O sol já estava forte quando Valéria acordou. Seus olhos abriram lentamente, ajustando-se à luz que entrava pela janela. O quarto era estranho para ela, mas a sensação no corpo era familiar. Cada parte de seu ser ainda lembrava a noite anterior com Felipe, as marcas ainda sensíveis na pele, misturando dor e desejo.
Ela se mexeu na cama, tentando se levantar sem fazer barulho, mas Felipe já estava acordado. Ele a observava com uma expressão calma, bem diferente da intensidade da noite anterior. — Desculpa, Valéria — começou ele, a voz rouca. — Eu perdi um pouco o controle ontem. Ela o encarou, surpresa pela sinceridade em seu tom. Felipe não parecia ser do tipo que se desculpava facilmente. — Não foi só você — respondeu ela, com um toque de hesitação. — Eu também... estava lá. Felipe assentiu, o olhar breve e contido. Ele estendeu a mão, tocando suavemente a pele marcada no braço dela. O toque dele, desta vez, era mais leve, quase gentil. — Vamos tomar um banho? — sugeriu ele, com um tom mais suave, quase casual, como se tentasse criar uma pausa na intensidade que ainda pairava no ar. Valéria aceitou, e o banho foi rápido, mas reconfortante. A água quente parecia lavar a tensão que havia se acumulado em seus músculos, mas não conseguia dissipar completamente a confusão em sua mente. Quando saíram, Felipe a guiou até a sala, onde uma mesa já estava posta com um café da manhã preparado. Tudo parecia cuidadosamente organizado. — Pedi que trouxessem algo — disse Felipe, enquanto puxava uma cadeira para Valéria. — Achei que seria melhor conversarmos com mais calma. Ela se sentou, ainda perdida em seus pensamentos. A mesa estava repleta de frutas frescas, pães e uma jarra de suco. O cheiro do café recém-preparado preenchia o ambiente, mas Valéria mal o notava. Seus olhos vagavam pela mesa, mas sua mente estava presa nas dúvidas que rondavam sua cabeça. Entre mordidas discretas e goles de suco, Valéria lançava olhares furtivos a Felipe. Ele parecia tão controlado, cada movimento calculado. Será que ele sempre tinha tudo tão bem planejado? Isso a fazia se sentir ainda mais descompassada, como se estivesse fora de sintonia com o ambiente ao redor. Após alguns minutos de silêncio, Felipe finalmente quebrou o clima. — Sobre ontem... — começou ele, enquanto mexia no café. A colher girava devagar na xícara, e seu tom de voz era sereno. — Não foi um erro, mas acho que precisamos conversar sobre o que isso significa. Valéria sentiu o coração acelerar, embora seu rosto não demonstrasse. Ela sabia que essa conversa viria. Não podia escapar. — O que você quer dizer com isso, exatamente? — perguntou ela, com cautela. Felipe inclinou-se levemente para frente, os olhos dela presos aos dele. O controle em seu olhar permanecia, mas havia algo ligeiramente mais intenso, como se ele também estivesse medindo suas palavras com cuidado. — Quero que o que aconteceu entre nós seja só isso — explicou ele, de forma direta. — Nada além. Não estou buscando compromisso, sentimentos ou qualquer envolvimento emocional. Apenas... esses momentos. Valéria ficou em silêncio, digerindo suas palavras. Não havia meias-verdades ali. Felipe estava sendo honesto, direto. Ele queria manter o que tinham, mas nada além de encontros casuais. Isso parecia simples, racional, mas o desconforto ainda a rodeava. Por quê? — Não quero complicar as coisas — continuou ele, a voz firme. — Não estou pedindo um relacionamento. Acho que podemos ser claros e honestos um com o outro. Precisamos de um acordo. Algo que funcione, sem pressão. Valéria considerou o que ele dizia. Um acordo. Em sua mente, a palavra ecoava, fria, prática. Ele queria controlar o que acontecia entre eles, manter as emoções à distância. E ela? Será que era isso que também desejava? A maneira controlada como ele falava a incomodava, mas, paradoxalmente, também a atraía. — Sem compromisso? — repetiu ela, quase testando a ideia em voz alta. Felipe sorriu, mas o sorriso era contido, calmo, como se já soubesse a resposta antes de ouvir a pergunta. — Exato. Sem compromissos. Esse lugar — ele gesticulou para o apartamento ao redor — é nosso. Podemos estar juntos aqui, sem que isso interfira nas nossas vidas lá fora. Valéria olhou ao redor. Havia algo curioso naquele espaço. Parecia preparado com cuidado, mas de forma impessoal, como se ele tivesse pensado em tudo para evitar qualquer tipo de envolvimento emocional. A ideia de um local reservado a fazia se sentir protegida das complicações, mas, ao mesmo tempo, um desconforto profundo crescia em seu peito. — Sem complicações, sem compromisso — repetiu ela, tentando internalizar se isso era o que também queria. Felipe assentiu. Ele parecia satisfeito com o rumo da conversa. — Apenas esses momentos. Nada além. Quero que fique claro entre nós dois, para evitar qualquer confusão mais adiante. Ela respirou fundo, os pensamentos embaralhados. Havia algo reconfortante em não se envolver emocionalmente, em manter as coisas simples e descomplicadas. Mas, no fundo, uma parte dela hesitava. E se algo desse errado? E se os sentimentos surgissem, e ela não pudesse mais manter o controle? — E se eu não quiser mais? Ou, com o tempo, se eu não me sentir mais confortável com isso? — perguntou, cautelosa, tentando prever o que poderia acontecer. Felipe a observou por um instante, seu olhar medindo cada palavra dela antes de responder. — Eu quero muito que você aceite — disse ele, sua voz baixa, mas firme. — Mas, se você não estiver confortável, paramos. Ou, se em algum momento isso mudar, nós paramos. Sem ressentimentos. Ela respirou fundo, sentindo o peso de suas palavras e da decisão à sua frente. Um acordo significava seguir em frente sem envolvê-los emocionalmente. Isso a protegeria... ou pelo menos deveria. — Tudo bem, Felipe. Vamos tentar... — disse ela, a voz calma, mas seu interior um verdadeiro turbilhão. Ele assentiu, satisfeito, mas os olhos de Valéria ainda carregavam dúvidas. O acordo estava feito, mas ela sabia que aquilo era apenas o começo.Felipe estacionou o carro em frente ao prédio de Valéria. O silêncio no carro era confortável, mas carregado com tudo o que havia acontecido nas últimas horas. Valéria olhou para ele, notando o leve cansaço em seu rosto, mas Felipe mantinha o mesmo ar controlado de sempre. — Obrigada pela carona — disse Valéria, soltando o cinto de segurança e prestes a sair. Felipe inclinou a cabeça levemente, os olhos fixos nela. — Até logo, Valéria. Ela assentiu, forçando um pequeno sorriso antes de sair do carro. Enquanto subia as escadas até seu apartamento, seu coração ainda batia rápido. Tentou controlar a agitação. Ao abrir a porta, foi recebida por Lara, que estava no sofá, de pijama, assistindo à TV. Assim que viu Valéria entrar, seus olhos se arregalaram, e ela pausou o que estava vendo. — Finalmente em casa! — exclamou Lara, com um sorriso malicioso. — E então? Onde você passou a noite? Valéria suspirou, sabendo que não escaparia das perguntas. Largou a bolsa no canto e se jog
Felipe e Valéria entraram no apartamento em silêncio. Ele a guiou diretamente até o banheiro, onde a água quente já caía, criando uma atmosfera abafada e confortável. O vapor envolvia os dois, dissipando a tensão acumulada do dia. Felipe entrou na banheira logo depois, acomodando-se ao lado dela. O som da água era a única coisa que preenchia o ambiente. Por um tempo, o silêncio parecia suficiente, até que Felipe quebrou a tranquilidade. — Você tem visto seu ex? — perguntou ele, direto. Valéria foi pega de surpresa. Não esperava ouvir o nome de Gustavo naquele momento. Ainda assim, manteve a calma. — Não. Desde o aniversário sa sua mãe, não o vi mais. Felipe manteve os olhos nela, como se estivesse avaliando cada detalhe de sua resposta. O vapor ao redor deles criava uma sensação de proximidade. — E ainda sente algo por ele? — continuou ele, a voz firme, mas com um toque de curiosidade. Valéria suspirou e inclinou a cabeça para trás, deixando a água escorrer pelo rosto. — Nã
O dia de Valéria começou como sempre. O estúdio cheio, as aulas fluindo. Ela se perdeu no piano, buscando a paz que a música trazia. No meio do dia, seu celular vibrou. Era uma mensagem de seu pai, Roberto. — "Filha, que tal jantarmos juntos hoje? Faz tempo que não passamos um tempo só nós dois." Valéria sorriu. Desde que sua mãe morreu, Roberto era seu porto seguro. Eles sempre foram próximos, mas os momentos juntos haviam se tornado raros. — "Claro, pai. Me avisa onde e a que horas." O resto do dia passou rápido. Quando as aulas terminaram, ela fechou o estúdio e foi encontrar o pai no restaurante. A conversa foi leve, cheia de memórias antigas e risos. Valéria se sentiu mais leve, como sempre acontecia com Roberto. Depois do jantar, decidiram passear pelo shopping. Eles faziam isso desde que ela era pequena. Ao passarem por um quiosque de sorvetes, Roberto sorriu. — Morango com calda de chocolate era o favorito da sua mãe — comentou ele, com uma voz suave e nostálgica. Val
Valéria entrou no estúdio cedo naquela manhã, acompanhada por Lara. O dia parecia tranquilo, mas sua mente estava longe. As questões administrativas que precisavam ser resolvidas eram uma distração para ocupar seu tempo, mas não sua atenção. Enquanto Valéria organizava papéis e conferia planilhas, seus pensamentos voltavam à noite anterior. O encontro inesperado com Felipe e Beatriz ainda pesava em sua mente. O silêncio de Felipe, tão incomum nele, ecoava como uma sombra, gerando uma inquietação que ela não conseguia afastar. Lara, passando pela sala de vidro, notou a expressão distante de Valéria. Ela entrou e a observou por um instante. — Valéria, você está bem? — perguntou Lara, com um tom suave, quebrando o silêncio. — Sim, estou — respondeu Valéria, forçando um sorriso. — Só tenho muito para resolver hoje. Lara assentiu, sem insistir. Ela se afastou, mas não tirou os olhos da amiga. Valéria tentou focar no trabalho. Mesmo assim, terminou as pendências mais cedo do que es
Valéria sabia, no fundo, que aquele era o momento certo para acabar com tudo. As palavras estavam na ponta de sua língua. Ela podia sentir a pressão em seu peito, como se uma parte dela gritasse para terminar aquilo de uma vez. Mas, ao olhar para Felipe, ela não conseguia pronunciar as palavras. O silêncio entre eles era quase sufocante, e ainda assim, ela não conseguia rompê-lo. Felipe, de pé à sua frente, parecia não perceber a batalha interna que se desenrolava dentro dela. Ou talvez soubesse, mas escolhesse não falar. Seus olhos permaneciam fixos nela, firmes, como sempre. O controle dele estava lá, intacto. E, por mais que quisesse se libertar, uma parte de Valéria ainda se prendia àquele controle. Ela desviou o olhar para a calçada. O ar frio da noite não conseguia acalmar sua mente agitada. — Valéria... — a voz de Felipe soou baixa, porém firme, chamando sua atenção de volta para ele. Ela levantou o olhar lentamente, tentando esconder a confusão que a dominava.
Valéria entrou no estúdio acompanhada por Lara. O dia parecia tranquilo, mas sua mente estava em outro lugar. As questões administrativas a ocupavam, mas não conseguiam afastar as preocupações que rondavam seus pensamentos. Mais tarde, Ana apareceu à porta da sala de Valéria. — Valéria, tem uma correspondência importante para você — disse Ana, entregando o envelope. Valéria o abriu rapidamente, os olhos correndo pelas palavras. Sua expressão mudou à medida que a tensão crescia. — O prédio foi vendido — disse Valéria em voz alta. Lara, que passava pela sala, parou imediatamente. — Vendido? — repetiu, surpresa. — Como assim? Quem comprou? Valéria respirou fundo, tentando processar a informação. — Um tal de Marcelo Ferreira. Ele quer uma reunião para discutir novos termos do contrato de aluguel. Isso não soa nada bom. Lara franziu o cenho. — Marcelo Ferreira? Nunca ouvi falar. — Nem eu — Valéria respondeu, sentindo a ansiedade aumentar. — Mas se ele quiser um aumento no aluguel
Valéria e Felipe se aproximaram lentamente, o toque entre eles crescendo em intensidade. As mãos de Felipe deslizaram suavemente pelo corpo dela, provocando arrepios que faziam sua pele se arrepiar. A respiração de Valéria acelerava, e ela sentia o calor do corpo dele se intensificar a cada segundo. Ela fechou os olhos, tentando se concentrar no momento presente, deixando todos os pensamentos sobre o estúdio e os problemas de lado. O toque de Felipe, que antes era cuidadoso, agora transmitia urgência. O desejo entre eles era palpável, como uma onda que os envolvia, tornando difícil pensar em qualquer outra coisa. — Você sabe o que faz comigo, não sabe? — sussurrou Felipe, sua voz baixa e rouca, enquanto seus lábios traçavam um caminho pelo pescoço de Valéria. Ela sentiu o calor da respiração dele contra a pele e suspirou, o corpo respondendo ao toque firme e cuidadoso dele. Cada beijo que Felipe deixava em sua pele parecia acender uma nova chama de desejo. — E você? — Valér
Valéria chegou cedo ao estúdio, o céu nublado refletindo o peso que sentia. A reunião com o novo proprietário do prédio era uma sombra em seus pensamentos. Assim que entrou, encontrou Lara concentrada em alguns papéis. — Bom dia — disse Valéria, tentando soar mais tranquila do que realmente estava. — Bom dia — respondeu Lara, sem desviar os olhos do que lia. — Está pronta para a reunião? Valéria assentiu, mas o nervosismo a acompanhava. A venda do prédio ameaçava a estabilidade do estúdio, algo que as duas haviam construído com muito esforço. E agora, o futuro do lugar dependia da renegociação do aluguel. — Tenho a sensação de que ele não vai facilitar — murmurou Valéria. Lara soltou um suspiro, finalmente levantando os olhos para a amiga. — É, também acho. Esses caras só pensam em dinheiro. Poucos minutos depois, Ana apareceu na porta. — Valéria, o novo proprietário está aqui para a reunião. Valéria respirou fundo e trocou um olhar com Lara, que deu um aceno de incentivo. —