O táxi parou suavemente em frente à imponente Mansão Delvecchio. Eu saí do carro com um misto de nervosismo e determinação, seguindo de perto Ottavia e Grazi.— A Sra. Delvecchio sempre morou por aqui, mas Duncan veio morar com ela depois da morte dos pais. — Grazi sussurrou baixinho em meu ouvido.Enquanto eu pegava minha mala do porta-malas do táxi e Ottavia pagava o motorista, dei uma olhada na residência. A mansão, com sua fachada de pedra cinza e telhado inclinado, exalava uma sensação de grandiosidade e tradição. O portão de ferro forjado estava entreaberto, e, enquanto caminhávamos pela escadaria de mármore, pude sentir a magnitude do lugar envolver-me.— Meninas! — A Sra. Adelina, uma mulher idosa com cabelo branco bem preso em um coque elegante, abriu a porta com um gesto suave e uma expressão de surpresa ao nos ver. Seus olhos, profundos e marcados por linhas de expressão, examinavam-nos com uma curiosidade cautelosa.— Oh, Vicenza! — exclamou com um tom de formalidade mistu
Ao ver Duncan, a Sra. Adelina fechou o álbum de fotos com um gesto lento e deliberado. O som abafado das páginas trouxe-me de volta ao presente, enquanto uma onda de emoções me invadia. A conversa que acabáramos de ter sobre ele havia revelado muito, mas também deixara uma sensação de inquietude. Eu me sentia mais próxima de Duncan, mesmo com a dor e a distância que nos separavam. No entanto, sua presença ali tornava tudo mais intenso, quase insuportável.Duncan parecia tenso, o maxilar travado como se segurasse uma tempestade prestes a explodir. Seus olhos alternavam entre surpresa e desconfiança, e o peso do mundo parecia repousar sobre seus ombros. O que eu esperava? Que, como em um conto de fadas, ele simplesmente viesse até mim e dissipasse a escuridão que nos cercava?A Sra. Adelina, percebendo o clima pesado, ofereceu um sorriso calmo, mas era uma tranquilidade forçada, como se quisesse suavizar a tensão palpável no ar.— Que bom que você chegou, Duncan! — disse ela, habilidosa
O carro deslizou suavemente pela avenida, como uma fera silenciosa espreitando sua presa. As rodas cortaram o asfalto molhado com a suavidade de um sussurro, até parar em frente ao imponente Cassino, uma construção que parecia emergir das sombras como um gigante adormecido, banhado pelo brilho prateado da lua. As fachadas refletiam a luz das estrelas como diamantes incrustados no mármore branco, e as luzes que piscavam anunciavam um mundo onde a glória e o perigo se entrelaçavam de forma indistinta.Dentro do carro, meus dedos tremiam ligeiramente, embora eu tentasse escondê-lo de Duncan. Minha respiração estava rápida, o coração batendo como um tambor apressado em meu peito. Eu olhei pela janela e absorvi o cenário à minha frente. A grandiosidade do lugar parecia me sufocar e, ao mesmo tempo, me atrair como uma mariposa para a chama. Ao meu lado, Duncan mantinha a expressão séria, mas havia um brilho nos seus olhos — uma chama que ardia com determinação, mas que, ao mesmo tempo, carr
Conforme cruzávamos o salão principal do cassino, um arrepio percorreu minha espinha. Havia algo magnético no ambiente — as luzes brilhantes, o som dos copos tilintando, as risadas despreocupadas dos jogadores. Era uma euforia quase contagiante, e por um momento, me peguei sendo levada por ela. O brilho das mesas de jogo parecia hipnotizar quem se aproximava. A energia no ar era quase palpável, como se a qualquer momento algo explosivo estivesse prestes a acontecer.Meu vestido azul cintilava sob as luzes douradas e prateadas, o tecido fluindo com cada movimento, como água refletindo o brilho intenso dos lustres de cristal pendurados no teto. O decote nas costas expunha minha pele de maneira ousada, mas elegante, uma sensação fria e excitante de vulnerabilidade que contrastava com o calor dos olhares que sentia sobre mim. Mesmo cercada por figuras poderosas e calculistas da Ultima Societá, me permiti sentir, por um breve instante, como se estivesse flutuando em uma bolha de glamour, d
Enquanto me acomodava no bar, o brilho dos copos de cristal refletia em suaves feixes sob as luzes cálidas do cassino, fragmentando o ambiente em pequenas explosões de luz. O som constante das máquinas e o murmúrio das conversas ao redor formavam um zumbido quase hipnótico. Pedi um martíni, mas o copo nas minhas mãos trêmulas era apenas uma distração, algo para me manter ancorada enquanto minha mente vagava por labirintos sombrios. Meu coração estava inquieto, pulsando com uma ansiedade que nem o luxo e o brilho ao meu redor conseguiam mascarar.A opulência que antes me fascinava agora parecia uma prisão dourada. Cada detalhe brilhante, cada lustre magnífico, pesava sobre meu peito, sufocando. O vidro frio roçou meus dedos quando o barman colocou o copo à minha frente, mas o impacto físico era insignificante comparado ao turbilhão emocional que se agitava dentro de mim. Eu sabia que estava sendo observada, analisada, e não apenas por Fabrizio.Meus olhos varreram o salão, e foi então
A Ferrari deslizava pela estrada deserta, o ronco suave do motor ecoando na escuridão como uma fera que espreita. O carro cortava a noite, e o silêncio entre nós parecia mais pesado do que o próprio ar, carregado por tudo o que não havia sido dito. As luzes da cidade haviam desaparecido, e o mundo ao redor era apenas sombras. Mas dentro de mim, as últimas horas ainda ecoavam, como um redemoinho de pensamentos. Não era apenas sobre Grazi, Pietro ou Ottavia. Algo mais profundo havia se agitado naquela noite. Algo que eu ainda não conseguia entender completamente, mas que me deixava inquieta.Duncan dirigia concentrado, seus olhos fixos na estrada à frente. O painel do carro iluminava suavemente seu rosto, lançando sombras que acentuavam a seriedade em seus traços. Ele também estava processando o que havia acontecido, eu sabia disso. Mas havia algo nele — uma barreira, algo que ele não estava compartilhando. Isso me incomodava mais do que eu queria admitir. Precisava entender mais. Preci
A casa estava mergulhada em um silêncio profundo quando entramos, o único som sendo o leve eco dos nossos passos no chão de mármore. As sombras suaves das luminárias dançavam ao longo das paredes, lançando um brilho dourado e acolhedor no corredor. Havia algo de reconfortante em estar de volta à mansão, longe dos olhares julgadores do cassino, mas ao mesmo tempo, a tensão entre Duncan e eu ainda estava ali, pulsante, como uma corrente subterrânea que se recusava a desaparecer.Conforme caminhávamos juntos em direção ao meu quarto, senti uma energia diferente no ar, uma tensão que misturava desejo e incerteza. Duncan andava ao meu lado, seus passos firmes, mas seu olhar era atento, sempre voltado para mim. Eu sabia que, apesar da noite tumultuada, havia algo entre nós que ambos queríamos explorar. Parei em frente à porta do meu quarto, hesitante, mas antes que pudesse dizer algo, senti o calor do corpo de Duncan se aproximar, seu perfume amadeirado preenchendo o ar entre nós.Ele não d
O sol da tarde pairava alto no céu, seus raios quentes iluminando o pátio da imponente mansão Delvecchio. Uma leve brisa balançava as copas das árvores, mas não era o suficiente para dissipar a tensão que pairava no ar. As malas estavam dispostas ao lado do táxi, que aguardava com o motor desligado. Eu, Ottavia e Grazi permanecíamos ali, envoltas em um silêncio carregado. Não era apenas o calor sufocante que pesava sobre nós — eram os segredos não ditos, pairando como nuvens prestes a desabar.Grazi estava inquieta. Seus olhos evitavam os nossos, desviando constantemente, como se ela soubesse que a qualquer momento seria confrontada com o que todos já suspeitavam. Desde que retornara à mansão naquela manhã, após passar a noite fora, ela mal dissera uma palavra, e Ottavia, sempre perspicaz, claramente percebera.Mas Ottavia não era do tipo que guardava suas curiosidades por muito tempo.— Onde você estava, Grazi? — perguntou Ottavia, a voz carregada de um misto de curiosidade e desconf