Luna Medeiros
É hoje que eu começo a trabalhar na casa dos Mendonça.
Quando parei de trabalhar como empregada e comecei no meu primeiro estágio, pensei que nunca mais voltaria, e que tudo iria melhorar. Mas há alguns dias minha mãe passou muito mal, e fui às pressas levá-la ao hospital.
Acabei gastando todas as minhas economias com os exames sem me importar, porque eu só queria saber o que estava acontecendo com a minha mãe, e em um deles foi detectado um câncer maligno na bexiga. Não me vi tendo muita escolha por conta da situação que acabou nos atingindo, ainda mais por conta dos medicamentos que precisei comprar, e entrei em contato com dona Sônia, uma amiga de longa data da minha mãe.
Precisava desse trabalho, já que mesmo antes de descobrir a doença da minha mãe, as coisas aqui em casa não iam bem. E o dinheiro do estágio não era suficiente, e depois que me mandaram embora – porque o escritório precisava fazer cortes de gastos e eles preferiram mandar um estagiário embora – tudo só piorou. Mas eu sinto que devo fazer até o impossível por ela, afinal, ela sempre se esforçou por mim e fez de tudo para que eu pudesse ter uma boa educação, e claro… pudesse fazer a minha faculdade de forma quase tranquila.
Somos só nós duas, sempre foi assim, desde que eu posso me lembrar, e essa não é a primeira vez que enfrentamos dificuldades. Então, depois que dona Sônia me disse que tinha conseguido o emprego para mim na casa dos Mendonça, não acreditei. Era um sonho poder trabalhar perto de uma das famílias mais famosas no ramo jurídico, principalmente para uma futura advogada, como eu.
Dona Sônia sempre nos ajudou e agora não quero abusar da sua boa vontade.
Saio cedo, precisando chegar no horário na casa dos Mendonça que também eram conhecidos pelo esquema de segurança deles. Afinal, essa casa está mais para uma fortaleza, rodeada de seguranças e câmeras, do que realmente uma mansão.
E depois de conseguir permissão para entrar assim que eu respondi todas as perguntas necessárias – por conta do protocolo da mansão – vou direto para a cozinha encontrar dona Sônia.
— Dona Sônia. — Chego a chamando.
— Oi, Luna, como você está? — Ela me pergunta preocupada, pois conhece a situação em que me encontro.
Dona Sônia e minha mãe trabalhavam em uma casa há alguns anos, e desde então elas são amigas e principalmente, ela tem me ajudado bastante, desde que soube sobre a doença da mamãe.
— Eu estou bem, obrigada.
— Que bom, minha filha. E como está a sua mãe? — Ela diz, passando por mim, sorrindo, pegando algumas coisas para pôr na mesa.
— Está melhor, só precisa descansar por ordens do médico, mas vai ficar tudo bem. — Digo, ajudando-a com os pratos.
— Essa é uma ótima notícia, filha. Fico muito feliz em ver você fazendo de tudo por sua mãe, ela deve ter muito orgulho de você — ela me olha por alguns segundos enquanto me passa os talheres — Eu teria. — Ela dá um sorriso sincero.
— Obrigada, dona Sônia. Agora, por onde eu começo? — pergunto, notando muitas vozes na casa.
— Bom, Luna, hoje essa casa está cheia de gente, o que significa muito serviço para nós duas. Como disse pra você quando nos falamos por telefone, temos alguns funcionários para cada trabalho específico na casa. Você estará me ajudando diretamente em minhas funções. Basicamente, eu sou a governanta da casa, mas também faço as refeições, é algo que nunca quis mudar, na minha cozinha só eu mexo. – ela explica, o que me faz pensar que a dona Sônia não mudou nem um pouco, considerando o que a minha mãe me conta do tempo que as duas trabalhavam juntas. – Então você irá me ajudar com isso, preparar as refeições e pôr e retirar a mesa, entendeu? – Ela finalmente dá uma breve pausa para respirar. – Ah, e antes que eu me esqueça, aqui está seu uniforme. — Ela diz me entregando ele e eu lhe dou um sorriso.
— Nossa… ele é perfeito! — Digo, olhando meu uniforme. É uma das roupas mais lindas que já vi. Sei que é um uniforme padrão de todos os funcionários, e por mais que seja extremamente bonito, me sinto envergonhada porque sei que ele vai ficar marcado em mim. Dona Valentina foi um amor em fazer ele sob medida, mas… sempre tenho esse problema com as minhas roupas. — Dona Sônia, esse é meu uniforme mesmo?
— Querida, você pode me chamar só de Sônia — ela coloca a mão em meu ombro brevemente ao dizer — E respondendo sua pergunta, sim, esse é seu uniforme.
Deixo um sorriso escapar quando eu escuto isso, porque no fim, eu ainda não consigo acreditar, afinal, esse uniforme é tão lindo quanto os que eu vejo em filmes.
— Que bom que você gostou do uniforme. — Ela diz com um arquear leve nos lábios e eu concordo.
— Sim, ele é lindo, mas é diferente dos uniformes que já usei. — Comento, admirada. É a primeira vez que uso um uniforme tão bonito assim.
— Ele é diferente porque foi a Valentina quem fez, todos os uniformes dos funcionários são feitos por ela, cada uniforme tem um detalhe diferente, é a marca registrada dela. — Fico parada, olhando para ela. Não acredito que foi a Valentina Mendonça quem fez este uniforme.
Dona Sônia olha para mim com uma expressão que deixa claro como está louca para rir da minha surpresa.
— Não acredito, dona Sônia, sério? Nossa… ela é uma das melhores estilistas que já vi. — Eu amo cada trabalho da Valentina Mendonça. Ela é minha estilista preferida.
— Querida, a Valentina faz tudo com muito carinho. — Dona Sônia parece uma mãe orgulhosa ao dizer — Mas eu tenho que concordar que todas as roupas dela são maravilhosas. Mas agora? Vamos trabalhar, que hoje essa casa está cheia de Mendonça e também cheia de trabalho.
— Sério? É alguma data especial?
— E lá tem data especial para esses meninos aparecerem? Já estou até ficando louca com os meus meninos. — Ela fala com os olhos brilhando.
Eles pareciam significar muito para ela.
— Então a família toda está aqui?
— Sim.
Ai, meu Deus! Agora me bateu um frio na barriga, do nada...
— Dona Sônia, agora eu fiquei nervosa. — Falo tremendo, sem saber por onde começar.
Eu não sei o que deu em mim, eu nunca fiquei tão nervosa assim antes, nem quando eu estava esperando o resultado da faculdade de direito.
— Fica tranquila, minha filha! Essa família é a mais humilde que já vi. Com eles, não tem frescura, todos irão te acolher muito bem. — Ela fala, tentando me acalmar.
Respiro fundo e tento acreditar em suas palavras, mesmo ainda estando nervosa. Decido focar em realizar um ótimo trabalho, eu preciso disso, e é o que importa. Nada vai me abalar, vou deixar qualquer medo e insegurança de lado.
— É, a senhora tem razão. Vamos começar?
— Primeiro, vou te apresentar à família Mendonça.
Eita, é agora que vou morrer de vez ou ter um infarto, tinha que ser logo para a família toda…?
— Está bem, dona Sônia. Vou só me trocar e já encontro a senhora. 𑁋 Eu digo, e depois termino de me vestir no quarto de empregada que foi disponibilizado para mim.
Assim que saio, encontro dona Sônia na cozinha me esperando para irmos até a sala, onde toda a família parecia me esperar.
Escuto várias vozes e gente rindo quando chegamos na sala, apenas para todos pararem o que estavam fazendo e olharem para nós. E antes que dona Sônia fale algo, o homem de costas para nós se vira, com um sorriso de tirar o fôlego, e os olhos… Ah... os olhos, meu Deus, são impressionantes de tão lindos.
Sinto algo passar por todo o meu corpo quando seus olhos queimam em minha pele, uma corrente de energia que me faz arrepiar. Céus, que homem é esse?
Henry MendonçaEu estava na sala conversando com meus pais quando Soninha entrou para apresentar para nós a nova empregada e porra! Que caralho de mulher gostosa! Porra, quem é essa mulher? Fico hipnotizado pela sua beleza e a pele tão branca que me lembra uma porcelana e esses cabelos cor de fogo e os olhos... nossa, que olhos são esses? São de um azul que eu nunca vi na vida. Tão impressionantes, como uma jóia das mais raras... Merda, eu não sou assim… se recomponha, porra! Quando foi que você ficou perdido assim por uma mulher?Saio do meu transe e sorrio para ela, ainda impactado com a ruiva à minha frente. Me levanto, indo até elas e dar um beijo em minha Soninha. A mulher que eu tenho como uma segunda mãe, ela sempre cuidou de mim na minha infância. — Soninha, estava morrendo de saudades! — Abraço e a rodo como fazia quando era mais novo e ela começa a rir.— Menino, me põe no chão! — Rio da cara que ela faz e, enquanto isso, a mulher misteriosa só nos observa séria.— Ai, já
Luna Medeiros Depois de ter ajudado dona Sônia com as coisas na cozinha, eu fui arrastada mais uma vez para o meio dos Mendonça, e céus… é impressionante como a genética dos Mendonça é boa, eles são muito parecidos. Lindos. E a característica principal são os olhos azuis. Mas eu ainda não consigo parar de pensar no homem que veio falar com dona Sônia. Ele tem muito carinho por ela, era nítido.Mas… eu também não consegui tirar da minha cabeça a forma que ele me olhou… porque eu comecei a sentir coisas estranhas. Senti o meu coração acelerar como louco quando aqueles olhos que pareciam dois topázios me encararam de forma intensa, enquanto eu sentia um calor preencher todo o meu corpo, principalmente no meu rosto. Só que para minha sorte – ou melhor, graças a Deus – dona Ana veio falar comigo e tirei minha atenção dele,caso contrário… acho que eu iria enlouquecer. Mas quem disse que eu consegui me manter muito tempo longe daquele homem? Porque assim que dona Ana começou a me puxar de
Luna Medeiros Depois do episódio na sala de jantar, não o vi mais nem mesmo no almoço, dona Sônia que levou seu almoço para o escritório, e lá ele ficou durante toda a tarde. Fiquei tão perdida em pensamentos que me esqueci totalmente das horas e vi que iria me atrasar para a apresentação.— Droga! — Xingo vendo que vai ser impossível pegar um ônibus e metrô, e ainda chegar na hora, o que eu faço? — Tudo bem, menina? — Na hora me dou conta da dona Sônia e dele sentados à mesa da cozinha, ele toma uma xícara de café enquanto me encara como se quisesse me devorar. — Está, sinto muito pelo linguajar. — Acabo dizendo depois que coloco a minha cabeça (mesmo que levemente) no lugar.— Não parece tudo bem. Algum problema? — Henry diz e fico mais nervosa ainda, porque ele falou com aquela voz rouca que mal parecia real.— É que acabei me atrasando, tenho uma apresentação de um trabalho e não vou conseguir chegar a tempo.— Não seja por isso, eu levo você. — Diz, se levantando e percebo qu
Henry MendonçaMas que merda!Fico me perguntando o que eu estava pensando para encurralar essa menina e dizer o que eu disse.Droga! Tenho que parar de pensar nela! Reúno todas as minhas forças e saio da despensa sem me verem, devo ficar longe dessa mulher ou então ela será a minha ruína.— Henry. — Viro e dou de cara com o meu pai.— Pai? — Falo um tanto surpreso, afinal… eu não esperava ver ele hoje…— Quero falar com você lá no escritório. Vamos, seu tio e seu primo estão nos esperando.— Certo…. — Fiquei um tanto desconfiado ao ouvir aquelas palavras do meu pai, mesmo assim, fui até o escritório com ele (e ali já percebi que a conversa não seria nada boa).— Sentem-se. — Meu tio fala com uma expressão séria.— Bom, eu vou ser direto no assunto.— Pode dizer, pai.— Eu quero tanto você quanto o Igor longe da Luna. — Ele aponta para nós dois. Mas que porra é essa? Eu virei um adolescente para ser repreendido desse jeito?— Posso saber o porquê disso, tio? — Meu tio vira para o Ig
Luna MedeirosDepois daquele episódio onde eu tive uma crise de pânico, tentei ao máximo me acalmar porque ainda tinha que ir para a faculdade. Não vejo a hora de me formar logo. Eu estou cada vez mais perto de ter o meu diploma, por isso me sinto cada vez mais ansiosa. Então, fui à faculdade, mas nem assim aqueles malditos olhos azuis saíam da minha cabeça. O que está acontecendo com você, Luna? O que tem de diferente naquele homem que te fez se sentir assim?Mesmo me perguntando isso milhares de vezes, eu ainda não sei como responder. Voltando para casa, eu tentei tirar ele da minha cabeça, esquecê-lo, – mas logo me lembro de tudo que minha mãe e eu temos passado por causa do seu problema de saúde, e isso tem me tirado o sono há muito tempo. Talvez fosse até melhor continuar pensando em Henry Mendonça. Ou era o que eu estava pensando antes de escutar de longe a voz da minha mãe me chamando.— Oi, mãe. Como se sentiu hoje? Os remédios ainda estão te deixando sonolenta?— Oi, filh
Henry MendonçaAssim que saí do escritório, a única coisa que eu queria era chegar logo em casa e tomar um longo banho, mas como sempre, nada na minha vida acontece como eu quero, já que eu tenho uma pedra no meu caminho e essa pedra se chama Igor Mendonça. E claro que quando eu entrei em casa, a primeira coisa que eu encontrei foi ele muito bem sentado no meu sofá, como se fosse a porra do dono do lugar.— Não sabia que eu tinha visita. — Entro, batendo a porta com força e o desgraçado sorri.— Calma, cara, vim aqui te chamar para dar uma volta.— Não estou muito afim, Igor.— Ahhhh... Cara, fala sério, vai ser divertido.— É sério, Igor, não estou afim. — Falo, me jogando no sofá.— Ahhh... Moreno, não se faz de difícil comigo. — Ele diz, zoando com a minha cara e eu o fulmino com o olhar.— Vai se ferrar, Igor, já disse que não. Eu disse, porque ele já ia começar com a putaria. — Me fala, isso é pela conversa que tivemos na casa da vovó?— Também.— Também? E qual é o outro mot
Luna Medeiros A noite de ontem foi horrível, a briga com o Henry mexeu comigo, e o jeito que ele falou me trouxe lembranças que eu sempre quis esquecer, enterrar no mais profundo do meu consciente, mas ainda não consigo. O passado ainda é uma área delicada da minha vida, e eu sei que não estou bem há anos, mas não consigo encarar todos os meus medos e traumas de frente.É difícil ter que admitir isso tudo e por mais que eu saiba que preciso, sim, de tratamento psicológico — não tenho tempo e nem dinheiro para isso. Eu tenho que cuidar da minha mãe, tenho que terminar minha faculdade, tenho que fazer coisas demais por mim e por ela. São prioridades nas quais os meus problemas relacionados ao meu passado não podem se intrometer. Ainda assim, eu decidi que não vou dar esse gosto para ele; não vou desistir. Por mais que aquela briga tenha acabado comigo. Não. Eu preciso do trabalho e não vou deixar mais homem nenhum me tratar assim. Ele até pode achar que está fazendo o melhor para mim
Henry MendoçaA Luna vai ser minha, ela quer tanto quanto eu, vejo em seus olhos e sei que ela também sente esse magnetismo que nos leva até o outro.Não vou desistir, eu tentei lutar contra isso, e acabei sendo impulsivo por achar que estava fazendo a coisa certa, mas depois de sentir o gosto dela, não posso perdê-la.Mesmo com uma papelada enorme para ser analisada, é difícil esquecer o beijo que dei nela… porque Luna parecia uma droga no meu organismo, completamente viciante, ao ponto de fazer a minha cabeça girar. Eu apenas afrouxo a gravata e tiro uns minutos de descanso. Até que meu estresse diário passa pela porta como um furacão.— Licença que eu já tô entrando — ele diz ao se aproximar da minha mesa, colocando alguns papéis em cima dela — E dê uma olhada nessa pasta, parece que outro caso chegou pra você, e aparentemente é um dos grandes. — Bom, vamos ver… — eu abro levemente a pasta, dando uma olhada por cima — Um homem foi acusado de assassinar a própria filha?— Algo do