Vittorio Moretti
A boate pulsava ao som da música ensurdecedora, mas tudo ao meu redor parecia abafado, o ambiente assemelhava-se a uma promessa de pecados. Meus olhos estavam fixos em uma coisa só, ela.
Uma ruiva exótica dominava o palco com uma graça que beirava o sobrenatural. Seus cabelos ondulados caiam como chamas vivas, emoldurando um rosto que parecia uma obra de arte. Seu corpo, vestido em trajes sensuais, movia-se com uma intensidade hipnótica.
Fênix, minha Fênix.
Desviei meu olhar novamente para James e disse:
— Coloque uma coisa na sua cabeça, seu porco imprestável, se Don Vittorio Moretti quer algo, ele tem. Quero uma dança dessa mulher.
O albino estava paralisado, mesmo assim continuei:
— Vou te dar um conselho, James... faça o que eu mando ou escolha a cor do seu caixão. Estarei na sala privada. — Sorri friamente enquanto ele engolia seco.
Virei as costas, deixando-o preso em seu nervosismo. Caminhei lentamente com passos firmes e controlados. Eu sabia exatamente o efeito que causava nas pessoas, isso sempre me deu prazer.
Enquanto descia os degraus em direção à sala VIP, meu olhar permanecia fixo na ruiva. Fênix continuava dançando, alheia ao caos que provocava. Ela não precisava fazer esforço.
Seus movimentos eram naturais, sedutores e ela parecia imune aos olhares famintos ao seu redor, dançava de olhos fechados. De repente, ao abri-los, nossos olhares se cruzaram.
Foi como uma faísca. Um instante e nada mais. Mesmo assim, o suficiente para desarmar todas as minhas defesas.
Ela sorriu. Não era um sorriso tímido, nem sedutor. Era natural, porém enigmático, carregado de algo que eu não conseguia decifrar. Meu coração errou o compasso e por um breve momento, senti que não estava no controle. Isso nunca havia acontecido.
Fênix não olhava mais para mim, mas começou a caminhar em direção de onde eu estava. Um passo mais lento que o anterior, como se o tempo houvesse parado. Lá em cima do palco, ela virou-se de costas, abaixou-se lentamente, rebolando até o chão, deixando à mostra o pequeno pedaço de tecido que mal cobria sua intimidade.
Meu corpo reagiu como se estivesse em chamas.
— Eu preciso f0dê-la! — murmurei para mim mesmo, os punhos cerrados em uma tentativa inútil de conter o desejo.
As luzes se apagaram rapidamente e quando voltaram, ela não estava mais no palco.
— Estarei na sala VIP de costume. — Minha voz foi direta, cortante, enquanto deixava Alonso, Luca e os demais para trás.
Serena Smith
Há cinco dias estou trabalhando na boate como dançarina, tudo ocorre de forma sistemática e simples. Quando chego faço minha produção, seleciono a música que utilizarei na minha performance e informo a equipe da sala de som. Tudo é muito profissional, mesmo sendo um clube noturno, o Coliseu é um dos melhores da Califórnia.
Antes de trabalhar aqui, tinha uma imagem deturpada sobre o clube e seus frequentadores. Lógico que algumas mulheres, que ali trabalham, aceitam transar com os seus clientes por dinheiro, mas uma boa parte das garotas são como eu, apenas dançam.
As meninas que fazem “danças privadas e especiais”, recebem uma grana extra enquanto eu e as outras, ganhamos apenas o trivial. O bom é que Giuseppe nos protege dos tarados que tentam nos tocar. Ele está sempre presente na boate, praticamente 24 horas, observando através das câmeras espalhadas por toda a boate, de sua sala super protegida. Ele é um homem surpreendente, trata a todos com respeito!
Depois de começar a trabalhar na boate, recebi um e-mail da Universidade respondendo sobre a minha situação. Parece que, finalmente, as coisas começaram a acontecer de forma positiva para mim. Meu coração quase explodiu de felicidade.
Já consegui juntar um valor satisfatório. Três mil dólares em quase cinco dias de trabalho, mesmo tendo que pagar 40% para Giuseppe, estou satisfeita com o dinheiro que consegui acumular. Acredito que em mais algumas semanas já terei o necessário para deixar a boate e ir a Madrid.
Por enquanto, vou ajudando meu tio como posso, treino algumas danças em casa para não fazer feio e estudo nos tempos livres.
Estou no meu camarim me preparando para a performance de logo mais. Já não me sinto tão envergonhada com as apresentações que faço. Coloquei na minha cabeça que esse trabalho é temporário e servirá como uma experiência de vida e que, em breve, deixarei para trás.
— Fênix, é a sua vez!
Angel me chama na porta do camarim. Ela é uma das meninas que também faz algumas danças especiais, nunca tive coragem de perguntar o porquê.
— Obrigada Angel.
Caminho em direção ao palco e antes de entrar, olhei novamente para o figurino que escolhi para essa noite. Ouço a música que escolhi começar a tocar suavemente, preenchendo todo o ambiente, é a minha vez.
Fecho os olhos e me entrego ao ritmo, balançando os quadris ao som da melodia, num ritmo lento, hipnotizante, erótico. Apenas um feixe de luz suave está sobre mim, proporcionando uma atmosfera sensual.
Estou usando um conjunto de lingerie sofisticado, feito de renda e cetim, que realça minhas curvas de maneira sedutora. O traje por cima, um vestido preto, contrasta com minha pele pálida, as meias ⅞ apertam as minhas coxas deixando uma imagem erótica. Meus cabelos vermelhos estão soltos e caem como ondas sobre meus ombros, refletindo uma mistura de pureza e pecado.
Com um sorriso confiante, continuo dançando, movendo meu corpo de forma fluida e sensual. Cada passo que dou é calculado, cada gesto é como uma declaração de poder e feminilidade. Caminho até a beira do palco, olhando diretamente para o público com um olhar provocador, enquanto meus quadris se movem de maneira hipnótica ao ritmo da música. Algumas notas são jogadas sobre o palco, aquilo me enoja, mas esses trocados são meus, então continuo focada na minha dança.
— “Que mulher é essa?!”
Suspiro fundo.
Não vou negar que alguns comentários me deixam desconfortável, mas como diz o ditado “quem está na chuva é para se molhar”. Então, vamos logo terminar esse show.
Utilizo minhas mãos para tocar no meu corpo, bem lentamente. Faço uma pausa, girando lentamente, ficando de costas para o público, deixo o tecido do meu vestido deslizar suavemente sobre minha pele, criando um efeito visual que é ao mesmo tempo delicado e provocante. À medida que a música se intensifica, minha dança se torna mais ousada. Inclino o corpo para trás, arqueando as costas, abro meus olhos e percebo homens se masturbando e me fitando com puro desejo. No meio daquela turba envolta em fumaça e luxúria, meus olhos se prendem a um homem alto de olhar enigmático. Seu olhar azul me percorre a pele como um toque invisível, fazendo cada parte do meu corpo arrepiar. Ele parece um anjo de rosto perfeito, mas o corpo sugere o contrário: pecaminoso e imponente. Ele me encara e caminha lentamente para próximo do palco. Observo seus passos lentos, percebo o quanto é bem-vestido e a forma quase hipnótica com que coloca as mãos nos bolsos, como se já fosse o dono do meu próximo suspiro. É impossível desviar o olhar, estou completamente presa àquela presença.
Mesmo sem conhecê-lo, sinto que ele me lê por dentro, atento aos mínimos movimentos do meu corpo e isso me excita. Sinto algo diferente, aquele olhar me queimava como brasa.
Dou passos calculados até ficar bem perto dele, então viro de costas e deslizo até o chão, fazendo questão de que meus quadris fiquem na altura dos seus olhos, oferecendo a visão da minha calcinha. Simplesmente me entrego, como se fizesse uma dança exclusiva para ele.
Não estou pensando de forma racional, apenas desejo aquele olhar intenso e dominante cravado em mim. Inclino o quadril de maneira provocante e ele permanece firme com sua atenção completamente voltada para a minha intimidade.
Quando o vejo morder os lábios, sei que alcancei exatamente o que queria. As luzes se apagam transformando o cenário em uma escuridão quase cúmplice e eu entendo que essa é a minha chance de escapar daquele olhar hipnotizante.
Sigo por uma rota de fuga improvisada, mesmo antes de desaparecer por completo, ainda sinto o efeito daquele olhar sobre o corpo. Algo me diz que não será a última vez que iremos nos ver e isso me assusta.
Enquanto a escuridão me engole, tudo o que consigo pensar é: Quem é ele... e por que meu coração continua implorando para vê-lo novamente ?
.Serena Smith— Serena. Parabéns! — James entra com um sorriso nos lábios, não sei porque isso me deixa intrigada. Eu conheço bem aquele olhar, é o mesmo que Violet faz quando faz alguma merda e quer ajuda. — Diga de uma vez o que quer! — Levanto da cadeira amarrando o laço do meu robe e o encaro. James é um rapaz jovem, acho que deve ter a minha idade, chego a pensar por qual motivo ele trabalha neste lugar, mas chego à conclusão que isso não é da minha conta, se está aqui é porque precisa. Ele se aproxima sentando na minha frente e com os olhos suplicantes diz:— Eu não pediria isso se não fosse urgente. O senhor Giuseppe está resolvendo um assunto e temos um cliente muito importante que deixou claro que deseja um show particular seu, uma dança na sala Vip. Encaro James intensamente. O Giuseppe deixou claro que eu não realizava esse tipo de dança. Umedeço os lábios ouvindo a súplica atentamente, sei exatamente o que acontece na sala Vip e numa dança privada. Cruzo os braços cont
Vittorio Moretti O cômodo estava do jeito que eu me lembrava. O sofá de couro, o lustre moderado, o perfume sutil espalhado pelo ambiente. Tudo estava em perfeita ordem, mas minha mente estava longe da calmaria. Meu corpo pulsava em antecipação. A simples ideia de tê-la tão perto o fazia ferver de desejo.Não demorou até a porta se abrir lentamente.Ela entrou e a visão me deixou sem ar.Fênix usava um traje sensual de bailarina, um corpete justo destacando a cintura fina, meias delicadas que cobriam as coxas torneadas e sandálias douradas que realçaram suas longas pernas. Ela era uma mistura de pureza e pecado.Por incrível que pareça, senti algo que não sentia há muito tempo, nervosismo.Ela se aproximou devagar, como um predador cauteloso. Havia hesitação em seus olhos, mas também algo que me intrigava. Após nos apresentarmos, ela foi direta:— O que posso fazer por você hoje, Vittorio?— Dance para mim.--- Foi a única coisa que me veio à cabeça naquele momento. Minha voz saiu r
Quando James suplicou que eu fosse até a tal sala VIP, não imaginei que poderia perder a minha virgindade. Eu ainda não acredito no que quase aconteceu. Eu ia me entregar a um maldito desconhecido! Foi por muito pouco... Corro até o camarim no final do corredor, visto meu casaco preto junto do capuz felpudo e mal amarro os cadarços do coturno, preciso sair daqui urgentemente. Abro a porta dando de cara com várias pessoas que pouco ligam se estou ali ou não. Aqui é um lugar seguro, sei que estaria tecnicamente protegida, mas estou nessa situação por descuido próprio. — Como você é burra, Serena. – Resmungo comigo mesma. Fui ingênua, estúpida, deixei-me levar por aqueles malditos olhos azuis, quase fiz uma grande besteira. Preciso ir embora e esquecer o que aconteceu aqui, ou pelo menos tentar. Chegando em casa abro a porta e dou graças a Deus por nem meu tio, nem a Violet estarem. Caminho a passos rápidos até o meu quarto e entro no banheiro. Tomo um banho gelado na tentativa de
Dou o recado e fico aguardando. Aquela ruiva é astuciosa, provocante, já chega com sua língua afiada e na minha primeira investida já me empurra dizendo não ser uma prostituta. Se fosse outra, teria cometido um erro com essa ação, mas como é ela, abri uma inusitada exceção, mesmo sem saber porquê. Como eu não presto, começo um jogo de sedução e, felizmente, ela entra no jogo. Seu jeito sexy de dançar me deixa sem saber como reagir. Não hesitei em puxar o seu corpo e beijar os seus lábios tão convidativos. Tinha certeza que aquele beijo seria a minha maldição. Sempre tive regras no sexo, uma delas é:Nada de beijos e nada de toques. Não sei o que aconteceu, mas quando vi aqueles lábios carnudos sendo massacrados por ela… não consegui me conter. Sentir sua língua se enroscando na minha numa dança erótica…aquilo me deixou em êxtase. O gosto doce de seus lábios me deixou inebriadoEla me tocou e eu não senti o que geralmente sinto quando outras mulheres me tocam. Pelo contrário, eu apre
A porta abriu-se abruptamente, como se tivesse sido empurrada por uma rajada de vento gelado, trazendo consigo uma presença que fez o quarto mergulhar em um silêncio sufocante. Serena, envolta no delicado robe de seda que ainda exalava o perfume de Vittorio, ergueu o olhar na expectativa de ver o homem que fazia seu coração disparar, mas não era ele.O desconhecido que ali estava, carregava uma aura de ameaça. Alto, magro, com feições rígidas e olhos que pareciam conter o peso de segredos sombrios, ele entrou sem hesitar, sua postura transbordava autoridade. Serena recuou instintivamente, mas manteve a voz firme, mesmo que um nó de apreensão apertasse sua garganta.— Quem é você para invadir meu quarto? Meu esposo logo estará de volta. — ela disparou, tentando esconder a vulnerabilidade que ameaçava transparecer. A palavra "esposo" saiu de seus lábios como um escudo, uma tentativa desesperada de se proteger. O homem apenas riu. — uma risada seca, carregada de deboche que reverberou
Vittorio MoretiOs primeiros raios de sol mal tocavam o horizonte. O quarto era o reflexo do caos contido na mente de Vittorio Moretti. A fumaça do cigarro se misturava ao cheiro amadeirado do uísque em seu copo, criando uma atmosfera tão densa quanto os pensamentos que o perseguiam. Ele encarava o espelho com intensidade, como se tentasse desvendar os próprios demônios.— Cosa manca alla mia vita ? O que está faltando na minha vida ? — Ele debruça sobre a pia respirando fundo — Non so nemmeno cosa sia...Nem eu mesmo sei o que é isso...Um homem como Vittorio, Don aos dezesseis anos, não deveria se permitir fraquezas. Ele era o poder em sua forma mais crua, um líder temido e respeitado, cuja reputação atravessava oceanos. Seu corpo, coberto por tatuagens e cicatrizes, era o retrato de sua história, vitórias e perdas, tudo marcado na carne. Mas naquele instante, diante de sua própria imagem, uma sombra de dúvidas pairava em seus olhos.O som da porta do quarto se abrindo o trouxe de vo
Serena SmithAlgumas pessoas dizem que a dor nos fortalece. Para mim, ela só me despedaça ainda mais.A chuva não cessa enquanto permaneço ali, parada, diante de duas lápides. O cheiro de terra molhada e flores murchas inunda os meus sentidos, mesmo eu mal conseguindo respirar. Tudo parece surreal, como um pesadelo do qual não consigo acordar. Acabo de enterrar meus pais.A mão firme de meu tio Charles repousa sobre o meu ombro, quente e pesada, como uma âncora. Ele nada diz, não é preciso. Sua presença já carrega o peso da sua dor, mesmo que nenhuma lágrima escorra pelo seu rosto endurecido. Ele é um homem quebrado, assim como eu.Eu ainda não sei como seguir em frente. Espero encontrar um caminho em breve…Seis meses depois— Eu já disse que não tenho como pagar essa merrda! — grito ao celular, minha voz está trêmula de frustração. — Passe minha bolsa para outra pessoa, que inferno!Encerro a ligação, antes que ouça outra negativa da mulher do outro lado da linha. O meu celular voa
O Homem AmaldiçoadoAmar deveria ser um presente divino, mas para mim foi uma maldição.Eu amei uma mulher que jamais poderia ser minha. Durante anos, assisti Brianna viver, florescer e sorrir nos braços de outro homem. E o que fiz? Sorri de volta, mesmo quando cada sorriso seu rasgava o meu peito. Afinal, amar não deveria ser sobre posse, e sim sobre liberdade.De longe, torci para que ela nunca conhecesse a dor, nunca sentisse a crueldade do mundo como eu sentia. Renunciar ao amor que nutria por ela foi a minha penitência e a vida seguiu seu curso. Pelo menos, era isso que eu dizia a mim mesmo. Até agora.Quando as garotas do turno entram no camarim, preparadas para mais uma noite, eu não esperava ver um fantasma do passado atravessar a porta, mas lá estava ela, tão parecida com Brianna que meu coração quase parou. Exceto que esta não é Brianna e sim, Serena.Boate Coliseu - Chicago— Giuseppe. — A voz dela é confiante, embora seus olhos a entreguem. Há algo perturbador e vulnerável