O CEO Que Odeio Não Quer Dar O Divórcio!
O CEO Que Odeio Não Quer Dar O Divórcio!
Por: Pann Ludovica
1. Meu Marido? O Demônio de Terno

— Dê-me o divórcio!

Sabe quando você olha nos olhos de alguém e sente um calafrio na espinha? Pois é. E, naquele momento, eu não estava diante de um anjo. Eu tinha certeza de que demônios existem, e um deles usava terno italiano e ocupava uma cadeira de couro do outro lado da mesa.

Passei horas esperando como uma estranha para ter uma “audiência” com o meu próprio marido. Mas, finalmente, lá estava eu, de pé, respirando fundo, enquanto ele mal levantava os olhos por cima dos óculos. Papéis espalhados, canetas rolando pelo tampo da mesa Alexander Speredo, o homem mais frio e insensível que eu conhecia, me encarava com aquele olhar gélido que faria até o Polo Norte parecer quente.

Seu silêncio durava. O que ele esperava? Um show? Talvez. Senti o nervosismo me consumir, mas mantive a pose. Afinal, tudo naquele escritório gritava poder, e eu? Eu queria só uma assinatura no maldito papel do divórcio. 

— Não vai dizer nada? — Cruzei os braços, mais para esconder o tremor nas mãos do que para bancar a desafiadora. Ele continuava me estudando, sem pressa. Quando finalmente abriu a boca, suas palavras foram tão afiadas quanto sua caneta Montblanc.

— Você acha mesmo que vai conseguir se livrar de mim assim tão fácil?

Ri. Foi um riso seco, quase forçado. Eu estava muito enganada se esperava algum tipo de acordo amigável.

Mas deixe-me voltar ao começo disso tudo. Meu pai sempre dizia que minha avó era excêntrica, talvez até um pouco louca. Eu, por outro lado, a via como alguém decidida. Do tipo que, ao ver um garoto sem-teto vagando pela rua, resolveu, do nada, adotá-lo. Simples assim. Como se ele fosse um cachorro perdido.

— Ele é meu filho agora — decretou, ignorando todas as objeções da família. E fez questão de ameaçar: se o menino não fosse aceito, ela sairia de casa com meu pai e nunca mais olharia para trás. Um drama familiar digno de novela, sem dúvidas.

Esse garoto, para a surpresa de todos, cresceu e se tornou o homem mais rico do país. E não importa o quanto ele tentou recompensá-la depois — minha avó nunca aceitou um centavo. Eu achei bonito. Altruísta, até. Até o dia em que ela reuniu todos nós para anunciar, sem nenhum aviso prévio:

— Alexander deve se casar com Charlotte!

Quase engasguei. Eu, a Charlotte que mal acreditava no que ouvia, virei o “presente” de gratidão para o homem mais rico do país. Maravilhoso, não?

Alexander, claro, ficou tão surpreso quanto eu. Ou melhor, ele parecia indiferente, como sempre. De pé, atrás do pai, ele olhou para mim com o mesmo interesse que teria por uma planta de escritório. Minha avó, a mesma que eu achava ser uma velhinha adorável, mostrou sua verdadeira face naquele momento. Ela era uma cobra. De veludo, mas ainda assim uma cobra.

O único que se emocionou de verdade foi tio Jackson, o antes cachorro abandonado. Ele desatou a chorar como se fosse um filme de casamento antigo e jurou, de pé e com a mão no peito:

— Charlotte será cuidada como minha própria filha! — Uma performance digna de um Oscar, se me permite dizer.

E foi assim que eu me vi casada com Alexander Speredo. O solteiro mais desejado do país que eu não amava, e que certamente também não me amava. O casamento foi a chantagem emocional mais cruel da minha vida. Minha avó jurou que morreria de desgosto se eu não aceitasse, e como não havia nada de errado com Alexander (além de sua personalidade feita de gelo), acabei aceitando.

Quanto a Alexander, ele só precisava de um incentivo para dizer sim ao casamento: a ameaça de ser deserdado pelo pai. Casar comigo significava manter sua fortuna intacta.

E foi assim que entrei no acordo mais estúpido da minha vida. Meu casamento era uma piada. Eu era invisível em sua mansão, praticamente parte da decoração. Minha sogra, sempre orgulhosa, não perdia uma oportunidade de me lembrar de como minhas origens eram inferiores. Hipocrisia pura, considerando que o marido dela, Jackson, foi encontrado mendigando nas ruas.

E o mais irônico? Eu preferia o silêncio gelado daquela casa a suportar as festas e os jantares intermináveis com pessoas que fingiam ser perfeitas.

Alexander não se dava ao trabalho de esconder o quanto achava minhas maneiras embaraçosas. Humilhantes foi a palavra exata que ele usou para descrever meu comportamento, como se eu fosse um espinho no pé do seu status de CEO exemplar. Ele me repreendia com uma frieza que chegava a ser cruel. E, depois de um ano dessa tortura emocional, tomei a decisão mais sensata da minha vida: fui embora.

Isso já faz três anos.

Pensei que, ao sair da vida dos Speredo, finalmente teria paz. Longe das memórias sufocantes e das influências daquela família. Doce ilusão. Eles ainda conseguem se infiltrar nos meus pensamentos, como uma praga. Até na clínica médica, veja só!

Lá estava eu, sentada na sala de espera de uma clínica dentária, segurando um jornal qualquer. Datado de dez dias atrás, provavelmente deixado por algum paciente com pressa. Nem me importei. Estava disposta a ler até bula de remédio se fosse para afastar o tédio e, claro, a crescente ansiedade.

O lugar estava lotado de mulheres. O ambiente parecia uma feira de fofocas. Conversas altas, risos exagerados. Eu não suporto essas trocas de banalidades entre estranhos, então foquei no jornal, mesmo que as manchetes me irritassem. E adivinhem quem estampava a primeira página? Ele, claro: Alexander Speredo, meu adorável “ex”-marido.

— Que jovem adorável! — uma senhora idosa exclamou, ao meu lado, apontando para a foto de Alexander no jornal.

Ah, não. Nem tente, senhora.

Logo, metade da sala parou o que estava fazendo para se inclinar e observar a matéria que eu fingia ler.

— Ele é mesmo! — continuou outra mulher mais à frente, com um sorriso sonhador. — E tão jovem. O que será que ele faz?

— É o CEO da Corporação Speredo. — respondeu uma terceira, uma jovem da minha idade. — Rede de hotéis de luxo. Um verdadeiro sucesso!

— Mas o que importa não é o dinheiro — outra completou, com um brilho nos olhos. — É que ele é lindo. E solteiro! Um doce inestimável, se querem saber. Eu daria tudo pra casar com ele Mas duvido que os céus me fariam esse favor.

Solteiro, ela disse?

Eu ri por dentro. Mas não de alegria, claro.

Aquele homem ainda era meu marido, de acordo com a lei. Sim, porque o maravilhoso CEO da primeira página se recusava a me conceder o divórcio. Tecnicamente, nosso casamento sequer foi consumado, o que me daria motivos para anular tudo. Mas, vamos ser sinceras, anunciar isso publicamente seria uma humilhação que eu não estava disposta a enfrentar.

Queria poder gritar, mas estava eu, ouvindo um grupo de mulheres apaixonadas elogiando aquele que eu mais queria esquecer. Meu dente latejava de dor, mas a verdadeira dor era ter que suportar os comentários ensandecidos sobre o deus da primeira página.

Eu não aguentava mais. Senti que, a qualquer momento, meu dente ia explodir de tanto que doía, então me levantei e fui até a recepcionista, lutando para parecer menos miserável do que me sentia.

— Você poderia me encaixar logo? — implorei, com os olhos cheios de lágrimas. — Estou com muita dor.

Ela me olhou, impassível, como se já estivesse acostumada a ver pessoas se desfazendo na sua frente.

— Desculpe, senhora, mas sem agendamento prévio, terá que esperar sua vez. O dentista está com os pacientes agendados

Pacientes agendados? Isso era sério?

A dor no meu dente atingiu um novo nível. Senti um frio percorrer minha espinha, e antes que a mulher pudesse terminar sua frase, tudo escureceu.

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