Valéria havia acabado de descobrir a traição. Gustavo, o homem com quem ela planejava seu futuro, estava com outra.
Ela não teve tempo para processar a dor. Não podia chorar, não agora. Lara já a esperava. Elas tinham uma apresentação no The Velvet Room, o pub elegante e sofisticado de Rafael, amigo de Lara. A música, por mais difícil que fosse naquele momento, seria sua única fuga. O silêncio no carro pesava. A imagem de Gustavo com outra mulher não saía de sua cabeça. Mas Valéria sabia que não podia desmoronar agora. Quando chegaram ao The Velvet Room, o ambiente acolhedor a envolveu. As luzes suaves refletiam nas paredes de madeira escura e nos detalhes de couro. Era um lugar elegante, feito para noites especiais. O som abafado das conversas e o tilintar de copos ecoavam pelo ar, criando uma atmosfera refinada. Rafael as esperava logo na entrada, sorrindo. — Vocês chegaram na hora! O palco está pronto — disse ele, cumprimentando-as. Valéria forçou um sorriso. Tudo que queria era desaparecer. Mas a música precisava acontecer. No palco, ela se sentou ao piano. Lara estava ao lado com seu violino. O primeiro acorde ecoou pelo pub. A melodia suave e melancólica preenchia o espaço, mas Valéria não estava ali de verdade. Tocava no automático, sem conexão com as notas que saíam de suas mãos. Felipe, sentado à mesa com Rafael e outros amigos, ergueu os olhos ao ouvir a música. Seu olhar fixou-se em Valéria, mas ele permaneceu em silêncio. Quando a apresentação terminou, o pub foi tomado por aplausos discretos. Valéria e Lara agradeceram rapidamente e desceram do palco. Rafael se aproximou, sempre sorrindo. — Vocês foram incríveis! Venham, quero apresentar vocês aos meus amigos. Valéria hesitou, mas seguiu com Lara. Rafael as levou até uma mesa onde estavam Heitor, Adriano e Felipe. — Valéria, Lara, esses são Heitor, Adriano e Felipe — apresentou Rafael. — A apresentação foi espetacular! — elogiou Heitor. — Realmente impressionante. Há quanto tempo vocês tocam juntas? — perguntou Adriano. - A três anos. - Lara respondeu. Mas Valéria não conseguia se concentrar. Sua mente vagava. Gustavo. A traição. A dor. Felipe observava Valéria em silêncio. Algo na postura dela o intrigava. Ela estava presente fisicamente, mas sua mente estava longe. Valéria tomou um gole de vinho. Depois, outro. Cada gole parecia aliviar momentaneamente a dor, mas não o suficiente. Ela não aguentava mais estar ali. Felipe se levantou. — Vou lá fora fumar um pouco — disse ele, sem muita convicção. Ele não era fumante, mas qualquer desculpa servia para escapar por um momento. Ele saiu pelo corredor que dava acesso ao banheiro, onde havia uma área aberta e reservada para fumantes. A noite estava fresca, e o ar trouxe certo alívio para os pensamentos que giravam em sua mente. Valéria, por sua vez, também se levantou alguns minutos depois. — Com licença — murmurou, sem dar mais explicações. Ela foi ao banheiro, lavou o rosto e se encarou no espelho. Seus olhos estavam cheios de emoções reprimidas. A imagem de Gustavo ainda queimava em sua mente. Respirou fundo, tentando se recompor. Ao sair, cruzou o corredor e se deparou com Felipe, parado na área de fumantes. Ele não fumava, mas estava ali, com as mãos nos bolsos, encarando o céu. — Você está bem? — perguntou ele, a voz baixa e firme, quando notou a presença dela. Valéria o encarou por um segundo. Queria dizer que não, que nada estava bem. Mas as palavras não saíram. Em vez disso, algo mais forte a impulsionou. Sem pensar, ela o beijou. Foi um beijo cheio de emoção — raiva, tristeza e a necessidade de esquecer, mesmo que só por um instante. Felipe, pego de surpresa, hesitou por um segundo, mas logo a puxou para mais perto, retribuindo o beijo. O ar entre eles ficou pesado, carregado de tensão e algo não resolvido. Quando o beijo terminou, Valéria ainda estava próxima a ele. Ela o olhou por um instante, respirando fundo. — Você… — começou ela, hesitante. — Quer sair daqui? Pra um lugar mais reservado? Felipe franziu o cenho levemente, sua expressão mais séria agora. — Você tem certeza disso? — perguntou ele, direto. — Tá com algum problema e quer me usar pra aliviar, é isso? Valéria hesitou. Ela sabia que ele tinha razão, mas não tinha como explicar o que sentia. — Eu só… preciso sair daqui — respondeu, com a voz baixa. Felipe a observou por mais alguns segundos. Ele não parecia convencido, mas também não estava disposto a recuar. — Só espero que você não se arrependa — disse ele, com um leve sorriso, embora seu tom fosse sério. - Não sou bom em consolar. Valéria respirou fundo. — Eu não vou — afirmou, tentando se convencer disso. Felipe deu de ombros, concordando. — Então vamos.Valéria ainda sentia o efeito do vinho e o peso das emoções. Felipe a observava de perto. Ele fez um sinal para que ela o seguisse. Caminharam em silêncio até o carro de Felipe, um veículo elegante e discreto, assim como ele. Felipe abriu a porta para Valéria, que entrou no carro, ainda refletindo sobre o que estava acontecendo. O ar frio da noite clareou sua mente, mas ela sabia que aquilo era uma fuga. Não havia como voltar atrás. Felipe entrou no carro e ligou o motor. O som suave do veículo combinava com a tensão entre eles. Sem falar, ele deu a partida. As ruas passavam rápido, mas o silêncio no carro estava carregado de uma energia latente. Valéria olhava pela janela, tentando focar em outra coisa, mas sua mente sempre voltava para Felipe. A cada segundo, a tensão entre eles crescia. Chegaram ao Grand Hotel. Felipe não seguiu para a entrada principal. Ele entrou no estacionamento subterrâneo. Valéria percebeu que ele já tinha tudo sob controle. Não precisariam pas
Valéria despertou cedo, antes mesmo do sol iluminar completamente o quarto. O corpo seminu ao seu lado era o de Felipe. Ele estava de bruços, com o lençol enrolado nas pernas. A luz suave do amanhecer destacava seus traços. Ela o observou por um momento, admirando a tranquilidade dele. Em seguida, levantou-se silenciosamente. Vestiu-se com cuidado e, antes de sair, lançou um último olhar para ele. A noite havia sido intensa, sem arrependimentos, mas algo dentro dela havia mudado. De volta em casa, Valéria tomou um banho rápido. A água quente ajudava a limpar o corpo e a mente. Ao tomar seu café preto, seus pensamentos voltaram a Gustavo. A lembrança dele ainda a afetava, mas o que aconteceu com Felipe não era uma preocupação. Ela olhou para o relógio. Eram 9 horas. Tinha um ensaio marcado com Gabriel, um de seus alunos, para a apresentação especial de aniversário da avó dele. Sem mais reflexões, decidiu que era hora de ir para o estúdio. No Studio Allegro, Valéria
Valéria chegou à mansão pouco depois do pôr do sol. A entrada iluminada destacava a arquitetura imponente e a sofisticação do lugar. Ao descer do táxi, ela contemplou o jardim exuberante que cercava a mansão, um verdadeiro testemunho do luxo da família. Ao entrar, Valéria foi envolvida pela atmosfera elegante. O salão principal estava decorado com flores frescas, e uma música suave preenchia o ambiente. Ela sentiu um leve nervosismo misturado com a determinação de apoiar Gabriel. Quando Gabriel a avistou, seus olhos brilharam de alegria. Ele correu até Valéria e a envolveu em um abraço caloroso. — Professora Valéria! — exclamou Gabriel, sorridente. — Que bom que você veio! Valéria retribuiu o abraço com um sorriso. — É um prazer estar aqui, Gabriel. Parabéns pelo ensaio. Você fez um trabalho maravilhoso. Gabriel, orgulhoso, a conduziu para conhecer sua família. Ele apresentou Valéria à mãe, Sônia, e à avó, Helena, que celebrava seu aniversário. — Mãe, avó, esta é a profes
Dentro do banheiro, Felipe a encostou contra a parede, seus olhos fixos nos dela, carregados de preocupação e tensão. — Você está bem? — perguntou ele, olhando para o pulso de Valéria, que estava vermelho por causa de Gustavo. Valéria respirou fundo, ainda sentindo o choque de tudo o que estava acontecendo. — Eu... estou bem — respondeu, sua voz trêmula. Felipe a olhou mais profundamente, como se quisesse ter certeza. Seus olhos examinaram o rosto dela, buscando sinais de que algo estava errado. — Quem é ele? — perguntou Felipe, sua voz mais grave, controlando a raiva. Valéria hesitou, o coração acelerado, antes de responder. — É Gustavo... meu ex. Felipe permaneceu em silêncio por um momento. Valéria podia sentir a tensão em seu corpo. Ele não disse nada imediatamente, mas sua expressão ficou ainda mais séria. A proximidade entre os dois no espaço fechado aumentava a intensidade do momento. — Ele te machucou? — perguntou Felipe, aproximando-se um pouco mais, seu olhar fixo no
Valéria apertava o celular entre as mãos, frustrada com a demora do aplicativo de transporte. A cada tentativa frustrada, sua impaciência aumentava. Ela suspirou, passando a mão pelo cabelo. Sentiu o ar frio da noite tocando seu rosto, esfriando suas bochechas. De repente, uma voz familiar interrompeu seus pensamentos. — Está com problemas para conseguir um táxi? — Felipe apareceu ao seu lado, com a expressão calma, mas os olhos curiosos. Ela se virou rapidamente. Vê-lo ali despertava um misto de sensações. — Sim — respondeu, tentando disfarçar o desconforto. — Parece que vai demorar. Felipe olhou para o celular na mão dela e depois para a rua deserta. Ele sorriu, o mesmo sorriso que Valéria conhecia bem demais. — Posso te oferecer uma carona — disse, a voz suave, mas firme. — A essa hora, é complicado conseguir transporte por aqui. Ela hesitou. A lembrança da noite anterior ainda queimava na sua mente. Foi algo casual, sem compromisso. Agora, ali estava ele, oferecendo uma so
O sol já estava forte quando Valéria acordou. Seus olhos abriram lentamente, ajustando-se à luz que entrava pela janela. O quarto era estranho para ela, mas a sensação no corpo era familiar. Cada parte de seu ser ainda lembrava a noite anterior com Felipe, as marcas ainda sensíveis na pele, misturando dor e desejo. Ela se mexeu na cama, tentando se levantar sem fazer barulho, mas Felipe já estava acordado. Ele a observava com uma expressão calma, bem diferente da intensidade da noite anterior. — Desculpa, Valéria — começou ele, a voz rouca. — Eu perdi um pouco o controle ontem. Ela o encarou, surpresa pela sinceridade em seu tom. Felipe não parecia ser do tipo que se desculpava facilmente. — Não foi só você — respondeu ela, com um toque de hesitação. — Eu também... estava lá. Felipe assentiu, o olhar breve e contido. Ele estendeu a mão, tocando suavemente a pele marcada no braço dela. O toque dele, desta vez, era mais leve, quase gentil. — Vamos tomar um banho? — sugeriu ele, com
Felipe estacionou o carro em frente ao prédio de Valéria. O silêncio no carro era confortável, mas carregado com tudo o que havia acontecido nas últimas horas. Valéria olhou para ele, notando o leve cansaço em seu rosto, mas Felipe mantinha o mesmo ar controlado de sempre. — Obrigada pela carona — disse Valéria, soltando o cinto de segurança e prestes a sair. Felipe inclinou a cabeça levemente, os olhos fixos nela. — Até logo, Valéria. Ela assentiu, forçando um pequeno sorriso antes de sair do carro. Enquanto subia as escadas até seu apartamento, seu coração ainda batia rápido. Tentou controlar a agitação. Ao abrir a porta, foi recebida por Lara, que estava no sofá, de pijama, assistindo à TV. Assim que viu Valéria entrar, seus olhos se arregalaram, e ela pausou o que estava vendo. — Finalmente em casa! — exclamou Lara, com um sorriso malicioso. — E então? Onde você passou a noite? Valéria suspirou, sabendo que não escaparia das perguntas. Largou a bolsa no canto e se jog
Felipe e Valéria entraram no apartamento em silêncio. Ele a guiou diretamente até o banheiro, onde a água quente já caía, criando uma atmosfera abafada e confortável. O vapor envolvia os dois, dissipando a tensão acumulada do dia. Felipe entrou na banheira logo depois, acomodando-se ao lado dela. O som da água era a única coisa que preenchia o ambiente. Por um tempo, o silêncio parecia suficiente, até que Felipe quebrou a tranquilidade. — Você tem visto seu ex? — perguntou ele, direto. Valéria foi pega de surpresa. Não esperava ouvir o nome de Gustavo naquele momento. Ainda assim, manteve a calma. — Não. Desde o aniversário sa sua mãe, não o vi mais. Felipe manteve os olhos nela, como se estivesse avaliando cada detalhe de sua resposta. O vapor ao redor deles criava uma sensação de proximidade. — E ainda sente algo por ele? — continuou ele, a voz firme, mas com um toque de curiosidade. Valéria suspirou e inclinou a cabeça para trás, deixando a água escorrer pelo rosto. — Nã