CAPÍTULO V

Vittorio Moretti

A boate pulsava ao som da música ensurdecedora, mas tudo ao meu redor parecia abafado, o ambiente assemelhava-se a uma promessa de pecados. Meus olhos estavam fixos em uma coisa só, ela.

Uma ruiva exótica dominava o palco com uma graça que beirava o sobrenatural. Seus cabelos ondulados caiam como chamas vivas, emoldurando um rosto que parecia uma obra de arte. Seu corpo, vestido em trajes sensuais, movia-se com uma intensidade hipnótica. 

Fênix, minha Fênix. 

Desviei meu olhar novamente para James e disse: 

— Coloque uma coisa na sua cabeça, seu porco imprestável, se Don Vittorio Moretti quer algo, ele tem. Quero uma dança dessa mulher. 

O albino estava paralisado, mesmo assim continuei:

— Vou te dar um conselho, James... faça o que eu mando ou escolha a cor do seu caixão. Estarei na sala privada. — Sorri friamente enquanto ele engolia seco.

Virei as costas, deixando-o preso em seu nervosismo. Caminhei lentamente com passos firmes e controlados. Eu sabia exatamente o efeito que causava nas pessoas, isso sempre me deu prazer.

Enquanto descia os degraus em direção à sala VIP, meu olhar permanecia fixo na ruiva. Fênix continuava dançando, alheia ao caos que provocava. Ela não precisava fazer esforço. 

Seus movimentos eram naturais, sedutores e ela parecia imune aos olhares famintos ao seu redor, dançava de olhos fechados. De repente, ao abri-los, nossos olhares se cruzaram.

Foi como uma faísca. Um instante e nada mais. Mesmo assim, o suficiente para desarmar todas as minhas defesas.

Ela sorriu. Não era um sorriso tímido, nem sedutor. Era natural, porém enigmático, carregado de algo que eu não conseguia decifrar. Meu coração errou o compasso e por um breve momento, senti que não estava no controle. Isso nunca havia acontecido.

Fênix não olhava mais para mim, mas começou a caminhar em direção de onde eu estava. Um passo mais lento que o anterior, como se o tempo houvesse parado. Lá em cima do palco, ela virou-se de costas, abaixou-se lentamente, rebolando até o chão, deixando à mostra o pequeno pedaço de tecido que mal cobria sua intimidade.

Meu corpo reagiu como se estivesse em chamas.

— Eu preciso f0dê-la! — murmurei para mim mesmo, os punhos cerrados em uma tentativa inútil de conter o desejo.

As luzes se apagaram rapidamente e quando voltaram, ela não estava mais no palco. 

— Estarei na sala VIP de costume. — Minha voz foi direta, cortante, enquanto deixava Alonso, Luca e os demais para trás.

Serena Smith

Há cinco dias estou trabalhando na boate como dançarina, tudo ocorre de forma sistemática e simples. Quando chego faço minha produção, seleciono a música que utilizarei na minha performance e informo a equipe da sala de som. Tudo é muito profissional, mesmo sendo um clube noturno, o Coliseu é um dos melhores da Califórnia. 

Antes de trabalhar aqui, tinha uma imagem deturpada sobre o clube e seus frequentadores. Lógico que algumas mulheres, que ali trabalham, aceitam transar com os seus clientes por dinheiro, mas uma boa parte das garotas são como eu, apenas dançam. 

As meninas que fazem “danças privadas e especiais”, recebem uma grana extra enquanto eu e as outras, ganhamos apenas o trivial. O bom é que Giuseppe nos protege dos tarados que tentam nos tocar. Ele está sempre presente na boate, praticamente 24 horas, observando através das câmeras espalhadas por toda a boate, de sua sala super protegida. Ele é um homem surpreendente, trata a todos com respeito!

Depois de começar a trabalhar na boate, recebi um e-mail da Universidade respondendo sobre a minha situação. Parece que, finalmente, as coisas começaram a acontecer de forma positiva para mim. Meu coração quase explodiu de felicidade. 

Já consegui juntar um valor satisfatório. Três mil dólares em quase cinco dias de trabalho, mesmo tendo que pagar 40% para Giuseppe, estou satisfeita com o dinheiro que consegui acumular. Acredito que em mais algumas semanas já terei o necessário para deixar a boate e ir a Madrid. 

Por enquanto, vou ajudando meu tio como posso, treino algumas danças  em casa para não fazer feio e estudo nos tempos livres. 

Estou no meu camarim me preparando para a performance de logo mais. Já não me sinto tão envergonhada com as apresentações que faço. Coloquei na minha cabeça que esse trabalho é temporário e servirá como uma experiência de vida e que, em breve, deixarei para trás. 

Fênix, é a sua vez!

Angel me chama na porta do camarim. Ela é uma das meninas que também faz algumas danças especiais, nunca tive coragem de perguntar o porquê. 

— Obrigada Angel. 

Caminho em direção ao palco e antes de entrar, olhei novamente para o figurino que escolhi para essa noite. Ouço a música que escolhi começar a tocar suavemente, preenchendo todo o ambiente, é a minha vez. 

Fecho os olhos e me entrego ao ritmo, balançando os quadris ao som da melodia, num ritmo lento, hipnotizante, erótico.  Apenas um  feixe de luz suave está sobre mim, proporcionando uma atmosfera sensual. 

Estou usando um conjunto de lingerie sofisticado, feito de renda e cetim, que realça minhas curvas de maneira sedutora. O traje por cima, um vestido preto, contrasta com minha pele pálida, as meias ⅞ apertam as minhas coxas deixando uma imagem erótica. Meus cabelos vermelhos estão soltos e caem como ondas sobre meus ombros, refletindo uma mistura de pureza e pecado.

Com um sorriso confiante,  continuo dançando, movendo meu corpo de forma fluida e sensual. Cada passo que dou é calculado, cada gesto é como uma declaração de poder e feminilidade. Caminho até a beira do palco, olhando diretamente para o público com um olhar provocador, enquanto meus quadris se movem de maneira hipnótica ao ritmo da música.  Algumas notas são jogadas sobre o palco, aquilo me enoja, mas esses trocados são meus, então continuo focada na minha dança. 

“Que mulher é essa?!” 

Suspiro fundo.

Não vou negar que alguns comentários me deixam desconfortável, mas como diz o ditado “quem está na chuva é para se molhar”. Então, vamos logo terminar esse show. 

Utilizo minhas mãos para tocar no meu corpo, bem lentamente. Faço uma pausa, girando lentamente, ficando de costas para o público, deixo o tecido do meu vestido deslizar suavemente sobre minha pele, criando um efeito visual que é ao mesmo tempo delicado e provocante. À medida que a música se intensifica, minha dança se torna mais ousada. Inclino o corpo para trás, arqueando as costas, abro meus olhos e percebo homens se masturbando e me fitando com puro desejo. No meio daquela turba envolta em fumaça e luxúria, meus olhos se prendem a um homem alto de olhar enigmático. Seu olhar azul me percorre a pele como um toque invisível, fazendo cada parte do meu corpo arrepiar. Ele parece um anjo de rosto perfeito, mas o corpo sugere o contrário: pecaminoso e imponente. Ele me encara e caminha lentamente para próximo do palco. Observo seus passos lentos, percebo o quanto é bem-vestido e a forma quase hipnótica com que coloca as mãos nos bolsos, como se já fosse o dono do meu próximo suspiro. É impossível desviar o olhar, estou completamente presa àquela presença.

Mesmo sem conhecê-lo, sinto que ele me lê por dentro, atento aos mínimos movimentos  do meu corpo e isso me excita. Sinto algo diferente, aquele olhar me queimava como brasa. 

Dou passos calculados até ficar bem perto dele, então viro de costas e deslizo até o chão, fazendo questão de que meus quadris fiquem na altura dos seus olhos, oferecendo a visão da minha calcinha. Simplesmente me entrego, como se fizesse uma dança exclusiva para ele. 

Não estou pensando de forma racional, apenas desejo aquele olhar intenso e dominante cravado em mim. Inclino o quadril de maneira provocante e ele permanece firme com sua atenção completamente voltada para a minha intimidade. 

Quando o vejo morder os lábios, sei que alcancei exatamente o que queria. As luzes se apagam transformando o cenário em uma escuridão quase cúmplice e eu entendo que essa é a minha chance de escapar daquele olhar hipnotizante. 

Sigo por uma rota de fuga improvisada, mesmo antes de desaparecer por completo, ainda sinto o efeito daquele olhar sobre o corpo. Algo me diz que não será a última vez que iremos nos ver e isso me assusta. 

Enquanto a escuridão me engole, tudo o que consigo pensar é: Quem é ele... e por que meu coração continua implorando para vê-lo novamente ? 

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