Equívocos

Gerard

—Bom dia, mãe! Meu pai já acordou?

—Bom dia meu amor, ainda não. Seu pai aos domingos relaxa um pouco mais. E como está sendo pra você digerir aquele jantar enfadonho no casarão centenário? Aposto que está tão acostumado com o moderno, que aquilo te provocou nostalgia, rsrsrs.

—Pelo contrário. Não via a hora de entrar alí de novo. Tenho boas recordações. Me admira ver que pensa assim da casa dos seus amigos!

—Ah fofinho, só não gosto de velharia. Nada contra eles.

—Velharia? Aquele casarão elegante nas Laranjeiras é cobiçado por muitas famílias mãe. É uma arquitetura do século passado que foi erguido com muito esmero. Amo aquele lugar; amo principalmente o jardim.

—Amor da mamãe, vamos deixar os Moya um pouco de lado e pensar no que vai fazer para recepcionar seus velhos amigos do Brasil. À Alicinha me ligou. Quer te ver.

—Não precisa nada disso mãe. Eu vou enterrar a cara na empresa logo. Preciso descansar. Aos poucos vejo cada um deles. E deixa Alicinha no canto dela. Não a vejo há cinco anos, se falamos só telefone nesse tempo todo foram quatro vezes.

—Meu filho. Eu a encontrei no shopping outro dia com a Verinha e me encantei ao ver quanta mudança! Está magérrima, elegante e bonita como sempre. E o melhor, solteira. Vai me dizer que não sente uma quedinha por ela ?

—Sem dúvida uma bela mulher. Mas não tenho interesse. Mal cheguei, deixa me situar. Se rolar com alguém, rolou!

—Com alguém não; com uma mulher do seu nível! Não inventa de sair atrás de pobretona. Você é como seu pai, não sabe selecionar bem o tipo de amizades.

—Mãe, pare com isso! Sabe que detesto esse tipo de comparação. Eu me relaciono com quem eu quiser. Amigos ou namoradas são particularidades minha.

—É que você vivia se misturando com todo mundo. Não fica legal pra nossa classe social meu filho. Você é um Executivo de porte. Pare de se misturar principalmente no trabalho com o pessoal do cafezinho, da limpeza. Eu te conheço. Cada um no seu devido lugar.

—Mãe, eu saí daqui faz um tempão e você continua com essa maluquice? Pera lá. Eu jamais fiz distinção de hierarquia no trabalho. São meus colegas, independente de qual cargo exerça. Por favor, vamos mudar de assunto.

—Está bem. Você é adulto pra fazer suas escolhas. Podíamos ir ao clube, seu pai irá mais tarde se encontrar com o Joaquim.

—Não mãe, prefiro dar uma volta de carro e arejar a mente. No clube sempre aparece um conhecido.

—Mas se quiser almoçar, me ligue que vou correndo te encontrar.

—Está bem mãe.

...

Dione acorda às 9:00, toma seu café da manhã com sua mãe. Ela Marcou de encontra-se com seu amigo Baby no quiosque do côco. Chegando a praia, não esperava encontrar Gerard;, eles resolvem se aproximar.”

—Olha lá baby, é ele!- Nossa! Tá precisando de um solzinho.- Mas vou dar o desconto pelo tanquinho que tá no ponto!

—Ah bombom, ele é gato mesmo assim desbotadinho. Vamos lá, ele parece tão sozinho – Gerard está tão distraído que mal percebe a chegada deles.

—Oiii, Geraldinho!

—Dione, Rafael; que surpresa boa!

—Tava viajando foi? Um dólar por seus pensamentos!

—Ah, eu amo isso aqui. Estava mesmo viajando naquela vez que te dei um caldo, lembra? Você ainda não sabia nadar rsrsrs, foi muito engraçado .

—Jura! Tava lembrando disso? Pô meu, eu fico feliz que tenha os melhores momentos de nossa amizade em conta.

—Vocês devem ter sido realmente muito unidos né bom bom?

—Bom bom?? Não sabia desse apelido Dione!

—Ele diz que eu tenho cara daquelas bombas de chocolate recheada ao rum. Vê se pode!

—Na certa, ele já sabe porque provou!

—Sei de nada não gato! Chega de ceninhas , AFF! Eu gosto do mesmo sorvete que ela. Fora dos palcos não seguro a onda por muito tempo.

—Eu sabia!

—Sabia como bonitão? Nem seus pais notaram!

—Se eu não for perspicaz o bastante para identificar algo tão óbvio, imagina se vou dar conta de resolver questões mais burocráticas? Não quero dizer com isso que sua performance não mereceu o Oscar, mas seu pescoço estava rígido demais rsrsrs.

—Eu sabia, quase que eu tive que vir a praia de colete cervical rsrsrs.

—Realmente você se atentou a isso Gerard.

—Dione, eu não me importo que me chame de Geraldo ou Geraldinho.

—Eu não sou mais aquela menina. Falo três idiomas, um deles é o francês.

—Acho que vou me afogar alí.- Baby sai de fininho deixando os dois a sós.

—Eu não estava me referindo a isso. É que temos nossos antigos hábitos. Você nunca gostou de me chamar por Gerard. Eu nunca liguei pra isso.

—Mas sua mãe sim. Tanto que me afastou de você.

—E você sentiu minha falta?

—Ah, éramos amigos. Claro que a gente sente .

—Eu nunca deixei de sentir Dione. Eu contava com você pra tudo. Inclusive pra estudar. Sempre foi boa aluna.

—E hoje você será o CEO da empresa do meu pai, que engraçado!

—Não vejo comparação nisso! Sei das suas habilidades como executiva. Seu trabalho no Marketing têm gerado bons resultados. Eu pude acompanhar seu desempenho mesmo à distância.

—Poxa, fiquei lisonjeada. Não sabia que se interessava por meu potencial ...

—Dione. Põe uma coisa em mente: Alguém que conviveu com você e cresceu torcendo pela sua vitória. Amigos não precisam estar colados para querer bem um ao outro.

—Foi mal. Não quis ser irônica. Mas é que né soou meio :” Só vendo pra crêr!”

—Não de minha parte.

—Tá afim de cair na água?

—Ainda não. Vou ficar apreciando você subir e descer me pedindo ajuda rsrsrs.

—Engraçadinho! Segura pra minhas coisas que aqui em Copacabana tá cheio de ratos.

Dione tira sua saída de praia exibindo sua bela forma. Sem dúvida alguma era a vista mais bela de Copacabana. Ela caminha pela praia num biquíni pra lá de ousado deixando muitos pescoços virados. Gerard não teve dúvida alguma que um dia ela ficaria assim , tão exuberante.

Desde criança, Dione já mostrava sua personalidade marcante e decidida. Era muito graciosa com seus belos olhos cor de mel e um nariz empinado pra lua. Gerard já gostava dela, sem saber que um dia esse sentimento não morreria com o passar dos anos. Dione sempre nutriu por ele um amor infantil, algo platônico. Sentia vontade de pegar um vôo e correr até o Canadá pra visitá-lo, mas recuou várias vezes por acreditar que ele poderia ter feito o mesmo ao longo dos cinco anos. Nunca mais haviam conversado. Ela se ressentiu ao saber que ele só voltou por causa do cargo. Na opinião dela, ele não passava de um filho dominado pela megera da mãe..

—Que delícia de água ! Vai lá Gerard. Eu seguro a bolsa e sua carteira.

—Pô, valeu! Tá calor mesmo. Vou aproveitar pra dar um caldo na Dione -Risos.

—Essa quero assistir de camarote!

Dione estava voltada pro horizonte curtindo o sol batendo nas suas costas. Estava uma delícia aquela água morninha. Quando de repente sentiu alguém à agarrando por detrás. Era Gerard que fazia menção de afundá-la . Ela implora que não prossiga, por ainda ter medo. Ele não segue, mas não larga da sua cintura ao trazê-la pra bem perto do seu corpo.

—Senti sua falta boneca. Éramos como uma imã. Nunca te esqueci ! – Dione vira-se ficando de frente pra ele e se aprofunda nos seus olhos. Ele não desvia atenção para seus lábios.

—Eitaaa, minha nossa senhora dos buquês de noiva. Se dalí não rolar um beijo, eu juro que me enterro nessa areia fervendo!-diz baby roendo as unhas sem tirar os olhos dos dois.

—Como alguém sente falta e não procura por cinco anos Geraldinho?!

—Não sei te explicar. Mas só sei que me sentia culpado por ter deixado minha mãe me levar de um lado pro outro. Achei melhor evitar conflitos.

—Isso não mais importa agora. Você está aqui não é? Será meu chefe. Vamos ter que conviver na empresa. Passado é passado.

—Como ter que conviver? Eu não preciso forcar a barra pra está ao seu lado boneca. Será um prazer te ver todo dia.

—Vamos ver isso na prática. A boneca virou uma escavadeira.

—Não te entendo! E aquela inscrição na árvore que manteve acesa por nós dois, pra que tanto trabalho?

—Pra esfregar na tua cara um dia o quanto foi ingrato. Que sua boneca de pano, havia se tornado alguém menos desprezível para sua mãe.

—Nossa, me desculpa Dione. Eu falhei. Talvez fui fraco; talvez não quebrei as algemas assim que pisei no Canadá. Logo depois a insegurança tomou fôlego e eu desisti de te procurar. Sou humano, dá pra entender?

—Ah entendo sim. Tão humano que não pensou duas vezes em tomar o meu lugar na empresa do meu pai. Seu medo acabou rápido demais.

—Não acredito que ouvi isso de você, Mon cher [1]. Melhor eu sair da água. Tá começando a esfriar. A gente se vê na Empresa. Tchau!

Gerard pega sua carteira, se despede do baby e sai sem olhar pra trás. Vai pra sua casa e só sai de lá no dia seguinte para uma reunião na Moya Esportivo. Dione se enfurece por ter perdido a calma. Talvez tenha se excedido e perdido a chance de ter seu primeiro beijo de amor verdadeiro. Mas ainda tinha dúvidas sobre as intenções do velho amigo de infância. Ela sai da praia com o baby enchendo seus ouvidos de tudo quanto foi coisa!

...

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