Fechei os olhos por um momento, tentando organizar meus pensamentos e acalmar a tempestade de emoções que estava dentro de mim.— Ottavia, ele me enganou. — Minhas palavras saíram quase como um sussurro, carregadas de uma amargura que eu mal conseguia disfarçar.A vergonha me invadiu ao deixar essas palavras escaparem, mas eu precisava desabafar com alguém. Escolhi uma de minhas amigas mais próximas, aquela em quem confio profundamente. Ottavia sempre foi meu porto seguro desde que nos tornamos amigas na escola. Ela foi a primeira a estender a mão e me acolher, mesmo quando eu não era uma Campanazzi legítima.À minha frente, Ottavia empalideceu, visivelmente preocupada.— Figlio della putana! — exclamou, sua reação um reflexo da verdadeira amizade que nos unia. — O que ele fez? Foi ontem durante o passeio? Não me diga que ele encostou a mão em você?!— Não… não… não é isso que você está pensando — disse eu, rapidamente, para acalmá-la.— Então, conte tudo agora, Vicenza! Per favore!A
— O que você quer dizer com isso? — Perguntei, tentando esconder a apreensão na minha voz.Bianca hesitou por um momento, avaliando o quanto deveria revelar. Finalmente, ela se inclinou um pouco mais perto e murmurou, quase como se estivesse contando um segredo sussurrante:— No ano passado, a noiva anterior de Duncan... ela apareceu morta.Levei um susto.— As pessoas dizem que foi suicídio, mas há muito que não se sabe ao certo. Rumores e especulações estão sempre à solta quando se trata da família Delvecchio. Não é fácil confiar em tudo que você ouve, mas algo me diz que nem tudo é o que parece.Eu me estremei com suas palavras. O tom de Bianca e o olhar de escárnio que ela lançou sugeriam que havia algo muito mais sombrio escondido por trás daquela morte. Uma sensação sinistra se apoderou de mim e meu coração parecia afundar, pesando toneladas.— O que você está insinuando? — Ottavia perguntou, tentando manter um tom neutro, mas seu olhar traía inquietação. — Foi apenas um caso de
Somente uma pessoa poderia me ajudar a entender melhor toda essa situação: Irineo, meu padrasto.Depois de um banho relaxante, vesti uma roupa confortável e caminhei em direção à sala de leitura. Cada passo era hesitante, como se uma sombra me seguisse. Aquele era um dos espaços mais aconchegantes e silenciosos da mansão. As estantes de madeira escura, repletas de volumes encadernados em couro, subiam até o teto, exalando uma aura de acolhimento e erudição. O tapete persa sob meus pés abafava o som dos passos, e o leve aroma de livros antigos misturava-se com o perfume terroso do couro das poltronas. A música clássica, tocada em um volume baixo e envolvente, preenchia o ambiente com um toque sutil de sofisticação e calma, quase irônica diante da tempestade em meu coração.Se Irineo e minha mãe realmente acreditavam que Duncan não era completamente mau, então devia haver algo mais complexo por trás de suas ações impulsivas e descontroladas.Irineo, um homem de postura imponente e olha
Meu coração martelava dentro do peito enquanto eu ouvia música no quarto com os fones de ouvido e deitada na cama. Era noite, já passava das oito horas e eu não podia negar que a ansiedade estava me sufocando.Aquele maldito não saia da minha cabeça e eu ficava angustiada pensando nele. Sentei e peguei o celular, girando na cama. Ergui os pés enquanto buscava pelo número do meu noivo no celular, desbloqueando o contato. Eu salvei o nome dele como Coringa, acho que combina bem com ele, não é mesmo? Respirei fundo antes de apertar o botão para realizar uma ligação e mantive o aparelho na mão, embora eu estivesse o fone bluetooth para escutar a ligação.— Pronto?— Duncan? — Questionei, embora eu soubesse que ele já sabia que era eu antes mesmo de ouvir a minha voz.— Que surpresa, mia principessa… — Ele soou rouco, com um deboche irônico impregnado na voz. Eu pude imaginar como ele estaria, sentado em seu escritório, se escorando na poltrona e rindo leve, por eu ter finalmente cedido e
— Desculpe se pareci afetuoso demais, Vicenza. — O franzir em sua testa era algo que eu esperava, mas a curva de descontentamento acentuada em seus lábios trouxe um aperto em meu coração.— Não exagere no seu teatro na frente de meus pais. — Rachei entre dentes, esfregando a testa, o local em que seus lábios encostaram parecia pegar fogo.— Que teatro? — Duncan indagou, enfiando as mãos no bolso da calça. — Eu realmente estava com saudades de você. Mas entendo que você quer falar sobre algo sério. O que está acontecendo?— Você não me contou nada sobre sua avó. — Disse não tão branda. Eu queria falar sobre sua ex-namorada, mas as palavras não saíram. Cruzei os braços. — Eu ouvi de minha mãe que ela estava doente e agora você me diz que ela está melhor. Por que não me contou nada?— Não faria diferença te preocupar. — Ele colocou as duas mãos na cintura e deu um suspiro, contendo o seu gestual. — E você nem mesmo me atendeu ao telefone!— Prefiro que você me conte as coisas, assim eu s
Seguimos para a Piazza delle Erbe, caminhando tranquilamente pelas ruas e explorando o comércio local. A praça estava vibrante, um mosaico de barracas coloridas e cafés movimentados, e o ar estava impregnado com aromas tentadores: o doce de confeitos, o salgado de frituras e um toque picante de especiarias.Eu segurava firmemente o braço de Duncan, desfrutando da sensação reconfortante de sua presença ao meu lado, enquanto terminava meu sorvete. Quando acabei, me dirigi à lixeira mais próxima, incomodada pela falta de cuidado das pessoas com o lixo. O descaso estava em todos os lugares, e eu sentia que a cidade poderia ser muito mais limpa se todos fizessem um pequeno esforço.— O que faremos agora?— Vamos para as vendinhas, quero comprar algo para você. — Ele sorriu com uma doçura inesperada e aquele sorriso iluminou seu rosto de uma maneira que fez meu coração derreter.Duncan não costumava demonstrar afeto de forma aberta; ele podia ser tão imponente quanto um touro bravo, um home
Os homens se aproximaram rapidamente, sem me dar tempo para reagir. A ameaça que eles representavam fez com que minhas pernas se enfraquecessem. Encolhi-me, gritando, e usei a bolsa para proteger meu rosto, na esperança absurda de me esconder atrás dela.Senti suas mãos se fecharem em torno dos meus braços, implacáveis e firmes.— Me soltem!Eles riram, indiferentes ao meu desespero, e continuaram me segurando. O pânico crescia dentro de mim, paralisando cada movimento. Minha bolsa caiu no chão, o fecho se abrindo e liberando a carteira, uma necessaire com maquiagem e o celular. Era claro que o interesse deles não estava em objetos pessoais ou dinheiro; eles estavam atrás de algo mais.— Vocês, soltem a minha noiva, agora!Eu tentei olhar para Duncan, mas meus olhos estavam cheios de lágrimas e eu não conseguia suportar a situação. Cerrei os olhos com força, meu corpo foi sacudido e os homens me soltaram. Os sons de uma luta violenta ressoavam ao meu redor: socos secos, o estalo agudo
A sala de estar estava com a lareira acesa e crepitando suavemente. Duncan se sentou ao meu lado no grande sofá, pegando minhas mãos nas dele.Eu notei que elas estavam mais limpas, sem qualquer resquício de sangue em sua pele macia, mas a temperatura era fria e estavam úmidas, por ele ter acabado de as lavar.— Sinto muito por hoje. — Havia sinceridade em seus olhos e seu toque era gentil. — Nunca quis te colocar em perigo.Ah, agora ele ia fazer o papel de noivo arrependido depois de me usar de isca? Suspirei, sentindo um nó na garganta. As palavras dele eram reconfortantes, mas o medo ainda estava presente. Soltei uma das mãos e escovei seu rosto, ele procurou mais o meu toque e fechou os olhos, os cílios bem escuros que eu tanto gostava, os lábios naturalmente curvados e as pintinhas por seu rosto.Esfreguei o polegar em sua bochecha, deformando a curva de tristeza em sua boca para um sorriso torto.— Eu sei, Duncan — Respondi, acariciando-o. Eu ainda estava tremendo, mas estar co