Dentro do banheiro, Felipe a encostou contra a parede, seus olhos fixos nos dela, carregados de preocupação e tensão.
— Você está bem? — perguntou ele, olhando para o pulso de Valéria, que estava vermelho por causa de Gustavo. Valéria respirou fundo, ainda sentindo o choque de tudo o que estava acontecendo. — Eu... estou bem — respondeu, sua voz trêmula. Felipe a olhou mais profundamente, como se quisesse ter certeza. Seus olhos examinaram o rosto dela, buscando sinais de que algo estava errado. — Quem é ele? — perguntou Felipe, sua voz mais grave, controlando a raiva. Valéria hesitou, o coração acelerado, antes de responder. — É Gustavo... meu ex. Felipe permaneceu em silêncio por um momento. Valéria podia sentir a tensão em seu corpo. Ele não disse nada imediatamente, mas sua expressão ficou ainda mais séria. A proximidade entre os dois no espaço fechado aumentava a intensidade do momento. — Ele te machucou? — perguntou Felipe, aproximando-se um pouco mais, seu olhar fixo nos dela. Valéria balançou a cabeça. — Não... ele só... está com raiva. Felipe soltou um suspiro profundo, mas não recuou. Ele continuou encarando Valéria, sua preocupação evidente. — Ele não vai mais te incomodar. — disse Felipe, com firmeza, mas também com um toque de proteção. Valéria sentiu a intensidade nas palavras de Felipe. Por um instante, ambos ficaram em silêncio, o ambiente carregado de emoções não ditas. Felipe continuou perto dela, como se quisesse garantir que nada mais aconteceria. Felipe finalmente soltou o braço de Valéria, mas seu olhar ainda estava fixo nela, como se quisesse ter certeza de que ela estava realmente bem. Ele deu um passo para trás, permitindo que ela respirasse mais livremente. Valéria ajeitou o vestido e passou as mãos pelo cabelo, tentando se recompor. Seu coração ainda estava acelerado, mas sabia que precisava voltar à festa como se nada tivesse acontecido. — Vamos voltar antes que alguém sinta nossa falta — disse Valéria, tentando soar calma, apesar de seu tom ainda mostrar sinais de nervosismo. Felipe a observou por mais alguns segundos antes de acenar com a cabeça. — Tudo bem. Mas se ele tentar alguma coisa de novo, me avise imediatamente — disse Felipe, com a voz firme. Valéria assentiu em silêncio. Sabia que Gustavo não desistiria facilmente, mas ela não queria incomodar Felipe com isso. Eles saíram juntos do banheiro, e a atmosfera da festa os envolveu novamente. O contraste entre o ambiente tenso de poucos minutos atrás e a sofisticação do salão era quase surreal. Os dois caminharam pelo salão em direção aos convidados, mantendo uma distância discreta um do outro. Felipe foi interceptado por um grupo de amigos, e Valéria aproveitou para se afastar, indo até a mesa de aperitivos. Ela pegou uma taça de champanhe e deu um gole pequeno, tentando acalmar os nervos. De longe, seus olhos se encontraram brevemente com os de Felipe. Ele a observava com um olhar atento. Valéria desviou o olhar rapidamente, sem querer chamar mais atenção. Gabriel, que estava conversando com alguns parentes, notou Valéria e se aproximou com um sorriso. — Professora Valéria! Estava te procurando. O que a senhora achou da minha apresentação? — perguntou ele, cheio de energia. Valéria sorriu para ele, fazendo o possível para se recompor e entrar no clima da festa novamente. — Gabriel, você foi maravilhoso. Estou muito orgulhosa de você. Gabriel sorriu ainda mais, satisfeito com o elogio. Valéria respirou fundo e focou na conversa com o aluno, afastando-se das emoções intensas que Gustavo e Felipe haviam provocado. Enquanto a festa continuava ao redor, Valéria não conseguia parar de pensar em tudo o que havia acontecido naquela noite. A tensão ainda estava presente, mas ela tentava manter as aparências. Enquanto apreciava uma pequena refeição e observava os convidados, viu Felipe conversando com Beatriz Bittencourt. Beatriz, com seus cabelos ruivos e olhos verdes penetrantes, estava de braços dados com Felipe, exibindo uma proximidade visível. Valéria reconheceu Beatriz imediatamente. Sabia de sua reputação e posição proeminente na sociedade. A visão de Felipe e Beatriz juntos a deixou desconfortável. Ela tentou se concentrar em outras conversas, mas a cena persistia em seus pensamentos. Quando a festa começou a se encerrar, Valéria se despediu de Gabriel e de Sônia, agradecendo pela maravilhosa noite. Ela queria evitar Felipe, então foi direto para a saída. Ao sair da mansão, Valéria tentou chamar um táxi, mas encontrou dificuldades. O aplicativo de transporte mostrava longos tempos de espera, e ela se frustrou ao não conseguir encontrar um meio de transporte rapidamente. Ela tentou várias abordagens, mas sem sucesso. A situação estava se tornando cada vez mais desconfortável. Nesse momento, Felipe, que estava passando perto da entrada da mansão, a viu tentando resolver a situação.Valéria apertava o celular entre as mãos, frustrada com a demora do aplicativo de transporte. A cada tentativa frustrada, sua impaciência aumentava. Ela suspirou, passando a mão pelo cabelo. Sentiu o ar frio da noite tocando seu rosto, esfriando suas bochechas. De repente, uma voz familiar interrompeu seus pensamentos. — Está com problemas para conseguir um táxi? — Felipe apareceu ao seu lado, com a expressão calma, mas os olhos curiosos. Ela se virou rapidamente. Vê-lo ali despertava um misto de sensações. — Sim — respondeu, tentando disfarçar o desconforto. — Parece que vai demorar. Felipe olhou para o celular na mão dela e depois para a rua deserta. Ele sorriu, o mesmo sorriso que Valéria conhecia bem demais. — Posso te oferecer uma carona — disse, a voz suave, mas firme. — A essa hora, é complicado conseguir transporte por aqui. Ela hesitou. A lembrança da noite anterior ainda queimava na sua mente. Foi algo casual, sem compromisso. Agora, ali estava ele, oferecendo uma so
O sol já estava forte quando Valéria acordou. Seus olhos abriram lentamente, ajustando-se à luz que entrava pela janela. O quarto era estranho para ela, mas a sensação no corpo era familiar. Cada parte de seu ser ainda lembrava a noite anterior com Felipe, as marcas ainda sensíveis na pele, misturando dor e desejo. Ela se mexeu na cama, tentando se levantar sem fazer barulho, mas Felipe já estava acordado. Ele a observava com uma expressão calma, bem diferente da intensidade da noite anterior. — Desculpa, Valéria — começou ele, a voz rouca. — Eu perdi um pouco o controle ontem. Ela o encarou, surpresa pela sinceridade em seu tom. Felipe não parecia ser do tipo que se desculpava facilmente. — Não foi só você — respondeu ela, com um toque de hesitação. — Eu também... estava lá. Felipe assentiu, o olhar breve e contido. Ele estendeu a mão, tocando suavemente a pele marcada no braço dela. O toque dele, desta vez, era mais leve, quase gentil. — Vamos tomar um banho? — sugeriu ele, com
Felipe estacionou o carro em frente ao prédio de Valéria. O silêncio no carro era confortável, mas carregado com tudo o que havia acontecido nas últimas horas. Valéria olhou para ele, notando o leve cansaço em seu rosto, mas Felipe mantinha o mesmo ar controlado de sempre. — Obrigada pela carona — disse Valéria, soltando o cinto de segurança e prestes a sair. Felipe inclinou a cabeça levemente, os olhos fixos nela. — Até logo, Valéria. Ela assentiu, forçando um pequeno sorriso antes de sair do carro. Enquanto subia as escadas até seu apartamento, seu coração ainda batia rápido. Tentou controlar a agitação. Ao abrir a porta, foi recebida por Lara, que estava no sofá, de pijama, assistindo à TV. Assim que viu Valéria entrar, seus olhos se arregalaram, e ela pausou o que estava vendo. — Finalmente em casa! — exclamou Lara, com um sorriso malicioso. — E então? Onde você passou a noite? Valéria suspirou, sabendo que não escaparia das perguntas. Largou a bolsa no canto e se jog
Felipe e Valéria entraram no apartamento em silêncio. Ele a guiou diretamente até o banheiro, onde a água quente já caía, criando uma atmosfera abafada e confortável. O vapor envolvia os dois, dissipando a tensão acumulada do dia. Felipe entrou na banheira logo depois, acomodando-se ao lado dela. O som da água era a única coisa que preenchia o ambiente. Por um tempo, o silêncio parecia suficiente, até que Felipe quebrou a tranquilidade. — Você tem visto seu ex? — perguntou ele, direto. Valéria foi pega de surpresa. Não esperava ouvir o nome de Gustavo naquele momento. Ainda assim, manteve a calma. — Não. Desde o aniversário sa sua mãe, não o vi mais. Felipe manteve os olhos nela, como se estivesse avaliando cada detalhe de sua resposta. O vapor ao redor deles criava uma sensação de proximidade. — E ainda sente algo por ele? — continuou ele, a voz firme, mas com um toque de curiosidade. Valéria suspirou e inclinou a cabeça para trás, deixando a água escorrer pelo rosto. — Nã
O dia de Valéria começou como sempre. O estúdio cheio, as aulas fluindo. Ela se perdeu no piano, buscando a paz que a música trazia. No meio do dia, seu celular vibrou. Era uma mensagem de seu pai, Roberto. — "Filha, que tal jantarmos juntos hoje? Faz tempo que não passamos um tempo só nós dois." Valéria sorriu. Desde que sua mãe morreu, Roberto era seu porto seguro. Eles sempre foram próximos, mas os momentos juntos haviam se tornado raros. — "Claro, pai. Me avisa onde e a que horas." O resto do dia passou rápido. Quando as aulas terminaram, ela fechou o estúdio e foi encontrar o pai no restaurante. A conversa foi leve, cheia de memórias antigas e risos. Valéria se sentiu mais leve, como sempre acontecia com Roberto. Depois do jantar, decidiram passear pelo shopping. Eles faziam isso desde que ela era pequena. Ao passarem por um quiosque de sorvetes, Roberto sorriu. — Morango com calda de chocolate era o favorito da sua mãe — comentou ele, com uma voz suave e nostálgica. Val
Valéria entrou no estúdio cedo naquela manhã, acompanhada por Lara. O dia parecia tranquilo, mas sua mente estava longe. As questões administrativas que precisavam ser resolvidas eram uma distração para ocupar seu tempo, mas não sua atenção. Enquanto Valéria organizava papéis e conferia planilhas, seus pensamentos voltavam à noite anterior. O encontro inesperado com Felipe e Beatriz ainda pesava em sua mente. O silêncio de Felipe, tão incomum nele, ecoava como uma sombra, gerando uma inquietação que ela não conseguia afastar. Lara, passando pela sala de vidro, notou a expressão distante de Valéria. Ela entrou e a observou por um instante. — Valéria, você está bem? — perguntou Lara, com um tom suave, quebrando o silêncio. — Sim, estou — respondeu Valéria, forçando um sorriso. — Só tenho muito para resolver hoje. Lara assentiu, sem insistir. Ela se afastou, mas não tirou os olhos da amiga. Valéria tentou focar no trabalho. Mesmo assim, terminou as pendências mais cedo do que es
Valéria sabia, no fundo, que aquele era o momento certo para acabar com tudo. As palavras estavam na ponta de sua língua. Ela podia sentir a pressão em seu peito, como se uma parte dela gritasse para terminar aquilo de uma vez. Mas, ao olhar para Felipe, ela não conseguia pronunciar as palavras. O silêncio entre eles era quase sufocante, e ainda assim, ela não conseguia rompê-lo. Felipe, de pé à sua frente, parecia não perceber a batalha interna que se desenrolava dentro dela. Ou talvez soubesse, mas escolhesse não falar. Seus olhos permaneciam fixos nela, firmes, como sempre. O controle dele estava lá, intacto. E, por mais que quisesse se libertar, uma parte de Valéria ainda se prendia àquele controle. Ela desviou o olhar para a calçada. O ar frio da noite não conseguia acalmar sua mente agitada. — Valéria... — a voz de Felipe soou baixa, porém firme, chamando sua atenção de volta para ele. Ela levantou o olhar lentamente, tentando esconder a confusão que a dominava.
Valéria entrou no estúdio acompanhada por Lara. O dia parecia tranquilo, mas sua mente estava em outro lugar. As questões administrativas a ocupavam, mas não conseguiam afastar as preocupações que rondavam seus pensamentos. Mais tarde, Ana apareceu à porta da sala de Valéria. — Valéria, tem uma correspondência importante para você — disse Ana, entregando o envelope. Valéria o abriu rapidamente, os olhos correndo pelas palavras. Sua expressão mudou à medida que a tensão crescia. — O prédio foi vendido — disse Valéria em voz alta. Lara, que passava pela sala, parou imediatamente. — Vendido? — repetiu, surpresa. — Como assim? Quem comprou? Valéria respirou fundo, tentando processar a informação. — Um tal de Marcelo Ferreira. Ele quer uma reunião para discutir novos termos do contrato de aluguel. Isso não soa nada bom. Lara franziu o cenho. — Marcelo Ferreira? Nunca ouvi falar. — Nem eu — Valéria respondeu, sentindo a ansiedade aumentar. — Mas se ele quiser um aumento no aluguel