LUIZA
Sai do quarto e sinceramente não sei como consegui andar por aquele corredor. Minhas pernas não paravam de tremer, e as lágrimas começaram a cair.Quando cheguei próximo ao palco, o Chefe viu que eu estava chorando e parece não ter gostado muito.— Alguém da um guardanapo pra essa garota limpar o rosto — falou com cara de desdém.A Bruna me entregou um guardanapo e me ajudou a limpar o rosto e a maquiagem.Respirei bem fundo algumas vezes, para controlar a vontade de chorar.Ele me puxou pelo braço e me levou para o meio do palco.Ele falou sussurrando:— Se inventar alguma gracinha, vai ter consequência! Coloca um sorriso nessa cara, que você não está indo para a forca não.Era exatamente assim que eu me sentia, como se eu estivesse indo para a forca.Confesso que quando estava no palco eu pensei em pegar o microfone e pedi ajuda, mas sabia que ali só tinham homens nojentos, que concordavam com toda aquela atrocidade.Eu sabia que se abrisse minha boca, eles me matariam e eu tinha que viver para tentar ser feliz como minha mãe pediu.O Chefe pegou o microfone e começou o leilão.— É com grande satisfação que vamos dar início ao nosso Leilão.Essa é a nossa lindíssima Barbie, ela veio do Rio grande do Sul, tem 18 anos e é virgem, isso mesmo meus caros, virgem! Um verdadeiro bilhete premiado. Os lances começarão com R$1.000,00Eu simplesmente não conseguia parar de tremer, minha boca estava seca, e eu me segurava com todas as minhas forças para não chorar.FELIPEEu entrei naquela boate, e fiquei em uma mesa com um sofá lá no fundo, próximo ao bar como de costume. As vezes eu escolhia uma das garotas e levava para um dos quartos, e as vezes eu só fico ali bebendo meu uisque, torcendo para que ninguém me incomodasse.Eu nunca repetia uma garota, não queria saber o nome delas e nem falava o meu nome. Não beijava na boca, mas sempre deixava um bom agrado em dinheiro além do pagamento do programa.Hoje eu optei por não escolher nenhuma garota, preferi ficar na mesa só bebendo um bom uísque, e foi aí que comecei a perceber uma movimentação diferente no palco, parecia um leilão. Até que me dei conta do que se tratava. Como assim? Estavam leiloando a virgindade de uma mulher? A princípio achei meio tosco. Não dei muita atenção e continuei ali de cabeça baixa tomando meu uísque. Mas, logo que olhei para o palco, eu vi que a garota do lado do homem que anunciava, uma loira de cabelos bem compridos, com um vestido brilhoso claro, curto e colado no corpo, com um decote, parecia apavorada e tremendo. Foi quando começaram a dar os lances.— R$1.100,00 — gritou um primeiro homem.— R$1.100,00, quem dá mais? Quem dá mais? — falava o cara no microfone.Então um segundo gritou:— R$1.200,00— R$1.200,00, quem dá mais? Quem dá mais?Não sei o motivo, mas me senti na obrigação de não deixar que aquela mulher fosse parar na mão de nenhum daqueles homens.— R$2.000,00 — gritei sentado na minha mesa e tomando meu uísque.— R$2.000,00, quem dá mais? Quem dá mais?Um outro homem que parecia bem disposto a ficar com aquela garota gritou:— R$5.000,00— R$5.000,00, quem dá mais? Quem dá mais?Então o primeiro homem que deu o lance gritou:— R$ 6.000,00— R$6.000,00, quem dá mais? Quem dá mais?Dessa vez mais um dos homens que havia dado lance gritou:— R$8.000,00— R$8.000,00, quem dá mais? Quem dá mais? Eu queria acabar com aquilo, então gritei:— R$ 20.000,00Todos ficaram perplexo, e senti vários olhares em mim.— Uau! R$ 20.000,00, o calhalheiro ali ofereceu R$ 20.000,00, quem dá mais? Quem dá mais?Ele espera alguns segundos.— Dôle uma, Dôle duas e Dôle três.Ainda não sei bem porquê eu fiz isso, mas estou feliz por ter conseguido. Ela parecia muito apavorada.— Cidadão de blazer ali atrás, é toda sua.Fui até o palco buscar a garota.Dei minha mão para que ela pudesse descer as escadas. Ela estava com as mãos suadas, geladas e tremendo muito. Nós fomos andando em direção a um dos quartos.Chegando no quarto me sentei, e falei pra ela se sentar também. De repente ela começou a ficar muito ofegante, parecia uma crise de asma.— Posso fazer alguma coisa por você? Quer um pouco de água?Ela só balançou a cabeça que não.Parecia que aquela falta de ar estava se intensificando.Logo depois ela começou a chorar, e eu fiquei sem saber o que fazer. Perguntei se ela queria que a levasse ao hospital e ela só balançou a cabeça negando. Fiquei ali parado próximo a ela e pude perceber que a respiração dela foi voltando ao normal após alguns minutos.— Me desculpa, só estou um pouco nervosa, mas já vou me recompor — falou de cabeça baixa, sem olhar no meu olho.— Não precisa se desculpar. Só quero que você fique bem. Eu não vou te fazer nenhum mal, eu prometo.Pude perceber uma aflição no olhar dela, um pedido de socorro.Mesmo com tudo aquilo, não pude deixar de notar o quanto aquela garota era linda. Seus olhos eram claros, não sei muito bem distinguir se azuis ou verdes, já que ela não me olhava nos olhos, os cabelos eram volumosos, grandes e levemente ondulados, o nariz parece que foi feito a mão, e a boca dela era bem desenhada.Pude notar também uns pelinhos, fininhos e loiros em volta da testa dela.Deixei que ela se acalmasse um pouco mais e perguntei:— Pelo fato de você ser virgem e eu nunca ter te visto, posso presumir que você é nova aqui?— Sim, hoje é o meu primeiro dia.— Por que? — perguntei curioso.— Por que o que?— Você é virgem! Por que perder a virgindade em lugar desses? É pela grana?— Você não sa.... Deixa pra lá. Melhor não falar sobre isso.Acabei não querendo insistir na pergunta para não deixar ela mais aflita. Mas, sabia que aquela garota não estava ali por vontade própria. Isso era nítido nas expressões dela.Liguei na recepção e falei que gostaria de ficar com ela a noite inteira e que pagaria pelo tempo adicional. Eles consentiram e eu desliguei o telefone.Tirei meus sapatos, coloquei o celular e a carteira em cima de uma mesa. Coloquei meu blazer estendido na cadeira e me deitei na cama. Falei pra ela que iria dormir um pouco, e que seria bom ela descansar um pouco também, e ela apenas assentiu com a cabeça.LUIZAAquele leilão foi muito mais humilhante do que eu poderia imaginar.Escutar aquelas pessoas dando lances para tirar minha virgindade, fez eu me sentir um objeto. Eu só queria que aquilo acabasse. Só queria me trancar em algum lugar e chorar.De repente quando os lances terminaram, e vi uma mão estendida para mim. Eu nem resisti, só peguei a mão dele e fui junto com ele para o quarto. Assim que cheguei no quarto, acabei tendo uma outra crise de ansiedade. Não conseguia respirar, mi coração ficou acelerado, e a sensação era que eu ia morrer, e eu não conseguia parar de chorar. Se tinha uma coisa que eu não fazia ideia, era o que estava passando na cabeça daquele homem. Eu não sabia o que ele acabaria fazendo comigo ali, e aquilo era apavorante. Surpreendente ele pareceu está preocupado comigo, e me perguntou se eu queria ir ao hospital, e eu apenas balancei a cabeça que não, e ele ficou parado me observando. Depois de um tempo que parecia infinito, vi que aquele homem pediu
FelipeDepois que sai daquela casa noturna, fui para casa, tomei um banho e tomei meu café da manhã, e em seguida fui para a empresa.Esse dia foi um daqueles, onde eu saia de uma reunião para entrar em outra, porém, eu não consegui me concentrar em nenhuma delas. Aquela garota, e aquele pedido antes de eu ir embora não saiam da minha cabeça.Naquele momento eu tive certeza que ela estava ali contra a sua vontade dela.Por mais que eu quisesse ser indiferente, eu não conseguia. Eu tinha que fazer alguma coisa.Eu sai da minha última reunião, e fui direto para aquele lugar. Cheguei lá, paguei pela noite toda com ela, e pedi para que levassem ela direto para o quarto.Vê a cara de alívio que ela fez quando me viu, fez eu ter certeza que eu estava fazendo o que era certo.Ela entrou no quarto depois de dizer que estava aliviada de me vê, e o segurança fechou a porta— O que você faz aqui? — ela falou com um sorriso no rosto.— Queria conversar com você — disse a ela. Ela se sentou na ca
Decidida a descobrir que era o dono da boate, me aproximei do Maguila perguntei:— Oi Maguila, tudo bem? Você sabe o nome do dono da boate?— Barbie, esse cara é do tipo de gente que você tem que tomar o máximo de distância.— Eu não vou me aproximar dele, eu só precisava saber o nome.— Poxa Barbie, não sei se posso te passar esse tipo de informação.— Confia em mim Maguila, por favor — pedi na esperança de descobrir algo relevante. — Ninguém nunca saberá que foi você que me falou.— Não se trata só disso — disse ele olhando ao redor. — Pelo que eu sei, esse cara é um assassino sangue frio, e eu tenho medo de você se encrencar.— Eu não vou, eu prometo.— Tá bom Barbie! Eu vou confiar em você — disse novamente olhando para os lados, na intenção de vê se alguém poderia está escutando. — Eu não sei o nome dele, mas o apelido dele é Lobo. Ele é chefão em um dos morros do Rio de Janeiro, mas não sei exatamente qual. — Muito obrigado Maguila — falei o abraçando. — Eu vou ficar te devendo
FELIPE Eu não podia me envolver ainda mais. Eu estava ali para ajudar aquela garota a se livrar daquele lugar, e não podia confundir as coisas, sem falar que eu precisava manter o foco.Falei para mim mesmo: Relações práticas, sem envolvimento, lembra Felipe?O banho gelado não resolveu muito, e eu sabia que seria difícil aguentar as torturantes horas que eu ainda teria que ficar ali, sem poder tocar nela. Quando sai do banheiro, vi que ela estava dormido, e eu respirei aliviado.Deitei do outro lado, fiquei observando o quando ela era linda. Toda linda, da cabeça aos pés. Eu sorri ao lembrar que ela me deixou louco só em beijá-la. De uma coisa eu já sabia, aquela garota estava mexendo muito mais comigo do que eu queria admitir.Acabei dormindo enquanto eu olhava para ela.Quando já estava amanhecendo, eu me acordei e ela ainda dormia. Coloquei os sapatos, pequei o celular e as chaves do carro que estavam em cima de uma mesa, e dei um beijo na testa dela antes de ir embora sem acord
LUIZA Acordei com o Maguila me chamando.— Barbie... Barbie .... Acorda.— Oi Maguila, o que aconteceu?— Vamos, o chefe está te chamando na sala dele.Eu levantei, escovei os dentes, troquei de roupa, e fui até a sala do chefe.Quando cheguei, a Renata estava lá sentada no sofá.— Pode entrar Barbie! Feche a porta — disse ele.— Não sei o que essa Guria te falou, mas eu não fiz nada de errado.— Calma Barbie! Só te chamei por que precisamos esclarecer alguns detalhes. Acho que por estar aqui a pouco tempo, você ainda não entendeu algumas regrinhas da casa.— Hum.Eu ja imaginava o que vinha pela frente, então ele começou a falar.— Primeiramente, meus parabéns! Para uma virgem, até que você soube da uma chave de perna bem dada no playboy — falou ironizando.Minha única reação foi revirar os olhos de tédio.— Só tem um problema Barbie — falou ele se levantando da cadeira, e se aproximando de mim. —Ontem eu recebi a reclamação de um cliente que informou que estava indo em sua direção
FELIPESai daquela casa noturna, e tudo que rolou essa madrugada com Luiza não saia do meu pensamento. Nós não tínhamos chegado nem perto de consumar o ato, mas já tinha sido incrível. Nunca tive tanta química assim com uma mulher antes. Tudo com ela parecia que se encaixava perfeitamente.Fui direto para casa, eu não iria trabalhar. Liguei logo cedo para minha secretária, cancelando todas os meus compromissos.Ainda no carro, liguei para o Henrique, um amigo de longa data, que certamente conhecia umas pessoas, que me levariam ao tal Lobo.LIGAÇÃO ON.— Alô Henrique.— (Atende sonolento) Alô.— Henrique irmão, desculpa está te ligando a essa hora, mas a parada é meio urgente.— De boa cara, fala aí. Eu já tinha que acordar mesmo, e você na verdade me fez um favor.— Então cara, eu vou direto ao assunto. Eu preciso chegar em um cara conhecido como Lobo, dono de morro no Rio de Janeiro. Foi tudo que eu consegui descobrir sobre o cara.— Meu irmão, eu já ouvi falar sobre esse cara. Se fo
FELIPE O Lobo ficou um tempo me encarando, e em seguida perguntou:— A que devo honra do palyboy aqui no meu morro?— Eu gostaria de propor um negócio para você — falei meio apreensivo, mas tentando demostrar firmeza.— Manda aí playboy, mas seja rápido para não atrapalhar o meus corre.— Eu quero pagar a dívida de uma das garotas da sua boate em São Paulo — falei sem rodeios.O Lobo franzil as sobrancelhas, e parecia não entender do que se tratava.Ele pegou o celular, se afastou e começou a falar com alguém. Parecia irritado, e xingou com vários palavrões a pessoa do outro lado.Ele voltou, ainda com o semblante irritado, e perguntou:— Do que se trata a dívida Playboy? Quero ver se as histórias batem.— A Luiza, a garota ao qual eu vim pagar a dívida, recebeu uma proposta para se mudar para São Paulo, na promessa de que trabalharia como modelo. Antes de sair de Porto Alegre onde morava, compraram roupas, sapatos, levaram ela no salão, em clínica de estética, e até em dentista. Pa
FELIPELevei a Luiza para ficar na minha cobertura no Morumbi, e assim que abrimos a porta ela falou:— Nossa Felipe, que lugar lindo, aqui é enorme.— Obrigado! Quero que você se sinta em casa aqui. A despensa e a geladeira estão cheias, tem alguns vinhos na adega, deixei um cartão em cima da mesa com senha. Pode usar a hora que quiser e para o que quiser. Nós sentamos um pouco no sofá, a Luiza estava curiosa para saber como eu havia conseguido a liberdade dela da casa noturno, e pude perceber que quando eu contei ela ficou bem impressionada com tudo.— Tu se arriscou muito! Graças a Deus que você está aqui em segurança, mas foi um risco muito grande, e poderia ter dado muito errado. Mesmo achando que tu se arriscou demais, eu queria te agradecer por tudo — disse com um sorriso. — Por tudo mesmo! Eu nunca conseguirei te agradecer o suficiente.— Você não precisa me agradecer — falei retribuindo o sorriso. — Você sofreu uma injustiça, e eu vi que poderia fazer algo a respeito.Nós doi