CAPÍTULO II

Serena Smith

Algumas pessoas dizem que a dor nos fortalece. Para mim, ela só me despedaça ainda mais.

A chuva não cessa enquanto permaneço ali, parada, diante de duas lápides. O cheiro de terra molhada e flores murchas inunda os meus sentidos, mesmo eu mal conseguindo respirar. Tudo parece surreal, como um pesadelo do qual não consigo acordar. Acabo de enterrar meus pais.

A mão firme de meu tio Charles repousa sobre o meu ombro, quente e pesada, como uma âncora. Ele nada diz, não é preciso. Sua presença já carrega o peso da sua dor, mesmo que nenhuma lágrima escorra pelo seu rosto endurecido. Ele é um homem quebrado, assim como eu.

Eu ainda não sei como seguir em frente. Espero encontrar um caminho em breve…

Seis meses depois

— Eu já disse que não tenho como pagar essa merrda! — grito ao celular,  minha voz está trêmula de frustração. — Passe minha bolsa para outra pessoa, que inferno!

Encerro a ligação, antes que ouça outra negativa da mulher do outro lado da linha. O meu celular voa contra o sofá enquanto me deixo cair no chão. Lágrimas ameaçam, mas não as deixo sair. Eu já chorei o suficiente por uma vida inteira.

— Problemas com a faculdade de novo? — a voz de Violet soa atrás de mim, suave e cheia de compaixão.

Quase salto com o susto, como sempre é minha melhor amiga, surgindo com o sorriso tranquilizador e o brilho nos olhos me fazendo lembrar que nem tudo está perdido.

— Eles querem o caução do dormitório, Violet. Mil dólares! Como se eu tivesse essa grana. — Dou uma risada amarga. — Já enviei os documentos, os atestados de óbito… Dizem que tudo foi fora do prazo, não tem mais jeito.

Violet me escuta em silêncio, seus olhos esverdeados brilhando com empatia. Quando ela finalmente fala, sua voz é calma e prática:

— Serena, você precisa tentar outra coisa. Talvez negociar com o reitor ou buscar uma transferência. Às vezes, eles permitem em casos extremos.

Seu otimismo me irrita, ao mesmo tempo, traz uma fagulha de esperança.

— E se não der certo? — pergunto, minha voz mais baixa, quase um sussurro.

— Então, você faz o que for preciso. — Violet cruza os braços, séria.

“O que for preciso”. — A frase ecoa pesadamente na minha cabeça, mas cheia de possibilidades.

Respiro fundo. Talvez esteja na hora de parar de fugir e encarar o óbvio.

— Eu já sei o que fazer. — Minha voz sai mais firme do que esperava.

— Sabe? — Violet ergue as sobrancelhas, curiosa.

Meu tio não quer que eu trabalhe no bar, eu até compreendo, mas preciso e já sei como vou arrumar um dinheiro rápido. Apesar de respeitar a opinião do meu tio, é a única coisa que posso fazer agora. — A ideia que surgiu na minha mente, apesar de assustadora, é necessária. Em horas como essas precisamos agir e não ficar divagando. 

Violet me olha ansiosa, seus olhos de esmeralda brilham em curiosidade e isso me faz gargalhar. A loira cruza os braços irritada. Desde quando éramos crianças, sua personalidade azeda é uma característica marcante. 

— Diga de uma vez, Serena. — Grunhi pela sua irritação.

— Eu vou recorrer ao óbvio, Violet. — Ergui a sobrancelha sorrindo maliciosamente. Irei apostar tudo nisso, se eu tiver sorte, tudo acontecerá conforme estou planejando. 

— Serena... Não me diga que...

— Sim. Vou pedir trabalho para Giuseppe Bailey.

O silêncio que se segue entre nós é tenso. Violet me encara incrédula, consigo ver a pergunta não dita em seus olhos.

— Você está louca? — ela finalmente solta.

— Talvez. — Dou de ombros e forço um sorriso.

Por dentro, meu coração está disparado. Trabalhar para Giuseppe Bailey é um risco que pode mudar minha vida ou destruí-la de vez.

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