As palavras que eu tanto esperava finalmente saíram da boca de Duncan:— Entendo o quanto isso é importante para você. — Soltou um suspiro genuíno, pesado. — Não estou ignorando a seriedade da situação, só… preciso de um pouco de tempo para encontrar as palavras certas.Não imaginei que Duncan Delvecchio era um homem que tinha dificuldade de se comunicar. Ele sempre me pareceu alguém que se destacava pela sua presença marcante, um homem com uma aura de confiança quase arrogante. Ele parecia direto e espontâneo, como se tivesse um roteiro a ser seguido… ou nenhum, dado o quanto eu sabia sobre ele. Sua extrema capacidade de improvisar nas situações mais inesperadas dava-lhe uma impressão de desdém pelas regras convencionais e um talento inato para lidar com a vida de maneira audaciosa. Essa revelação foi um choque. O homem que eu pensava ser um estrategista infalível e um mestre das palavras revelava, na verdade, um lado vulnerável que lutava para se expressar de maneira clara.O garço
O caminho até o vaporetto foi envolto em um silêncio contemplativo, com nossos passos ecoando suavemente nas ruas desertas. Veneza parecia ainda mais encantadora à noite, com as luzes refletidas nos canais criando um brilho suave e mágico. Foi naquele momento, quando Duncan tomou o chá apesar da careta que fez, que percebi o quanto ele realmente me afetava. Aquele gesto simples era a prova que eu precisava de que ele estava disposto a fazer nosso relacionamento funcionar.Enquanto caminhamos, Duncan tirou seu sobretudo preto e o colocou sobre meus ombros com uma gentileza inesperada. Ele tem suas virtudes, afinal.— Está esfriando. — disse ele calmamente, ajustando o casaco sobre mim.— Obrigada. — sorri em agradecimento, sentindo o calor de suas roupas me envolver como um abraço.Eu adorava quando ele demonstrava cuidado comigo, quando parecia preocupado e perturbado. A ideia de que eu mexia com ele de alguma forma me dava uma sensação reconfortante e única, uma sensação de pertencim
Um grito estridente escapou de meus lábios enquanto desferia socos frenéticos no saco de pancadas da academia. O impacto reverberava pelos meus braços, meu corpo inteiro vibrava com a descarga de adrenalina, enquanto minhas mãos ardiam dentro das luvas. Os golpes eram uma explosão de raiva e frustração, um desabafo silencioso de dor e fúria. A academia estava envolta em um silêncio tenso, interrompido apenas pelo som repetitivo dos meus socos e pela respiração ofegante que escapava de minha boca.Maldito seja, Duncan Delvecchio! Ele não vale nada, nem mesmo um centavo! Ele me enganou, me iludiu com promessas vazias... Lembro-me daquele olhar falso, das palavras mentirosas que ele usou para me manipular. Um traidor! Ele é um verme desprezível! Não consigo acreditar que eu quase permiti que ele me beijasse! A traição dele ainda estava fresca em minha mente, um corte profundo que parecia não cicatrizar.— Vicenza! — minha treinadora, a morena Imelda, exclamou, com uma expressão de desap
— Qual dos capachos ele enviou? — perguntei, minha voz carregada de desdém.— Pietro Labruto! — Ottavia revelou, cortando o ar com um dedo em riste, como se estivesse apresentando um espetáculo. Percebi a careta em meu rosto e ela acrescentou rapidamente: — Ele é muito mais bonito pessoalmente do que nas fotos!Fiquei alguns segundos parada, tentando lembrar quem era Pietro Labruto. Peguei a toalha e sequei o suor do rosto. Então, como um estalo, me dei conta de quem ela estava falando. Meu queixo caiu em surpresa.— Não é aquele que teve o escândalo com a irmã dele? — perguntei, perplexa.— Exatamente ele.Coloquei minha garrafa dentro da bolsa da academia cor-de-rosa e fechei o zíper com força, meus movimentos bruscos revelando a raiva que ainda consumia cada parte de mim. Se eu havia amolecido antes, agora sentia o fogo da frustração enchendo minhas veias novamente.Concluí que Duncan Delvecchio era um covarde. Ele não tinha coragem de me encarar diretamente.— Cancelei cinquenta
Fechei os olhos por um momento, tentando organizar meus pensamentos e acalmar a tempestade de emoções que estava dentro de mim.— Ottavia, ele me enganou. — Minhas palavras saíram quase como um sussurro, carregadas de uma amargura que eu mal conseguia disfarçar.A vergonha me invadiu ao deixar essas palavras escaparem, mas eu precisava desabafar com alguém. Escolhi uma de minhas amigas mais próximas, aquela em quem confio profundamente. Ottavia sempre foi meu porto seguro desde que nos tornamos amigas na escola. Ela foi a primeira a estender a mão e me acolher, mesmo quando eu não era uma Campanazzi legítima.À minha frente, Ottavia empalideceu, visivelmente preocupada.— Figlio della putana! — exclamou, sua reação um reflexo da verdadeira amizade que nos unia. — O que ele fez? Foi ontem durante o passeio? Não me diga que ele encostou a mão em você?!— Não… não… não é isso que você está pensando — disse eu, rapidamente, para acalmá-la.— Então, conte tudo agora, Vicenza! Per favore!A
— O que você quer dizer com isso? — Perguntei, tentando esconder a apreensão na minha voz.Bianca hesitou por um momento, avaliando o quanto deveria revelar. Finalmente, ela se inclinou um pouco mais perto e murmurou, quase como se estivesse contando um segredo sussurrante:— No ano passado, a noiva anterior de Duncan... ela apareceu morta.Levei um susto.— As pessoas dizem que foi suicídio, mas há muito que não se sabe ao certo. Rumores e especulações estão sempre à solta quando se trata da família Delvecchio. Não é fácil confiar em tudo que você ouve, mas algo me diz que nem tudo é o que parece.Eu me estremei com suas palavras. O tom de Bianca e o olhar de escárnio que ela lançou sugeriam que havia algo muito mais sombrio escondido por trás daquela morte. Uma sensação sinistra se apoderou de mim e meu coração parecia afundar, pesando toneladas.— O que você está insinuando? — Ottavia perguntou, tentando manter um tom neutro, mas seu olhar traía inquietação. — Foi apenas um caso de
Somente uma pessoa poderia me ajudar a entender melhor toda essa situação: Irineo, meu padrasto.Depois de um banho relaxante, vesti uma roupa confortável e caminhei em direção à sala de leitura. Cada passo era hesitante, como se uma sombra me seguisse. Aquele era um dos espaços mais aconchegantes e silenciosos da mansão. As estantes de madeira escura, repletas de volumes encadernados em couro, subiam até o teto, exalando uma aura de acolhimento e erudição. O tapete persa sob meus pés abafava o som dos passos, e o leve aroma de livros antigos misturava-se com o perfume terroso do couro das poltronas. A música clássica, tocada em um volume baixo e envolvente, preenchia o ambiente com um toque sutil de sofisticação e calma, quase irônica diante da tempestade em meu coração.Se Irineo e minha mãe realmente acreditavam que Duncan não era completamente mau, então devia haver algo mais complexo por trás de suas ações impulsivas e descontroladas.Irineo, um homem de postura imponente e olha
Meu coração martelava dentro do peito enquanto eu ouvia música no quarto com os fones de ouvido e deitada na cama. Era noite, já passava das oito horas e eu não podia negar que a ansiedade estava me sufocando.Aquele maldito não saia da minha cabeça e eu ficava angustiada pensando nele. Sentei e peguei o celular, girando na cama. Ergui os pés enquanto buscava pelo número do meu noivo no celular, desbloqueando o contato. Eu salvei o nome dele como Coringa, acho que combina bem com ele, não é mesmo? Respirei fundo antes de apertar o botão para realizar uma ligação e mantive o aparelho na mão, embora eu estivesse o fone bluetooth para escutar a ligação.— Pronto?— Duncan? — Questionei, embora eu soubesse que ele já sabia que era eu antes mesmo de ouvir a minha voz.— Que surpresa, mia principessa… — Ele soou rouco, com um deboche irônico impregnado na voz. Eu pude imaginar como ele estaria, sentado em seu escritório, se escorando na poltrona e rindo leve, por eu ter finalmente cedido e