Àquela altura, minha paciência já tinha evaporado por completo. Levantei-me da mesa sob o olhar curioso dos meus colegas, murmurei uma desculpa qualquer e me dirigi à varanda. Assim que me certifiquei de que estava sozinha, disquei o número de Alexander com a mão tremendo de raiva. Ele atendeu após o primeiro toque. — Você está louco?! — explodi, minha voz ecoando no espaço aberto. Ele ficou em silêncio, me deixando ainda mais furiosa. Respirei fundo, tentando organizar meus pensamentos antes de despejar toda a indignação acumulada. — Eu ia esperar até chegarmos em casa para discutir sua visita ridícula ao meu departamento, mas não! Você precisava ultrapassar os limites! Por que pagar por uma refeição como essa? Que tipo de insanidade é essa de jogar dinheiro fora assim? Eu absolutamente não aceito isso! Eu sabia que qualquer um que visse Alexander de fora acharia que acumular uma fortuna era algo natural para ele. Mas eu, que estava ao lado dele, sabia o preço que ele pagav
Inicialmente, quando Mattia fez sua jogada absurda contra meu casamento com Alexander, eu tentei não levar para o lado pessoal. Desde que resolvi meu mal-entendido com meu marido, decidi que era importante dar espaço para explicações antes de julgar alguém. Com Mattia, deixei um espaço enorme. Um respeito que, olhando agora, ele claramente não merecia. Mas as palavras de Olivia naquela noite mudaram tudo. Eu percebi que estava errada de novo. E isso doía. Quando cheguei ao prédio da empresa, minhas memórias com Mattia já tinham sido dissecadas e reorganizadas várias vezes, tentando encontrar alguma pista para tanta hostilidade. Eu só queria entender: por quê? O que o levou a se virar contra mim com tamanha crueldade? Ao abrir a porta do escritório de Alexander no último andar, eu já tinha jogado o assunto Mattia para o fundo da mente. Decidi que agiria como se nada estivesse errado, fingindo que era apenas mais um dia comum. Entrei sorrindo, pronta para esperar pacientemente enq
— Você está muito bonita, Charlotte. — Alexander comentou, o olhar mais atento do que eu estava acostumada a receber. Aquelas palavras vieram do nada, lançadas como uma pedra no lago calmo da minha insegurança, e até hoje ainda não sei se ele as disse por educação ou se realmente quis dizer aquilo. A cena ainda está gravada em minha mente: o verão do meu segundo ano de faculdade, durante a festa de aniversário da Lily. Receber um convite da Sra. Speredo, diretamente para o telefone da casa da minha avó, foi um evento tão inesperado que inicialmente achei que ela tinha ligado para o número errado. Não éramos íntimos o suficiente para justificar aquilo. Quando confirmei que o convite era mesmo para mim, pensei seriamente em recusar. Mas minha avó, com seu amor inabalável por protocolos sociais, ameaçou me expulsar de casa para a residência estudantil se eu não fosse. E assim, me vi enfrentando uma viagem de ônibus de seis horas da minha cidade natal até a cidade A, para me arrisca
Naquela época, eu era uma especialista em interpretar tudo da pior forma possível. Não sabia nada sobre os sentimentos de Alexander por mim — na verdade, mal o conhecia o suficiente para acreditar que ele tinha sentimentos. Para mim, ele era apenas um homem mimado, acostumado a impor sua vontade sem considerar os outros. Como eu estava enganada. O que eu não percebia é que Alexander, por mais frio e calculista que fosse com o resto do mundo, só perdia a calma por minha causa. E, aparentemente, Olivia havia percebido isso. — Alexander, você está envergonhando sua prima — interveio Olivia, posicionando-se entre nós. — Todo mundo está olhando. Minha raiva, que já estava quase transbordando, foi imediatamente canalizada para ele. Enquanto varria o entorno com o olhar, percebi que Olivia estava certa. Vários convidados haviam interrompido suas conversas para nos observar. Os olhares deles me analisavam de cima a baixo, como se eu fosse algo exótico e inadequado que havia invadido aqu
Acordei com o som das janelas escancaradas e o quarto banhado por uma luz quase ofensiva. O frescor da manhã era uma afronta ao cansaço que ainda habitava meu corpo, especialmente depois da noite anterior, que Alexander parecia decidido a transformar em uma sessão de tortura — da qual ele claramente saíra como o vitorioso.Olhei para ele, impecável em um terno tão elegante que parecia moldado por deuses alfaiates. Ele ajustava os botões de punho com a concentração de alguém prestes a entrar em uma batalha épica — ou, no caso dele, em uma reunião de negócios ou… uma visita à prisão, claro. Porque era isso que faríamos hoje: ver Mattia.— Está acordada? — Ele perguntou, sem sequer olhar para mim, com o tom neutro que só ele conseguia transformar em algo cheio de expectativa. Revirei os olhos. Se ele estava assim tão sério, era meu dever tornar as coisas mais interessantes. Levantei-me e, sem me importar com o que a luz do dia pudesse revelar, caminhei até ele. Enlacei meus braços ao
Alexander inclinou-se, e sua voz baixa e firme carregava aquela intensidade que fazia meu coração errar uma batida.— Charlotte. — Apenas meu nome, dito de um jeito que deveria ser suave, mas me deixou mais alerta. Olhei para ele, ainda ofegante do nervosismo que sua proximidade provocava. “Meu Deus, esses guardas vão assistir um show”, pensei, já antecipando meu corpo agindo contra minha lógica. Ele manteve o olhar firme enquanto dizia: — Você realmente acha que eu colocaria você em perigo, mesmo que fosse o último recurso? As palavras dele entraram na minha mente como um golpe direto. Demorei um momento para processar, mas, ao finalmente entender, senti meu peito aliviar. Balancei a cabeça em concordância. — Ok, vamos acabar com isso de uma vez.Alexander se afastou, me libertando da posição desconfortável. Tive um segundo para recuperar o equilíbrio antes de sair do carro, com ele logo à frente.Os guardas se moveram rapidamente, criando uma barreira em nossa volta. Passa
— Dê-me o divórcio!Sabe quando você olha nos olhos de alguém e sente um calafrio na espinha? Pois é. E, naquele momento, eu não estava diante de um anjo. Eu tinha certeza de que demônios existem, e um deles usava terno italiano e ocupava uma cadeira de couro do outro lado da mesa.Passei horas esperando como uma estranha para ter uma “audiência” com o meu próprio marido. Mas, finalmente, lá estava eu, de pé, respirando fundo, enquanto ele mal levantava os olhos por cima dos óculos. Papéis espalhados, canetas rolando pelo tampo da mesa… Alexander Speredo, o homem mais frio e insensível que eu conhecia, me encarava com aquele olhar gélido que faria até o Polo Norte parecer quente.Seu silêncio durava. O que ele esperava? Um show? Talvez. Senti o nervosismo me consumir, mas mantive a pose. Afinal, tudo naquele escritório gritava “poder”, e eu? Eu queria só uma assinatura no maldito papel do divórcio. — Não vai dizer nada? — Cruzei os braços, mais para esconder o tremor nas mãos do que
Quando acordei, o primeiro rosto que vi não era exatamente o que eu esperava encontrar ao abrir os olhos. Um homem, talvez na casa dos trinta, me observava com um olhar preocupado. Não era o tipo de beleza que me faria suspirar, mas seus olhos suaves e o nariz bem delineado eram, de alguma forma, reconfortantes.— Você está bem, senhora? — ele perguntou, a voz doce como uma brisa de primavera.Notei que ele estava vestindo um jaleco branco. Ah, então deve ser o dentista. Soltei um suspiro de alívio e, enquanto tentava controlar a dor que ainda latejava na minha boca, disse:— Estou viva, mas meu dente está me matando. Você pode fazer algo a respeito?Ele soltou uma risada suave e me ajudou a levantar do chão, suas mãos firmes, mas gentis.— Siga-me até o consultório.E assim fiz, passando pela sala de espera sob olhares curiosos que, sem dúvida, me amaldiçoavam silenciosamente por ignorá-las enquanto ele me arrastava para fora. A dor era uma sombra tão insuportável que não me permitia