Meu coração martelava dentro do peito enquanto eu ouvia música no quarto com os fones de ouvido e deitada na cama. Era noite, já passava das oito horas e eu não podia negar que a ansiedade estava me sufocando.Aquele maldito não saia da minha cabeça e eu ficava angustiada pensando nele. Sentei e peguei o celular, girando na cama. Ergui os pés enquanto buscava pelo número do meu noivo no celular, desbloqueando o contato. Eu salvei o nome dele como Coringa, acho que combina bem com ele, não é mesmo? Respirei fundo antes de apertar o botão para realizar uma ligação e mantive o aparelho na mão, embora eu estivesse o fone bluetooth para escutar a ligação.— Pronto?— Duncan? — Questionei, embora eu soubesse que ele já sabia que era eu antes mesmo de ouvir a minha voz.— Que surpresa, mia principessa… — Ele soou rouco, com um deboche irônico impregnado na voz. Eu pude imaginar como ele estaria, sentado em seu escritório, se escorando na poltrona e rindo leve, por eu ter finalmente cedido e
— Desculpe se pareci afetuoso demais, Vicenza. — O franzir em sua testa era algo que eu esperava, mas a curva de descontentamento acentuada em seus lábios trouxe um aperto em meu coração.— Não exagere no seu teatro na frente de meus pais. — Rachei entre dentes, esfregando a testa, o local em que seus lábios encostaram parecia pegar fogo.— Que teatro? — Duncan indagou, enfiando as mãos no bolso da calça. — Eu realmente estava com saudades de você. Mas entendo que você quer falar sobre algo sério. O que está acontecendo?— Você não me contou nada sobre sua avó. — Disse não tão branda. Eu queria falar sobre sua ex-namorada, mas as palavras não saíram. Cruzei os braços. — Eu ouvi de minha mãe que ela estava doente e agora você me diz que ela está melhor. Por que não me contou nada?— Não faria diferença te preocupar. — Ele colocou as duas mãos na cintura e deu um suspiro, contendo o seu gestual. — E você nem mesmo me atendeu ao telefone!— Prefiro que você me conte as coisas, assim eu s
Seguimos para a Piazza delle Erbe, caminhando tranquilamente pelas ruas e explorando o comércio local. A praça estava vibrante, um mosaico de barracas coloridas e cafés movimentados, e o ar estava impregnado com aromas tentadores: o doce de confeitos, o salgado de frituras e um toque picante de especiarias.Eu segurava firmemente o braço de Duncan, desfrutando da sensação reconfortante de sua presença ao meu lado, enquanto terminava meu sorvete. Quando acabei, me dirigi à lixeira mais próxima, incomodada pela falta de cuidado das pessoas com o lixo. O descaso estava em todos os lugares, e eu sentia que a cidade poderia ser muito mais limpa se todos fizessem um pequeno esforço.— O que faremos agora?— Vamos para as vendinhas, quero comprar algo para você. — Ele sorriu com uma doçura inesperada e aquele sorriso iluminou seu rosto de uma maneira que fez meu coração derreter.Duncan não costumava demonstrar afeto de forma aberta; ele podia ser tão imponente quanto um touro bravo, um home
Os homens se aproximaram rapidamente, sem me dar tempo para reagir. A ameaça que eles representavam fez com que minhas pernas se enfraquecessem. Encolhi-me, gritando, e usei a bolsa para proteger meu rosto, na esperança absurda de me esconder atrás dela.Senti suas mãos se fecharem em torno dos meus braços, implacáveis e firmes.— Me soltem!Eles riram, indiferentes ao meu desespero, e continuaram me segurando. O pânico crescia dentro de mim, paralisando cada movimento. Minha bolsa caiu no chão, o fecho se abrindo e liberando a carteira, uma necessaire com maquiagem e o celular. Era claro que o interesse deles não estava em objetos pessoais ou dinheiro; eles estavam atrás de algo mais.— Vocês, soltem a minha noiva, agora!Eu tentei olhar para Duncan, mas meus olhos estavam cheios de lágrimas e eu não conseguia suportar a situação. Cerrei os olhos com força, meu corpo foi sacudido e os homens me soltaram. Os sons de uma luta violenta ressoavam ao meu redor: socos secos, o estalo agudo
A sala de estar estava com a lareira acesa e crepitando suavemente. Duncan se sentou ao meu lado no grande sofá, pegando minhas mãos nas dele.Eu notei que elas estavam mais limpas, sem qualquer resquício de sangue em sua pele macia, mas a temperatura era fria e estavam úmidas, por ele ter acabado de as lavar.— Sinto muito por hoje. — Havia sinceridade em seus olhos e seu toque era gentil. — Nunca quis te colocar em perigo.Ah, agora ele ia fazer o papel de noivo arrependido depois de me usar de isca? Suspirei, sentindo um nó na garganta. As palavras dele eram reconfortantes, mas o medo ainda estava presente. Soltei uma das mãos e escovei seu rosto, ele procurou mais o meu toque e fechou os olhos, os cílios bem escuros que eu tanto gostava, os lábios naturalmente curvados e as pintinhas por seu rosto.Esfreguei o polegar em sua bochecha, deformando a curva de tristeza em sua boca para um sorriso torto.— Eu sei, Duncan — Respondi, acariciando-o. Eu ainda estava tremendo, mas estar co
— Era exatamente isso o que eu queria evitar, Irineo! Você me prometeu que Vicenza estava segura! — Minha mãe esbravejava. Eu não a podia ver, mas ouvia sua voz, daquele jeito quando ela dava bronca e era assustador quando eu era uma criança. — O que aquele menino dos Delvecchio fez com ela?!— Ela está mais segura ao lado dele do que distante, acredite, Antonella. — Meu padrasto tentou argumentar, sua voz soando assustadoramente mais calma e mais fria, acentuando o descontrole emocional de minha mãe. Se eu estivesse no lugar dela, agiria igual ou até pior, mas eu temia quais atitudes ela poderia tomar. Duncan me protegeu! Talvez seus métodos não sejam exatamente ortodoxos, mas já o conheço o suficiente para ter certeza de que ele não quis me colocar em risco de verdade.— Você chama isso de estar segura?! — A voz de minha mãe ficou estridente e nas alturas. — Eu quero cancelar esse noivado agora mesmo, está me entendendo?Meu coração parou. Cancelar?! Agora que estamos nos dando bem
Ficamos um pouco no sofá enquanto Duncan consumiu o lanche de minha mãe. Depois nos abraçamos e assistimos um filme. Como ele deixou eu escolher, coloquei um romance coreano.Ele cochilou um pouco em meus braços enquanto fiz carinho em seus cabelos. Acabei cochilando também, antes do final, e depois eu resolvi deixar ele descansar melhor em uma cama.Fui para o meu quarto. Queria falar com minhas amigas, mas lembrei dos ensinamentos da Societá: anunciar que havia sofrido um ataque mostraria apenas vulnerabilidade e eu decidi não fazer. Eu me sentia um pouco solitária por não ter ninguém para conversar, mas eu sabia o peso que era fazer parte da família Campanazzi.Em meu quarto, apenas estudei e terminei todas as lições de casa, enquanto ouvia a música da caixinha de músicas que Duncan me presenteou. De vez em quando alguns flashes daqueles momentos que pareciam tão distantes na memória passavam na mente, eu realmente preciso ficar atenta porque Duncan é um homem esperto demais. Já es
O sol da manhã estava nascendo lentamente, lançando uma luz dourada sobre as ruas enquanto eu observava pela janela do carro. O café na minha mão já não parecia tão reconfortante, e o gosto amargo me lembrava do nó que se formava no meu estômago. O cheiro de grama molhada entrava pelas frestas do carro, misturando-se ao perfume de Duncan, mas nada conseguia acalmar a ansiedade que se acumulava em mim. Eu tinha que entrar nesse assunto, não tinha? Foi o motivo pelo qual eu fiz Duncan vir correndo até mim e agora eu tinha ainda mais dúvidas sobre a questão da qual ele se mantinha em silêncio.O observei de relance. Ele dirigia calmo, deixando a música envolver o carro, com o olhar fixo nas ruas da cidade. O maxilar tenso, como sempre, a curvinha dos lábios descontentes, para baixo. Eu já estava acostumada com seu humor irreverente, dessa vez o mau-humor era por ter que acordar cedo demais. Não deu tempo de tomar café, eu estava atrasada para as aulas, mas ele parou em uma cafeteria nos