Mel
Definitivamente não tem comparação. A vida adulta longe dos pais é completamente louca e eu só descobri isso há poucas semanas convivendo com os meus novos amigos e claro que a Abby fez questão de me mostrar que não temos limites. Mas relaxe, as nossas saídas e curtições em nada tem interferido nas minhas notas. Eu jamais permitiria que isso acontecesse. O fato é que eu estou gostando de ter um pouquinho de liberdade e aprendendo a beber de um jeito divertido e descontraído com eles, coisa que só fazia com o meu pai a beira de uma fogueira nos fins de tarde na praia, porém, de forma bem contida. Sair para dançar? Não, a primeira vez aconteceu bem aqui e juro que nas primeiras horas até bateu um sentimento de culpa. Nossa, acredita que eu quis ligar para casa para pedir desculpas para eles? Mas logo após o meu segundo copo de cerveja eu já era a alegria em pessoa e me esqueci completamente da ousadia de sair do meu quarto quentinho, de largar todos aqueles livros grossos e cheios de leis e me afundei no álcool. Devo admitir que eu tive muita sorte, a final encontrar amigos descolados e divertidos com notas exemplares é um achado. É ou, não é? Contudo, isso não tem me ajudado com o outro lado da civilização. Sabe, aquela cheia de regalias, de pessoinhas bem-vestidas e metidas a merda, e ainda bem-vistas pela maioria dos acadêmicos? Sério, eu não aguento mais aquela capivara lustrosa pegando no pé! Me fazer tropeçar e cair ali na frente de todos foi a gota d’água e eu preciso armar uma para ela sem ser levada para a diretoria. Outra advertência com certeza mancharia o meu currículo
— Ai! — resmungo dolorosamente quando a Abby desliza um lenço molhado no meu joelho arranhado.
— Desculpa, amiga, mas precisamos limpar isso aqui direito! — Sabe o que foi mais constrangedor? Ter que ficar de quatro perto daquela m*****a gangue. De verdade, por que os bonitinhos têm sempre que escolher o lado errado da história?
— Vamos, estamos em cima do horário! — resmungo saltando de cima do balcão do banheiro feminino e ajeito os meus livros nos braços.
— Alguém devia dar uma lição naquela garota. — Abby retruca e logo entramos no corredor cheio de alunos. Ela tem razão, para derrubar uma valentona do seu pedestal é preciso ter outra valentona por perto e eu estou disposta a tudo para me tornar a pessoa que vai derrubá-la. Mas para isso eu preciso me tornar popular e chegar o mais perto possível do seu terreno. Mas como?
Debater sobre direitos penais com o professor dentro de uma sala de aula cheia de estudantes me desligou um pouco dos meus problemas de socialização e cara, eu mergulhei de cabeça no assunto e para a minha total e ampla felicidade fui o destaque da aula de hoje. Lembra daquela história de ser o centro das atenções? Pois é, isso foi completamente diferente. Foi ousado, tenso e ao mesmo tempo revigorante, porém, teve um lado um tanto negativo. Sempre tem! A gangue da capivara, aquelas que ocupa os fundos da sala agora me chama de a juíza da pobreza. Oh inferno! Definitivamente eu preciso dar um basta nisso. Com o fim do primeiro horário, resolvemos não ir para o refeitório e almoçamos na lanchonete do Claus. Cara, o hamburguer desse lugar é mesmo viciante e que a dona Lisa Jones – a minha mãe nem sonhe que eu troquei uma refeição saudável por essas porcarias! Na mesa, os meus amigos só sabiam falar de uma coisa: a festa dos calouros. É claro que eu ficarei bem longe disso. Quem sabe o que eles estão planejando para os recém-chegados? O meu pai sempre me contou sobre essas pegadinhas e que por muitas vezes levaram alguns estudantes para a enfermaria. Com certeza eu não serei um deles.
— Você precisa ir, Melissa. — Ruby diz com uma empolgação invejável, mas o meu cérebro só gritava: nem fodendo!
— Não me envolve nisso não! — rebato de boca cheia e Abby j**a uma batata-frita em mim.
— É a nossa chance, Mel! — Ela diz com uma convicção assustadora.
— De cair de vez na lama? Abby, aquela capivara não vai perder a oportunidade que ferrar de vez com a nossa reputação!
— E quem disse que ela precisa saber quem somo? — Dani rebate me deixando confusa.
— A festa será Black Tie e com máscara. — Robin ergue o panfleto e todos abrem um sorriso maroto.
— E aí, está dentro? — Apenas me encosto na cadeira e fito os quatro ao redor da mesa.
— Ok, estou dentro! Mas não vamos curtir essa festa em si.
— Como assim? — Abby replica e todos se ajeitam em suas cadeiras, inclinando-se sobre a mesa para ouvir o meu plano. Caramba, eu nunca me senti tão maquiavélica na minha vida e devo admitir que armar para aquela Barbie metida a besta está me deixando com o paladar doce.
— Com os preparativos para essa festa com certeza a Brenice e suas patotinhas estarão bem ocupadas com as ciladas para nos ferrar. Eu proponho armar uma para ela. Algo que a deixe bem humilhada, ou que pelo menos chame a atenção de todos, mas de um jeito bem ruim, se é que vocês me entendem. O negócio é o seguinte...
***
Alguns dias...
Uma semana inteira me dividindo em fazer os trabalhos, estudar as malditas leis trabalhistas e ainda me preparar para uma festa que pode arriscar o meu pescoço. Não foi difícil descobrir a loja que Brenice frequenta aqui em Nova York. Essa garota é tão previsível! Depois, nos oferecemos para ajudar com os preparativos da festa, assim fica mais fácil elaborar as estratégias e descobrir o melhor lugar para agir. E claro, não podemos nos esquecer do plano de fuga caso precisemos de um. Eu sei o que isso parece, mas acredite, não é vingança e nem algo parecido... ok, talvez seja só um pouquinho, mas não podemos ser as suas vítimas até o final desse curso, certo? Sem falar que ainda corremos o risco de carregar uma faixa de perdedores para o resto de nossas vidas. O fim de semana não demorou para chegar, parece que ele tinha pressa e quanto mais as horas se avançam para o momento, mas nervosa eu fico. Juro que estou prestes a desistir dessa loucura! E se não der certo? E se toda essa trama se virar contra nós? Respira, Melissa, de qualquer forma você ainda pode escolher não ir.
— Chegamos! — Kell avisa assim que Dani estaciona o carro em frente a uma loja de vestidos de festa. Black Tie. Sinceramente eu sempre odiei o preto, mas devo reconhecer que esse tema veio bem a calhar.
— Que tal esse? — Ruby pergunta saindo de um provador, usando um vestido tomara que caia colado ao seu corpo. As minúsculas lantejoulas negras dão um certo glamour a peça que dá um destaque legal para as suas curvas. Os meninos soltam assobios que a faz corar e nós rimos da brincadeira. As horas se arrastaram bem divertidas e no final de toda essa baderna gostosa, saímos com as mãos carregadas de sacolas. Sobre essas festas para calouros ou de fraternidades, eu sei tudo que preciso saber. O meu pai e eu costumávamos falar sobre tudo de faculdades desde que decidi estudar em uma. Lembro-me que o senhor Jones ficou em êxtase com a minha escolha e claro que ele mexeu alguns dos seus pausinhos para eu entrar na melhor. E eu não posso decepcioná-lo, certo? Mas o que ele diria se descobrisse que a sua filhota está ocupando um tempo valioso com pegadinhas? Deus me ajude, porque se isso não der certo eu com certeza estarei na lama para o resto da minha carreira acadêmica! Vejamos... Cabelos escovados, maquiagem para a noite, vestido negro de alcinhas e rendado, saltos altos... Hum, está faltando alguma coisa. Ah claro, a máscara! Respiro fundo me olhando no espelho. Irreconhecível. Penso e sorrio para o resultado.
— Droga, eu preciso beber algo bem forte, ou não vou conseguir! — ralho para a minha imagem no espelho e corro imediatamente para a geladeira. Já viram a geladeira de uma estudante de direito? Que droga, eu só tenho água e refrigerantes aqui! Mordo o lábio e uma buzina me avisa que o Dani já está lá fora. Ok, o meu coração agora está disparado. Essa é uma viagem sem volta, Mel e amanhã você pode estar ferrada! — Que merda, Melissa, agora não dá pra voltar atrás! — retruco baixinho e saio do dormitório.
MelVocê já foi a uma dessas festas de faculdade? Uau! Essa é a minha primeira e mesmo tendo participado de todos os preparativos, estou chocada! Os refletores, a decoração, as mesas, o salão para dança, o palco. Tudo inspira um megaevento, mas a gente sabe que os lados já estão separados, né? Alguns convidados começam a chegar e como a Abby havia imaginado, ninguém sabe quem é quem. Exceto pela capivara glamourosa que faz questão de se destacar. Pena que o bonitinho vai ser atingido pela nossa trama. Ela não larga dele mesmo. Enfim, vamos dar um tempo, a final queremos curtir um pouquinho dessa festa antes de começar todo o babado.— Ai, eu quero dançar um pouco! — Kell fala se sacudindo toda e logo a turma se anima. Dani com a Kell, o Stan com a Ruby e Robin com a Abby. Sobrei e isso não é bom, mas relevo decido pegar um refresco na espaçosa mesa.— Você é a Melissa, não é? — Forço a bebida a descer e encaro o gigante parado bem na minha frente. Detalhe, o seu nome é Ethan e eu já o
Mel__ Cara, eu nunca ri tanto na minha vida! — Dani comenta e uma nova onda de risadas divertidas e contorcidas se espalha dentro do Burger, chamando a atenção dos clientes em outras mesas.— Sério, aquela cena foi hilária!— E a cara que ela fez?Esses comentários me fazem pensar nas risadas que deram de mim todas as vezes que aquela vaca aprontou comigo. Mas devo admitir, isso foi épico e caramba, as visualizações já passam de três e isso em menos de uma hora e os likes não estão muito distantes disso, sem falar nos comentários que meu Deus... acho que criei um monstro. Então, vingança nunca foi o meu forte e eu sei que isso terá um retorno estrondoso, e que eu preciso estar preparada para qualquer coisa. O problema é não prever o que vem pela frente. Eu simplesmente terei que estar atenta a cada segundo. Como diz a minha quase centenária avó, pisando em ovos. Mas não vou estragar esse momento com as minhas especulações as cegas. Portanto, ergo o meu copo de cerveja atraindo a aten
MelEu nunca me vi em um... o que é isso mesmo? Um esporte? Vadiagem? Cara, eu estudo direito e, no entanto, estou me metendo no meio de um grupo jovens tomando cerveja e apostando altas notas em uma corrida completamente absurda. E pior, correndo um sério risco de ser presa só de estar aqui. Mas vamos admitir que a adrenalina que essas pessoas fornecem é coisa de louco. O ronco do motor avisa que a corrida começará em alguns segundos. A gritaria e a agitação dos apostadores são excitantes, e para a minha surpresa, Dani é um dos corredores. Stan e Robin se ajeitam em cima de um baú de um caminhão de pequeno porte e nos ajudam a subir. Daqui a visão da cidade é simplesmente fantástica e logo uma garota vai para o meio dos carros, ela faz um charme e dá o sinal para os pilotos. A gritaria junto aos roncos dos motores é ensurdecedora e eu me pego vibrando quando os carros dão a partida. O local escolhido pelos meninos nos dá uma visão ampla da corrida e caramba, eles realmente levam o pr
Mel— Preciso ir ao banheiro — aviso assim que chegamos na metade do corredor.— Quer que eu te acompanhe? — Abby se oferece, mas quer saber? Acho que está tudo de boa por hoje.— Não. Eu não vou demorar. — E nos separamos pela primeira vez desde que a megera louca resolveu pegar no meu pé. Parece suicídio, não é? Mas acredito que depois da vergonha que Brenice passou em público ela deva ficar em sua incubadora por alguns dias. Oh droga, eu não podia estar mais enganada! Penso, quando largo a minha bolsa no balcão e ligo a torneira, molhando levemente o meu rosto e assim que abro os olhos, e me encaro no espelho percebo a porta se abrir atrás de mim. Brenice entra no cômodo com as capivaretes logo atrás dela. Uma das garotas fecha a porta e eu me preparo para o ataque. A loira me olha dos pés à cabeça enquanto caminha sem pressa para o lado, dando espaço para as outras me ilharem. A merda toda é que eu não sou boa de briga. Sério, eu nunca precisei brigar com ninguém na vida, mas se p
Aiden— Onde você estava, porra? Por um instante pensei que a polícia tinha te prendido. — Ethan rosna assim que saio do carro. Realmente foi por pouco. Se não fosse aquela estradinha de terra não sei o que teria acontecido, ainda mais quando resolvi atrasar a minha retirada para pegar aquela garota sem noção parada no meio do reboliço de pessoas. O que deu em mim? Não sei. A verdade é que eu nem conheço a garota direito para me importar, mas se quer saber, não há arrependimentos.— Você sabe como eu sou — ralho presunçoso, erguendo as mãos para o alto.— É isso aí, garoto! — A rapaziada agita batendo as mãos e de cara Kevin me entrega uma cerveja.— Aqui está a sua parte. — Ethan mete a mão no bolso lateral do seu jeans e tira algumas notas verdinhas de lá. Com um sorriso largo folhei o pequeno montante e o guardo na minha carteira.— Estou indo, galera! Preciso de um banho e daqui a três horas tenho que estar de pé e meter a cara nos estudos — falo, deixando o nosso cumprimento de s
Aiden— Valeu, Dani! Tchau, galera! — Escuto a voz da minha solução assim que ela sai de um corsa vermelho e a vejo entrar no prédio de dormitórios feminino. Meu coração acelera só de pensar em aborda-la ali mesmo. Mas covardemente não vou. Merda, você precisa resolver isso, Aiden e essa garota é a sua solução. E se ela não aceitar? Quer dizer, ela mal me conhece e as poucas vezes que nos vimos eu fui um babaca assistindo as sandices de Brenice a humilhando. Merda, Aiden, você está fodido, cara! Ok, mas você a ajudou por duas vezes, isso deve valar alguma coisa, certo?— É, deve valer. — Portanto, me encorajo e caminho para dentro do prédio. Dentro do corredor levo algum tempo andando de um lado para o outro e encarando a porta fechada vez ou outra. Qual é, Aiden, desde quando se tornou um covarde? Respiro fundo, solto o ar pela boca, me aproximo da porta fechada e me forço a bater na madeira.— Qual é, gente, hoje não vai rolar... — A porta se abre e uma garota de cabelos loiros quas
MelBatom vermelho, ou rosa? Saia ou calça jeans? Cabelos soltos ou presos? Meu Deus, e isso importa? Não é de verdade, Melissa. Ok, estou nervosa. Não é todo dia que marco de sair com um suposto namorado. Merda! A verdade é que eu nunca tive um namorado de verdade na vida. O quê? Eu não tinha tempo para essas coisas, precisava estudar de dia e ajudar o meu pai de noite. Agora isso. Cabeça de vento, é isso que você é! O bom é que eu não preciso beijar na boca. Porque isso sim, seria um desastre ecológico, porque eu nem sei como se faz isso. Ah vai, não me taxa de inocente porque isso eu não sou. Eu só não tenho experiência em certas coisas e vê se mantém esse bico fechado. Esse será um segredinho só nosso. Ralho mentalmente para o meu reflexo no espelho. E quer saber? Nada de batom, um vestido de tecido está de bom tamanho e os cabelos? Um rabo de cavalo serve. Prontinho! Sorrio para o espelho, mas não gosto do que vejo e de quebra faço birra para a minha imagem mostrando-lhe a língua
A noite eu estava sentada no sofá com alguns livros separados em cima da mesinha de centro e tomando uma xícara de chá sem tirar os meus olhos da porta. É, ele está atrasado. Um atraso de quase meia hora. Minutos depois, coloquei a xícara vazia em cima da mesinha e me deitei no sofá e com outra carreira de minutos já estava bisbilhotando através da janela. Ele não vem. Sibilei em pensamentos e me livrei do vestido azul escuro de alcinhas com um cumprimento acima dos joelhos para pôr um pijama, depois arrumei os meus cabelos para prendê-los em um coque frouxo e bagunçado, e calcei as pantufas de coelho para ir guardar todo o material. Idiota! Resmungo frustrada e no segundo seguinte alguém bate à porta.Não! Não pode ser ele, porque se for lhe darei uma boa bronca!— Por onde você andou?! — rosno assim que abro a porta e dou de cara com um Aiden suado e ofegante.— Eu tive um imprevisto, me desculpe!— Imprevisto? Aiden, para isso dar certo você precisa ter compromisso!— Isso não vai