LUIZA
Aluguei um pequeno apartamento de um quarto em Porto Alegre, e comecei na mesma semana a trabalhar em uma cafeteria. Apesar de tudo, eu precisava ser feliz pela minhas mãe, e apesar de não vê ainda uma forma disso acontecer, eu precisava tentar.Depois de quase 3 meses que eu havia me mudado para Porto Alegre, recebi a ligação de uma "agência de modelos'. Segundo eles, tinham visto minhas fotos nas redes sociais e gostariam de me contratar para alguns trabalhos como modelo.Para isso eu precisava me mudar para São Paulo, porém eles pagariam minhas despesas como passagem de avião, hospedagem, entre outros custos, e que só quando eu chegasse lá e começasse a trabalhar, que eu iria pagando parcialmente as despesas que tivessem comigo.Decidi aceitar, achava que na pior das hipóteses, se eu não me adaptasse, eu voltaria para Porto Alegre.Sai de Porto Alegre em um vôo em direção a São Paulo, e chegando lá, o combinado seria que teria alguém com uma plaquinha com o meu nome me aguardando no aeroporto.No desembarque vi uma mulher com uma placa com o meu nome Luiza Prado na mão, fiz sinal para ela e nos apresentamos.— Oi, sou a Luiza da Plaquinha.— Prazer Luiza, me chamo Karla. Seja bem vinda! Vamos que vou te levar - falou me ajudando com as malas. No caminho fiquei observando e admirando a cidade. Nunca tinha vindo a São Paulo, e estava encantada com tantos prédios, e como eram altos. Depois de alguns minutos, não sei exatamente quantos, pois me distrai observando tudo no caminho, nós chegamos no que parecia ser uma boate e então perguntei:— Achei que você iria me levar para onde vou ficar hospedada?— Sim, mas tem alguém aqui querendo falar com você — falou com um sorriso, que naquele momento eu não consegui decifrar. Entramos e lá dentro as luzes eram escuras. Vi um palco, um bar, algumas garotas muito bonitas passando, muitos homens altos e fortes de terno e gravata, que deduzi serem seguranças.Karla foi me guiando por um corredor que tinha uma porta no final, e que dava para um escritório.Na porta do escritório pude observar dois seguranças, que pareciam dois armários. A Karla bateu na porta e alguém mandou entrar, e nós entramos.— Com licença Chefe, eu trouxe sua encomenda — Karla falou arqueando uma sobrancelha e com um sorriso de canto — Na hora que ela falou "encomenda", franzi minha testa, e ali já vi que tinha algo muito estranho.— Nossa, muito mais linda do que nas fotos — aquele homem falou sentado em uma cadeira giratória, encostando os cotovelos na mesa, e esfregando as mãos.— E aparentemente é bilhete premiado — disse sorrindo e completou — Certamente está no lacre. — Que maravilha! Pode se retirar Karla, que eu vou entrevistar a moça - falou girando a sua cadeira para o lado, e se levantando lentamente. Eu comecei a ficar com muito medo. A essa altura eu já tinha certeza, de que isso não era nada do que tinham combinado comigo anteriormente— Pode sentar Luiza — o "Chefe" falou se aproximando, me fazendo dar passos para trás.— Não obrigada, estou bem em pé.— Como preferir — disse se encostando na mesa, e cruzando seus pés um no outro. Tive vontade de correr, de gritar por socorro. Eu estava com um péssimo pressentimento, mas ainda assim, nada do que eu pensei se comparava ao que estava por vir.— Luiza é o seguinte, o Maguila que está aí fora, vai te levar para conhecer seu quarto e suas colegas de trabalho — disse apontando para a porta — Hoje estamos fechados, então amanhã será seu primeiro dia. As meninas te dirão os horários das refeições. Alguma dúvida?— Sim, o que exatamente eu vou fazer aqui?Ele ri de forma irônica.— Ah! ah! ah! Você ainda não entendeu?— Eu recebi uma ligação, onde me falaram de uma trabalho como modelo — falei inocentemente achando que ainda tinha o que argumentar.— Aqui não é muito diferente, só que ao invés de passarela, temos palco, e por aqui, assim como nos trabalhos de modelo, quanto mais linda você é, mais grana você ganha.— E se eu não quiser ficar aqui?— Você não tem escolha, afinal deve um bom dinheiro para a casa.— E quanto eu devo para a casa?— Aproximadamente R$20.000,00 — falou alisando a barba.— Tu só pode está brincando? — perguntei achando que poderia ser uma brincadeira de muito mal gosto.— Você teve um dia de princesa em Porto Alegre não teve? Shopping? Clínica de estetica? Dentista? Salão de beleza? Além da passagem de avião? Ah, e o táxi até aqui, estou correto?— Ninguém me falou que eu teria que pagar por tudo me prostituindo.— E você achou que sairia de graça? Quem você pensa que eu sou? O Papai Noel? — falou sendo irônico.— O acordo seria que com os trabalhos de modelo, eu pagaria parcialmente as despesas. Eu não quis ir no salão, nem na clínica e muito menos no shopping — argumentei — Uma pessoa se apresentou para mim como uma "personal stylist" da agência, e falou que eu precisava dar um jeito no meu visual.Ele me olhou com um cara de deboche, e minha vontade era cuspir na cara dele.— Eu não tenho como pagar — falei sem conseguir impedir que as lágrimas caissem.— Tem sim, boneca! Você vai me pagar com o seu trabalho.— Eu não posso me prostituir, eu sou...— O que? Virgem? Não se preocupe com isso. Você não imagina o quanto que os clientes daqui estão dispostos a pagar por uma b***** lacradinha. Eu não consegui me segurar, e as lágrimas começaram a cair novamente.— Uma última coisa, até você pagar a sua dívida, seu celular está confiscado — falou estendendo a mão, e então completou — É só por garantia.Enquanto eu estava o encarando, ele perguntou:— Você prefere me entregar ou peço pro Maguila revistar sua bolsa e sua mala? Entreguei meu celular, antes que ele mandasse o tal Maguila mexer nas minhas coisas.— Se você não tem mais perguntas, pode se retirar —falou abrindo a porta — O Maguila vai te levar até seu quarto, e vai te ajudar com as malas.Me retirei e vi o tal Maguila de frente a porta. Apesar dele ser muito grande, ele não me dava medo, pelo contrário, foi a primeira pessoa dentro daquela boate que parecia ser amigável. Ficamos por todo o caminho andando em silêncio, até chegar na porta do quarto.— Moça, esse é o seu quarto — falou e nós paramos de frente a porta, então ele continuou — Olha só, eu imagino o quanto você deve está com medo, mas as meninas acabam acostumando com o tempo, e boa parte delas acaba gostando. Nem todas as meninas vem parar aqui como no seu caso, achando que é uma coisa, e era outra. Algumas vem para fazer a vida, e algumas mesmo que venham enganadas, acabam se adaptando. Fiquei escutando tudo que ele me falava, mas ainda assim era aterrorizante saber que eu não tinha outra opção, e teria que perder minha virgindade me prostituindo. Ate que ele abriu a porta do quarto das garotas para mim.LUIZA Ao abrir a porta o Maguila falou:— Meninas, essa é a nova colega de vocês. Por favor mostrem a ela a cama que ela vai dormir, onde guardar suas coisas e os horários das refeições. Tinham sete meninas no quarto e quatro beliches. Logo uma Ruiva muito bonita e com cara de menina se aproxima. — Prazer, me chamo Tatiana, mas pode me chamar de Tati — falou alisando o meu braço, e completou — Você parece uma Barbie Eu dei um sorriso de canto para ela, mas não conseguia parar de chorar. Uma moça negra, também muito bonita e bem alta, com cara de modelo da Victoria secret vem em seguida. — Não chora — falou limpando minhas lágrimas — Nós estamos nessa juntas. Ah, e meu nome é Bruna.Ela me abraçou e eu desmoronei abraçada com ela. — Eles mentiram para mim, me falaram que era um trabalho de modelo — falei respirando fundo, tentando controlar o choro — E para completar eu contrai uma dívida de R$ 20.000,00, que tipo de gente faz uma coisas dessas? Uma morena de cabelos longos
LUIZADepois que a gente acordou, fizemos nossa higiene, tomamos café da manhã e fizemos a faxina do local que também ficava por nossa conta. Fui até as gurias que estavam pintando as unhas e perguntei para a Nanda:— Nanda, tu pode me explicar agora como faz para se livrar da dívida daqui?— Sim minha Barbie, eu vou te explicar, se liga só — falou fechando o esmalte, e se virando para mim — A hora do programa aqui é R$500,00. 70% é da casa e 30% da garota. Caso você consiga fazer três programas por noite, a porcentagem passa a ser 40%, e se conseguir cinco clientes na noite a porcentagem vai pra 50%. Independente de quantos programas você fizer no dia, você precisa pagar para a casa R$200,00 por dia de hospedagem e alimentação. Então, se você fizer um único programa por dia, você vai estar aumentando a sua dívida com a casa, porque seu ganho de comissão por um único programa é de R$150,00., entendeu?Assenti com a cabeça, demostrando que estava entendendo.— A maioria das meninas dep
LUIZASai do quarto e sinceramente não sei como consegui andar por aquele corredor. Minhas pernas não paravam de tremer, e as lágrimas começaram a cair.Quando cheguei próximo ao palco, o Chefe viu que eu estava chorando e parece não ter gostado muito.— Alguém da um guardanapo pra essa garota limpar o rosto — falou com cara de desdém.A Bruna me entregou um guardanapo e me ajudou a limpar o rosto e a maquiagem.Respirei bem fundo algumas vezes, para controlar a vontade de chorar.Ele me puxou pelo braço e me levou para o meio do palco.Ele falou sussurrando:— Se inventar alguma gracinha, vai ter consequência! Coloca um sorriso nessa cara, que você não está indo para a forca não.Era exatamente assim que eu me sentia, como se eu estivesse indo para a forca.Confesso que quando estava no palco eu pensei em pegar o microfone e pedi ajuda, mas sabia que ali só tinham homens nojentos, que concordavam com toda aquela atrocidade.Eu sabia que se abrisse minha boca, eles me matariam e eu tin
LUIZAAquele leilão foi muito mais humilhante do que eu poderia imaginar.Escutar aquelas pessoas dando lances para tirar minha virgindade, fez eu me sentir um objeto. Eu só queria que aquilo acabasse. Só queria me trancar em algum lugar e chorar.De repente quando os lances terminaram, e vi uma mão estendida para mim. Eu nem resisti, só peguei a mão dele e fui junto com ele para o quarto. Assim que cheguei no quarto, acabei tendo uma outra crise de ansiedade. Não conseguia respirar, mi coração ficou acelerado, e a sensação era que eu ia morrer, e eu não conseguia parar de chorar. Se tinha uma coisa que eu não fazia ideia, era o que estava passando na cabeça daquele homem. Eu não sabia o que ele acabaria fazendo comigo ali, e aquilo era apavorante. Surpreendente ele pareceu está preocupado comigo, e me perguntou se eu queria ir ao hospital, e eu apenas balancei a cabeça que não, e ele ficou parado me observando. Depois de um tempo que parecia infinito, vi que aquele homem pediu
FelipeDepois que sai daquela casa noturna, fui para casa, tomei um banho e tomei meu café da manhã, e em seguida fui para a empresa.Esse dia foi um daqueles, onde eu saia de uma reunião para entrar em outra, porém, eu não consegui me concentrar em nenhuma delas. Aquela garota, e aquele pedido antes de eu ir embora não saiam da minha cabeça.Naquele momento eu tive certeza que ela estava ali contra a sua vontade dela.Por mais que eu quisesse ser indiferente, eu não conseguia. Eu tinha que fazer alguma coisa.Eu sai da minha última reunião, e fui direto para aquele lugar. Cheguei lá, paguei pela noite toda com ela, e pedi para que levassem ela direto para o quarto.Vê a cara de alívio que ela fez quando me viu, fez eu ter certeza que eu estava fazendo o que era certo.Ela entrou no quarto depois de dizer que estava aliviada de me vê, e o segurança fechou a porta— O que você faz aqui? — ela falou com um sorriso no rosto.— Queria conversar com você — disse a ela. Ela se sentou na ca
Decidida a descobrir que era o dono da boate, me aproximei do Maguila perguntei:— Oi Maguila, tudo bem? Você sabe o nome do dono da boate?— Barbie, esse cara é do tipo de gente que você tem que tomar o máximo de distância.— Eu não vou me aproximar dele, eu só precisava saber o nome.— Poxa Barbie, não sei se posso te passar esse tipo de informação.— Confia em mim Maguila, por favor — pedi na esperança de descobrir algo relevante. — Ninguém nunca saberá que foi você que me falou.— Não se trata só disso — disse ele olhando ao redor. — Pelo que eu sei, esse cara é um assassino sangue frio, e eu tenho medo de você se encrencar.— Eu não vou, eu prometo.— Tá bom Barbie! Eu vou confiar em você — disse novamente olhando para os lados, na intenção de vê se alguém poderia está escutando. — Eu não sei o nome dele, mas o apelido dele é Lobo. Ele é chefão em um dos morros do Rio de Janeiro, mas não sei exatamente qual. — Muito obrigado Maguila — falei o abraçando. — Eu vou ficar te devendo
FELIPE Eu não podia me envolver ainda mais. Eu estava ali para ajudar aquela garota a se livrar daquele lugar, e não podia confundir as coisas, sem falar que eu precisava manter o foco.Falei para mim mesmo: Relações práticas, sem envolvimento, lembra Felipe?O banho gelado não resolveu muito, e eu sabia que seria difícil aguentar as torturantes horas que eu ainda teria que ficar ali, sem poder tocar nela. Quando sai do banheiro, vi que ela estava dormido, e eu respirei aliviado.Deitei do outro lado, fiquei observando o quando ela era linda. Toda linda, da cabeça aos pés. Eu sorri ao lembrar que ela me deixou louco só em beijá-la. De uma coisa eu já sabia, aquela garota estava mexendo muito mais comigo do que eu queria admitir.Acabei dormindo enquanto eu olhava para ela.Quando já estava amanhecendo, eu me acordei e ela ainda dormia. Coloquei os sapatos, pequei o celular e as chaves do carro que estavam em cima de uma mesa, e dei um beijo na testa dela antes de ir embora sem acord
LUIZA Acordei com o Maguila me chamando.— Barbie... Barbie .... Acorda.— Oi Maguila, o que aconteceu?— Vamos, o chefe está te chamando na sala dele.Eu levantei, escovei os dentes, troquei de roupa, e fui até a sala do chefe.Quando cheguei, a Renata estava lá sentada no sofá.— Pode entrar Barbie! Feche a porta — disse ele.— Não sei o que essa Guria te falou, mas eu não fiz nada de errado.— Calma Barbie! Só te chamei por que precisamos esclarecer alguns detalhes. Acho que por estar aqui a pouco tempo, você ainda não entendeu algumas regrinhas da casa.— Hum.Eu ja imaginava o que vinha pela frente, então ele começou a falar.— Primeiramente, meus parabéns! Para uma virgem, até que você soube da uma chave de perna bem dada no playboy — falou ironizando.Minha única reação foi revirar os olhos de tédio.— Só tem um problema Barbie — falou ele se levantando da cadeira, e se aproximando de mim. —Ontem eu recebi a reclamação de um cliente que informou que estava indo em sua direção