente nos vimos uma vez, e seria impossível dizer que foi pela minha aparência; ela era bem esquecível, se é que posso afirmar.
— Eu nunca fui rejeitado por uma mulher. E você não parece se dar bem com seu marido, o que sugere um divórcio. Portanto, não posso aceitar isso como motivo para sua rejeição.
Do que é feito esse homem?!
Eu já estava a um fio de perder a paciência. Qual é o problema desses homens? Será que todo narcisista que anda sobre duas pernas acaba na minha órbita?— Dr. Jamil, meu marido é um homem perigoso. Só de estar sentada aqui comigo, você está correndo risco. E não, não vou me divorciar — nem se eu quisesse, teria como!Ele apenas me encarou, calmo, como se a minha declaração não tivesse o menor impacto. Aquele olhar gentil, quase complacente, me irritava. Suspirei, aliviada por acreditar que ele, finalmente, ia parar com a insistência ridícula.— Eu vou embora. Talvez devesse procurar outro dentista, caso se sinta desconfortável. — Levantei-me, sem sequer esperar por uma resposta. — Tenha uma boa tarde, Dr. Jamil.— Pelo menos, tome seu café antes de sair — ele disse, a voz séria, quase uma ordem.Eu reviraria os olhos se não fosse pela sua postura firme. Me mantive na cadeira, resignada. A ideia de um dentista me obrigando a tomar café me pareceu tão ridícula que quase sorri. O garçom
Acordar sozinha na cama me trouxe um alívio tão grande. Naqueles dias em que compartilhava o leito com Alexander, a alegria era uma sensação que parecia ter se evaporado. Quase sempre, ao abrir os olhos, encontrava-o sentado no sofá do nosso quarto, a luz suave da manhã iluminando o seu laptop, enquanto ele lia arquivos ou discutia algo com os associados.Aquela cama se tornava tão fria quanto a indiferença dele ao meu lado. Lembro da nossa primeira noite juntos — um verdadeiro pesadelo. Sem experiência, — ainda não tenho, mas enfim — me perguntei se poderia passar por aquilo sem estar realmente acordada. Como poderia me entregar a um homem que não amava? E a dor? Minhas amigas viviam alertando que a primeira vez doía, e eu me consumia em inseguranças. Será que, diante da minha apreensão, ele seria gentil?No final, nada aconteceu. O alívio foi acompanhado de um peso no peito. Ele não me tocou por eu ser detestável? Ou porque percebeu o quanto eu tremia? A resposta até hoje permanece
Abri o envelope hesitante, o coração acelerando em um misto de expectativa e medo. A primeira coisa que capturei foi sua letra horrível, escorrendo como tinta de um caneta falhando. O papel continha poucas palavras, mas suficientes para gelar meu sangue:— Peça à recepcionista para lhe dar o contato da minha família.Abaixo, um número de telefone, como se fosse uma sentença de morte. Num impulso, a vontade de discar e perguntar como ele estava tomou conta de mim. Mas seria irracional, certo? Afinal, como um dentista te receberia depois de arruinar a vida dele? Mas não podia simplesmente ignorar a situação, ao menos teria que tentar, um consolo egoísta meu, talvez?Quando finalmente liguei para aquele número, ainda parada ao lado da recepcionista, a voz forte e familiar de Jamil ressoou do outro lado. — Doutor Jamil? Aqui é Charlotte.Um silêncio pesado se instalou, e então ele respondeu, quase como se estivesse se preparando para a bomba que iria soltar.— Sra. Speredo, como posso aj
Minhas crises de ansiedade vinham em ondas, cada vez que ele passava pela porta do quarto. A tensão de esperar pelo momento em que ele, finalmente, encerraria esse tormento… nossa primeira noite. Tudo que eu conseguia pensar era no quanto aquilo seria doloroso. Uma dor real. Meus músculos contraíam só de imaginar. E, claro, havia o temor constante de que a mãe dele, aquela bruxa, soubesse. A velha certamente faria um escândalo sobre o assunto.— Você quer me deixar… — a voz dele quebrou o silêncio como uma lâmina, entre respirações rápidas, mas não havia dúvida. Era uma constatação, não uma pergunta.Naquela época, eu já estava com os pés na porta do divórcio. Só esperava o momento certo. Meu corpo precisava se recuperar completamente antes de colocar meu plano em prática. Mas, Alexander sempre tinha esse maldito hábito de estar um passo à frente. Como ele conseguia ver através de mim tão facilmente? Era assustador.Eu não tinha ideia do que estava provocando aquela respiração acelera
Eu conhecia muito bem aquele bastardo. E, convenhamos, ele também me conhecia. Enquanto casais normais se familiarizam e desenvolvem um entendimento tácito movido pelo amor e interesse, o nosso caso era um verdadeiro espetáculo de antítese. Eu o odiava. Odiava Alexander tanto que, de maneira inconsciente, me tornei uma especialista na complexa ciência de desvendá-lo. Ou pelo menos eu tentava.Acho que ele também me estudava. Conhecia meu ponto fraco: ser justa. Não que eu fosse uma sentimentalista, mas possuo princípios. Jamais usaria pessoas inocentes em minha jornada para alcançar meus objetivos. Alexander, no entanto, não hesitou em explorar essa fraqueza, repetidas vezes.Após algum tempo, a tempestade emocional dentro de mim começou a amainar. Sequei as lágrimas que ainda manchavam meu rosto e, pisando no meu orgulho, alcancei meu celular. Rolei os contatos, meu coração disparando ao encontrar aquele número que não discava há três longos anos. Nunca imaginei que um dia ligaria pa
Como fui idiota por achar que a voz dele tinha uma pitada de sinceridade quando disse que não estava feliz. Que Alexander Speredo afunde na própria miséria!Voltei ao estúdio com passos firmes, mais para reafirmar minha decisão do que qualquer outra coisa. Peguei meus pertences — alguns cadernos, canetas e aquela caneca que eu sempre esquecia de levar pra casa — e escrevi minha carta de demissão sem titubear. Três anos dedicados a esse programa e, num piscar de olhos, tudo acabou. Era típico. Com Alexander, não existe espaço para se opor. Ele decide, e você só tem duas opções: acatar ou sofrer as consequências. Hoje, escolhi a primeira. A sensação de perda já estava tão entranhada em mim que aceitar essa derrota foi quase automático. Que se dane.Coloquei tudo em uma sacola e fui direto ao escritório do gerente. Eu só queria entregar a carta e sumir dali.— O que aconteceu foi injusto com você, Charlotte. Perdoe-nos por não termos te apoiado… Mas, francamente, não tínhamos escolha — d
Uma vez, eu estava sentada no hotel mais badalado das redes Speredo, o tal Hotel Central, por pura obrigação. Ah, como eu adorava ser a mensageira de luxo da minha querida sogra, levando papéis inúteis de um lado para o outro, só para não esquecer que eu, oficialmente, não existia na vida deles. Eu e meu figurino “mendiga chique”, como ela mesma adorava chamar, perambulávamos pelos corredores tentando achar Alexander, que, como sempre, não atendia minhas ligações. Prioridades, não é mesmo?Foi quando esbarrei nele. Um homem tão deslumbrante que, por um segundo, me perguntei se era real. Ele tinha aquele ar de modelo de revista, o tipo que fazia qualquer pessoa comum — no caso, eu — parecer invisível. Mas o sorriso… ah, o sorriso. Ele sorriu para mim, e eu fiquei ali, parada como uma adolescente boba, fascinada pela perfeição dele. Claro, não me pergunte como, mas acabei sentada com ele em uma mesa no bar. Não me orgulho disso, mas estava hipnotizada. Ele parecia ainda mais bonito que
Eu não esperava nada menos do que frieza. Afinal, ele nunca foi do tipo que se preocupa, então por que agora meu estômago estava se retorcendo de culpa? Ele pegou o kit de primeiros socorros com a mesma calma meticulosa de sempre e começou a tratar o ferimento. A cada movimento, eu sentia aquela tensão pairando no ar, mas ele, como sempre, não deixava transparecer nada.— Não — sua voz veio baixa, mas firme —, você quis me machucar, esposa. E conseguiu.A lâmina de suas palavras cortou mais do que qualquer faca poderia. Fiquei ali, quieta, observando-o. Ele não se preocupou em dizer se o corte era profundo, nem eu perguntei. No fundo, acho que merecia o silêncio.Quando terminou, fechou o kit, jogou o algodão manchado de sangue no lixo e saiu do quarto como se nada tivesse acontecido. Em questão de minutos, estava de volta, segurando sua bolsa e casaco, calçando os sapatos com aquela eficiência insuportável. Nem sequer olhou para mim quando saiu. E assim foi. Três anos. Três longos an