As luzes do palco brilhavam intensamente, refletindo nos detalhes do piano de cauda que parecia um trono no centro do grande salão. Valéria sentou-se pela última vez naquela turnê, em um teatro lotado na cidade de Milão. O som das palmas iniciais foi abafado pela respiração profunda que ela tomou antes de começar a tocar. Este era o momento final da jornada que a trouxera por diversas cidades, cada uma marcando uma etapa de sua redescoberta. A música fluía de seus dedos como uma despedida, carregada de emoções que ela guardava desde o início da turnê. Quando a última nota se dissipou no ar, a plateia explodiu em aplausos, mas Valéria só conseguia pensar no próximo passo: Viena. Dois dias depois, Valéria embarcou em um trem para Viena. A paisagem que deslizava pela janela era uma mistura de campos verdes e montanhas distantes, quase cinematográfica. Nicolas estava sentado à sua frente, revisando papéis sobre o concerto beneficente que aconteceria dali a poucos dias. — Nervosa para
Valéria parou abruptamente, o mundo parecendo girar ao redor dela. Os olhos de Felipe encontraram os dela, e por um instante, tudo ao redor ficou em segundo plano.— Valéria... — Disse Felipe, com um tom baixo e carregado de significado.Sofia olhou de um para o outro, a confusão evidente em sua expressão.— Espera, vocês já se conhecem? — Perguntou, sua voz cheia de surpresa.Valéria abriu a boca para responder, mas Felipe foi mais rápido.— Sim, nós... nos conhecemos há algum tempo. — Disse ele, tentando manter a calma, mas os olhos nunca deixando os de Valéria.— Ah! Que coincidência maravilhosa! — Disse Sofia, sem perceber a tensão no ar. — Então isso torna tudo ainda mais especial.Valéria desviou o olhar para Sofia, forçando um sorriso.— Coincidência mesmo. — Disse, com a voz controlada.Sofia parecia prestes a fazer mais perguntas, mas algo na postura de Felipe a fez hesitar. Em vez disso, ela sorriu, aparentemente alheia à profundidade do momento.— Bem, Valéria, tenho que ad
O teatro explodiu em aplausos enquanto a última nota ainda ecoava no ar. Valéria e Sofia se levantaram, reverenciando o público que agora estava de pé. O sorriso profissional de Valéria escondia o turbilhão de emoções que fervilhavam em seu interior. Cada olhar dela para Felipe na plateia parecia queimar, mas ela se recusava a demonstrar.Sofia, ao seu lado, parecia extasiada com a recepção calorosa, acenando para o público com entusiasmo. Quando as cortinas finalmente fecharam, as duas retornaram aos bastidores, ainda sentindo a adrenalina da apresentação.— Foi incrível, Valéria! — Exclamou Sofia, abraçando-a brevemente. — Eu sabia que seria memorável, mas isso... isso superou tudo!Valéria esboçou um sorriso discreto, tentando ignorar a presença de Felipe em sua mente.— Obrigada, Sofia. Você também foi maravilhosa. — Respondeu ela, pegando uma garrafa de água para se recompor.Nicolas apareceu logo em seguida, aplaudindo com vigor.— Damas, vocês arrasaram. Esse concerto será lemb
Entendi o ponto e concordo que seria mais O som de batidas firmes na porta ecoou pelo apartamento silencioso. Valéria estava no sofá, ainda em seu vestido de apresentação, os pensamentos girando em um turbilhão. Ela não esperava ninguém, especialmente àquela hora. Franziu a testa ao se aproximar da porta.Quando abriu, o ar pareceu desaparecer de seus pulmões. Felipe estava ali, tão próximo que ela quase podia sentir o calor dele. Ele usava um terno impecável, mas seus olhos estavam intensos, determinados.— O que você está fazendo aqui? — Perguntou ela, surpresa, mas mantendo um tom defensivo.Felipe cruzou os braços, os ombros tensos.— Precisamos conversar. — Disse ele, sem rodeios.Valéria piscou, sentindo uma mistura de emoções. Ela tentou fechar a porta, mas ele a segurou, sem forçar, mas sem recuar.— Valéria, não faça isso. Você pode me odiar, mas não pode fugir de mim agora. — Disse ele, sua voz baixa, mas cheia de firmeza.Ela suspirou, recuando e deixando espaço para ele e
Valéria recuou um passo, tentando recuperar o fôlego e processar o que acabara de acontecer. O olhar de Felipe estava fixo no dela, intenso, carregado de emoção, e ela sabia que não podia mais negar o que sentia.— Felipe... — Começou, mas a voz dela falhou por um instante. Não havia mais o que dizer. Tudo estava claro entre eles.Ele deu um passo à frente, a mão estendendo-se levemente, hesitante, mas cheio de determinação.— Eu sei que você já entendeu tudo, Valéria. Que não foi o que pareceu, que não houve intenção de te magoar. Mas agora não se trata do passado. Se trata de nós... e do que ainda somos. — Ele falou baixo, mas cada palavra carregava um peso que ela sentiu profundamente.Ela respirou fundo, tentando manter o controle sobre si mesma, mas o calor da presença dele era avassalador.— E o que nós somos, Felipe? — Perguntou, com a voz quase um sussurro.Ele deu mais um passo, a mão pousando delicadamente no braço dela, o toque enviando uma onda elétrica por seu corpo.— Nó
Na manhã seguinte, a luz suave do sol vienense iluminava o quarto onde Felipe e Valéria ainda estavam deitados. Ele acordou antes dela, observando-a em silêncio, como se quisesse guardar aquele momento para sempre.Quando ela finalmente abriu os olhos, ele sorriu, inclinando-se para beijá-la suavemente na testa.— Bom dia. — Disse ele, sua voz rouca e calorosa.Valéria sorriu levemente, ainda ajustando-se à realidade de que Felipe estava ali, com ela.— Bom dia. — Respondeu, sua voz suave.Por alguns instantes, ficaram em silêncio, apenas apreciando a presença um do outro. Mas Valéria, sempre prática, quebrou o momento.— E Sofia? — Perguntou, virando-se para encará-lo. — Como você vai explicar para ela... tudo isso?Felipe suspirou, mas manteve o olhar firme.— Eu vou conversar com Sofia hoje. Não se preocupe, Valéria. Ela vai entender. — Disse ele, segurando a mão dela. — O mais importante agora é você. Nós. O resto se ajeita.Ela assentiu, tentando confiar nas palavras dele, mas ai
Valéria havia acabado de descobrir a traição. Gustavo, o homem com quem ela planejava seu futuro, estava com outra. Ela não teve tempo para processar a dor. Não podia chorar, não agora. Lara já a esperava. Elas tinham uma apresentação no The Velvet Room, o pub elegante e sofisticado de Rafael, amigo de Lara. A música, por mais difícil que fosse naquele momento, seria sua única fuga. O silêncio no carro pesava. A imagem de Gustavo com outra mulher não saía de sua cabeça. Mas Valéria sabia que não podia desmoronar agora. Quando chegaram ao The Velvet Room, o ambiente acolhedor a envolveu. As luzes suaves refletiam nas paredes de madeira escura e nos detalhes de couro. Era um lugar elegante, feito para noites especiais. O som abafado das conversas e o tilintar de copos ecoavam pelo ar, criando uma atmosfera refinada. Rafael as esperava logo na entrada, sorrindo. — Vocês chegaram na hora! O palco está pronto — disse ele, cumprimentando-as. Valéria forçou um sorriso. Tu
Valéria ainda sentia o efeito do vinho e o peso das emoções. Felipe a observava de perto. Ele fez um sinal para que ela o seguisse. Caminharam em silêncio até o carro de Felipe, um veículo elegante e discreto, assim como ele. Felipe abriu a porta para Valéria, que entrou no carro, ainda refletindo sobre o que estava acontecendo. O ar frio da noite clareou sua mente, mas ela sabia que aquilo era uma fuga. Não havia como voltar atrás. Felipe entrou no carro e ligou o motor. O som suave do veículo combinava com a tensão entre eles. Sem falar, ele deu a partida. As ruas passavam rápido, mas o silêncio no carro estava carregado de uma energia latente. Valéria olhava pela janela, tentando focar em outra coisa, mas sua mente sempre voltava para Felipe. A cada segundo, a tensão entre eles crescia. Chegaram ao Grand Hotel. Felipe não seguiu para a entrada principal. Ele entrou no estacionamento subterrâneo. Valéria percebeu que ele já tinha tudo sob controle. Não precisariam pas