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O Amor Estava Aqui
O Amor Estava Aqui
Por: Mya Candelabro
Nossa velha infância

Laranjeiras, Rio de Janeiro Brasil

Anos atrás...

—VIENS ME CHERCHER. JE SUIS LÀ!- Gerard

—PARE DE PALHAÇADA! NÃO ENTENDO NADA QUE DIZ- Grita Dione

—ESTOU DIZENDO QUE VENHA ME PEGAR, ESTOU AQUI...-Gerard

—Ah, não vou mais brincar com você. Está se afastando muito. Quero ir pra casa.- Dione corre para dentro do grande casarão do final do século XIX que pertenceu aos seus avós, hoje abriga sua família.

—O que houve Dione? Está com a cara emburrada outra vez!- sua mãe Dolores pergunta, já sabendo a resposta.

—É o Geraldo mãe, ele não sabe brincar! Fica falando francês comigo e eu não entendo nada!

—Querida, não é Geraldo que pronuncia. É Gerard, com “d”mudo ao final- interrompe a mãe do garoto.

—"d”, mudo?! – Dione sai às gargalhadas pelos corredores deixando um eco que irrita muito a Valentina Durand.

—Não repare, ela é só uma menina e bem mais nova que o Gerard. Será mais fácil, se ele falar português quando brincarem, vai melhorar a comunicação entre eles.

—Dolores, meu filho está sendo preparado para ser alguém na vida. Não posso esperar que ele evolua abrindo mão do que aprendeu até agora em função de outros. Seu pai é francês, o ensinou desde cedo.- Desculpa, mas acho que a Dione é impulsiva. Põe ela pra fazer um curso de idioma. Ela vai melhorar seu mal humor.

[...]

Dolores engoliu aquela arrogância por respeito ao seu marido Joaquim que era muito amigo do Antoine. Ambos nasceram em países com cultura e classe sociais distintas, mas se davam bem. Joaquim sendo mais velho alguns anos, trabalhou com seu pai numa pequena fábrica de uniformes esportivos para os clubes de diversos seguimentos. Como bom alfaiate, o velho Almir Moyo filho de , zinbabuanos ensinou ao filho tudo sobre a qualidade dos tecidos e um corte de excelência para que os uniformes fossem confortáveis . Após apresentar lapsos de memória contínuos, Joaquim muda-se para o casarão das Laranjeiras para está mais próximo do pai. A vontade de ser um grande empreendedor cresce dentro dele. Nessa época já estava casado com Dolores que era uma professora formada. Dione nasceu três anos depois em 1992. Nessa época, o velho Almir piorou , já não respondia pelos negócios deixando Joaquim assumindo de vez a fábrica que prosperava precisando expandir. O escritório foi fundado na Tijuca RJ, desde estão permanece lá como sede.

Antoine, formado em comunicação em Lion na França, era um jornalista com potencial de crescimento no Brasil. Estava aqui há doze anos quando veio como turista e se apaixonou pela cidade maravilhosa e pela elegância da Valentina que vinha de uma família aristocrata falida. Logo se casaram e Gerard nasceu em 1989 estando hoje com 33 anos.

[...]

Vinte Anos Depois...

Grace Hair’s

— Veja bem. Eu não vou nem responder à sua provocação. Isso está me cheirando a fumaça. Gosto do meu cabelo liso porque combina comigo. Não por negar minha ancestralidade. -Dione tem um leve desentendimento com uma velha cliente no salão já conhecida por suas postura arrogante.

—Você diz que não nega sua ancestralidade, mas tinge os cabelos num tom mais claro e não assume seu cabelo crespo. Fala sério Dione, assume que não se aceita. Te conheço não é de hoje...

—Escuta aqui sua megera... Vai a merda! O cabelo é meu, a vida é minha. Não me venha com seu discurso de preconceito racial encubado pra cima de mim. Sou culta mas tenho sangue forte correndo nas minhas veias. Sento-lhe a mão na cara!

—Calma Dione, não leve tudo a ferro e fogo. Vamos lá na copa beber um pouco d’água- A gerente tenta sair com ela o mais rápido que pode.

— Veja bem, vou alí. Se na volta você abrir mais uma vez sua boca, eu te arrebento! Você pode ser branca, mas teu cabelo é tão crespo quanto o meu. Se assume merda.

—Gente, mas o que eu disse demais a essa criatura? Só falei porque vêm ao salão a cada quinze dias dando química, isso agride a raíz, só isso! Tudo agora que se fala é preconceito. Os pais dela são tão educados!

—Valentina veja bem. Você e a Dione são clientes antigas do Grace. Não é bom para vocês discutirem diante dos demais. É ruim para a imagem do salão. Aqui não tem lugar para esse tipo de provocação. -diz Alaíde, gerente do salão.

—É, pelo visto você está do lado dessa dondoca boca suja. Alaíde, de nada adianta ter dinheiro e não mostrar educação.

—Eu estou a favor da boa imagem e convivência do Salão. Você a provoca não é de hoje. Desculpa a franqueza. A Dione tem um temperamento forte. Não ia aguentar por mais tempo. Vai pra sua casa, por favor!

—Veja se vou deixar ela sentar a mão na meu rosto; é uma ridícula! Vou sair pra não baixar ao nível dela. -Tchauzinho, devia selecionar melhor sua clientela.

Na copa...

—Ela já saiu Dione. Não liga pra o que a Valentina diz. Não é só com você a provocação. Ela se mete em tudo, deve ser a idade! Relaxa. Vamos voltar e cuidar dessas mexas lindas cor de caramelo, combina com seus olhos.

—Minha mão coçou. Essa megera pode ser mais velha que eu. Mais não vale nada! O marido dela é um santo. É amigo do papai faz séculos. Ela não me topa, desde menina.

—Não sabia desse detalhe?! Eu fico mais no escritório e só saio quando há esse tipo de situação, o que é perfeitamente comum acontecer. Eu não sabia que se conheciam além das portas do salão.

—Mas é como não nos conhecêssemos. Ela parou de visitar a minha mãe. Não se falam como antes. Mas meu pai e o esposo dela se vêem constantemente no clube.

—Entendi. Acho até que é mais um motivo para haver respeito de ambas as partes. -Vamos, têm que lavar os cabelos. A Edith cuidará de você.

[...]

No casarão das Laranjeiras

—Oii Mamãe, vim almoçar aqui com vocês. E o papai, já chegou?

—Chegou minha princesa, que bom veio almoçar conosco. Fiz maniçoba, adivinhei que viria hoje. Pense no trabalho que é fazer esse prato! Mas seu pai acordou com um desejo incomum aos nossos hábitos.

—Já provei Maniçoba num restaurante regional que o Eduardo me levou. É um lugar muito simples, mas super aconchegante, tipo casa da vovó. Só sai comidinha das antigas .

—Ah, filha me leva um dia desses, eu vou amar.

—Levo sim, mamãe.

—Levar pra onde, que não fui convidado?- diz Joaquim que vem chegando a grande cozinha que exala o cheio da comida .

—Oi papai, como está se sentindo hoje?

—Estou bem filha, você não apareceu lá. Liguei pra Empresa. Fiquei preocupado, até que sua mãe me tranquilizou dizendo que havia ido ao salão. Quando for assim,avisa antes.

—Desculpa, aproveitei que no meio da semana é mais vazio. Sabe que comigo não tem esse negócio de agendar nada , vou lá tomo na raça meu lugar – risos

—Dione, você puxou ao seu avô não só essas olhos claros mas a impulsividade também. É igualzinha a ele. Quando queria uma coisa nada o detinha.

—Pena que não tive contato com meu vô como gostaria. O vô Almir era muito legal. A voinha Esmeralda. Partiu muito cedo e não a conheci.

—Sim. A mamãe faleceu inesperadamente . Papai quase não resistiu. Levou tempos sem querer voltar a fábrica. Foram épocas difíceis até ele superar sua morte

—Mas agora os tempos são outros. Estamos aqui para manter a memória deles com o amor que sempre mereceram. Convivi pouco com minha sogra Esmeralda. Era uma mulher de fibra . Tinha um tristeza de não poder ter gerado mais filhos por problemas de saúde. Mas foi uma mãe exemplar. Tanto que sei avô guardou o luto.

A conversa se estendeu pelo almoço a fora. Dione sempre gostava de ouvir as histórias da família de como seu bisa veio para o Brasil com sua esposa grávida de navio. Ela tinha um respeito enorme e admiração pela luta deles em não deixar nada faltar.”

[...]

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