O Homem Amaldiçoado
Amar deveria ser um presente divino, mas para mim foi uma maldição.
Eu amei uma mulher que jamais poderia ser minha. Durante anos, assisti Brianna viver, florescer e sorrir nos braços de outro homem. E o que fiz? Sorri de volta, mesmo quando cada sorriso seu rasgava o meu peito. Afinal, amar não deveria ser sobre posse, e sim sobre liberdade.
De longe, torci para que ela nunca conhecesse a dor, nunca sentisse a crueldade do mundo como eu sentia. Renunciar ao amor que nutria por ela foi a minha penitência e a vida seguiu seu curso. Pelo menos, era isso que eu dizia a mim mesmo. Até agora.
Quando as garotas do turno entram no camarim, preparadas para mais uma noite, eu não esperava ver um fantasma do passado atravessar a porta, mas lá estava ela, tão parecida com Brianna que meu coração quase parou. Exceto que esta não é Brianna e sim, Serena.
Boate Coliseu - Chicago
— Giuseppe. — A voz dela é confiante, embora seus olhos a entreguem. Há algo perturbador e vulnerável ali.
São 13h, a luz do dia inunda a boate quando a porta se abre. Ela avança sem hesitar, decidida a não recuar. Erguendo a sobrancelha, apoio o queixo nas mãos e faço sinal para que ela continue.
— Preciso de um favor seu.
O pedido é tão direto que não consigo evitar uma gargalhada. Poucas pessoas ousam me abordar assim.
— Um favor? — repito, com sarcasmo. Faço um sinal para James. — Traga um suco para a garotinha.
— Eu não sou uma garotinha! — ela retruca irritada, sem perder o foco.
James sai em silêncio, deixando-nos sozinhos. Eu cruzo os dedos, observando-a com cuidado.
— Meus pêsames pela sua família. — digo, quebrando o gelo com um toque de ironia.
Ela cerra os olhos, percebendo a provocação.
— O que diabos você quer, senhorita Smith?
— Preciso de um emprego. — responde firme, sem rodeios.
Minhas sobrancelhas se erguem. A filha de Brianna está aqui, pedindo trabalho na boate? Isso só pode ser piada.
— O que eu teria a ver com isso, criança?
— Eu não sou criança, tenho dezenove anos! — ela rebate, cruzando os braços.
Não aguento e bufo. A idade dela é o que menos importa, é irrelevante. Brianna sempre será a sombra entre nós dois. Não sou ingênuo, jamais permitirei trabalhar em um ambiente como este.
— Eu não sou um santo, mas aqui não é lugar para você. Isso não é caridade, garota. Diga quanto você precisa e eu te dou o dinheiro.
— Não! — A raiva em sua voz é genuína. — Não quero esmola nem caridade.
Ela se inclina e me encara de igual para igual.
— Eu só quero dançar. Não quero fazer programa nem nada disso. Só preciso de uma oportunidade. Se você realmente amou minha mãe, vai me ajudar!
A lembrança de Brianna cai como uma bomba. O peso de tudo que ficou enterrado no passado volta com força.
— Serena, saia daqui. Em respeito a memória da sua mãe, vou tentar arranjar outra coisa para você.
— Não quero outra coisa — ela insiste, os olhos brilhando de determinação. — Quero resolver minha vida sozinha.
— Serena...
— Por favor — ela implora, sua voz finalmente cedendo ao desespero.
O silêncio que se segue é quase insuportável. A filha da mulher que amei agora está aqui me encarando, me desafiando, pedindo por algo que sei que não deveria dar.
Mas há algo em seus olhos. Algo que me faz recuar em minha decisão.
Vittorio Moretti
Poucas coisas me irritam mais do que lidar com incompetentes. Infelizmente, hoje foi um dia cheio deles. Mafiosos americanos com nenhuma fibra moral e um apego ridículo por dinheiro fácil.
— Esses idiotas… — murmuro, enquanto Alonso Ferrari, meu braço direito, tenta me acalmar.
Estou em Chicago há semanas, lidando com uma confusão que não deveria ser minha, mas hoje à noite, vou esquecer tudo isso.
Há uma boate de striptease aqui que conheço bem. Um lugar com um certo glamour, onde as mulheres são exatamente o que preciso para aliviar o peso do dia.
Quando entramos no Coliseu, algo no ar parecia diferente. Não sei se era a expectativa ou apenas o cheiro do uísque no ar.
Eu nem imaginava que a noite estava prestes a se tornar muito mais interessante.
Boate Coliseu - ChicagoO cheiro de tabaco, perfume caro, álcool e luxúria pairavam no ar da boate de maneira pesada, inconfundível. O ambiente estava mergulhado na penumbra, com luzes neon pulsando como se acompanhassem as batidas de corações desesperados.— Pela sua cara, Don, posso imaginar as perversões que estão rondando na sua mente. — Alonso soltou a frase entre um trago do cigarro e o sorriso de escárnio estampado no rosto.Sorri de volta, mas o brilho nos meus olhos revelava algo mais sombrio.— Você não imagina, Alonso. Preciso de uma ninfeta fogosa para aplacar essa raiva que me corrói. Hoje, faltou pouco para matar aquele playboyzinho metido a mafioso.Arrastei os dedos pelos primeiros botões da minha camisa de seda preta, abrindo-os lentamente, enquanto a fumaça do meu cigarro se dissipava no ar.— Como assim, Don? — Alonso riu, balançando a cabeça. — Você praticamente colocou uma arma na boca do filho dele e ainda o chamou de viado. O que esperava?Ri junto, mas sem humo
Vittorio MorettiA boate pulsava ao som da música ensurdecedora, mas tudo ao meu redor parecia abafado, o ambiente assemelhava-se a uma promessa de pecados. Meus olhos estavam fixos em uma coisa só, ela.Uma ruiva exótica dominava o palco com uma graça que beirava o sobrenatural. Seus cabelos ondulados caiam como chamas vivas, emoldurando um rosto que parecia uma obra de arte. Seu corpo, vestido em trajes sensuais, movia-se com uma intensidade hipnótica. Fênix, minha Fênix. Desviei meu olhar novamente para James e disse: — Coloque uma coisa na sua cabeça, seu porco imprestável, se Don Vittorio Moretti quer algo, ele tem. Quero uma dança dessa mulher. O albino estava paralisado, mesmo assim continuei:— Vou te dar um conselho, James... faça o que eu mando ou escolha a cor do seu caixão. Estarei na sala privada. — Sorri friamente enquanto ele engolia seco.Virei as costas, deixando-o preso em seu nervosismo. Caminhei lentamente com passos firmes e controlados. Eu sabia exatamente o
Serena Smith— Serena. Parabéns! — James entra com um sorriso nos lábios, não sei porque isso me deixa intrigada. Eu conheço bem aquele olhar, é o mesmo que Violet faz quando faz alguma merda e quer ajuda. — Diga de uma vez o que quer! — Levanto da cadeira amarrando o laço do meu robe e o encaro. James é um rapaz jovem, acho que deve ter a minha idade, chego a pensar por qual motivo ele trabalha neste lugar, mas chego à conclusão que isso não é da minha conta, se está aqui é porque precisa. Ele se aproxima sentando na minha frente e com os olhos suplicantes diz:— Eu não pediria isso se não fosse urgente. O senhor Giuseppe está resolvendo um assunto e temos um cliente muito importante que deixou claro que deseja um show particular seu, uma dança na sala Vip. Encaro James intensamente. O Giuseppe deixou claro que eu não realizava esse tipo de dança. Umedeço os lábios ouvindo a súplica atentamente, sei exatamente o que acontece na sala Vip e numa dança privada. Cruzo os braços cont
Vittorio Moretti O cômodo estava do jeito que eu me lembrava. O sofá de couro, o lustre moderado, o perfume sutil espalhado pelo ambiente. Tudo estava em perfeita ordem, mas minha mente estava longe da calmaria. Meu corpo pulsava em antecipação. A simples ideia de tê-la tão perto o fazia ferver de desejo.Não demorou até a porta se abrir lentamente.Ela entrou e a visão me deixou sem ar.Fênix usava um traje sensual de bailarina, um corpete justo destacando a cintura fina, meias delicadas que cobriam as coxas torneadas e sandálias douradas que realçaram suas longas pernas. Ela era uma mistura de pureza e pecado.Por incrível que pareça, senti algo que não sentia há muito tempo, nervosismo.Ela se aproximou devagar, como um predador cauteloso. Havia hesitação em seus olhos, mas também algo que me intrigava. Após nos apresentarmos, ela foi direta:— O que posso fazer por você hoje, Vittorio?— Dance para mim.--- Foi a única coisa que me veio à cabeça naquele momento. Minha voz saiu r
Quando James suplicou que eu fosse até a tal sala VIP, não imaginei que poderia perder a minha virgindade. Eu ainda não acredito no que quase aconteceu. Eu ia me entregar a um maldito desconhecido! Foi por muito pouco... Corro até o camarim no final do corredor, visto meu casaco preto junto do capuz felpudo e mal amarro os cadarços do coturno, preciso sair daqui urgentemente. Abro a porta dando de cara com várias pessoas que pouco ligam se estou ali ou não. Aqui é um lugar seguro, sei que estaria tecnicamente protegida, mas estou nessa situação por descuido próprio. — Como você é burra, Serena. – Resmungo comigo mesma. Fui ingênua, estúpida, deixei-me levar por aqueles malditos olhos azuis, quase fiz uma grande besteira. Preciso ir embora e esquecer o que aconteceu aqui, ou pelo menos tentar. Chegando em casa abro a porta e dou graças a Deus por nem meu tio, nem a Violet estarem. Caminho a passos rápidos até o meu quarto e entro no banheiro. Tomo um banho gelado na tentativa de
Dou o recado e fico aguardando. Aquela ruiva é astuciosa, provocante, já chega com sua língua afiada e na minha primeira investida já me empurra dizendo não ser uma prostituta. Se fosse outra, teria cometido um erro com essa ação, mas como é ela, abri uma inusitada exceção, mesmo sem saber porquê. Como eu não presto, começo um jogo de sedução e, felizmente, ela entra no jogo. Seu jeito sexy de dançar me deixa sem saber como reagir. Não hesitei em puxar o seu corpo e beijar os seus lábios tão convidativos. Tinha certeza que aquele beijo seria a minha maldição. Sempre tive regras no sexo, uma delas é:Nada de beijos e nada de toques. Não sei o que aconteceu, mas quando vi aqueles lábios carnudos sendo massacrados por ela… não consegui me conter. Sentir sua língua se enroscando na minha numa dança erótica…aquilo me deixou em êxtase. O gosto doce de seus lábios me deixou inebriadoEla me tocou e eu não senti o que geralmente sinto quando outras mulheres me tocam. Pelo contrário, eu apre
A porta abriu-se abruptamente, como se tivesse sido empurrada por uma rajada de vento gelado, trazendo consigo uma presença que fez o quarto mergulhar em um silêncio sufocante. Serena, envolta no delicado robe de seda que ainda exalava o perfume de Vittorio, ergueu o olhar na expectativa de ver o homem que fazia seu coração disparar, mas não era ele.O desconhecido que ali estava, carregava uma aura de ameaça. Alto, magro, com feições rígidas e olhos que pareciam conter o peso de segredos sombrios, ele entrou sem hesitar, sua postura transbordava autoridade. Serena recuou instintivamente, mas manteve a voz firme, mesmo que um nó de apreensão apertasse sua garganta.— Quem é você para invadir meu quarto? Meu esposo logo estará de volta. — ela disparou, tentando esconder a vulnerabilidade que ameaçava transparecer. A palavra "esposo" saiu de seus lábios como um escudo, uma tentativa desesperada de se proteger. O homem apenas riu. — uma risada seca, carregada de deboche que reverberou
Vittorio MoretiOs primeiros raios de sol mal tocavam o horizonte. O quarto era o reflexo do caos contido na mente de Vittorio Moretti. A fumaça do cigarro se misturava ao cheiro amadeirado do uísque em seu copo, criando uma atmosfera tão densa quanto os pensamentos que o perseguiam. Ele encarava o espelho com intensidade, como se tentasse desvendar os próprios demônios.— Cosa manca alla mia vita ? O que está faltando na minha vida ? — Ele debruça sobre a pia respirando fundo — Non so nemmeno cosa sia...Nem eu mesmo sei o que é isso...Um homem como Vittorio, Don aos dezesseis anos, não deveria se permitir fraquezas. Ele era o poder em sua forma mais crua, um líder temido e respeitado, cuja reputação atravessava oceanos. Seu corpo, coberto por tatuagens e cicatrizes, era o retrato de sua história, vitórias e perdas, tudo marcado na carne. Mas naquele instante, diante de sua própria imagem, uma sombra de dúvidas pairava em seus olhos.O som da porta do quarto se abrindo o trouxe de vo