— Você está muito bonita, Charlotte. — Alexander comentou, o olhar mais atento do que eu estava acostumada a receber. Aquelas palavras vieram do nada, lançadas como uma pedra no lago calmo da minha insegurança, e até hoje ainda não sei se ele as disse por educação ou se realmente quis dizer aquilo. A cena ainda está gravada em minha mente: o verão do meu segundo ano de faculdade, durante a festa de aniversário da Lily. Receber um convite da Sra. Speredo, diretamente para o telefone da casa da minha avó, foi um evento tão inesperado que inicialmente achei que ela tinha ligado para o número errado. Não éramos íntimos o suficiente para justificar aquilo. Quando confirmei que o convite era mesmo para mim, pensei seriamente em recusar. Mas minha avó, com seu amor inabalável por protocolos sociais, ameaçou me expulsar de casa para a residência estudantil se eu não fosse. E assim, me vi enfrentando uma viagem de ônibus de seis horas da minha cidade natal até a cidade A, para me arrisca
Naquela época, eu era uma especialista em interpretar tudo da pior forma possível. Não sabia nada sobre os sentimentos de Alexander por mim — na verdade, mal o conhecia o suficiente para acreditar que ele tinha sentimentos. Para mim, ele era apenas um homem mimado, acostumado a impor sua vontade sem considerar os outros. Como eu estava enganada. O que eu não percebia é que Alexander, por mais frio e calculista que fosse com o resto do mundo, só perdia a calma por minha causa. E, aparentemente, Olivia havia percebido isso. — Alexander, você está envergonhando sua prima — interveio Olivia, posicionando-se entre nós. — Todo mundo está olhando. Minha raiva, que já estava quase transbordando, foi imediatamente canalizada para ele. Enquanto varria o entorno com o olhar, percebi que Olivia estava certa. Vários convidados haviam interrompido suas conversas para nos observar. Os olhares deles me analisavam de cima a baixo, como se eu fosse algo exótico e inadequado que havia invadido aqu
Acordei com o som das janelas escancaradas e o quarto banhado por uma luz quase ofensiva. O frescor da manhã era uma afronta ao cansaço que ainda habitava meu corpo, especialmente depois da noite anterior, que Alexander parecia decidido a transformar em uma sessão de tortura — da qual ele claramente saíra como o vitorioso.Olhei para ele, impecável em um terno tão elegante que parecia moldado por deuses alfaiates. Ele ajustava os botões de punho com a concentração de alguém prestes a entrar em uma batalha épica — ou, no caso dele, em uma reunião de negócios ou… uma visita à prisão, claro. Porque era isso que faríamos hoje: ver Mattia.— Está acordada? — Ele perguntou, sem sequer olhar para mim, com o tom neutro que só ele conseguia transformar em algo cheio de expectativa. Revirei os olhos. Se ele estava assim tão sério, era meu dever tornar as coisas mais interessantes. Levantei-me e, sem me importar com o que a luz do dia pudesse revelar, caminhei até ele. Enlacei meus braços ao
Alexander inclinou-se, e sua voz baixa e firme carregava aquela intensidade que fazia meu coração errar uma batida.— Charlotte. — Apenas meu nome, dito de um jeito que deveria ser suave, mas me deixou mais alerta. Olhei para ele, ainda ofegante do nervosismo que sua proximidade provocava. “Meu Deus, esses guardas vão assistir um show”, pensei, já antecipando meu corpo agindo contra minha lógica. Ele manteve o olhar firme enquanto dizia: — Você realmente acha que eu colocaria você em perigo, mesmo que fosse o último recurso? As palavras dele entraram na minha mente como um golpe direto. Demorei um momento para processar, mas, ao finalmente entender, senti meu peito aliviar. Balancei a cabeça em concordância. — Ok, vamos acabar com isso de uma vez.Alexander se afastou, me libertando da posição desconfortável. Tive um segundo para recuperar o equilíbrio antes de sair do carro, com ele logo à frente.Os guardas se moveram rapidamente, criando uma barreira em nossa volta. Passa
— Dê-me o divórcio!Sabe quando você olha nos olhos de alguém e sente um calafrio na espinha? Pois é. E, naquele momento, eu não estava diante de um anjo. Eu tinha certeza de que demônios existem, e um deles usava terno italiano e ocupava uma cadeira de couro do outro lado da mesa.Passei horas esperando como uma estranha para ter uma “audiência” com o meu próprio marido. Mas, finalmente, lá estava eu, de pé, respirando fundo, enquanto ele mal levantava os olhos por cima dos óculos. Papéis espalhados, canetas rolando pelo tampo da mesa… Alexander Speredo, o homem mais frio e insensível que eu conhecia, me encarava com aquele olhar gélido que faria até o Polo Norte parecer quente.Seu silêncio durava. O que ele esperava? Um show? Talvez. Senti o nervosismo me consumir, mas mantive a pose. Afinal, tudo naquele escritório gritava “poder”, e eu? Eu queria só uma assinatura no maldito papel do divórcio. — Não vai dizer nada? — Cruzei os braços, mais para esconder o tremor nas mãos do que
Quando acordei, o primeiro rosto que vi não era exatamente o que eu esperava encontrar ao abrir os olhos. Um homem, talvez na casa dos trinta, me observava com um olhar preocupado. Não era o tipo de beleza que me faria suspirar, mas seus olhos suaves e o nariz bem delineado eram, de alguma forma, reconfortantes.— Você está bem, senhora? — ele perguntou, a voz doce como uma brisa de primavera.Notei que ele estava vestindo um jaleco branco. Ah, então deve ser o dentista. Soltei um suspiro de alívio e, enquanto tentava controlar a dor que ainda latejava na minha boca, disse:— Estou viva, mas meu dente está me matando. Você pode fazer algo a respeito?Ele soltou uma risada suave e me ajudou a levantar do chão, suas mãos firmes, mas gentis.— Siga-me até o consultório.E assim fiz, passando pela sala de espera sob olhares curiosos que, sem dúvida, me amaldiçoavam silenciosamente por ignorá-las enquanto ele me arrastava para fora. A dor era uma sombra tão insuportável que não me permitia
Passei na farmácia para comprar o medicamento e me dirigi apressadamente à estação de rádio onde trabalho como radialista. Assim que entrei no prédio, encontrei meu gerente descendo as escadas. O olhar dele se fixou em mim e eu sabia que o show estava prestes a começar.— Você planeja aparecer depois que a estação fechar? Você tem ideia de que horas são? — sua voz ecoou, quase um grito.— Pedi uma licença para hoje. Estou aqui apenas para pegar alguns materiais para o episódio de amanhã — lembrei, com um sorriso sarcástico. O homem parecia ter um ataque cardíaco ao ouvir isso. E então, a explosão:— Recusei seu pedido! O programa vai ao ar em meia hora! Se não tiver nada preparado, é melhor improvisar qualquer coisa! Você está tentando me matar, Charlotte Viradia?! Está planejando deixar toda a equipe desempregada?!Entrei no estúdio e fechei a porta, mas ainda conseguia ouvir os xingamentos voando como flechas. Quando finalmente tirei meu telefone da bolsa, a mensagem que ele enviou
Só ouvia rumores dele através dos jornais e revistas que, infelizmente, não podia evitar. E mesmo depois de tanto tempo, ainda reconhecia sua voz. Meu coração disparou, não por amor, mas por puro ódio!— Você parece muito bem, com admiradores ligando e pedindo para estar com você — ele continuou, seu tom frio e sarcástico.Fiquei em silêncio, lembrando da promessa que fiz a mim mesma de não falar com ele novamente. E, claro, havia o medo. Se aprendi algo sobre Alexander, é que ele era implacável e impiedoso.Agradecia a Deus, dia e noite, por ter me livrado desse demônio em forma de gente. Mas, aparentemente, superestimei minha sorte. Essa escoria ainda estava bordado na minha vida. Sabia onde eu trabalhava e me ligou, arruinando meu humor.Fiz sinal para que Tamilian cortasse a ligação, mas antes que pudesse fazer isso, Alexander declarou, com um tom que gelou meu sangue:— Nos encontraremos muito em breve, Charlotte.E desligou.Poderia alegar que fui ameaçada ao vivo, mas continuei