Sarah
Quando ela chegou nesse lugar não sabia exatamente onde estava se metendo. Seu maior sonho era ser estilista, ganhar dinheiro com seus modelos e cuidar do seu pai, que sempre cuidou dela sozinho desde que a loira era um bebê. Aquele homem a ensinou o certo e o errado, a entender as entrelinhas e ser mais inteligente que os expertos, pois sempre iriam arranjar uma forma de passar a perna nela. Sarah nunca foi a menininha delicada ou a certinha em tudo. Para seu pai, seguir as regras e não se meter em encrenca já era o bastante. Sem falar também na moral que os moldavam. Fazer o certo sempre, respeitar e nunca esquecer desses passos. Quando a carta da faculdade chegou, seu coração foi à boca, mal pode parar em pé. Àquela altura, ela já trabalhava com uma costureira vizinha, mas o que realmente lhe rendia dinheiro para pagar as contas e ajudar seu pai era o emprego em uma sorveteria. Eles não eram miseráveis nem passavam fome, porém, todos os dias ela assistia seu pai sair cedo e chegar cansado após trabalhar oito horas diárias para colocar comida na mesa. Ser mecânico foi o que conseguiu, ao não se formar. Por isso sempre a incentivou a estudar e entrar na faculdade. Com a metade da bolsa, eles teriam que pagar o restante dos custos, além da comida e custo de viver na universidade. Sarah se esforçou para trabalhar, ganhar o seu próprio dinheiro, para não ver seu pai se matando em algo que o estava deixando doente. Ela se cobrava bastante. Estava sempre arranjando coisas para fazer e complementar a renda. A loira achou que tudo estava indo bem, com as contas pagas, e um pouco de reserva, até que recebeu uma ligação do hospital. A mulher se desesperou, achou que perderia o pai, porém, não foi tão grave. Bem… pelo menos, não naquele momento. Mesmo com o seguro cobrindo tudo, descobriram um tumor que precisava ser removido. O valor era alto e, o seguro, só cobria metade. Sempre a droga da metade. — Não é preciso, vivi até agora, bem, não preciso de cirurgia. — O pai disse, teimoso. — Não vem com essa. — Revirou os olhos. — Vai fazer a cirurgia quanto antes. Um tumor não é brincadeira, pai. Não sabíamos sobre isso até agora, e não posso deixar que continue assim. Tenho reservas… — Nada disso. — A cortou, severo. — Esse dinheiro é para os seus estudos. O homem era teimoso. Ele sabia que Sarah, daria tudo que tinha para custear aquele tratamento, porém, ainda não seria o bastante. Esse era o problema dos EUA. Os exames médicos e procedimentos custavam muitos dólares, e dólares suficientes, eles não tinham. Claro que o homem não escolheria morrer, caso tivesse o valor, mas esse não era o caso. Ele olhava para sua filha, cansada e desesperada, e se sentia mal por saber que a culpa era sua. Já Sarah, temia perder a única pessoa que restou em sua família. — Esse dinheiro foi o que consegui com meu trabalho e vou usá-lo para pagar a cirurgia. — Bateu o pé. O velho Bill conhecia a sua menina. Ela puxou a mãe: determinada e teimosa. — Mas que menina teimosa. — Ele levantou da cadeira, ainda com as vestes do hospital, e a olhou furioso. — Você vai estudar. Foi para isso que trabalhou, que trabalhei e não posso… — Acha mesmo que ficarei em paz sabendo que meu pai está doente? — Se agitou. Seus olhos encheram de água, pensando ser uma tola. Seu sonho era grande, mas amava muito o seu pai. — A faculdade não sairá do lugar. Posso trabalhar e ganhar o dinheiro para isso. Estou segura por alguns meses. Até lá, conseguirei repor. Agora, fará a cirurgia ou saio da faculdade nesse exato momento. — Bill arregalou os olhos, sem acreditar nas ameaças da filha. Sarah, era determinada e cumpriria realmente a promessa, apenas para salvar a vida de seu pai. Ela sempre odiou o vê dessa forma, mas nada o fazia mudar. Após coçar a cabeça, ele voltou a onde estava e não disse mais nada. O médico voltou, explicou o procedimento, tentando os acalmar, mas era impossível. Seu pai, a única pessoa que restava, faria uma cirurgia complicada e perigosa. Ela, acreditava que ele vinha sentindo dores, mas não falou nada para que ela não se preocupasse. Se não fosse esse acidente, Bill estaria em casa, com essa bomba na cabeça, sem saber dos riscos. O homem, após saber o que aconteceria, pediu para que sua filha fosse a faculdade, pois ela já tinha perdido muito, ficando ao seu lado naquele hospital. Então, ela concordou, pegando seu material e saindo da sala. A cirurgia estava marcada para mais anoite, e daria tempo assistir às aulas e correr para chegar a tempo de o ver antes da cirurgia. *** Ela passou o dia pensando nele, naquele hospital, sozinho, com aquela bomba relógio na cabeça, mas teve que se concentrar, para não perder a matéria. As provas estavam chegando e não lhe daria folga. Contudo, sua mente a traia, em alguns momentos. Parada e olhando para o quadro, Sarah enxergava as pessoas, o professor, mas não os ouvia. Assim que o tempo acabou, todos se levantaram e saíram da sala. Ela teve tempo de guardar tudo para sair, até que seu professor a chamou. Sarah se aproximou dele, desconfiada. Da primeira vez que conversaram, ela notou seu olhar pervertido percorrer seu corpo inteiro, e isso a deixou desconfortável. — Notei que estava distraída. — Ele sorriu, se aproximando. O homem tinha más intenções. Sarah era uma mulher linda, cabelos loiros, ondulados e longos, um corpo desenhado, belos peitos e um olhar de inocência que atraía os homens. — Fiquei preocupado que você não estivesse entendendo a matéria. — Não é isso. — Deu um sorriso nervoso. — É que meu pai está no hospital e... estou preocupada. — Sinto muito. — Ele deu um passo em sua direção, mas ela recusou, nervosa. — Caso precise de uma aula extra, para as provas, estou à disposição. O olhar de predador deu arrepios em Sarah. Ela nunca olhou para o homem com segundas intenções e já estava com medo do rumo da conversa. — Sarah, aí está você! — A voz de Patrícia aliviou seu coração da loira. — Menina, eu estava procurando você. — Ela se aproximou. O professor odiou ser interrompido. — Perdi a chave do quarto. — Claro. — Deu um sorriso nervoso, e arrumou a bolsa. — Desculpe, professor, eu tenho que ir e sobre as aulas, não precisa, Patrícia e eu estamos estudando juntas. — Ela mentiu. A morena pegou em seu braço e a puxou para o lado de fora, com bastante pressa. — Conselho número 1: fica longe daquele tarado. — A voz da colega de quarto a tirou dos pensamentos. — Ele já deu em cima de mim, mas comigo as coisas são diferentes. Posso arrancar as bolas dele, se tentar algo. — Obrigada. — Disse aliviada. — Eu não sabia o que fazer. — Na dúvida, diz que seu pai é um policial. — Aconselhou. — Não importa a mentira, você não pode ficar a sós com esse tarado.HunterHunter estava na academia de luta, tarde da noite, com a raiva fervendo dentro de si, após remoer bastante o que aconteceu. Ele precisava descontar essa energia negativa em alguém ou em algo, e as luvas de boxe pareciam as melhores opções. Ele começou a bater com força, socos e chutes rápidos que ecoavam pelo salão vazio, e a todo momento, o loiro imagina o rosto daquele que Hunter, considerava um amigo.“Uma cobra venenosa que não percebi e acabou me destruindo”, ele pensou.Depois de alguns minutos, uma leve sensação de alívio começou a se espalhar pelo seu corpo, mas ainda faltava algo. Seu corpo estava suado e a cabeça permaneceu perturbada. Viver com essa verdade estava o matando.Ele precisava lutar contra alguém de carne e osso. Olhando em volta, percebeu que a academia estava praticamente vazia, mas, por obra do destino, naquele momento, Tomás passa pela porta, sorridente, cumprimentando um dos poucos que estavam ali. Hunter, riu de tanta raiva. A maratona de socos
Após passar longas semanas com seu pai, no pós-operatório, depois que ele acordou, Sarah então se voltou ao novo problema que era: o seguro e o dinheiro.Tudo ali era difícil para quem não tinha nenhum dólar na conta. Ela tinha que ganhar dinheiro rápido, pois logo chegariam as parcelas da universidade, sem contar na moradia e comida.Depois de um dia cheio, ela se deitou na cama de solteiro, que tinha o quarto dividido, na universidade. Estar ali custava caro, mas era o mais próximo e fácil, pois a casa de seu pai ficava a quilômetros dali, e ela não tinha um carro.Sara tomou coragem, levantou e buscou por uma roupa para vestir depois do banho. Ela, então, notou Patrícia, que entrava com a toalha enrolada ao corpo, indo para seu guarda-roupa e escolhendo uma peça.Patrícia era uma mulher linda, não muito mais velha que Sarah. Pelo que a loira sábia, ela também tinha uma origem humilde, porém, sempre que aparecia, esbanjava luxo.Roupas, joias e muito mais. Praticamente só Sarah v
HunterOs dias passaram e Hunter ficava remoendo aquela cena em sua mente, pensando em diversas situações em que os dois poderiam estar juntos. Quando viajava a negócio, quando trabalhava até tarde. Quando isso começou?Desde o casamento, ou melhor, desde que a viu, seus olhos se fecharam para qualquer outra. Ela sabia o seduzir, tanto que ele não viu o que estava acontecendo debaixo do seu nariz.Há quanto tempo isso vinha acontecendo debaixo do meu nariz?Hunter se questionava por tudo. Até se culpava pelo o corrido. Afinal, se Emília estava o traindo, era porque ele deixou isso acontecer.Se Hunter não tivesse chegado mais cedo naquele dia, nunca teria descoberto a traição. Sua desilusão deveria prevalecer, nessa situação, porém, o ódio e raiva prevaleciam.Tomás e ele cresceram no mesmo nicho. Os pais dele frequentavam os mesmos lugares que os de Hunter. Naturalmente fizeram amizade.Foram para a mesma faculdade, e se formaram no mesmo ano. Agora, ele tentava se manter no ramo
Sarah2 Dias antesSarah estava exausta e chateada com tudo o que estava acontecendo. Ela, por um momento, se segurou ao pensamento de que só precisaria se preocupar em repor suas economias para a faculdade; contudo, nada em sua vida era tão fácil. Então, recebeu a ligação do seguro e tudo caiu por terra.Como se já não fosse ruim saber que teria que arcar com o pós-operatório e os remédios, pois o seguro a ligou dizendo que o hospital onde estavam cobrava taxas muito altas e não poderia arcar com mais essas despesas.Ela ainda perdeu um bom tempo do seu dia, gritando e tentando resolver esse problema, mas por fim não conseguiu. Então, a loira, deixando seu pai no quarto, saiu e chorou por um bom tempo. Ela não queria ser dramática; contudo, aquela situação estava a levando ao limite. Ela estava cogitando, de tanta raiva, processar todos eles, pois achava um absurdo e humilhante como estavam os tratando. Seu pai trabalhou duro todos esses anos. As únicas vezes que precisaram de au
SarahDonald Watts — 58 anosUma noite casual, regada a bebidas e roda de conversas de negócios. Acompanhante. Duração de três horas…Como Patrícia havia dito, eles logo responderam. Isso não era uma grande surpresa, pois Sarah tinha o perfil de qualquer homem com muito dinheiro disposto a pagar caro por uma mulher bonita, para exibir na frente dos amigos. Mas… Sarah se surpreendeu com o convite casual que chegou no meu endereço de e-mail que criou só para isso. Ela ficou nervosa, eu li tudo, até as letras minúsculas, esperando encontrar qualquer absurdo.Perdeu um bom tempo se questionando e se perguntando por que um homem com tanto dinheiro e posição precisava exibir uma loira jovem e sensual. Fútil. A palavra era fútil. A loira passou a noite lendo os contratos, tanto os da agência quanto as do seu cliente, ela o achou. Ela o achou formal e educado, mas nunca confiaria nisso, ainda mais vindo de alguém que iria lhe pagar para ser sua acompanhante. Eram um amontoado de palavra
HunterSentado em sua cadeira habitual, onde trabalhava diariamente, ele não conseguia parar de pensar na loira da noite passada.A pele macia, o perfume doce. Aquela mulher conseguiu deixá-lo louco com um só olhar. Ele sentiu que ela queria estar ao seu lado, da mesma forma que não pôde tirar os olhos dela, a loira fez o mesmo. Obviamente, não era nada para o velho que a acompanhava. Donald tinha esposa e filhos e, pela forma como se comportou ontem, não era uma de suas amantes. Ele sabia como tinha achado. A agência de acompanhantes era bem conhecida no meio em que vivia.Empresários que odiavam estar sozinhos, sem um troféu. Eles disputavam quem levaria a mais linda e gostosa para seus encontros. Idiotas! Ele nunca usou esse recurso, mulheres ao seu redor querendo uma casquinha, não lhe faltava, mas confessou que aquela mulher chamou a sua atenção.— Você está me ouvindo? — Henry falava à sua frente, com o cenho franzido, olhando-o chateado. — Estou falando a meia hora e você p
Emília estava pensativa, sentada em uma cadeira confortável, em frente a uma janela de vidro, olhando para o dia claro, de um hotel em que costuma frequentar, quando deseja encontrar Tomás, às escondidas.Ela sempre se assegurava de que não era seguida, de que seu marido nunca descobriria. Ela não fazia ideia de que Hunter viu de primeira mão a traição, no qual não teve escrúpulos ou decência de esconder aquele dia. Emília gostava do marido, mas amava muito mais o dinheiro que ele tinha. Na verdade, sua verdadeira paixão era Tomás, um galinha que só deu bola para ela depois que ela se casou com seu melhor amigo.Hunter não sabia que estava alimentando uma cobra, confessando coisas pessoais, o que instigou Tomás a tentar domar a mulher por quem seu amigo caiu como um patinho.Emília não era nada além de uma amante, para Tomás. Ela era apenas mais uma entre muitas. Hunter conhecia o amigo, apesar de não ter notado a traição. Ele sabia que Tomás largaria Emy assim que fossem descober
Sarah acordou cedo para fazer uma corrida e limpar a mente. O dia à frente seria agitado novamente com os cuidados com seu pai e a faculdade.Esses últimos dias a colocaram em lugares que ela nunca pensou que estaria e ela descobriu que não eram onde ela queria estar. Ser anônima lhe dava liberdade para fazer o que quisesse e viver bem. No entanto, nesses eventos, ela se sentia presa em uma caixa cheia de cobras, incapaz de se mover sem chamar atenção.Ela rezava para que isso acabasse logo, libertando-a desses acordos infelizes. Patrícia se encaixava bem em tudo isso. Ela se acostumou a se exibir, receber presentes e ficar perto desses homens ricos e pervertidos.Sarah parou em frente à casa onde seu pai mora, colocou as mãos nos joelhos e respirou por alguns instantes para recuperar o fôlego. Ao entrar na casa, ela viu que seu pai já estava acordado. Por enquanto, ele não fazia muito, apenas dava alguns passos, andava pela casa e tomava banho.A rotina tinha se tornado bem mais