Valéria chegou à mansão pouco depois do pôr do sol. A entrada iluminada destacava a arquitetura imponente e a sofisticação do lugar. Ao descer do táxi, ela contemplou o jardim exuberante que cercava a mansão, um verdadeiro testemunho do luxo da família.
Ao entrar, Valéria foi envolvida pela atmosfera elegante. O salão principal estava decorado com flores frescas, e uma música suave preenchia o ambiente. Ela sentiu um leve nervosismo misturado com a determinação de apoiar Gabriel. Quando Gabriel a avistou, seus olhos brilharam de alegria. Ele correu até Valéria e a envolveu em um abraço caloroso. — Professora Valéria! — exclamou Gabriel, sorridente. — Que bom que você veio! Valéria retribuiu o abraço com um sorriso. — É um prazer estar aqui, Gabriel. Parabéns pelo ensaio. Você fez um trabalho maravilhoso. Gabriel, orgulhoso, a conduziu para conhecer sua família. Ele apresentou Valéria à mãe, Sônia, e à avó, Helena, que celebrava seu aniversário. — Mãe, avó, esta é a professora Valéria Carvalho, que tem sido uma grande ajuda para mim — disse Gabriel, com orgulho. — Professora Valéria, esta é minha mãe, Sônia, e minha avó, Helena. Sônia, de aparência refinada, estendeu a mão para Valéria com um sorriso. — É um prazer conhecê-la, senhorita Carvalho. Gabriel sempre fala muito bem de você. Dona Helena, a aniversariante, estava radiante em um vestido elegante. Ela cumprimentou Valéria com um beijo no rosto. — Muito obrigada por vir, senhorita Carvalho. É uma honra tê-la aqui para comemorar meu aniversário. Valéria sorriu e entregou um presente: uma caixa de música com uma melodia clássica. — Fiquei pensando em algo especial para o seu aniversário, dona Helena. Espero que goste. Helena abriu a caixa com encantamento. — Que presente maravilhoso! Muito obrigada, Valéria. É encantador. Após os cumprimentos, Valéria se afastou um pouco, observando o ambiente. O cenário era sofisticado, mas uma tensão discreta a envolvia. De repente, Gabriel reapareceu, puxando alguém pela mão. — Tio Felipe, preciso apresentar-lhe a professora Valéria Carvalho! — exclamou Gabriel. Valéria virou-se lentamente e seu coração parou por um segundo ao ver Felipe se aproximando. O homem com quem ela havia passado a noite agora estava diante dela. Ambos se surpreenderam. Nenhum dos dois esperava se ver novamente tão cedo, e muito menos ali. Felipe, que estava conversando com outros convidados, ficou tenso por um instante. Seus olhos se encontraram com os de Valéria. Ele se recompôs rapidamente, mas a troca de olhares era carregada. — Senhorita Carvalho — disse Felipe, estendendo a mão, com um tom formal e controlado. — Um prazer conhecê-la. Valéria sentiu o coração acelerar, mas sorriu educadamente e apertou sua mão. — Igualmente, senhor Cavalcante — respondeu, tentando esconder o nervosismo. Gabriel, sem perceber a tensão entre eles, continuou animado. — A professora Valéria tem me ajudado muito, tio. Você precisava ver como eu melhorei! Felipe assentiu, mas continuava com os olhos fixos em Valéria. O que tinha sido apenas uma noite sem compromisso parecia agora muito mais complicado. — Gabriel fala muito sobre você — disse Felipe, mantendo a formalidade, mas com um toque de ironia. Valéria forçou um sorriso. — Ele é muito talentoso. Estou ansiosa para ver a apresentação dele hoje. A tensão era palpável, mas Gabriel, sem notar nada, subiu ao palco. Isso deixou Valéria e Felipe sozinhos por um momento. — Não imaginei que nos encontraríamos de novo — murmurou Felipe, com um tom baixo e carregado de significado. — Será o destino? Valéria respirou fundo. — Nem eu. O convite foi de Gabriel, eu não fazia ideia... — respondeu ela, quase como uma justificativa. Felipe deu um leve sorriso. — Curioso como o destino gosta de brincar — comentou, observando-a. Valéria desviou o olhar para o palco, onde Gabriel começava a tocar. Tentou focar na música, mas o peso do reencontro com Felipe estava presente em cada segundo. O salão mergulhou em silêncio enquanto Gabriel tocava com maestria. Valéria, ao lado dele, ajustou sua gravata borboleta com um misto de orgulho e apreensão. Mas a presença de Felipe a fazia sentir-se desconfortável. Quando Gabriel terminou, o salão explodiu em aplausos. Valéria, ainda abalada, parabenizou Sônia e Helena antes de tentar se afastar. Felipe, que havia voltado a conversar com outros convidados, observava-a de longe. Após a apresentação de Gabriel Valéria se sentiu sufocada e decidiu se afastar. Dirigiu-se ao banheiro para tentar respirar um pouco. Ao sair, encontrou Gustavo. Ele a seguiu rapidamente pelo corredor. Antes que ela pudesse reagir, ele segurou seu braço com força. — O que você está fazendo aqui? — perguntou ele, a voz baixa e tensa. Valéria o encarou, tentando manter a calma. Não estava surpresa por vê-lo. A família de Gustavo era bem-respeitada e frequentava eventos como aquele, mas ela não esperava vê-lo ali naquela noite. — Eu fui convidada — respondeu Valéria, mantendo o controle. Gustavo não pareceu satisfeito com a resposta. Ele apertou o braço dela com mais força e a puxou para um canto. — Convidada? Por quem? O que você está fazendo aqui? — insistiu, os olhos fixos nos dela. Valéria puxou o braço, tentando se soltar. — Isso não é da sua conta, Gustavo. Me solte. Do outro lado do salão, Felipe observava a cena à distância. Ele viu Gustavo segui-la, e agora assistia ao conflito se intensificar. Mantendo uma expressão séria, ele se aproximou discretamente. Quando Gustavo percebeu Felipe por perto, soltou o braço de Valéria. Um breve olhar entre eles deixou claro que Gustavo sabia quem Felipe era — o poderoso CEO da família Cavalcante. — A gente conversa depois. Passo na sua casa depois daqui — murmurou Gustavo, com frustração. — Não se atreva, você não é bem-vindo! — disse Valéria, firme. Gustavo lançou um último olhar para Valéria, antes de sair apressado. Ela respirou fundo, tentando se recompor. Felipe se aproximou, observando-a de perto. Sem dizer nada, ele segurou o braço de Valéria, dessa vez de forma suave, e a puxou em sua direção, levando-a para o banheiro. A porta se fechou com um som abafado.Dentro do banheiro, Felipe a encostou contra a parede, seus olhos fixos nos dela, carregados de preocupação e tensão. — Você está bem? — perguntou ele, olhando para o pulso de Valéria, que estava vermelho por causa de Gustavo. Valéria respirou fundo, ainda sentindo o choque de tudo o que estava acontecendo. — Eu... estou bem — respondeu, sua voz trêmula. Felipe a olhou mais profundamente, como se quisesse ter certeza. Seus olhos examinaram o rosto dela, buscando sinais de que algo estava errado. — Quem é ele? — perguntou Felipe, sua voz mais grave, controlando a raiva. Valéria hesitou, o coração acelerado, antes de responder. — É Gustavo... meu ex. Felipe permaneceu em silêncio por um momento. Valéria podia sentir a tensão em seu corpo. Ele não disse nada imediatamente, mas sua expressão ficou ainda mais séria. A proximidade entre os dois no espaço fechado aumentava a intensidade do momento. — Ele te machucou? — perguntou Felipe, aproximando-se um pouco mais, seu olhar fixo no
Valéria apertava o celular entre as mãos, frustrada com a demora do aplicativo de transporte. A cada tentativa frustrada, sua impaciência aumentava. Ela suspirou, passando a mão pelo cabelo. Sentiu o ar frio da noite tocando seu rosto, esfriando suas bochechas. De repente, uma voz familiar interrompeu seus pensamentos. — Está com problemas para conseguir um táxi? — Felipe apareceu ao seu lado, com a expressão calma, mas os olhos curiosos. Ela se virou rapidamente. Vê-lo ali despertava um misto de sensações. — Sim — respondeu, tentando disfarçar o desconforto. — Parece que vai demorar. Felipe olhou para o celular na mão dela e depois para a rua deserta. Ele sorriu, o mesmo sorriso que Valéria conhecia bem demais. — Posso te oferecer uma carona — disse, a voz suave, mas firme. — A essa hora, é complicado conseguir transporte por aqui. Ela hesitou. A lembrança da noite anterior ainda queimava na sua mente. Foi algo casual, sem compromisso. Agora, ali estava ele, oferecendo uma so
O sol já estava forte quando Valéria acordou. Seus olhos abriram lentamente, ajustando-se à luz que entrava pela janela. O quarto era estranho para ela, mas a sensação no corpo era familiar. Cada parte de seu ser ainda lembrava a noite anterior com Felipe, as marcas ainda sensíveis na pele, misturando dor e desejo. Ela se mexeu na cama, tentando se levantar sem fazer barulho, mas Felipe já estava acordado. Ele a observava com uma expressão calma, bem diferente da intensidade da noite anterior. — Desculpa, Valéria — começou ele, a voz rouca. — Eu perdi um pouco o controle ontem. Ela o encarou, surpresa pela sinceridade em seu tom. Felipe não parecia ser do tipo que se desculpava facilmente. — Não foi só você — respondeu ela, com um toque de hesitação. — Eu também... estava lá. Felipe assentiu, o olhar breve e contido. Ele estendeu a mão, tocando suavemente a pele marcada no braço dela. O toque dele, desta vez, era mais leve, quase gentil. — Vamos tomar um banho? — sugeriu ele, com
Felipe estacionou o carro em frente ao prédio de Valéria. O silêncio no carro era confortável, mas carregado com tudo o que havia acontecido nas últimas horas. Valéria olhou para ele, notando o leve cansaço em seu rosto, mas Felipe mantinha o mesmo ar controlado de sempre. — Obrigada pela carona — disse Valéria, soltando o cinto de segurança e prestes a sair. Felipe inclinou a cabeça levemente, os olhos fixos nela. — Até logo, Valéria. Ela assentiu, forçando um pequeno sorriso antes de sair do carro. Enquanto subia as escadas até seu apartamento, seu coração ainda batia rápido. Tentou controlar a agitação. Ao abrir a porta, foi recebida por Lara, que estava no sofá, de pijama, assistindo à TV. Assim que viu Valéria entrar, seus olhos se arregalaram, e ela pausou o que estava vendo. — Finalmente em casa! — exclamou Lara, com um sorriso malicioso. — E então? Onde você passou a noite? Valéria suspirou, sabendo que não escaparia das perguntas. Largou a bolsa no canto e se jog
Felipe e Valéria entraram no apartamento em silêncio. Ele a guiou diretamente até o banheiro, onde a água quente já caía, criando uma atmosfera abafada e confortável. O vapor envolvia os dois, dissipando a tensão acumulada do dia. Felipe entrou na banheira logo depois, acomodando-se ao lado dela. O som da água era a única coisa que preenchia o ambiente. Por um tempo, o silêncio parecia suficiente, até que Felipe quebrou a tranquilidade. — Você tem visto seu ex? — perguntou ele, direto. Valéria foi pega de surpresa. Não esperava ouvir o nome de Gustavo naquele momento. Ainda assim, manteve a calma. — Não. Desde o aniversário sa sua mãe, não o vi mais. Felipe manteve os olhos nela, como se estivesse avaliando cada detalhe de sua resposta. O vapor ao redor deles criava uma sensação de proximidade. — E ainda sente algo por ele? — continuou ele, a voz firme, mas com um toque de curiosidade. Valéria suspirou e inclinou a cabeça para trás, deixando a água escorrer pelo rosto. — Nã
O dia de Valéria começou como sempre. O estúdio cheio, as aulas fluindo. Ela se perdeu no piano, buscando a paz que a música trazia. No meio do dia, seu celular vibrou. Era uma mensagem de seu pai, Roberto. — "Filha, que tal jantarmos juntos hoje? Faz tempo que não passamos um tempo só nós dois." Valéria sorriu. Desde que sua mãe morreu, Roberto era seu porto seguro. Eles sempre foram próximos, mas os momentos juntos haviam se tornado raros. — "Claro, pai. Me avisa onde e a que horas." O resto do dia passou rápido. Quando as aulas terminaram, ela fechou o estúdio e foi encontrar o pai no restaurante. A conversa foi leve, cheia de memórias antigas e risos. Valéria se sentiu mais leve, como sempre acontecia com Roberto. Depois do jantar, decidiram passear pelo shopping. Eles faziam isso desde que ela era pequena. Ao passarem por um quiosque de sorvetes, Roberto sorriu. — Morango com calda de chocolate era o favorito da sua mãe — comentou ele, com uma voz suave e nostálgica. Val
Valéria entrou no estúdio cedo naquela manhã, acompanhada por Lara. O dia parecia tranquilo, mas sua mente estava longe. As questões administrativas que precisavam ser resolvidas eram uma distração para ocupar seu tempo, mas não sua atenção. Enquanto Valéria organizava papéis e conferia planilhas, seus pensamentos voltavam à noite anterior. O encontro inesperado com Felipe e Beatriz ainda pesava em sua mente. O silêncio de Felipe, tão incomum nele, ecoava como uma sombra, gerando uma inquietação que ela não conseguia afastar. Lara, passando pela sala de vidro, notou a expressão distante de Valéria. Ela entrou e a observou por um instante. — Valéria, você está bem? — perguntou Lara, com um tom suave, quebrando o silêncio. — Sim, estou — respondeu Valéria, forçando um sorriso. — Só tenho muito para resolver hoje. Lara assentiu, sem insistir. Ela se afastou, mas não tirou os olhos da amiga. Valéria tentou focar no trabalho. Mesmo assim, terminou as pendências mais cedo do que es
Valéria sabia, no fundo, que aquele era o momento certo para acabar com tudo. As palavras estavam na ponta de sua língua. Ela podia sentir a pressão em seu peito, como se uma parte dela gritasse para terminar aquilo de uma vez. Mas, ao olhar para Felipe, ela não conseguia pronunciar as palavras. O silêncio entre eles era quase sufocante, e ainda assim, ela não conseguia rompê-lo. Felipe, de pé à sua frente, parecia não perceber a batalha interna que se desenrolava dentro dela. Ou talvez soubesse, mas escolhesse não falar. Seus olhos permaneciam fixos nela, firmes, como sempre. O controle dele estava lá, intacto. E, por mais que quisesse se libertar, uma parte de Valéria ainda se prendia àquele controle. Ela desviou o olhar para a calçada. O ar frio da noite não conseguia acalmar sua mente agitada. — Valéria... — a voz de Felipe soou baixa, porém firme, chamando sua atenção de volta para ele. Ela levantou o olhar lentamente, tentando esconder a confusão que a dominava.