Capitulo 5

Henry Mendonça

Mas que merda!

Fico me perguntando o que eu estava pensando para encurralar essa menina e dizer o que eu disse.

Droga! Tenho que parar de pensar nela! 

Reúno todas as minhas forças e saio da despensa sem me verem, devo ficar longe dessa mulher ou então ela será a minha ruína.

— Henry. — Viro e dou de cara com o meu pai.

— Pai? — Falo um tanto surpreso, afinal… eu não esperava ver ele hoje…

— Quero falar com você lá no escritório. Vamos, seu tio e seu primo estão nos esperando.

— Certo…. — Fiquei um tanto desconfiado ao ouvir aquelas palavras do meu pai, mesmo assim, fui até o escritório com ele (e ali já percebi que a conversa não seria nada boa).

— Sentem-se. — Meu tio fala com uma expressão séria.

— Bom, eu vou ser direto no assunto.

— Pode dizer, pai.

— Eu quero tanto você quanto o Igor longe da Luna. —  Ele aponta para nós dois. 

Mas que porra é essa? Eu virei um adolescente para ser repreendido desse jeito?

— Posso saber o porquê disso, tio? — Meu tio vira para o Igor e o encara.

— Por quê? Você ainda pergunta, Igor? Tanto eu quanto o Gabriel vimos o jeito que vocês olharam para a menina e, ainda por cima, quase brigaram no dia que a conhecemos.

— Pai, eu e Henry não brigamos, você sabe disso, somos assim, o senhor já devia ter percebido. — Igor tenta explicar — Tipo vocês dois, que vivem fazendo o mesmo — ele continua, mas com esses dois não tem essa.

— Então você está querendo me dizer que aquilo tudo na sala não foi nada? Por favor, Igor, eu vi vocês dois crescerem e só de ver a cara de vocês ao olhar pra moça, dá para saber que ela chamou a atenção de vocês. — Enquanto isso, o Dr. Gabriel Mendonça só me fita como se quisesse descobrir algo.

— Mas é claro, pai, que ela chamou minha atenção, você viu a mulher! Porra, ela é gostosa e isso é um fato irrefutável. Não posso fazer nada. — Igor diz, sem pudor algum. 

Desgraçado, filho da puta! Se eu não tivesse um pingo de noção e consideração por ele, já tinha espancado ele até a morte!

— É claro que pode, idiota, pode manter as mãos e esse seu pau longe dela. — Falo firme para o bastardo entender. 

— E quanto a você, Henry, vai manter as mãos longe dela? Por que não quero problemas, e conhecendo vocês como conheço, ela ia ser apenas mais uma aventura, estou enganado? Não quero nenhum dos dois envolvendo o nome Mendonça em escândalos. — Meu pai me questiona. 

Ah, Dr. Gabriel, se fosse só as mãos que eu tivesse que manter afastadas dela...

— Não, pai, o senhor não está, eu lhe garanto que farei o impossível para me manter longe dela. — respondo, já sabendo que isso vai ser um pouco difícil. Porque eu realmente tentei… Eu fui a porra de um príncipe e joguei tudo por água abaixo, pelo simples fato de ter quase enlouquecido por não vê-la o dia todo.

— Nós não podemos nem ser amigos dela? — Igor pergunta, como se alguém fosse cair nessa conversa.

Eles o olham sério.

— Está bem, vou ficar longe da garota, era só isso?

— Sim, era só isso.

— Ahhh, então se era só isso, eu vou para a sala falar com a vovó.

— Eu vou com você, filho. — Meu tio diz, enquanto se levanta da cadeira, e vai até o filho da puta do meu primo — Vocês não vêm? — Ele pergunta antes de sair, segurando a porta.

— Não, podem ir. Eu quero falar a sós com o Henry.  

Meu tio apenas assente enquanto fecha a porta atrás de si, e eu espero para saber o que meu pai quer.

— Então, o que o senhor ainda quer falar comigo? — Eu pergunto e o estranho nisso tudo é que ele fica lá só me observando, sem responder. — Pai?

— Henry, porque algo me diz que você já tentou algo com essa menina?  

Puta merda! Além de advogado, o homem é adivinho? Só pode. 

— Não entendi. O que o senhor quer dizer com isso? — Minto descaradamente, me fazendo de sonso.

— Henry Mendonça, não se faça de desentendido — ele diz com o mesmo tom que usava quando eu era moleque, enquanto suspira profundamente — Eu te conheço, filho, e sei muito bem que ela chamou sua atenção, e que você raramente consegue manter as suas mãos longe quando isso acontece.

— Pai, é sério, não fiz nada. Sabe que nunca faria algo que a desrespeitasse ou pudesse trazer algum tipo de escândalo para a nossa família — começo a tentar me defender, mesmo que eu não tenha defesa alguma — Principalmente se tratando dela. Soninha a trouxe aqui, então ela é alguém de confiança, alguém de quem a Soninha gosta, e eu não faria nada para prejudicá-la.

— Isso é verdade, Sônia falou que é amiga da mãe de Luna, mas… não quis entrar em detalhes. — Ele respira fundo antes de continuar — De qualquer forma, quero que a respeite. 

— Mas eu a estou respeitando, pai! Estou me mantendo longe, eu juro pelo meu diploma! 

— Então, pode me explicar o que você estava fazendo mais cedo, huh? — Meu pai encarna o advogado de acusação dentro dele, enquanto se levanta para me encarar bem nos olhos — Você passou o dia fora e simplesmente te encontro saindo da cozinha com uma cara de culpa que eu nunca cheguei a ver nem no rosto de um bandido, e você quer mesmo me dizer que está se mantendo longe? — Ele bufa — Lembre-se, garoto… antes de ser o seu pai, eu também sou um advogado experiente, então, não fique achando que pode me enganar tão facilmente. 

— Não houve nada, tinha muitos processos para analisar no escritório, por isso passei o dia fora, minha cabeça está cheia com o trabalho. — Eu novamente oculto a verdade porque a minha cabeça está cheia de pensamentos sobre uma  ruiva com aparência de anjo.

— Henry, é sério, vou dizer uma última vez, quero você longe dela, — meu pai parece desistir de tirar algo de mim ao dizer — Estamos entendidos?

— Certo, pai, eu vou ficar longe, mas também quero saber o porquê disso tudo. — Pergunto irritado, porque no fim, o meu pai parece estar me tratando como um criminoso que cometeu um crime hediondo.

— Eu comecei assim com a sua mãe. Ela vinha aqui pra casa acompanhando a Sônia, eu a observava estudar sem conseguir tirar os olhos dela, seus avós sempre tiveram a sua mãe como uma filha também, — ele começa, levando a sua mão até as têmporas — E no fim, nós começamos errado e eu a magoei. Não quero que repita os meus erros. Hoje, eu e sua mãe somos felizes porque eu a amei na primeira vez que a vi, mas você, filho? — Ele solta um riso abafado — Só quer se divertir, você não é homem para ela. Então… faça o que eu peço, vai ser melhor assim. — Sinto o meu pai me encarando, e sei que neste exato momento ele deve estar me observando como se fosse um maldito falcão. Então o respondo de cabeça baixa, sem olhá-lo nos olhos:

— Está bem, pai, você está certo. 

Eu digo, mesmo sabendo – e não querendo admitir – que não a vejo assim, Luna despertou algo em mim durante esses três dias, e só o que quero é poder mergulhar nesse mar de sensações.

Só que… o que adianta eu tentar dizer isso para ele? Na cabeça do meu pai – por mais que eu reconheça que não seja mentira – eu não valho uma pinga quente. 

— Bom, vamos para a sala, sua mãe já deve estar sentindo sua falta.

Assenti antes de ir, e depois do jantar que se seguiu – após eu ter sido delicadamente enrabado – vou direto para o escritório, mesmo sendo tarde tenho que estudar o caso de amanhã, e preciso esquecer essa merda toda que aconteceu.

Passo horas submerso no caso do cliente que está sendo acusado de porte de ilegal de drogas pelo seu antigo chefe, que de acordo com o mesmo, o meu cliente usava seu estabelecimento como local para a venda dos entorpecentes.

O antigo chefe do meu cliente o acusou porque assim que a polícia invadiu o local e o encontrou ali, estava atuando em flagrante. A família do rapaz por ser humilde, não tinha dinheiro para pagar um bom advogado e por meio de uns dos projetos sociais dos escritórios Mendonça, nós disponibilizamos gratuitamente advogados para causas assim. 

— Infelizmente, ele ter sido pego em flagrante pesa um pouco… — murmuro, um tanto frustrado. 

Mas no fim, eu me ofereci para ficar com seu caso porque algo me diz que esse garoto não tem culpa de nada.

A noite passou num piscar de olhos, acabei dormindo no escritório, é nessas horas que agradeço que cada sala tem uma área de descanso — afinal, esses dias ela está sendo muito bem utilizada. 

— Bom dia, doutor Henry, o senhor chegou cedo. — Ouço Amanda dizer assustada por me ver aqui tão cedo. 

— Sim, precisava estudar um pouco mais sobre o caso de hoje.

— Precisa de algo? — Agora a minha secretária está na minha frente me fitando como se quisesse me devorar com os olhos. Ela sempre se jogou para mim, mas eu nunca quis misturar a vida profissional com o lazer, fora o processo que isso me causaria. 

No mesmo instante vejo os olhos da ruiva que tanto me atormenta virem à minha mente.

“Sai da minha cabeça!” Penso um tanto irritado, apenas para me forçar a respirar fundo.

— Não, Amanda, obrigado, pode continuar suas funções, estarei saindo agora para o fórum. — Ela me olha irritada, e simplesmente ignoro.

— É claro, doutor, com licença. — Ela sai com passos pesados até a porta e pego meu paletó novo junto com minha pasta e documentos. 

“Se antes eu já estava com um humor do cão, imagina agora.” Me veio  mente, porque além de ter que lidar com a minha secretária agindo como se fosse uma criança mimada, eu ainda… não consigo tirar aquela ruiva da minha cabeça. 

Minha chegada no fórum se tornou uma aglomeração do caralho, afinal, sempre quando um Mendonça está envolvido em casos de tamanha repercussão, isso acontece. 

Entro ao lado do meu primo junto de alguns seguranças da minha família, com a expressão séria e fria – porque aqui, eu sou Henry Mendonça, um dos melhores advogados criminalistas do país, ou seja… eu não posso vacilar, nem por um milissegundo.

A audiência não iria ser nada fácil, afinal, estava contra um dos homens mais influentes no ramo da indústria farmacêutica.

E foi exatamente como eu previ, o filho da puta do Carlos Moraes estava acusando esse menino pelos seus próprios crimes, isso ficou bem claro para mim quando seu advogado de defesa apresentou provas nada coerentes com o caso em questão.

— Agora dou a palavra para o advogado de defesa do réu.

— Obrigado, meritíssima, as provas apresentadas hoje aqui pela acusação não são legítimas.

— Protesto, falsa acusação! — O advogado de Carlos Moraes grita, percebo seu nervosismo e sorrio.

— Protesto negado, continue, doutor. —  A juíza requere e continuo.

— Tenho em minhas mãos a confissão de um dos revendedores dos entorpecentes encontrados em uma das fábricas da família Moraes. — Dou para a meritíssima prints de conversas e olho para o Igor soltar a gravação. Nela fica claro o envolvimento de Carlos Moraes com a venda e fabricação das drogas e falsa acusação contra o meu cliente.

— Desgraçado! Sabe quem eu sou? Eu vou acabar com você, Mendonça!

— Ordem, doutor Ferraz! — A juíza diz com o tom completamente impassivo. — Com as provas aqui apresentadas pelo advogado de defesa do réu, eu declaro Carlos Moraes culpado das acusações.

— Você vai me pagar, Mendonça, isso não vai ficar assim! — Pela primeira vez na minha vida, vejo um homem tão poderoso mostrar sua verdadeira face perante todos – e admito, isso me enche um pouco de satisfação. 

Cumprimento os pais do garoto e assim que estou saindo, sou parado pela juíza do caso, sei que ela estudou com o meu pai quando mais novos.

— Advogado Henry Mendonça, devo concordar com o que todos falam, você parece com seu pai, não só fisicamente mas também na atuação, meus parabéns. — Ela sorri ao dizer. — Para um advogado com apenas três anos de atuação, você tem mais causas ganhas do que a maioria.

— Obrigado, meritíssima. — Ela sorri e fico com a mesma expressão séria de toda a audiência. 

— Um conselho, só não procure passar pelos outros como um trator. Pelo menos, não sempre. 

— É claro, obrigado, meritíssima. —  Digo calmo e juro por Deus que eu vi a porra da mulher me dar uma piscada. Esse dia está uma completa loucura.

Fui para casa, pensando que a tentação daquela mulher iria sair da minha cabeça. Mesmo com todo o trabalho e a adrenalina de uma audiência, nada me faz esquecê-la.

Porra, mas fica difícil! Aquele perfume impregnou em meu nariz. 

Tenho que tirar essa mulher da minha cabeça! Porque depois que a vi pela primeira vez, eu senti que algo dentro de mim despertou, e alguma coisa me diz que ela veio para foder com tudo.

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