Valéria despertou cedo, antes mesmo do sol iluminar completamente o quarto. O corpo seminu ao seu lado era o de Felipe.
Ele estava de bruços, com o lençol enrolado nas pernas. A luz suave do amanhecer destacava seus traços. Ela o observou por um momento, admirando a tranquilidade dele. Em seguida, levantou-se silenciosamente. Vestiu-se com cuidado e, antes de sair, lançou um último olhar para ele. A noite havia sido intensa, sem arrependimentos, mas algo dentro dela havia mudado. De volta em casa, Valéria tomou um banho rápido. A água quente ajudava a limpar o corpo e a mente. Ao tomar seu café preto, seus pensamentos voltaram a Gustavo. A lembrança dele ainda a afetava, mas o que aconteceu com Felipe não era uma preocupação. Ela olhou para o relógio. Eram 9 horas. Tinha um ensaio marcado com Gabriel, um de seus alunos, para a apresentação especial de aniversário da avó dele. Sem mais reflexões, decidiu que era hora de ir para o estúdio. No Studio Allegro, Valéria viu Gabriel já à espera. Ele estava concentrado ao piano, suas pequenas mãos se movendo com precisão nas teclas. Valéria sorriu ao vê-lo. A presença de Gabriel trouxe normalidade à sua manhã caótica. — Bom dia, Gabriel! — disse ela, aproximando-se. — Bom dia, professora! — Gabriel parou de tocar e olhou para ela. — Como a senhora está? — Estou bem, obrigada. E você, pronto para o ensaio? Gabriel sorriu, um pouco nervoso. — Sim, estou. Espero que minha avó goste da apresentação. Valéria ajeitou algumas partituras. — Vai ficar ótimo. Você tem se esforçado muito. Só mantenha a calma e deixe a música fluir. Gabriel assentiu, tentando parecer confiante. — Professora, a senhora vai para a festa, né? Minha mãe disse que a senhora foi convidada, e eu realmente quero que você vá. Valéria hesitou. — Eu não sei, Gabriel. É uma festa íntima da sua família, e eu não quero me intrometer. Gabriel a olhou com expectativa. — Por favor, professora. A sua presença vai me dar muita confiança. Valéria ponderou. Ela queria apoiá-lo, mas estava relutante em participar de algo tão pessoal. No entanto, o olhar sincero de Gabriel a convenceu. — Tudo bem, eu vou. Quero te apoiar e ver como você se sai. Tenho certeza de que será maravilhoso. O rosto de Gabriel se iluminou com um sorriso. — Obrigado! Isso significa muito para mim. Eles continuaram o ensaio. Valéria fez ajustes e orientações para garantir que Gabriel estivesse bem preparado. Depois do ensaio, Valéria decidiu voltar para casa e se preparar para a festa. Quando estava prestes a sair do estúdio, uma figura familiar entrou pela porta. Era Gustavo. Antes que ela pudesse reagir, Gustavo a puxou pelo braço, forçando-a a voltar para dentro. — Gustavo! O que você está fazendo? — disse Valéria, surpresa e desconfortável. Gustavo a encarou com uma expressão tensa. Seus olhos percorreram o corpo de Valéria até pararem no pescoço, onde uma marca sutil da noite anterior ainda era visível. O olhar de Gustavo mudou, misturando-se com frustração. — O que é isso no seu pescoço? — perguntou ele, a voz baixa, mas cheia de indignação. — Você me traiu? Valéria riu, mas sem humor. Ela se soltou do aperto dele, cruzando os braços. — Trair você? — repetiu, a incredulidade em sua voz. — Gustavo, o relacionamento já acabou. Quem traiu foi você, não eu. Gustavo balançou a cabeça, confuso e frustrado. — Não acabou! Eu nunca toquei em você porque estava esperando o momento certo.Queria que a nossa primeira vez fosse depois do casamento. E agora você... com outra pessoa? Valéria respirou fundo, controlando a raiva que ameaçava emergir. — Gustavo, você me traiu. Eu te vi com outra pessoa. Você destruiu tudo o que tínhamos. E sim, eu estive com outra pessoa. Porque, ao contrário de você, eu não estava presa a nada. A expressão de Gustavo ficou abatida, mas ele tentou manter a compostura. — Eu não queria que fosse assim. Eu ainda achava que podíamos consertar as coisas. Valéria olhou para ele, os olhos firmes. — Não há mais nada para consertar. O que tínhamos acabou quando você decidiu me trair. Agora, você precisa aceitar isso e seguir em frente. Assim como eu estou fazendo. Gustavo a olhou por mais alguns segundos, sem palavras. Ele parecia querer dizer algo, mas as palavras não vinham. Finalmente, ele abaixou a cabeça e suspirou. — Eu só... não esperava que você seguisse em frente tão rápido. Valéria deu um sorriso triste. — Talvez você devesse ter pensado nisso antes de me trair, Gustavo. Sem mais palavras, Valéria saiu do estúdio, deixando Gustavo sozinho, ainda processando a realidade da situação. Ela se sentiu mais leve, como se aquela conversa tivesse sido o fechamento de um capítulo doloroso de sua vida. Valéria chamou um táxi e voltou para o apartamento onde morava com Lara. Sua cabeça estava cheia, mas ela precisava se preparar para a festa. Como não gostava de dirigir, preferiu chamar um táxi. Ao chegar, encontrou Lara na sala, que logo notou a expressão cansada de Valéria. — Oi, Val. O que aconteceu? Você saiu ontem e não me avisou. Quando cheguei, você não estava em casa — perguntou Lara, curiosa. Valéria suspirou e sentou-se no sofá. — Foi uma noite e tanto. Acabei passando a noite com o amigo do Rafael, o Felipe. Foi inesperado, mas acho que me ajudou a aliviar a angústia. Lara levantou uma sobrancelha, surpresa. — Você passou a noite com Felipe? Isso é... inusitado. Valéria riu sem humor. — Eu sei, não parece ser meu estilo, mas às vezes é bom deixar as coisas fluírem. Foi sem compromisso, e eu não me arrependo. Lara a observou por um momento. — Se você está bem com isso, tudo bem. E agora, o que você vai fazer? Valéria sorriu. — Preciso me arrumar para a festa de aniversário da avó do Gabriel. Ele me convidou e eu prometi que iria. Você me ajuda? Lara sorriu e se levantou. — Claro, vamos te arrumar. Tenho certeza de que você vai ficar ótima. As duas foram ao quarto, onde Lara ajudou Valéria a escolher um vestido elegante. Valéria optou por um vestido azul escuro, que acentuava seus olhos e combinava com sua pele clara. Lara complementou o visual com acessórios discretos e uma maquiagem leve. Quando terminaram, Valéria se sentiu confiante. Pegou um táxi e seguiu para a mansão onde aconteceria o evento. A mansão, localizada um pouco afastada do centro, exalava luxo e sofisticação. Era imponente, com grandes janelas e um jardim exuberante. Valéria chegou à mansão, sentindo uma mistura de expectativa e nervosismo.Valéria chegou à mansão pouco depois do pôr do sol. A entrada iluminada destacava a arquitetura imponente e a sofisticação do lugar. Ao descer do táxi, ela contemplou o jardim exuberante que cercava a mansão, um verdadeiro testemunho do luxo da família. Ao entrar, Valéria foi envolvida pela atmosfera elegante. O salão principal estava decorado com flores frescas, e uma música suave preenchia o ambiente. Ela sentiu um leve nervosismo misturado com a determinação de apoiar Gabriel. Quando Gabriel a avistou, seus olhos brilharam de alegria. Ele correu até Valéria e a envolveu em um abraço caloroso. — Professora Valéria! — exclamou Gabriel, sorridente. — Que bom que você veio! Valéria retribuiu o abraço com um sorriso. — É um prazer estar aqui, Gabriel. Parabéns pelo ensaio. Você fez um trabalho maravilhoso. Gabriel, orgulhoso, a conduziu para conhecer sua família. Ele apresentou Valéria à mãe, Sônia, e à avó, Helena, que celebrava seu aniversário. — Mãe, avó, esta é a profes
Dentro do banheiro, Felipe a encostou contra a parede, seus olhos fixos nos dela, carregados de preocupação e tensão. — Você está bem? — perguntou ele, olhando para o pulso de Valéria, que estava vermelho por causa de Gustavo. Valéria respirou fundo, ainda sentindo o choque de tudo o que estava acontecendo. — Eu... estou bem — respondeu, sua voz trêmula. Felipe a olhou mais profundamente, como se quisesse ter certeza. Seus olhos examinaram o rosto dela, buscando sinais de que algo estava errado. — Quem é ele? — perguntou Felipe, sua voz mais grave, controlando a raiva. Valéria hesitou, o coração acelerado, antes de responder. — É Gustavo... meu ex. Felipe permaneceu em silêncio por um momento. Valéria podia sentir a tensão em seu corpo. Ele não disse nada imediatamente, mas sua expressão ficou ainda mais séria. A proximidade entre os dois no espaço fechado aumentava a intensidade do momento. — Ele te machucou? — perguntou Felipe, aproximando-se um pouco mais, seu olhar fixo no
Valéria apertava o celular entre as mãos, frustrada com a demora do aplicativo de transporte. A cada tentativa frustrada, sua impaciência aumentava. Ela suspirou, passando a mão pelo cabelo. Sentiu o ar frio da noite tocando seu rosto, esfriando suas bochechas. De repente, uma voz familiar interrompeu seus pensamentos. — Está com problemas para conseguir um táxi? — Felipe apareceu ao seu lado, com a expressão calma, mas os olhos curiosos. Ela se virou rapidamente. Vê-lo ali despertava um misto de sensações. — Sim — respondeu, tentando disfarçar o desconforto. — Parece que vai demorar. Felipe olhou para o celular na mão dela e depois para a rua deserta. Ele sorriu, o mesmo sorriso que Valéria conhecia bem demais. — Posso te oferecer uma carona — disse, a voz suave, mas firme. — A essa hora, é complicado conseguir transporte por aqui. Ela hesitou. A lembrança da noite anterior ainda queimava na sua mente. Foi algo casual, sem compromisso. Agora, ali estava ele, oferecendo uma so
O sol já estava forte quando Valéria acordou. Seus olhos abriram lentamente, ajustando-se à luz que entrava pela janela. O quarto era estranho para ela, mas a sensação no corpo era familiar. Cada parte de seu ser ainda lembrava a noite anterior com Felipe, as marcas ainda sensíveis na pele, misturando dor e desejo. Ela se mexeu na cama, tentando se levantar sem fazer barulho, mas Felipe já estava acordado. Ele a observava com uma expressão calma, bem diferente da intensidade da noite anterior. — Desculpa, Valéria — começou ele, a voz rouca. — Eu perdi um pouco o controle ontem. Ela o encarou, surpresa pela sinceridade em seu tom. Felipe não parecia ser do tipo que se desculpava facilmente. — Não foi só você — respondeu ela, com um toque de hesitação. — Eu também... estava lá. Felipe assentiu, o olhar breve e contido. Ele estendeu a mão, tocando suavemente a pele marcada no braço dela. O toque dele, desta vez, era mais leve, quase gentil. — Vamos tomar um banho? — sugeriu ele, com
Felipe estacionou o carro em frente ao prédio de Valéria. O silêncio no carro era confortável, mas carregado com tudo o que havia acontecido nas últimas horas. Valéria olhou para ele, notando o leve cansaço em seu rosto, mas Felipe mantinha o mesmo ar controlado de sempre. — Obrigada pela carona — disse Valéria, soltando o cinto de segurança e prestes a sair. Felipe inclinou a cabeça levemente, os olhos fixos nela. — Até logo, Valéria. Ela assentiu, forçando um pequeno sorriso antes de sair do carro. Enquanto subia as escadas até seu apartamento, seu coração ainda batia rápido. Tentou controlar a agitação. Ao abrir a porta, foi recebida por Lara, que estava no sofá, de pijama, assistindo à TV. Assim que viu Valéria entrar, seus olhos se arregalaram, e ela pausou o que estava vendo. — Finalmente em casa! — exclamou Lara, com um sorriso malicioso. — E então? Onde você passou a noite? Valéria suspirou, sabendo que não escaparia das perguntas. Largou a bolsa no canto e se jog
Felipe e Valéria entraram no apartamento em silêncio. Ele a guiou diretamente até o banheiro, onde a água quente já caía, criando uma atmosfera abafada e confortável. O vapor envolvia os dois, dissipando a tensão acumulada do dia. Felipe entrou na banheira logo depois, acomodando-se ao lado dela. O som da água era a única coisa que preenchia o ambiente. Por um tempo, o silêncio parecia suficiente, até que Felipe quebrou a tranquilidade. — Você tem visto seu ex? — perguntou ele, direto. Valéria foi pega de surpresa. Não esperava ouvir o nome de Gustavo naquele momento. Ainda assim, manteve a calma. — Não. Desde o aniversário sa sua mãe, não o vi mais. Felipe manteve os olhos nela, como se estivesse avaliando cada detalhe de sua resposta. O vapor ao redor deles criava uma sensação de proximidade. — E ainda sente algo por ele? — continuou ele, a voz firme, mas com um toque de curiosidade. Valéria suspirou e inclinou a cabeça para trás, deixando a água escorrer pelo rosto. — Nã
O dia de Valéria começou como sempre. O estúdio cheio, as aulas fluindo. Ela se perdeu no piano, buscando a paz que a música trazia. No meio do dia, seu celular vibrou. Era uma mensagem de seu pai, Roberto. — "Filha, que tal jantarmos juntos hoje? Faz tempo que não passamos um tempo só nós dois." Valéria sorriu. Desde que sua mãe morreu, Roberto era seu porto seguro. Eles sempre foram próximos, mas os momentos juntos haviam se tornado raros. — "Claro, pai. Me avisa onde e a que horas." O resto do dia passou rápido. Quando as aulas terminaram, ela fechou o estúdio e foi encontrar o pai no restaurante. A conversa foi leve, cheia de memórias antigas e risos. Valéria se sentiu mais leve, como sempre acontecia com Roberto. Depois do jantar, decidiram passear pelo shopping. Eles faziam isso desde que ela era pequena. Ao passarem por um quiosque de sorvetes, Roberto sorriu. — Morango com calda de chocolate era o favorito da sua mãe — comentou ele, com uma voz suave e nostálgica. Val
Valéria entrou no estúdio cedo naquela manhã, acompanhada por Lara. O dia parecia tranquilo, mas sua mente estava longe. As questões administrativas que precisavam ser resolvidas eram uma distração para ocupar seu tempo, mas não sua atenção. Enquanto Valéria organizava papéis e conferia planilhas, seus pensamentos voltavam à noite anterior. O encontro inesperado com Felipe e Beatriz ainda pesava em sua mente. O silêncio de Felipe, tão incomum nele, ecoava como uma sombra, gerando uma inquietação que ela não conseguia afastar. Lara, passando pela sala de vidro, notou a expressão distante de Valéria. Ela entrou e a observou por um instante. — Valéria, você está bem? — perguntou Lara, com um tom suave, quebrando o silêncio. — Sim, estou — respondeu Valéria, forçando um sorriso. — Só tenho muito para resolver hoje. Lara assentiu, sem insistir. Ela se afastou, mas não tirou os olhos da amiga. Valéria tentou focar no trabalho. Mesmo assim, terminou as pendências mais cedo do que es