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Mel

Eu nunca me vi em um... o que é isso mesmo? Um esporte? Vadiagem? Cara, eu estudo direito e, no entanto, estou me metendo no meio de um grupo jovens tomando cerveja e apostando altas notas em uma corrida completamente absurda. E pior, correndo um sério risco de ser presa só de estar aqui. Mas vamos admitir que a adrenalina que essas pessoas fornecem é coisa de louco. O ronco do motor avisa que a corrida começará em alguns segundos. A gritaria e a agitação dos apostadores são excitantes, e para a minha surpresa, Dani é um dos corredores. Stan e Robin se ajeitam em cima de um baú de um caminhão de pequeno porte e nos ajudam a subir. Daqui a visão da cidade é simplesmente fantástica e logo uma garota vai para o meio dos carros, ela faz um charme e dá o sinal para os pilotos. A gritaria junto aos roncos dos motores é ensurdecedora e eu me pego vibrando quando os carros dão a partida. O local escolhido pelos meninos nos dá uma visão ampla da corrida e caramba, eles realmente levam o prêmio a sério! Velocidade, faróis acesos, motores a todo vapor e violência. Algumas manobras chegam a roubar a nossa capacidade de respirar. Os Longos minutos de asfalto parecem tornar-se segundos e um carro vermelho cruza a linha de chegada. O carro mal para, e uma multidão o rodeia. O Dani infelizmente chegou em quinto lugar. Menos mal, pois alguns deles nem voltaram e sabe Deus o porquê. Os garotos nos ajudam a descem do caminhão e vamos ao encontro do nosso amigo, e enquanto todos os cumprimentam com abraços e uma garrafa de cerveja, eu resolvo aguçar a minha curiosidade e ver quem é o vencedor. Contudo, os sons das sirenes fazem todos se alvoroçarem e se espalharem para entrarem nos seus carros. Eu até tento fazer o mesmo, porém, mal consigo me mexer e voltar para perto dos meus amigos. Um carro da polícia se aproxima e eu penso que estou muito ferrada. Mas que droga, eu sabia que não devia ter vindo! Rosno em completo pânico. Entretanto, o carro vermelho abre a sua porta, mas não consigo ver quem está dentro. Droga, eu não devo, mas não tenho outra saída. Penso e entro no carro. O ronco do motor se pronuncia, uma mão ávida mexe na marcha e o pé pisa no acelerador.

— Põe o cinto! — Ele rosna e o meu coração dispara enlouquecido quando tudo parece passar por mim rápido demais. Imediatamente ponho o cinto de segurança e olho para o lado, para o motorista que agora está dividindo a sua atenção entre a estrada e o retrovisor, com o carro em alta velocidade, fugindo da polícia que vem bem atrás de nós. O meu coração quase salta pela boca quando ele volta a mexer na marcha, pisa fundo no acelerador e faz uma curva em com a velocidade máxima, me dando o vislumbre do abismo onde estamos passando. E Deus, eu devo ter perdido o bom senso ou qualquer raciocínio coerente, porque me pego gostando de toda essa loucura. — Se segura! — Aiden grita e por mais que me custe acreditar ele acelera ainda mais, deixando o carro da polícia engolindo poeira. Devo mencionar que os meus dedos apertaram com força o estofado do banco? Não né? Faz de conta que nem toquei nesse assunto. Não demora e ele começa a desacelerar, e entra em uma estrada estreita de barro, parando o carro logo em seguida. Depois, ele me olha e leva o indicador aos seus lábios me pedindo silêncio. Segundos depois, o carro da polícia passa voando com sua sirene e droga, eu ri. Sério, eu estou rindo como uma louca e ele começa a rir também, até que o silêncio retorna e eu olho para frente, para o nada já que ele desligou os faróis e não dá pra ver um palmo a frente do nariz. — Eu vou te levar pra casa.

— Tá! — digo completamente desconcertada, já que não sei o que falar. O trajeto é feito no mais completo silêncio e quando ele finalmente para em frente ao meu prédio, se livra do seu cinto e eu me livro do meu. Eufórica, quente e turbinada. É exatamente assim que estou agora.  — Uau! — sibilo quase sem folego. — Isso foi muito foda! — Gargalho e ele ri logo em seguida.

— Fico feliz que gostou. — Meu sorriso se alarga, mas depois veio o silêncio novamente. Aiden me olha por alguns segundos e parece querer falar algo, mas ele não diz nada, então eu resolvo sair. — Obrigada por me tirar de lá!

— Não sabia que curtia assistir os rachas

— E eu não curto. Quer dizer, eu pensei que não curtia, mas depois dessa noite... é bem legal! — Ele sorri. — Perigoso, mas legal!

— É.

— Eu não fazia ideia que você participava de algo tão...

— Pois é. É essa adrenalina quem paga as minhas contas.

— Ah! — Arqueio as sobrancelhas. Não vou esconder que estou surpresa. Se bem que aquela capivara deve ser um desafio em tanto também. Rio internamente. — Eu vou... — Aponto para a saída. Ele balbucia, mas assente.

— Tudo bem! Vai lá. — Agora sou eu quem meia a cabeça. Aff, que coisa estranha!

— Então tá! Obrigada! — repito e novamente ele só assente, e assim que me afasto do veículo e me aproximo do prédio, o ronco do motor me diz que ele já está saindo. Só então me permito olhar para trás.

***

Na manhã de segunda-feira até parecia que uma agência de detetives particular estava pisando em Campbell. Eu e os meus amigos paramos bem em frente a entrada, olhamos de um lado para o outro em busca de um certo alguém e de sua gangue do mal, mas não havia ninguém além dos outros alunos. Suspiramos ao mesmo tempo, colocamos os óculos escuros e como se andássemos em câmera lenta atravessamos o pátio. Os olhares de todos eles ainda continuavam em cima de nós, mas de um jeito diferente. Sim, eles estavam sorrindo para nós, mas de um jeito diferente. Nos apontavam o tempo todo, mas de um jeito diferente. É como se nos dessem os parabéns pelo que fizemos. Orgulho? Ah, eu não estava orgulhos do que fiz, mas foi um ato necessário.

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