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Capítulo 3 – A ficha ainda não caiu

LUIZA

Ao abrir a porta o Maguila falou:

— Meninas, essa é a nova colega de vocês. Por favor mostrem a ela a cama que ela vai dormir, onde guardar suas coisas e os horários das refeições.

Tinham sete meninas no quarto e quatro beliches.

Logo uma Ruiva muito bonita e com cara de menina se aproxima.

— Prazer, me chamo Tatiana, mas pode me chamar de Tati — falou alisando o meu braço, e completou — Você parece uma Barbie

Eu dei um sorriso de canto para ela, mas não conseguia parar de chorar.

Uma moça negra, também muito bonita e bem alta, com cara de modelo da Victoria secret vem em seguida.

— Não chora — falou limpando minhas lágrimas — Nós estamos nessa juntas. Ah, e meu nome é Bruna.

Ela me abraçou e eu desmoronei abraçada com ela.

— Eles mentiram para mim, me falaram que era um trabalho de modelo — falei respirando fundo, tentando controlar o choro — E para completar eu contrai uma dívida de R$ 20.000,00, que tipo de gente faz uma coisas dessas?

Uma morena de cabelos longos pintando as unhas sentada em uma das beliches falou:

— Vai por mim, você se acostuma.

Eu deixei minha mala em um canto, e comecei a olhar todos os cantos do quarto, tentando vê uma forma de fugir. E aí, uma outra moça de cachos definidos e longos, me falou:

— Não tem como fugir loira. Eu tentei fazer isso quando eu cheguei. Fui pega, espancada e jogada em um quarto escuro por dois dias a pão e água literalmente.

— Nenhuma de vocês conseguiu pagar a dívida e ir embora?

— Nossa dívida aqui só acaba quando você começa a fidelizar alguns clientes, e sua porcentagem começa a aumentar — falou fazendo um coque nos cabelos — Depois te explico aos poucos como funciona tudo, aliás, o meu nome é Nanda.

— Eu não me conformo, tem que ter algum jeito.

— É melhor não confrontar eles Barbie, por aqui tudo tem consequência - Tati falou me alertando.

— Vocês simplesmente desistiram de sair daqui?

Dessa vez foi a Bruna que me explicou:

— Nós nos acostumamos. Eu por exemplo já estou aqui a mais tempo, já consigo ganhar uma boa grana, e consigo pagar os planos de saúde dos meus pais, a escola da minha sobrinha, e mando um valor mensal para as compras do mês da casa dos meus pais.

—Seus pais sabem o que tu faz aqui?

— Que nada, eu saí da Bahia achando que ia trabalhar como modelo, assim como você, e minha família pensa até hoje que eu sou modelo.

Elas continuaram a tarde toda me explicando como tudo funcionava.

Lá tinham outras quatro garotas que estavam dormindo, e eu fui apresentada a três delas quando acordaram, a Janaína, a Marina e a Priscila.

Todas me trataram super bem, exceto Renata, que já acordou gritando:

— Porra, ninguém pode dormir nesse c******, que drama da p****. Para com isso garota, não é o fim do mundo não.

A Bruna e a Tati se olharam virando os olhos.

— Não liga para ela Barbie, ela é azeda assim mesmo - Tati falou.

Fiquei sabendo de várias outras coisas na sequência. Inclusive, que o Chefe só era gerente da casa, e que o dono era um traficante, dono de morro do Rio de Janeiro. Segundo elas, um cara com fama de ser muito cruel, e matar sem dó.

Depois de conversar bastante com as gurias, deu a hora do jantar e fomos caminhando até o refeitório.

A Bruna e a Tati, foram me mostrando as suítes que elas ficavam com os clientes. Tudo muito luxuoso, além de uma academia com alguns aparelhos, a cozinha e nos fundos um refeitório. Chegando lá pude contar mais de 20 gurias ao todo.

Enquanto a gente comia, escutamos alguns burburinhos. Era uma conversa a respeito de um certo Leilão. A Bruna e a Tati se olharam e a Tati perguntou:

— Barbie, em algum momento você contou ao chefe que você é virgem?

— Sim, eu estava desesperada e falei que não podia me prostituir, e que eu era virgem — contei percebendo naquele instante que havia sido um erro — Na verdade ele nem deixou eu terminar de falar, e parece que gostou da informação.

Elas novamente se olharam, e dessa vez foi Bruna que falou:

— Ele vai leiloar sua virgindade amanhã.

Eu comecei mais uma vez a chorar constatando que as minhas suspeitas estavam corretas.

Eu estava em pânico, sem conseguir acreditar em tudo que estava me acontecendo.

Como eu pude ser tão ingênua? Aquilo tudo parecia um pesadelo.

Deu a hora de dormir, eu me despedi das gurias e deitei.

Passei a noite inteira virando de um lado para o outro.

Fiquei pensando em como eu fui parar ali, em como minha vida só piorava. Não parava de pensar no que a Nanda contou que aconteceu com ela ao tentar fugir.

Teve uma hora que o ar faltou e eu fiquei sem conseguir respirar. A sensação era horrível, parecia que eu ia morrer de falta de ar. A Tati percebeu e veio até mim.

— Calma Barbie — ela falou alisando os meus cabelos.

— Eu não consigo respirar — falei chorando.

A sensação de puxar o ar e ele não vir era desesperadora.

— Tenta puxar o ar pelo nariz e soltar pela boca lentamente. Você está tendo uma crise de ansiedade Barbie, logo vai passar.

Fui fazendo o que ela falou, e depois de alguns minutos foi melhorando.

Ela deitou na cama comigo segurando a minha mão.

— Barbie, não pensa que você está só. Sei que acabou de nos conhecer. Mas, eu, Bruna e Nanda estamos com você. Comigo foi muito parecido com o que está acontecendo com você. Eu saí do interior do Rio Grande do Norte, também achando que trabalharia como modelo.

— Sua família sabe?

— Eu não convivi com meu pai, que se separou da minha mãe quando eu tinha apenas quatro anos. Minha mãe casou novamente, e quando eu estava prestes a fazer quinze anos, ela engravidou da minha irmã, que hoje tem quatro anos e tem síndrome de down.

Fiquei observando enquanto ela contava, e ela continuou:

— Quando o marido da minha mãe descobriu que a filha tinha síndrome de down, largou a minha mãe, e hoje por ordem judicial, paga uma mixaria de pensão por ganhar pouco. E como o dinheiro já é descontado em folha, ele nunca via a menina.

— Poxa Tati, sério?

— Sim! Por conta disso, quando eu terminei de pagar minha dívida aqui, juntei algum dinheiro, contei para minha mãe toda a verdade, e trouxe ela e a minha irmã para São Paulo.

— Qual foi a reação dela quando você contou?

— Ela chorou bastante no telefone. Enquanto eu contava, percebi o nariz dela ficando entupido por conta das lágrimas, e a respiração um pouco mais forte. Mas, ela disse que sabia que eu era uma boa pessoa, e que isso não diminui o amor e admiração que ela tem por mim. Ela só me fez prometer que seria temporário, então prometi para ela que ia juntar um bom dinheiro, e sair dessa vida.

Depois de muito conversar, eu e a Tati acabamos pegando no sono na minha cama.

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