Valéria saiu do restaurante pisando firme. Cada passo parecia uma tentativa de deixar a raiva para trás, mas o ódio crescia dentro dela. Gustavo tinha cruzado a linha. Depois de tudo o que ele fez, depois de traí-la, ainda ousava chantageá-la, tentando usar o estúdio como moeda de troca para reconquistá-la. O sangue pulsava em suas têmporas. Ela respirou fundo, tentando controlar o desejo de gritar. Andou pelas ruas sem rumo, buscando clareza em meio à confusão. O estúdio não era só dela, também afetava Lara. Isso corroía Valéria. Não poderia falhar com sua melhor amiga. Sentindo o peso de tudo, encontrou um banco na praça e se sentou. Esfregou as mãos no rosto, buscando um plano. Gustavo não sairia ganhando. Seu telefone tocou. Olhou para a tela: Felipe. Respirou fundo e atendeu. — Oi, tudo bem? — Ela tentou soar calma, mas seu estado de espírito estava longe disso. — Onde você está? — A voz de Felipe era calma, prática, sem traços de emoção. Ele sabia que ela estava com Gus
Valéria ainda estava no sofá, tentando se distrair com a TV, quando o telefone tocou novamente. Desta vez, o nome que apareceu na tela a deixou inquieta: sua madrasta. Valéria hesitou por um segundo antes de atender. Elas mantinham pouco contato, o que tornava a ligação ainda mais estranha. — Alô? — disse Valéria, tentando soar curiosa, mas já sentindo a tensão crescer. Do outro lado da linha, a voz de Melina estava trêmula e desesperada. — Valéria! Eu... eu não sei o que fazer. Seu pai... Ele foi preso! — A voz falhava entre soluços. Valéria sentiu o corpo congelar. — O quê?! Como assim preso? — Sua voz saiu em um tom de incredulidade. — O que aconteceu? — A empresa dele foi acusada de fraude fiscal... os policiais vieram e o levaram... eu... — Melina continuava falando, mas Valéria mal conseguia ouvir. O coração disparado e o zumbido em seus ouvidos abafavam as palavras. — Em qual delegacia ele está? — perguntou, interrompendo o fluxo de palavras confusas da madrasta. — Na
Valéria desligou o telefone com as mãos trêmulas. As palavras de Gustavo ecoavam em sua mente, ameaçando desmoronar tudo o que ela havia construído. Se fosse apenas o estúdio, talvez pudesse resistir, mas agora seu pai estava envolvido. Isso mudava tudo. Sentada na beira da cama, encarava o vazio. Pedir ajuda a Felipe não era uma opção. Desde o início, a relação entre eles fora clara: casual, sem amarras ou envolvimento emocional. Felipe não estava ali para resgatá-la, e Valéria não queria se expor dessa forma. Ela estava sozinha. O estúdio já estava por um fio, e agora seu pai estava preso, acusado de um crime que ela mal conseguia compreender. Sem os recursos ou contatos certos, sentia-se incapaz de lidar com uma crise tão grande. A cada minuto, o peso da situação sufocava mais. Gustavo havia planejado tudo. Sempre manipulador, ele usava a situação para forçá-la a voltar. Ceder a Gustavo parecia uma traição a si mesma, mas não via outra saída. Ela encarou o nome dele no t
Valéria acordou cedo, o coração pesado com a ausência de Felipe. A noite anterior tinha sido turbulenta, e ao olhar para o lado da cama vazio, sentiu um aperto no peito que não conseguia explicar. A sensação de perda era estranha, como se algo fundamental estivesse faltando. Quando chegou ao estúdio, tentou se focar no trabalho para afastar os pensamentos que insistiam em voltar. A rotina era seu refúgio, mas sua mente continuava vagando, sempre retornando para o que havia acontecido. Durante a tarde, enquanto revisava uma peça, recebeu uma mensagem no celular. Era de Melina. Com as mãos ligeiramente trêmulas, ela abriu a mensagem. "Valéria, seu pai está sendo liberado agora. Ele vai para casa. Por favor, passe aqui quando puder." Um alívio misturado com ansiedade invadiu Valéria. Seu pai finalmente estava indo para casa. Respondeu rapidamente, prometendo passar depois do trabalho. Saber que ele estaria em casa em breve trouxe uma sensação de paz, ainda que breve. Pouco d
Valéria desceu as escadas e foi ao encontro de Gustavo. Ele a observou por um instante, com um olhar satisfeito e quase possessivo. — Você está incrivelmente linda, Valéria — disse ele, com um sorriso confiante. Ela acenou com a cabeça, agradecendo em silêncio, e o seguiu até o carro. Gustavo, como sempre, abriu a porta para ela com um gesto galante. Valéria entrou, tentando disfarçar a ansiedade crescente que sentia. O trajeto até o local do jantar foi silencioso. Gustavo, confortável com o silêncio, parecia à vontade, enquanto Valéria observava a cidade pela janela, com a mente distante. Quando chegaram, ela ficou impressionada com o local: um salão imenso e sofisticado, com lustres elegantes e uma atmosfera requintada. Ele ofereceu o braço, e juntos entraram no salão. Gustavo a conduziu até uma mesa onde seus pais já estavam sentados, conversando animadamente com os outros convidados. — Valéria, meus pais estavam ansiosos para te ver — Gustavo disse, com um sorriso largo. Os
Valéria voltou ao salão ao lado de Gustavo, que colocou o braço em volta da cintura dela de maneira possessiva. O toque firme chamou a atenção de Felipe, que imediatamente observou a interação entre eles, sem deixar transparecer nenhuma emoção. Ele sabia que não era o momento para agir, e seu olhar permaneceu calculado. Sua expressão não mudou, mesmo enquanto analisava os gestos de Gustavo. Ele registrou cada detalhe com precisão, mantendo o controle absoluto sobre si. A raiva silenciosa estava ali, mas bem contida, aguardando o momento certo para agir. Dona Helena, alheia à tensão no ar, sorriu ao ver Valéria. — Valéria, querida! — disse ela, abrindo os braços para um rápido abraço. — Que bom te ver aqui! Valéria sorriu de volta, embora sua mente estivesse distante. — Vocês formam um casal encantador — comentou Beatriz, com um leve sorriso irônico. — Gustavo, você tem sorte de estar com uma mulher tão especial como Valéria. O comentário pairou no ar por alguns i
Era o fim de um longo dia. Felipe havia passado as últimas horas processando as informações que Miguel havia descoberto. Agora, com tudo claro, ele sabia que precisava falar com Valéria para resolver a situação. Não era uma questão emocional; era algo que simplesmente precisava ser feito. Ao estacionar o carro em frente ao estúdio de música, Felipe ficou por alguns minutos em silêncio, observando o movimento ao redor. Pegou o celular e, sem hesitar, enviou uma mensagem. “Estou em frente ao seu estúdio. Podemos conversar?” Alguns minutos depois, a porta do estúdio se abriu, e Valéria saiu. Ela procurou por ele, e logo o avistou encostado no carro, braços cruzados, com uma postura firme e distante. Seus olhos estavam fixos nela, mas havia uma ausência completa de calor em sua expressão. Valéria se aproximou, sentindo a tensão no ar. — O que você está fazendo aqui, Felipe? — perguntou ela, com um tom de surpresa. — Precisamos conversar — respondeu ele, a voz sem emoção. — Va
Felipe se afastou de Valéria após o confronto no sofá, cruzando a sala com passos firmes e decididos. Sua mente ainda estava processando a informação de que Valéria havia cedido à manipulação de Gustavo em vez de ter recorrido a ele. Isso mexia com algo mais profundo, mas ele não deixaria que isso transparecesse. — Vou pedir comida — disse ele, de costas para Valéria, pegando o celular e deslizando os dedos pela tela sem sequer olhá-la. Valéria permaneceu em silêncio, ainda digerindo a frieza das palavras de Felipe. Ela sabia que ele estava desapontado, mas Felipe era imprevisível quando se tratava de demonstrar suas emoções. E naquele momento, tudo o que ele exalava era controle. Frio e impenetrável. — Tem algo que você queira? — perguntou Felipe, sem sequer levantar os olhos do celular. — Não... qualquer coisa está bom para mim — respondeu Valéria, sua voz baixa, tentando manter a calma apesar da tensão crescente entre eles. Felipe fez o pedido com eficiência, e em seguida,