Conforme cruzávamos o salão principal do cassino, um arrepio percorreu minha espinha. Havia algo magnético no ambiente — as luzes brilhantes, o som dos copos tilintando, as risadas despreocupadas dos jogadores. Era uma euforia quase contagiante, e por um momento, me peguei sendo levada por ela. O brilho das mesas de jogo parecia hipnotizar quem se aproximava. A energia no ar era quase palpável, como se a qualquer momento algo explosivo estivesse prestes a acontecer.Meu vestido azul cintilava sob as luzes douradas e prateadas, o tecido fluindo com cada movimento, como água refletindo o brilho intenso dos lustres de cristal pendurados no teto. O decote nas costas expunha minha pele de maneira ousada, mas elegante, uma sensação fria e excitante de vulnerabilidade que contrastava com o calor dos olhares que sentia sobre mim. Mesmo cercada por figuras poderosas e calculistas da Ultima Societá, me permiti sentir, por um breve instante, como se estivesse flutuando em uma bolha de glamour, d
Enquanto me acomodava no bar, o brilho dos copos de cristal refletia em suaves feixes sob as luzes cálidas do cassino, fragmentando o ambiente em pequenas explosões de luz. O som constante das máquinas e o murmúrio das conversas ao redor formavam um zumbido quase hipnótico. Pedi um martíni, mas o copo nas minhas mãos trêmulas era apenas uma distração, algo para me manter ancorada enquanto minha mente vagava por labirintos sombrios. Meu coração estava inquieto, pulsando com uma ansiedade que nem o luxo e o brilho ao meu redor conseguiam mascarar.A opulência que antes me fascinava agora parecia uma prisão dourada. Cada detalhe brilhante, cada lustre magnífico, pesava sobre meu peito, sufocando. O vidro frio roçou meus dedos quando o barman colocou o copo à minha frente, mas o impacto físico era insignificante comparado ao turbilhão emocional que se agitava dentro de mim. Eu sabia que estava sendo observada, analisada, e não apenas por Fabrizio.Meus olhos varreram o salão, e foi então
A Ferrari deslizava pela estrada deserta, o ronco suave do motor ecoando na escuridão como uma fera que espreita. O carro cortava a noite, e o silêncio entre nós parecia mais pesado do que o próprio ar, carregado por tudo o que não havia sido dito. As luzes da cidade haviam desaparecido, e o mundo ao redor era apenas sombras. Mas dentro de mim, as últimas horas ainda ecoavam, como um redemoinho de pensamentos. Não era apenas sobre Grazi, Pietro ou Ottavia. Algo mais profundo havia se agitado naquela noite. Algo que eu ainda não conseguia entender completamente, mas que me deixava inquieta.Duncan dirigia concentrado, seus olhos fixos na estrada à frente. O painel do carro iluminava suavemente seu rosto, lançando sombras que acentuavam a seriedade em seus traços. Ele também estava processando o que havia acontecido, eu sabia disso. Mas havia algo nele — uma barreira, algo que ele não estava compartilhando. Isso me incomodava mais do que eu queria admitir. Precisava entender mais. Preci
A casa estava mergulhada em um silêncio profundo quando entramos, o único som sendo o leve eco dos nossos passos no chão de mármore. As sombras suaves das luminárias dançavam ao longo das paredes, lançando um brilho dourado e acolhedor no corredor. Havia algo de reconfortante em estar de volta à mansão, longe dos olhares julgadores do cassino, mas ao mesmo tempo, a tensão entre Duncan e eu ainda estava ali, pulsante, como uma corrente subterrânea que se recusava a desaparecer.Conforme caminhávamos juntos em direção ao meu quarto, senti uma energia diferente no ar, uma tensão que misturava desejo e incerteza. Duncan andava ao meu lado, seus passos firmes, mas seu olhar era atento, sempre voltado para mim. Eu sabia que, apesar da noite tumultuada, havia algo entre nós que ambos queríamos explorar. Parei em frente à porta do meu quarto, hesitante, mas antes que pudesse dizer algo, senti o calor do corpo de Duncan se aproximar, seu perfume amadeirado preenchendo o ar entre nós.Ele não d
O sol da tarde pairava alto no céu, seus raios quentes iluminando o pátio da imponente mansão Delvecchio. Uma leve brisa balançava as copas das árvores, mas não era o suficiente para dissipar a tensão que pairava no ar. As malas estavam dispostas ao lado do táxi, que aguardava com o motor desligado. Eu, Ottavia e Grazi permanecíamos ali, envoltas em um silêncio carregado. Não era apenas o calor sufocante que pesava sobre nós — eram os segredos não ditos, pairando como nuvens prestes a desabar.Grazi estava inquieta. Seus olhos evitavam os nossos, desviando constantemente, como se ela soubesse que a qualquer momento seria confrontada com o que todos já suspeitavam. Desde que retornara à mansão naquela manhã, após passar a noite fora, ela mal dissera uma palavra, e Ottavia, sempre perspicaz, claramente percebera.Mas Ottavia não era do tipo que guardava suas curiosidades por muito tempo.— Onde você estava, Grazi? — perguntou Ottavia, a voz carregada de um misto de curiosidade e desconf
A minha vida mudou para sempre com a visão que se desdobrava diante de mim. Minhas mãos apertavam o tecido amarelo do meu vestido de festa com tanta força que os nós dos meus dedos ficaram brancos. Eu não deveria estar ali, naquele corredor. Como fui me perder nesta mansão onde acontecia o casamento da minha mãe?Ainda ouvia a música da festa distante, atrás de mim, mas aos poucos fui ficando como surda, ouvindo apenas as batidas apavoradas do meu coração. Meus pulsos ainda carregavam as marcas das consequências daquela união inesperada entre minha mãe e meu padrasto; eu havia sido atacada e amarrada. Pediram até um resgate. Parece que essa era a nova realidade com a qual eu tinha de lidar: enquanto minha mãe encontrava o homem de sua vida, eu enfrentava dia após dia uma queda livre, sendo tragada para o meio do enigma de uma sociedade de elite secreta.Não culpo minha mãe pelas coisas horríveis que aconteceram comigo, mas os traumas que carrego certamente seriam menores se ela nunc
Um ano e um mês depoisO reflexo no espelho refletia uma pessoa que não era a minha verdadeira identidade. Toda a minha vida me chamei Vicenza Leone Jung, mas desde que tive que assumir o sobrenome de Campanazzi, ele se tornou um carimbo a ferro quente na minha pele, literalmente.Eu podia ver a marquinha que ficava em meu pulso e a esfreguei com força, desejando que ela pudesse sair, mas não importava quanta força eu usasse, estava para sempre marcado em mim. Tornei-me posse dos Campanazzi e isso queria dizer que eu era somente uma moeda de troca em acordos políticos e financeiros entre as famílias da sociedade.Diante do espelho eu olhava para essa garota que teve os sonhos quebrados. Seu vestido era um luxuoso Elie Saab com um tom azul celeste; único, uma saia comprida, transparente e esvoaçante, e um corpete de renda feito a mão e acinturado. Corri a mão pelos tecidos, eram de alta costura e luxo, suave ao toque. Eu estava linda… mas odiando tudo aquilo.— Seu noivo ficará encanta
A festa de noivado havia sido preparada no salão do hotel, que era um local muito luxuoso, como tudo na sociedade. Conforme se aproximava da hora de assinar o contrato, eu me sentia nervosa e meu estômago se revirava.Preparar a recepção de noivado é uma obrigação dos pais da noiva, então eu participei de todo o processo, desde a escolha do vestido azul celeste às flores cor-de-rosa que decoravam o salão. O hotel foi uma sugestão de Irineo, por ser um local de fácil controle de ambiente e porque, dessa forma, ele não levaria uma família da sociedade para o centro de sua casa; o que poderia ser perigoso. Embora eu tivesse escolhido cada detalhe, confesso que muitas coisas escolhi por sugestão de minhas amigas e a sabedoria do meu padrasto e governanta; ambos muito familiarizados com as regras da sociedade, caso contrário, eu teria imposto que uma das coisas que não poderia faltar no meu noivado era um colete à prova de balas.A ideia de que Duncan Delvecchio era o meu noivo me apavora