LUIZA
Eu me chamo Luiza Schneider e vou contar um pouco da minha história para vocês. Sou do interior do Rio Grande do Sul, de uma cidade chamada Vale Real e meus pais tinham uma pequena propriedade rural. Eles trabalharam na roça a vida inteira. Minha mãe era uma mulher linda, confiante e muito alegre, mas que foi perdendo sua vaidade, sua confiança e a alegria com o passar dos anos. Meu pai era uma pessoa desprezível e eu não me lembro se ter olhado para ele alguma vez na minha vida com admiração. Eu e a minha mãe tínhamos medo dele. Ele era um alcoólatra, bebia todos os dias, mas não precisava estar bêbado para mostrar o quanto era desprezível. Ele sempre batia na minha mãe e depois a obrigava a se trancar no quarto com ele. Eu lembro que quando eu tinha uns doze anos, a minha mãe levou uma das piores surras da sua vida. Eu havia ido para a escola e quando voltei a vi caída na cozinha, desacordada, toda cheia de hematomas e com um dos olhos inchados. Eu consegui pedir ajuda a nossa vizinha Célia, mãe da Mariana, minha melhor amiga. Ela morava um pouco longe porque morávamos em área rural. Eu lembro de ter saído correndo, chorando, desesperada, achando que aquele monstro havia matado a minha mãe. — Celia, por favor, me ajuda. Minha mãe está caída no chão. Foi ele. Eu sei que foi ele. Meu pai matou ela! — gritei em desespero. — Calma Luiza, não chore. Você está tremendo, meu amorzinho. Vamos lá agora ajudar ela — a Célia falou tentando me acalmar. Nós levamos a minha mãe para o hospital e a Célia aproveitou para convencer ela a denunciar o traste do meu pai. — Ana, tu não pode continuar nessa vida — a Célia fitava a minha mãe que estava deitada e com o rosto abatido naquela cama de hospital — Esse homem vai acabar te matando ou matando tua filha. — O que tu quer que eu faça? Eu não tenho para onde ir com minha filha — minha mãe respondeu com uma expressão de dor em seu rosto. — Fica na minha casa com ela o tempo que precisar — a Célia propôs, tentando convencê-la —. O que não dá é para tu ficar se submetendo a um homem desses que só te maltrata. — Se eu ficar na tua casa ele pode se aborrecer e ser pior para mim ou para minha filha. — Tu tem que denunciar ele para que proíbam ele de chegar perto de ti ou da menina. — ela orientou de forma mais firme. — Não sei — minha mãe falou ainda relutante — Eu tenho muito medo. — Pensa bem! Mas se tu decidir denunciar o desgraçado, eu e minha família te apoiaremos. *** Minha mãe recebeu alta, fomos com ela na delegacia e graças a Deus, ela teve coragem de contar tudo e uma medida protetiva foi expedida contra ele. Nós ficamos por um tempo na casa da Célia, mas não demorou para o meu pai aparecer lá com cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança, pedindo perdão, dizendo que só percebeu o quanto a minha mãe era maravilhosa depois que ela foi embora e implorando para que ela voltasse para casa. Ele certamente ganharia o Oscar, já que é um ótimo ator. Eu não acreditei em uma única palavra vinda dele. Eu tentei de todas as formas convencer a minha mãe de que ele não prestava e que ela não deveria acreditar nele, mas a minha mãe não tinha para onde ir, ainda com uma filha para criar e não estava se sentindo confortável em ficar na casa dos vizinhos dando despesas, mesmo eles sendo pessoas tão maravilhosas. Então ela acabou voltando para o traste. Ele passou alguns meses fingindo ser uma boa pessoa, mas a farsa dele durou pouco tempo. Ele não conseguia controlar o ciúme possessivo que ele tinha da minha mãe e isso tornava a vida dela um verdadeiro inferno. Ele implicava se ela ia na igreja, se demorava no mercado e inclusive tinha ciúmes da amizade da minha mãe com a Célia. Depois de um tempo e de tanto apanhar, a minha mãe conseguiu uma arma e manteve ela escondida por anos em casa. Ninguém sabia da arma, exceto a nossa vizinha Célia. Parece que minha mãe estava pressentindo as coisas. Um dia depois do meu aniversário de dezoito anos, a minha mãe flagrou o desgraçado levantando a parte de cima do meu pijama para olhar meus seios enquanto eu dormia. Ela ficou enfurecida e não pensou duas vezes antes de pegar um jarro que estava no corredor. Ela estava prestes a quebra-lo na cabeça dele, mas Infelizmente o reflexo dele fez com que ele visse o que estava prestes a acontecer e depois de tomar o jarro da mão da minha mãe, ele acertou a cabeça dela a deixando desacordada. Eu acordei desesperada, chorando e implorando para minha mãe acordar. — Mamãe, pelo amor de Deus, acorda. Por favor, mamãe não faz isso comigo. Mamãe... Mamãeeeee... — eu gritava ao mesmo tempo que chorava. Ele veio na minha direção e saiu puxando meu cabelo e me batendo, dizendo que eu era uma vadia igual a minha mãe. Eu lembro de ter conseguido empurrar ele com força e ele bateu com as costas na parede. Eu aproveitei o desequilíbrio dele tentando correr e vi que a minha mãe havia acordado e estava indo em direção ao quarto dela. Ele abriu a gaveta, pegou uma faca e foi em minha direção. Eu tentei me trancar no meu quarto, mas não deu tempo de trancar e ele abriu a porta com toda sua força. — Sua Vadia! Vou matar tu e a tua mãe. Vocês são duas desgraçadas que só me dão despesas. — Seu traste miserável, eu te odeio — eu esbravejei chorando de ódio, relembrando todo o sofrimento que ele nos fez passar. Minha mãe veio por trás dele e tentou dar um mata leão, mas o maldito conseguiu se soltar e deu uma facada na barriga da minha mãe que caiu no chão. Eu só conseguia chorar e gritar pela minha mãe. Ele vinha na minha direção, mas a minha mãe, mesmo caída no chão, sacou a arma que estava escondida atrás dela e descarregou nele, que caiu morto na mesma hora. Eu pulei por cima dele e fui tentar socorrer a minha mãe que agonizava no chão. Eu nunca senti tanta dor. Eu implorava para que a minha mãe não morresse e eu gritava por socorro. — Mamãe não morre, por favor! Mamãeeee. Socorrooooooo! Alguém me ajuda! Mãezinha, por favor, eu imploro. Fica comigo. Alguns minutos se passaram e a Célia e o Luiz, seu marido, chegaram na minha casa após escutarem os tiros. A minha mãe ainda agonizando, me dizia que havia matado o desgraçado, que se ela não tivesse chegado a tempo, ele iria abusar de mim. Ela contou com dificuldade que ele havia levantado a parte de cima do meu pijama para olhar meus seios, mas que agora eu estava livre dele. Ela falava puxando com dificuldade a respiração, que eu precisava ser muito feliz para que ela conseguisse descansar em paz e instantes depois ela acabou morrendo nos meus braços. Eu senti uma dor tão corrente e sufocante. Nunca tinha imaginado a minha vida sem a minha mãe, apesar de ter desejado por várias vezes que o meu pai morresse. Meus planos eram que agora que eu fiz dezoito anos, eu e minha mãe poderíamos fugir e recomeçar a vida. Eu poderia arrumar um trabalho e nós duas seríamos felizes longe daquele monstro. Nós sepultamos a minha mãe e alguns parentes do meu pai fizeram o sepultamento dele. Eu não queria mais ter que olhar na cara dele, mesmo que ele estivesse morto. Por causa desse mostro, eu agora estava sozinha no mundo. Por causa dele, agora eu tinha perdido o que eu tinha de mais importante na vida: a minha mãe. Eu resolvi colocar nossa propriedade à venda, mas descobri que ela havia sido dada como pagamento de uma dívida do meu pai. Ele conseguia, ainda morto, piorar as coisas. Minha mãe tinha guardado em um esconderijo no meu guarda roupa cinco mil reais e só eu e ela sabiamos. Ela dizia que seria para alguma emergência e era com esse dinheiro que eu iria recomeçar a minha vida. [...] Um mês depois me mudei para Porto Alegre. Eu queria ter saído antes, mas precisava esperar as investigações serem concluídas. E só depois que a perícia comprovou as nossas versões eu pude sair da cidade. Eu não conseguiria permanecer na mesma cidade, visto que todos me olhavam com pena ou julgamento. Eu precisava recomeçar em outro lugar. Foi bem difícil me despedir da Célia, da Mari e do Luiz. Eles eram o mais próximo de uma família que eu tinha, já que os parentes do meu pai são pessoas tão horríveis quanto ele. Já a minha mãe não tinha conhecido a sua mãe. Ela morreu no parto e o seu pai tinha morrido de infarto quando ela era ainda adolescente. Talvez por isso ela se casou tão cedo e se submeteu a tanta coisa.LUIZA Aluguei um pequeno apartamento de um quarto em Porto Alegre, e comecei na mesma semana a trabalhar em uma cafeteria. Apesar de tudo, eu precisava ser feliz pela minhas mãe, e apesar de não vê ainda uma forma disso acontecer, eu precisava tentar. Depois de quase 3 meses que eu havia me mudado para Porto Alegre, recebi a ligação de uma "agência de modelos'. Segundo eles, tinham visto minhas fotos nas redes sociais e gostariam de me contratar para alguns trabalhos como modelo. Para isso eu precisava me mudar para São Paulo, porém eles pagariam minhas despesas como passagem de avião, hospedagem, entre outros custos, e que só quando eu chegasse lá e começasse a trabalhar, que eu iria pagando parcialmente as despesas que tivessem comigo. Decidi aceitar, achava que na pior das hipóteses, se eu não me adaptasse, eu voltaria para Porto Alegre. Sai de Porto Alegre em um vôo em direção a São Paulo, e chegando lá, o combinado seria que teria alguém com uma plaquinha com o meu nome me ag
LUIZA Ao abrir a porta o Maguila falou:— Meninas, essa é a nova colega de vocês. Por favor mostrem a ela a cama que ela vai dormir, onde guardar suas coisas e os horários das refeições. Tinham sete meninas no quarto e quatro beliches. Logo uma Ruiva muito bonita e com cara de menina se aproxima. — Prazer, me chamo Tatiana, mas pode me chamar de Tati — falou alisando o meu braço, e completou — Você parece uma Barbie Eu dei um sorriso de canto para ela, mas não conseguia parar de chorar. Uma moça negra, também muito bonita e bem alta, com cara de modelo da Victoria secret vem em seguida. — Não chora — falou limpando minhas lágrimas — Nós estamos nessa juntas. Ah, e meu nome é Bruna.Ela me abraçou e eu desmoronei abraçada com ela. — Eles mentiram para mim, me falaram que era um trabalho de modelo — falei respirando fundo, tentando controlar o choro — E para completar eu contrai uma dívida de R$ 20.000,00, que tipo de gente faz uma coisas dessas? Uma morena de cabelos longos
LUIZADepois que a gente acordou, fizemos nossa higiene, tomamos café da manhã e fizemos a faxina do local que também ficava por nossa conta. Fui até as gurias que estavam pintando as unhas e perguntei para a Nanda:— Nanda, tu pode me explicar agora como faz para se livrar da dívida daqui?— Sim minha Barbie, eu vou te explicar, se liga só — falou fechando o esmalte, e se virando para mim — A hora do programa aqui é R$500,00. 70% é da casa e 30% da garota. Caso você consiga fazer três programas por noite, a porcentagem passa a ser 40%, e se conseguir cinco clientes na noite a porcentagem vai pra 50%. Independente de quantos programas você fizer no dia, você precisa pagar para a casa R$200,00 por dia de hospedagem e alimentação. Então, se você fizer um único programa por dia, você vai estar aumentando a sua dívida com a casa, porque seu ganho de comissão por um único programa é de R$150,00., entendeu?Assenti com a cabeça, demostrando que estava entendendo.— A maioria das meninas dep
LUIZASai do quarto e sinceramente não sei como consegui andar por aquele corredor. Minhas pernas não paravam de tremer, e as lágrimas começaram a cair.Quando cheguei próximo ao palco, o Chefe viu que eu estava chorando e parece não ter gostado muito.— Alguém da um guardanapo pra essa garota limpar o rosto — falou com cara de desdém.A Bruna me entregou um guardanapo e me ajudou a limpar o rosto e a maquiagem.Respirei bem fundo algumas vezes, para controlar a vontade de chorar.Ele me puxou pelo braço e me levou para o meio do palco.Ele falou sussurrando:— Se inventar alguma gracinha, vai ter consequência! Coloca um sorriso nessa cara, que você não está indo para a forca não.Era exatamente assim que eu me sentia, como se eu estivesse indo para a forca.Confesso que quando estava no palco eu pensei em pegar o microfone e pedi ajuda, mas sabia que ali só tinham homens nojentos, que concordavam com toda aquela atrocidade.Eu sabia que se abrisse minha boca, eles me matariam e eu tin
LUIZAAquele leilão foi muito mais humilhante do que eu poderia imaginar.Escutar aquelas pessoas dando lances para tirar minha virgindade, fez eu me sentir um objeto. Eu só queria que aquilo acabasse. Só queria me trancar em algum lugar e chorar.De repente quando os lances terminaram, e vi uma mão estendida para mim. Eu nem resisti, só peguei a mão dele e fui junto com ele para o quarto. Assim que cheguei no quarto, acabei tendo uma outra crise de ansiedade. Não conseguia respirar, mi coração ficou acelerado, e a sensação era que eu ia morrer, e eu não conseguia parar de chorar. Se tinha uma coisa que eu não fazia ideia, era o que estava passando na cabeça daquele homem. Eu não sabia o que ele acabaria fazendo comigo ali, e aquilo era apavorante. Surpreendente ele pareceu está preocupado comigo, e me perguntou se eu queria ir ao hospital, e eu apenas balancei a cabeça que não, e ele ficou parado me observando. Depois de um tempo que parecia infinito, vi que aquele homem pediu
FelipeDepois que sai daquela casa noturna, fui para casa, tomei um banho e tomei meu café da manhã, e em seguida fui para a empresa.Esse dia foi um daqueles, onde eu saia de uma reunião para entrar em outra, porém, eu não consegui me concentrar em nenhuma delas. Aquela garota, e aquele pedido antes de eu ir embora não saiam da minha cabeça.Naquele momento eu tive certeza que ela estava ali contra a sua vontade dela.Por mais que eu quisesse ser indiferente, eu não conseguia. Eu tinha que fazer alguma coisa.Eu sai da minha última reunião, e fui direto para aquele lugar. Cheguei lá, paguei pela noite toda com ela, e pedi para que levassem ela direto para o quarto.Vê a cara de alívio que ela fez quando me viu, fez eu ter certeza que eu estava fazendo o que era certo.Ela entrou no quarto depois de dizer que estava aliviada de me vê, e o segurança fechou a porta— O que você faz aqui? — ela falou com um sorriso no rosto.— Queria conversar com você — disse a ela. Ela se sentou na ca
Decidida a descobrir que era o dono da boate, me aproximei do Maguila perguntei:— Oi Maguila, tudo bem? Você sabe o nome do dono da boate?— Barbie, esse cara é do tipo de gente que você tem que tomar o máximo de distância.— Eu não vou me aproximar dele, eu só precisava saber o nome.— Poxa Barbie, não sei se posso te passar esse tipo de informação.— Confia em mim Maguila, por favor — pedi na esperança de descobrir algo relevante. — Ninguém nunca saberá que foi você que me falou.— Não se trata só disso — disse ele olhando ao redor. — Pelo que eu sei, esse cara é um assassino sangue frio, e eu tenho medo de você se encrencar.— Eu não vou, eu prometo.— Tá bom Barbie! Eu vou confiar em você — disse novamente olhando para os lados, na intenção de vê se alguém poderia está escutando. — Eu não sei o nome dele, mas o apelido dele é Lobo. Ele é chefão em um dos morros do Rio de Janeiro, mas não sei exatamente qual. — Muito obrigado Maguila — falei o abraçando. — Eu vou ficar te devendo
FELIPE Eu não podia me envolver ainda mais. Eu estava ali para ajudar aquela garota a se livrar daquele lugar, e não podia confundir as coisas, sem falar que eu precisava manter o foco.Falei para mim mesmo: Relações práticas, sem envolvimento, lembra Felipe?O banho gelado não resolveu muito, e eu sabia que seria difícil aguentar as torturantes horas que eu ainda teria que ficar ali, sem poder tocar nela. Quando sai do banheiro, vi que ela estava dormido, e eu respirei aliviado.Deitei do outro lado, fiquei observando o quando ela era linda. Toda linda, da cabeça aos pés. Eu sorri ao lembrar que ela me deixou louco só em beijá-la. De uma coisa eu já sabia, aquela garota estava mexendo muito mais comigo do que eu queria admitir.Acabei dormindo enquanto eu olhava para ela.Quando já estava amanhecendo, eu me acordei e ela ainda dormia. Coloquei os sapatos, pequei o celular e as chaves do carro que estavam em cima de uma mesa, e dei um beijo na testa dela antes de ir embora sem acord