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Capítulo 4 – Isso parece um pesadelo

LUIZA

Depois que a gente acordou, fizemos nossa higiene, tomamos café da manhã e fizemos a faxina do local que também ficava por nossa conta. Fui até as gurias que estavam pintando as unhas e perguntei para a Nanda:

— Nanda, tu pode me explicar agora como faz para se livrar da dívida daqui?

— Sim minha Barbie, eu vou te explicar, se liga só — falou fechando o esmalte, e se virando para mim — A hora do programa aqui é R$500,00. 70% é da casa e 30% da garota. Caso você consiga fazer três programas por noite, a porcentagem passa a ser 40%, e se conseguir cinco clientes na noite a porcentagem vai pra 50%.

Independente de quantos programas você fizer no dia, você precisa pagar para a casa R$200,00 por dia de hospedagem e alimentação. Então, se você fizer um único programa por dia, você vai estar aumentando a sua dívida com a casa, porque seu ganho de comissão por um único programa é de R$150,00., entendeu?

Assenti com a cabeça, demostrando que estava entendendo.

— A maioria das meninas depois que quitam as dividas, começam a vê o dinheiro entrando e não querem mais ir embora. Tem meninas aqui que tiram R$20.000,00 por mês Barbie, fora os agrados dos clientes. Sem falar que depois que você termina de pagar a sua dívida, você pode sair daqui durante o dia por exemplo. Além do que também tem os trabalhos como acompanhante de luxo, que seria como se você tivesse sido promovida. Os ganhos são maiores, e os clientes não economizam nos mimos.

Ela apontou com o olhar para uma guria e falou:

— Tá vendo aquela garota?

Eu olhei disfarçadament3.

— O nome dela é Priscila. A umas duas semanas ela ganhou um Fiat Pulse zero, esse carro é uns R$100.000,00. Ela ganhou de um cliente que ela sai a um tempo como acompanhante de luxo.

Franzi as sobrancelhas com um certo espanto.

— Barbie, você hoje tem uma grande chance de diminuir consideravelmente sua dívida, pois nos leilões os caras chegam a pagar R$5,000,00 por uma hora com uma garota virgem — disse Tati tentando me animar.

Eu só conseguia pensar que aquelas gurias para conseguir viver naquele lugar, começaram a tentar olhar o lado bom de tudo aquilo. Mas, eu não conseguia me imaginar me acostumando com essa vida.

Eu comecei novamente a sentir falta de ar, então falei para as gurias que precisava ir ao banheiro.

Me tranquei no banheiro e a falta de ar foi ficando cada vez mais desesperadora, e como sempre comecei a chorar. Quanto mais eu tentava parar de chorar, mais as lágrimas viam.

Até que as gurias bateram na porta.

— Barbie, abre a porta, deixa a gente entrar — gritava Bruna do outro lado da porta.

Eu estava sentada no chão do banheiro com as pernas encolhidas, e eu simplesmente não conseguia nem levantar para abrir e nem responder nada a elas.

Elas continuaram batendo insistentemente.

— Luiza, deixa a gente ficar aí com você — dessa vez foi Nanda que falou.

E Tati também insistiu:

— Abre Barbie, por favor.

Mas eu continuava ali sem ar, e sem conseguir responder nada.

Elas pararam de bater na porta por algum tempo, e logo a porta foi aberta.

Elas tinham ido pedir ajuda ao Maguila para abrir a porta, pois ele tinha a chave.

As gurias entraram no banheiro e o Maguila ficou aguardando do lado de fora.

Elas me falavam pra respirar pela boca e soltar pelo nariz, mas eu puxava e o ar não vinha. É uma sensação horrível, e parece que você vai morrer.

Demorou um tempo até que eu conseguisse melhorar.

No almoço o Maguila se aproximou

— Já vi que as meninas te apelidaram de Barbie.

— Pois é, Maguila! Eu gostaria de te agradecer por hoje.

Falei enquanto dava um sorriso de canto.

— Não tem de que — falou retribuindo o sorriso — Eu sei que você está assustada barbie, você acaba se acostumando. As meninas sempre chegam aqui igual a você está agora, e no final das contas, quando elas começam a vê a grana entrando, elas acabam não querendo sair mais. Além da grana dos programas, acabam ganhando alguns agrados dos clientes. Só seja esperta Barbie, não afronta os caras, e caso algum cara tente te agredir ou algo do tipo, tem um botão do lado das camas. Pode apertar que o segurança que estiver mais próximo invade o quarto na mesma hora.

— Meu Deus, ainda mais essa — falei ainda mais assustada, e contei para ele — Eu passei a vida vendo minha mãe ser agredida pelo monstro do meu pai, e depois tendo que se trancar no quarto com ele. Quando era mais nova eu não entendia por que ele trancava ela no quarto com ele depois de uma surra, mas quando fui crescendo fui entendendo.

Tudo que eu não precisava era vim parar em um lugar onde eu corra o risco de ser agredida e ainda tenha que me submeter a isso também .

Ele ficou sem ter o que me dizer, e eu ainda completei:

— Eu queria olhar as coisas com o olhar das gurias, mas eu nunca vou me acostumar. Nem todo o dinheiro do mundo me faria vê tudo isso aqui como algo bom. Eu só queria não ter aceitado a proposta de vir para São Paulo. A essa altura eu estaria trabalhando em uma cafeteria em Porto Alegre, morando em meu apartamento minúsculo, mas com perspectiva de futuro, e aqui eu não tenho nenhuma.Tudo que eu penso é em fugir daqui.

— Eu queria poder fazer alguma coisa por você Barbie, mas acho que eles me matariam se eu te ajudasse a sair daqui. E eu não posso me dá ao luxo de morrer, pois minha mãe é doente e precisa de mim. Eu não posso te ajudar a fugir, mas se precisar de qualquer outra coisa pode falar comigo.

— Obrigada! Tive uma boa impressão de você quando cheguei aqui. Vi assim que te olhei que você era uma boa pessoa.

Me despedi do Maguila e fui para o quarto.

A tarde as meninas começaram a se arrumar, e começaram a me ajudar a pintar as unhas, a escolher o vestido, o salto, a maquiagem. Eu não tinha vontade de nada ali, mas mantive um sorriso, porque elas estavam me ajudando muito, não só a me arrumar, como a suportar estar ali. Nem sei o que seria de mim sem elas.

Até que chegou o momento que eu mais temia, a hora do leilão da minha virgindade

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