Mel
Sol, mar, águas límpidas, animais marinhos para salvar, amigos da escola... Ah que saudade disso tudo, de casa, dos meus pais! O mundo universitário às vezes pode ser cruel para uma garota de interior como eu. Do lado masculino o que importa é o meu corpo e as curvas que ele tem, mas do lado feminino a concorrência é tão grande que elas chegam a passar por cima de qualquer um como um trombudo trator desgovernado. Mas a verdade é que não tenho interesse de agradar ninguém aqui. No entanto, para sobreviver na Campbell University é necessário enfrentar algumas batalhas ou encontrar algum refúgio. E sério, um refúgio para a primeira semana de aula até que não seria tão ruim. Penso assim que ponho os meus pés dentro do campus e percebo todos os olhares caírem em cima de mim como se eu fosse uma estrela de Hollywood, mas não se engane, não é exatamente esse pensamento que eles têm de mim. Meu nome é Melissa Jones, mas algumas pessoas mais próximas me chamam de Mel. Como mencionei eu moro no interior... morava... por tempo determinado... eu acho. Enfim, eu sou de Cape May em Nova Jersey. Um paraíso lindo e aconchegante que eu amo de paixão. Lá é um antigo balneário de férias e é um patrimônio histórico nacional também, além das belas arquiteturas vitorianas. Entretanto, fui praticamente forçada pelos meus pais a vir para Nova York para concluir os meus estudos e ser alguém na vida. Palavras do meu pai, o Senhor Samuel Jones. E falando no meu pai, ele é biólogo e como temos muitas praias em Cape May por muitas vezes o ajudei a salvar alguns animais a beira da morte por conta da poluição de alguns turistas babacas, na maioria deles, jovens visitando os pontos turísticos da cidade. Bufo quando percebo um grupo de meninas metidas a besta vindo em minha direção e eu sei, consigo sentir nos meus ossos que elas não estão querendo me dar as boas-vindas a esse lugar.
— Vê se olha por onde anda, garota estupida! — Uma delas diz debochadamente após bater propositalmente em mim e derrubar todos os meus livros no chão. No ato, as suas amigas riem e os estudantes ao redor parecem se divertir com isso. Engulo um xingamento. Me entendam, eu não sou de levar desaforos para casa. A minha mãe costuma dizer que sou como um bicho do mato quando o assunto é me defender, mas ela me pediu para me comportar aqui ou serei tachada como selvagem pelo resto do ano. Mundo universitário é uma grande merda mesmo!
Ok, é só a primeira quinzena de aulas e as coisas podem melhorar, certo? A minha finalidade aqui é me tornar uma boa advogada e assim ajudar o meu pai com algumas eventualidades da sua profissão, a final, não é tão fácil assim salvar a natureza. Já pararam pra pensar em quantos animais precisam da nossa ajuda exatamente agora? São muitos e de vários tamanhos, e espécies. O planeta está em guerra contra os seres humanos por causa dos nossos maus hábitos e a maioria deles nem se dão conta disso ainda. Sala amarela – B. Oh céus, até que enfim encontrei a sala de aula! O contrário das escolas da minha cidade essa sala é bem ampla e iluminada. Claro, é uma universidade, boba. E falando em sala de aula, não pude deixar de notar que estou sendo o centro das atenções aqui dentro também. O que, a minha roupa está rasgada, ou eu estou fedendo por acaso? Me pergunto olhando pra um grupo de estudantes no fundo da sala que me lembra as idiotas que derrubaram os meus livros lá fora. Pois é, elas estão no meio deles, que hilário! A pior parte são os cochichos e as risadinhas que eles dão, isso me deixa possessa. No entanto, tem um garoto... quer dizer, tem mais garotos no grupo, mas esse é... nossa, ele é lindo! Desperto da minha breve distração quando uma bolinha de papel b**e na minha cabeça fazendo-me desviar os meus olhos do rapaz e eu fito um par de olhos azuis que me encaram risonhos.
— Está olhando o que, lerda? — Ah, é ela de novo, a valentona do grupo. Tenho vontade de lhe dar uma boa resposta à altura, mas decido desviar os meus olhos e me sentar em uma das cadeiras.
— Bom dia, turma! Eu me chamo Audrey Smith e na minha aula vamos ver alguns pontos bem importante dessa fabulosa profissão. Fundamentos Históricos e introdução ao estudo do direito, psicologia aplicada ao direito, teoria da argumentação jurídica e a teoria geral do processo – essa é a parte mais interessante, e entre outros. Alguém tem alguma dúvida? — Eu tenho uma dúvida. Aqui é realmente uma cidade civilizada ou uma selva de animais babacas? Meu lado irônico ralha e eu me pego rindo.
— Está rindo de que, ôh idiota?
— Ora vamos, meninas, concentração na aula! — A professora interpele. É, já consigo ver como serão os meus dias nesse lugar. A Barbie enfezada precisa de saco de pancadas e resolveu escolher a mima para pegar no meu pé. É muito foda mesmo!
Na hora de ir para o refeitório a coisa até muda um pouco de figura. O lugar está cheio de alunos e como é típico da cidade grande, os grupos são separados por nerds, patricinhas, os play boys, os bad boys e eu. Isso mesmo. Eu e eu mesma. Não é de todo ruim, agora eu tenho espaço de sobra para espalhar os meus livros e estudar enquanto como. Viu, ser simples tem as suas vantagens! E advinha o que estou lendo agora? É caro, a vida marinha ao longo dos tempos. Um livro bem interessante para a minha carreira como futura bióloga. É sério, esse mundo é simplesmente fascinante...
— Op`s! — Uma voz feminina diz após um líquido amarronzado manchar uma página do meu livro. Ok, essa é a gota d’água... digo, do café! — Me desculpe, eu não tive a intensão! — A voz trêmula me faz erguer o olhar que estava fixo na mancha e olho para a ruiva cheia de sardas nas bochechas. — É que... eu tropecei. — Então inclino a cabeça só um pouco para ver exatamente onde ela tropeçou e a conclusão que chego é, ou ela é retardada e tropeçou no nada, ou um certo alguém pôs o pé no seu caminho fazendo a catástrofe acontecer. Um piscar de olho da Barbie na mesa ao lado é a resposta para a minha dúvida. A ruiva sai correndo para outra mesa e eu... Bom, melhor fingir que nada aconteceu e quem sabe ela me deixa em paz de uma vez.
Desculpa, mãe, mas eu não tenho sangue de barata! Rosno mentalmente, seguro o livro molhado e vou até a outra mesa. O grupo de imbecis me fita com deboche, mas os meus olhos estão fixos em uma certa loira que resolveu fazer da minha primeira semana nesse lugar um inferno.
— Já ouviu falar que café combina com uma boa leitura? — Ela me lança um olhar confuso e os outros riem debochados. — Devia experimentar — rosno enquanto rasgo a folha molhada e enfio na boca dela. Os gritos de raiva e desespero se espalham pelo refeitório e alguns estudantes fazem uma algazarra na hora. A garota tenta se afastar, porém, eu não permito e seguro firme nos seus cabelos, finalizando o meu trabalho.
Não é estranho que uma garota prefira café no almoço a suco? Esse hábito estranho veio bem a calhar agora. Santa ruiva!
— Senhorita Jones, para sala do diretor, agora! — A voz autoritária do inspetor diz me fazendo revirar os olhos. Alguém viu quem começou essa zorra toda? Então, porque eu vou para a direção e não nós? Resultado da minha ação? Uma bela advertência. A idiota é a filha do diretor. Saco!
— Ah, oi! O meu nome é Abby. Eu sou a garota que...
— Derramou o café no meu livro. Eu sei.
— Eu não fiz de propósito.
— Sei disso também. — Eu não costumo ser mal-humorada. Na verdade, na maior parte do tempo eu com uma pessoa bem divertida e adoro falar também, principalmente quando o assunto me interessa. Aí eu desando a falar, mas agora estou bem irritada com os últimos acontecimentos e fazer amizade não é uma boa opção. Eu preciso mesmo é votar para o dormitório, tomar um banho demorado e me jogar naquela cama de solteiro, e pensar no dia de amanhã. Isso me faz lembrar que eu tinha satisfação de pensar no dia seguinte. Eu tinha algumas tarefas interessantes e empolgantes para fazer, o que não é a mesma coisa aqui. — A galera gostou do que você fez com a Bernice Carter. — Bernice Carter? Esse é o nome da pedra no meu sapato? — Tá a fim de ir ao Burgers?
— Burgers é nome de cachorro. — Ela ri do meu comentário.
— Não, Burgers é o nome da lanchonete do Claus e os meus amigos se reúnem lá todas as noites.
— Lanchonete? — É, estou interessada. É melhor do que ficar trancada em um quarto pequeno com duas camas de solteiro e olhando para o teto pensando nesse dia de merda. — Eu topo! — O sorriso da ruiva cresce consideravelmente.
— Boa! Então vem! — O seu braço envolve o meu ombro e fazemos uma curva no caminho, seguindo para o lado sul da cidade.
O Burgers não é muito diferente das lanchonetes que temos em Cape May. Ela é bem pequena, mas bem aconchegante, porém, seus assentos são macios e todos ficam bem próximos das janelas. Diferente do que pensei, o grupo da Abby não se classifica como os nerds, eles estão mais para os bem feitores, se é que isso existe e assim que entrei no local, eles fizeram uma comemoração. Talvez a mamãe não estivesse tão certa assim em relação ao apelido taxativo, eu praticamente virei a heroína deles. E parece que Nova York não é tão ruim também, a final, eu encontrei uma tribo... digo, amigos.
— Essa é a Ruby, o Stan, o Dani, a Kell e o Robin. — Abby os apresenta e após pedir uma porção generosa de fritas, refrigerante e hamburguers eles iniciaram uma conversa tão animada que me esqueci completamente da droga de dia que tive. No final, todos entraram no carro do Robin e para a minha surpresa, ele estacionou bem em frente ao meu prédio.
— Ah, como você sabia?
— Do que?
— Que esse era o meu prédio?
— Na verdade, eu e a Ruby moramos nesse prédio. — Abby explica. — O Dani, a Kell e o Robin moram no prédio ao lado.
— Você mora nesse prédio?! — Ela faz um sim com a cabeça e eu sorrio. Legal, agora eu tenho amigos e vizinhos também! Isso está ficando cada vez melhor. Talvez não seja tão ruim morar e estudar em Nova York!
***
Aiden A vida nunca foi fácil para mim, nada veio fácil, eu tive que lutar para chegar aonde eu cheguei. E acredite, não é nada fácil quando você tem um pai alcoólatra e uma mãe omissa. Se não fosse a minha tia Lina talvez até nem existisse mais. Mas eu nunca desisti, lutei a cada dia, mesmo escutando de muitos que eu nunca chegaria a lugar nenhum. Devo muito a minha tia, mas para me tornar um advogado, preciso ir mais além e nessa parte ela não vai conseguir me ajudar. Não com um salário de costureira e ainda tendo que sustentar a casa sozinha. Contudo, uma noite eu me sentei de frente para ela e disse: estou saindo de casa, tia. Acredite, doeu como o inferno ter que vê-la chorar e me garantir uma vaga no posto de gasolina. Eu simplesmente não podia aceitar, não queria terminar os meus dias em uma bomba de gasolina e quem sabe um me tornar um alcoólatra coo o meu pai. Então arrumei as minhas malas e dirigi por horas até Nova York. Agora eu só precisava garantir o meu sustento e uma va
Aiden— Como foi a sua prova? — Ethan pergunta assim que me acomodo em uma cadeira do refeitório. Olhar para a cara azeda dele me diz muit6o sobre o estrago de uma puta ressaca.— Não foi — ralho bebericando o café forte e amargo, e faço uma careta no processo.— Também não cheguei a tempo. — Ele resmunga ajeitando os óculos escuros.— Eu sabia que não ia dar certo!— Relaxa, cara! A gente recupera. — No fundo ele está certo. É só a primeira nota e eu posso repor sem problemas, mas não posso continuar assim.***Três meses depois...Quando eu era criança tinha um certo fascínio pelas corridas de carro, mas nunca pensei que ela me daria a diretriz para construir o meu futuro. E sempre fui bom no volante, mas Nova York me proporcionou uma experiência ímpar. Eu só preciso saber onde vai rolar com antecedência o dia e a hora, estudar o local, as suas curvas e trilhas para não ter surpresas e garantir a grana. Depois cada um leva a sua parte. Ethan, Richard e Kevin dividem cinquenta por ce
Mel Definitivamente não tem comparação. A vida adulta longe dos pais é completamente louca e eu só descobri isso há poucas semanas convivendo com os meus novos amigos e claro que a Abby fez questão de me mostrar que não temos limites. Mas relaxe, as nossas saídas e curtições em nada tem interferido nas minhas notas. Eu jamais permitiria que isso acontecesse. O fato é que eu estou gostando de ter um pouquinho de liberdade e aprendendo a beber de um jeito divertido e descontraído com eles, coisa que só fazia com o meu pai a beira de uma fogueira nos fins de tarde na praia, porém, de forma bem contida. Sair para dançar? Não, a primeira vez aconteceu bem aqui e juro que nas primeiras horas até bateu um sentimento de culpa. Nossa, acredita que eu quis ligar para casa para pedir desculpas para eles? Mas logo após o meu segundo copo de cerveja eu já era a alegria em pessoa e me esqueci completamente da ousadia de sair do meu quarto quentinho, de largar todos aqueles livros grossos e cheios
MelVocê já foi a uma dessas festas de faculdade? Uau! Essa é a minha primeira e mesmo tendo participado de todos os preparativos, estou chocada! Os refletores, a decoração, as mesas, o salão para dança, o palco. Tudo inspira um megaevento, mas a gente sabe que os lados já estão separados, né? Alguns convidados começam a chegar e como a Abby havia imaginado, ninguém sabe quem é quem. Exceto pela capivara glamourosa que faz questão de se destacar. Pena que o bonitinho vai ser atingido pela nossa trama. Ela não larga dele mesmo. Enfim, vamos dar um tempo, a final queremos curtir um pouquinho dessa festa antes de começar todo o babado.— Ai, eu quero dançar um pouco! — Kell fala se sacudindo toda e logo a turma se anima. Dani com a Kell, o Stan com a Ruby e Robin com a Abby. Sobrei e isso não é bom, mas relevo decido pegar um refresco na espaçosa mesa.— Você é a Melissa, não é? — Forço a bebida a descer e encaro o gigante parado bem na minha frente. Detalhe, o seu nome é Ethan e eu já o
Mel__ Cara, eu nunca ri tanto na minha vida! — Dani comenta e uma nova onda de risadas divertidas e contorcidas se espalha dentro do Burger, chamando a atenção dos clientes em outras mesas.— Sério, aquela cena foi hilária!— E a cara que ela fez?Esses comentários me fazem pensar nas risadas que deram de mim todas as vezes que aquela vaca aprontou comigo. Mas devo admitir, isso foi épico e caramba, as visualizações já passam de três e isso em menos de uma hora e os likes não estão muito distantes disso, sem falar nos comentários que meu Deus... acho que criei um monstro. Então, vingança nunca foi o meu forte e eu sei que isso terá um retorno estrondoso, e que eu preciso estar preparada para qualquer coisa. O problema é não prever o que vem pela frente. Eu simplesmente terei que estar atenta a cada segundo. Como diz a minha quase centenária avó, pisando em ovos. Mas não vou estragar esse momento com as minhas especulações as cegas. Portanto, ergo o meu copo de cerveja atraindo a aten
MelEu nunca me vi em um... o que é isso mesmo? Um esporte? Vadiagem? Cara, eu estudo direito e, no entanto, estou me metendo no meio de um grupo jovens tomando cerveja e apostando altas notas em uma corrida completamente absurda. E pior, correndo um sério risco de ser presa só de estar aqui. Mas vamos admitir que a adrenalina que essas pessoas fornecem é coisa de louco. O ronco do motor avisa que a corrida começará em alguns segundos. A gritaria e a agitação dos apostadores são excitantes, e para a minha surpresa, Dani é um dos corredores. Stan e Robin se ajeitam em cima de um baú de um caminhão de pequeno porte e nos ajudam a subir. Daqui a visão da cidade é simplesmente fantástica e logo uma garota vai para o meio dos carros, ela faz um charme e dá o sinal para os pilotos. A gritaria junto aos roncos dos motores é ensurdecedora e eu me pego vibrando quando os carros dão a partida. O local escolhido pelos meninos nos dá uma visão ampla da corrida e caramba, eles realmente levam o pr
Mel— Preciso ir ao banheiro — aviso assim que chegamos na metade do corredor.— Quer que eu te acompanhe? — Abby se oferece, mas quer saber? Acho que está tudo de boa por hoje.— Não. Eu não vou demorar. — E nos separamos pela primeira vez desde que a megera louca resolveu pegar no meu pé. Parece suicídio, não é? Mas acredito que depois da vergonha que Brenice passou em público ela deva ficar em sua incubadora por alguns dias. Oh droga, eu não podia estar mais enganada! Penso, quando largo a minha bolsa no balcão e ligo a torneira, molhando levemente o meu rosto e assim que abro os olhos, e me encaro no espelho percebo a porta se abrir atrás de mim. Brenice entra no cômodo com as capivaretes logo atrás dela. Uma das garotas fecha a porta e eu me preparo para o ataque. A loira me olha dos pés à cabeça enquanto caminha sem pressa para o lado, dando espaço para as outras me ilharem. A merda toda é que eu não sou boa de briga. Sério, eu nunca precisei brigar com ninguém na vida, mas se p
Aiden— Onde você estava, porra? Por um instante pensei que a polícia tinha te prendido. — Ethan rosna assim que saio do carro. Realmente foi por pouco. Se não fosse aquela estradinha de terra não sei o que teria acontecido, ainda mais quando resolvi atrasar a minha retirada para pegar aquela garota sem noção parada no meio do reboliço de pessoas. O que deu em mim? Não sei. A verdade é que eu nem conheço a garota direito para me importar, mas se quer saber, não há arrependimentos.— Você sabe como eu sou — ralho presunçoso, erguendo as mãos para o alto.— É isso aí, garoto! — A rapaziada agita batendo as mãos e de cara Kevin me entrega uma cerveja.— Aqui está a sua parte. — Ethan mete a mão no bolso lateral do seu jeans e tira algumas notas verdinhas de lá. Com um sorriso largo folhei o pequeno montante e o guardo na minha carteira.— Estou indo, galera! Preciso de um banho e daqui a três horas tenho que estar de pé e meter a cara nos estudos — falo, deixando o nosso cumprimento de s