A porta abriu-se abruptamente, como se tivesse sido empurrada por uma rajada de vento gelado, trazendo consigo uma presença que fez o quarto mergulhar em um silêncio sufocante. Serena, envolta no delicado robe de seda que ainda exalava o perfume de Vittorio, ergueu o olhar na expectativa de ver o homem que fazia seu coração disparar, mas não era ele.
O desconhecido que ali estava, carregava uma aura de ameaça. Alto, magro, com feições rígidas e olhos que pareciam conter o peso de segredos sombrios, ele entrou sem hesitar, sua postura transbordava autoridade.
Serena recuou instintivamente, mas manteve a voz firme, mesmo que um nó de apreensão apertasse sua garganta.
— Quem é você para invadir meu quarto? Meu esposo logo estará de volta. — ela disparou, tentando esconder a vulnerabilidade que ameaçava transparecer.
A palavra "esposo" saiu de seus lábios como um escudo, uma tentativa desesperada de se proteger. O homem apenas riu. — uma risada seca, carregada de deboche que reverberou como uma provocação. Ele largou uma mala de couro no chão e a olhou com desdém.
— Seu pagamento. — Declarou, as palavras eram tão frias quanto uma lâmina afiada.
Serena piscou confusa, enquanto seu olhar oscilava entre o homem e a mala. Sua mente tentava processar o significado por trás daquela declaração, mas antes que pudesse reagir, ele continuou com aquela voz cortante.
— Oltre ad essere una puttana, è stupida.
As palavras em italiano soaram como um golpe direto. "Além de putta, é burra." Serena sentiu o impacto, a força daquela ofensa a atingiu fisicamente.
— Saia agora! — ela ordenou, sua voz tremendo, carregada de indignação.
Ele ignorou. Avançou, reduzindo a distância entre os dois, até que estava perto o suficiente para que ela sentisse o cheiro de tabaco em suas roupas. Com um sorriso cruel, ele inclinou a cabeça e falou com frieza calculada:
— Você realmente acredita que Vittorio a vê como algo mais? Que significa algo para ele? Abra a mala. Quinhentos mil dólares. Esse é o valor que meu Don pagou por sua companhia.
As palavras perfuraram Serena como facas. A ideia de ser descartada como um objeto, de que todo o amor e paixão que sentira não passavam de uma transação, era insuportável.
— Você está mentindo! — gritou, sua voz embargada, mas com uma fúria que lutava para dominar o medo.
— Quer mesmo acreditar nisso? — Ele riu novamente, o som recheado de desprezo. — Vittorio se cansou de você. Não passa de mais uma distração e como já era de se esperar, descartável.
Serena cambaleou, como se cada palavra sugasse sua força. Lágrimas começaram a escorrer, mas ela se recusava a cair diante daquele homem.
— Pegue o dinheiro e vá embora. — Ele se inclinou sussurrando em seu ouvido com a voz grave e ameaçadora. — Fique e estará assinando sua sentença de morte. Vittorio não é o homem que você pensa.
Em um movimento brusco, ele abriu a porta e a empurrou para fora, junto com a mala e algumas roupas. Serena tropeçou e caiu no corredor frio. Antes que pudesse se recompor, a porta bateu atrás dela com um estrondo, selando sua expulsão de um mundo que até aquele momento, acreditava pertencer.
Enquanto recolhia seus pertences espalhados pelo chão, sua mente girava em um turbilhão de memórias e dúvidas… "Amore mio" …as palavras que Vittorio sussurrava com tanta doçura, agora pareciam vazias, ilusórias.
A mala pesava em suas mãos, mas não tanto quanto a angústia que esmagava seu coração. Serena deu os primeiros passos para longe dali, com uma pergunta martelando em sua mente, recusando-se a ser silenciada.
“E se tudo isso fosse verdade?”
Enquanto a noite envolvia sua figura em sombras, ela sabia que a verdade cruel e implacável ainda estava por vir e quando chegasse, poderia mudar tudo.
Vittorio MoretiOs primeiros raios de sol mal tocavam o horizonte. O quarto era o reflexo do caos contido na mente de Vittorio Moretti. A fumaça do cigarro se misturava ao cheiro amadeirado do uísque em seu copo, criando uma atmosfera tão densa quanto os pensamentos que o perseguiam. Ele encarava o espelho com intensidade, como se tentasse desvendar os próprios demônios.— Cosa manca alla mia vita ? O que está faltando na minha vida ? — Ele debruça sobre a pia respirando fundo — Non so nemmeno cosa sia...Nem eu mesmo sei o que é isso...Um homem como Vittorio, Don aos dezesseis anos, não deveria se permitir fraquezas. Ele era o poder em sua forma mais crua, um líder temido e respeitado, cuja reputação atravessava oceanos. Seu corpo, coberto por tatuagens e cicatrizes, era o retrato de sua história, vitórias e perdas, tudo marcado na carne. Mas naquele instante, diante de sua própria imagem, uma sombra de dúvidas pairava em seus olhos.O som da porta do quarto se abrindo o trouxe de vo
Serena SmithAlgumas pessoas dizem que a dor nos fortalece. Para mim, ela só me despedaça ainda mais.A chuva não cessa enquanto permaneço ali, parada, diante de duas lápides. O cheiro de terra molhada e flores murchas inunda os meus sentidos, mesmo eu mal conseguindo respirar. Tudo parece surreal, como um pesadelo do qual não consigo acordar. Acabo de enterrar meus pais.A mão firme de meu tio Charles repousa sobre o meu ombro, quente e pesada, como uma âncora. Ele nada diz, não é preciso. Sua presença já carrega o peso da sua dor, mesmo que nenhuma lágrima escorra pelo seu rosto endurecido. Ele é um homem quebrado, assim como eu.Eu ainda não sei como seguir em frente. Espero encontrar um caminho em breve…Seis meses depois— Eu já disse que não tenho como pagar essa merrda! — grito ao celular, minha voz está trêmula de frustração. — Passe minha bolsa para outra pessoa, que inferno!Encerro a ligação, antes que ouça outra negativa da mulher do outro lado da linha. O meu celular voa
O Homem AmaldiçoadoAmar deveria ser um presente divino, mas para mim foi uma maldição.Eu amei uma mulher que jamais poderia ser minha. Durante anos, assisti Brianna viver, florescer e sorrir nos braços de outro homem. E o que fiz? Sorri de volta, mesmo quando cada sorriso seu rasgava o meu peito. Afinal, amar não deveria ser sobre posse, e sim sobre liberdade.De longe, torci para que ela nunca conhecesse a dor, nunca sentisse a crueldade do mundo como eu sentia. Renunciar ao amor que nutria por ela foi a minha penitência e a vida seguiu seu curso. Pelo menos, era isso que eu dizia a mim mesmo. Até agora.Quando as garotas do turno entram no camarim, preparadas para mais uma noite, eu não esperava ver um fantasma do passado atravessar a porta, mas lá estava ela, tão parecida com Brianna que meu coração quase parou. Exceto que esta não é Brianna e sim, Serena.Boate Coliseu - Chicago— Giuseppe. — A voz dela é confiante, embora seus olhos a entreguem. Há algo perturbador e vulnerável
Boate Coliseu - ChicagoO cheiro de tabaco, perfume caro, álcool e luxúria pairavam no ar da boate de maneira pesada, inconfundível. O ambiente estava mergulhado na penumbra, com luzes neon pulsando como se acompanhassem as batidas de corações desesperados.— Pela sua cara, Don, posso imaginar as perversões que estão rondando na sua mente. — Alonso soltou a frase entre um trago do cigarro e o sorriso de escárnio estampado no rosto.Sorri de volta, mas o brilho nos meus olhos revelava algo mais sombrio.— Você não imagina, Alonso. Preciso de uma ninfeta fogosa para aplacar essa raiva que me corrói. Hoje, faltou pouco para matar aquele playboyzinho metido a mafioso.Arrastei os dedos pelos primeiros botões da minha camisa de seda preta, abrindo-os lentamente, enquanto a fumaça do meu cigarro se dissipava no ar.— Como assim, Don? — Alonso riu, balançando a cabeça. — Você praticamente colocou uma arma na boca do filho dele e ainda o chamou de viado. O que esperava?Ri junto, mas sem humo
Vittorio MorettiA boate pulsava ao som da música ensurdecedora, mas tudo ao meu redor parecia abafado, o ambiente assemelhava-se a uma promessa de pecados. Meus olhos estavam fixos em uma coisa só, ela.Uma ruiva exótica dominava o palco com uma graça que beirava o sobrenatural. Seus cabelos ondulados caiam como chamas vivas, emoldurando um rosto que parecia uma obra de arte. Seu corpo, vestido em trajes sensuais, movia-se com uma intensidade hipnótica. Fênix, minha Fênix. Desviei meu olhar novamente para James e disse: — Coloque uma coisa na sua cabeça, seu porco imprestável, se Don Vittorio Moretti quer algo, ele tem. Quero uma dança dessa mulher. O albino estava paralisado, mesmo assim continuei:— Vou te dar um conselho, James... faça o que eu mando ou escolha a cor do seu caixão. Estarei na sala privada. — Sorri friamente enquanto ele engolia seco.Virei as costas, deixando-o preso em seu nervosismo. Caminhei lentamente com passos firmes e controlados. Eu sabia exatamente o
Serena Smith— Serena. Parabéns! — James entra com um sorriso nos lábios, não sei porque isso me deixa intrigada. Eu conheço bem aquele olhar, é o mesmo que Violet faz quando faz alguma merda e quer ajuda. — Diga de uma vez o que quer! — Levanto da cadeira amarrando o laço do meu robe e o encaro. James é um rapaz jovem, acho que deve ter a minha idade, chego a pensar por qual motivo ele trabalha neste lugar, mas chego à conclusão que isso não é da minha conta, se está aqui é porque precisa. Ele se aproxima sentando na minha frente e com os olhos suplicantes diz:— Eu não pediria isso se não fosse urgente. O senhor Giuseppe está resolvendo um assunto e temos um cliente muito importante que deixou claro que deseja um show particular seu, uma dança na sala Vip. Encaro James intensamente. O Giuseppe deixou claro que eu não realizava esse tipo de dança. Umedeço os lábios ouvindo a súplica atentamente, sei exatamente o que acontece na sala Vip e numa dança privada. Cruzo os braços cont
Vittorio Moretti O cômodo estava do jeito que eu me lembrava. O sofá de couro, o lustre moderado, o perfume sutil espalhado pelo ambiente. Tudo estava em perfeita ordem, mas minha mente estava longe da calmaria. Meu corpo pulsava em antecipação. A simples ideia de tê-la tão perto o fazia ferver de desejo.Não demorou até a porta se abrir lentamente.Ela entrou e a visão me deixou sem ar.Fênix usava um traje sensual de bailarina, um corpete justo destacando a cintura fina, meias delicadas que cobriam as coxas torneadas e sandálias douradas que realçaram suas longas pernas. Ela era uma mistura de pureza e pecado.Por incrível que pareça, senti algo que não sentia há muito tempo, nervosismo.Ela se aproximou devagar, como um predador cauteloso. Havia hesitação em seus olhos, mas também algo que me intrigava. Após nos apresentarmos, ela foi direta:— O que posso fazer por você hoje, Vittorio?— Dance para mim.--- Foi a única coisa que me veio à cabeça naquele momento. Minha voz saiu r
Quando James suplicou que eu fosse até a tal sala VIP, não imaginei que poderia perder a minha virgindade. Eu ainda não acredito no que quase aconteceu. Eu ia me entregar a um maldito desconhecido! Foi por muito pouco... Corro até o camarim no final do corredor, visto meu casaco preto junto do capuz felpudo e mal amarro os cadarços do coturno, preciso sair daqui urgentemente. Abro a porta dando de cara com várias pessoas que pouco ligam se estou ali ou não. Aqui é um lugar seguro, sei que estaria tecnicamente protegida, mas estou nessa situação por descuido próprio. — Como você é burra, Serena. – Resmungo comigo mesma. Fui ingênua, estúpida, deixei-me levar por aqueles malditos olhos azuis, quase fiz uma grande besteira. Preciso ir embora e esquecer o que aconteceu aqui, ou pelo menos tentar. Chegando em casa abro a porta e dou graças a Deus por nem meu tio, nem a Violet estarem. Caminho a passos rápidos até o meu quarto e entro no banheiro. Tomo um banho gelado na tentativa de