Capitulo 4

Luna Medeiros 

Depois do episódio na sala de jantar, não o vi mais nem mesmo  no almoço, dona Sônia que levou seu almoço para o escritório, e lá ele ficou durante toda a tarde. Fiquei tão perdida em pensamentos que me esqueci totalmente das horas e vi que iria me atrasar para a apresentação.

— Droga! — Xingo vendo que vai ser impossível pegar um ônibus e metrô, e ainda chegar na hora, o que eu faço? 

— Tudo bem, menina? —  Na hora me dou conta da dona Sônia e dele sentados à mesa da cozinha, ele toma uma xícara de café enquanto me encara como se quisesse me devorar. — Está, sinto muito pelo linguajar. — Acabo dizendo depois que coloco a minha cabeça (mesmo que levemente) no lugar.

— Não parece tudo bem. Algum problema? —  Henry diz e fico mais nervosa ainda, porque ele falou com aquela voz rouca que mal parecia real.

— É que acabei me atrasando, tenho uma apresentação de um trabalho e não vou conseguir chegar a tempo.

— Não seja por isso, eu levo você. — Diz, se levantando e percebo que está sem o paletó, agora, sim, eu consigo enxergá-lo como ele é.

— O quê? Não precisa, senhor Henry.

— Já disse, me chame apenas de Henry — ele me corrige mais uma vez — E vamos, não aceitarei um não como resposta. — Fala saindo na frente e fico parada no mesmo lugar. Olho para dona Sônia que faz um gesto com a mão para que eu vá. 

Isso é loucura.

O encontro no estacionamento do lado seu carro, pode ser loucura da minha mente, mas esse homem fica um gostoso de terno, olhando de perto eu vejo nossa diferença de altura. Jesus, Maria, José, isso não é um homem, é uma geladeira electrolux.

— Pode entrar. — Ele fala abrindo a porta para mim, e sinto seu perfume forte me inebriar. Entro no carro e me acomodo, segurando com força a minha bolsa no colo. Ele entra depois de fechar a porta do meu lado e fecha a sua colocando o cinto de segurança, fazendo-me lembrar que não tinha colocado o meu. 

Só que a vida não queria colaborar comigo, porque eu puxo e puxo, mas não consigo fechar o cinto, e por conta disso, acabo sentindo a sua proximidade.

Perto demais. Merda, ele está muito próximo de mim! Olho para o seu rosto, sério e focado em fechar o cinto de segurança e me perco em cada traço seu, nos cabelos castanhos meio loiros nas pontas, e na barba marcada, até ele virar o rosto para mim e eu sentir que estou perto de ter um infarto.

— Podemos ir? Pode colocar o endereço da faculdade no GPS?

— Sim… é  claro. — Digo desconcertada, e logo o GPS começa a nos guiar.

A viagem é silenciosa, o frio dentro do carro me faz congelar.

”Logo hoje eu tinha que esquecer meu casaco?” Eu acabo pensando, apenas para ver aqueles olhos de topázio virem até mim. 

— Está com frio? — Ele pergunta sério.

— Um pouco, esqueci meu casaco na mansão.

— Pegue então meu paletó, pode usá-lo. — Fala pegando seu paletó no banco de trás e me entregando.

— Não precisa, é sério, senhor Henry, eu estou bem. — Digo, mas ele apenas continua com aquela expressão intensa no rosto, me fazendo desistir e só aceitar sem mais protestos. — Tudo bem, obrigada. — Coloco o paletó enquanto ele continua com seus olhos em mim e vejo algo passar por eles, me deixando em dúvida sobre qual emoção era aquela.

Logo chegamos na minha faculdade e me assusto com a rapidez, vejo ele sair para abrir a porta para mim, enquanto sinto que tudo para por um minuto até vê-lo estender a mão para me ajudar a sair do carro.

— Obrigada pela carona. — Digo nervosa e começo a tirar seu paletó para entregá-lo a ele.

— Não precisa, você me entrega amanhã. — Diz e concordo, me afastando dele. — Até amanhã, Henry. — Me viro sem olhar para trás, mas eu sinto seu olhar em mim. 

O resto da minha noite foi apenas repleta de pensamentos sobre ele, ao ponto de eu quase não ter sido capaz de apresentar o meu trabalho, porque aquele rosto ficou vindo à minha mente junto daquele perfume que parecia me intoxicar.

E assim que eu acabei de apresentar o trabalho – de alguma forma – eu voltei para casa, apenas para ver a mesma cena do dia anterior, da minha mãe deitada no sofá, só que dessa vez eu a acordo e a ajudo a se deitar em sua cama.

— Mãe, o que está acontecendo? A senhora nunca dormiu cedo desse jeito… — pergunto preocupada, enquanto a cubro com a coberta.

— São os remédios, filha, estão me deixando mais cansada.

— Não se preocupe com isso, descanse, e… amanhã vou para o trabalho cedo de novo, tudo bem ?

— Tudo bem. 

— Mesmo? Não está dizendo isso só para eu não me preocupar? 

— Sim, filha… eu realmente me sinto bem — ela diz junto de um suspiro. — E está tudo bem com você? Está tudo certo no trabalho?

— Está, mamãe. Boa noite. — Beijo sua testa e saio, indo direto para o meu quarto, tomo um banho para que eu possa ir logo dormir, e por conta do cansaço eu quase não demoro para adormecer.

(...)

No dia seguinte, na mansão dos Mendonça.

Passei a manhã toda esperando o senhor Henry para entregar o seu paletó, mas ele não apareceu na mansão naquele dia. E quando eu fui notar, já estava no final do meu expediente, então eu precisava ir até despensa para organizar as prateleiras. É quando sinto aquela mesma corrente eletrizante e viciosa… e como um vagalume em busca de luz, eu me viro, ficando de cara com ele…

Não pensei que o veria aqui. Ainda mais com ele me olhando tão intensamente. Contudo, eu vejo na sua expressão que não estou sentindo essa conexão louca e forte sozinha. Eu sabia que aquele olhar que me direcionou desde o momento que nos vimos pela primeira vez tinha algo a mais, escondia algo, mas sequer passou pela minha cabeça que isso fosse desejo. O mesmo desejo que eu sentia

Ele me prende contra a parede numa despensa minúscula, o pavor de alguém nos ver aqui e achar algo errado me aterroriza. Mas também sou preenchida por essa sensação latente e perigosa.

— Você está louco, o que pensa que está fazendo? Me solta.  

Não. Não... Eu definitivamente não posso ficar com ele presa desse jeito aqui. Estou me sentindo à beira de sucumbir aos meus desejos mais obscuros.

— Eu não estou pensando em nada, querida, eu vou te fazer minha. Você não deveria ter aceitado esse emprego, Luna. Você me fez sentir o que ninguém nunca fez. Mexeu com algo aqui dentro de mim. Quem é você? — Diz e me pega totalmente desprevenida. Eu também não saberia explicar o seu questionamento, nem se quisesse muito.

— Não. — Falo me tremendo.

Não sei o que está acontecendo comigo. Minha mente fala algo, mas meu corpo diz outra coisa. Eu preciso desse trabalho, não posso me deixar levar por essa loucura.

— Não? Luna, eu sei que você sente isso, vai negar que sente também? Eu vi como olhou para mim. — Ele me dá um sorriso discreto e convencido, esperando minha resposta. E sinto ele me consumir por inteira com apenas um olhar.

— Não sou cega, Dr. Henry. O senhor é um homem bonito, mas não sou como as mulheres com quem o senhor está acostumado a sair, então peço, por favor, que me solte. — digo bem séria, esquecendo o quanto ele me afeta.

Ele me observa. É quando escuto passos. É a dona Sônia me chamando.

Ele continua me encarando.

— Me solte, por favor. — Peço para ele.

E então ele me solta sem dizer nada, e eu saio, o deixando lá. Vou  em direção a sala de jantar em busca de dona Sônia.

— Menina, onde você estava?

— Na despensa, fui deixar as prateleiras organizadas.

— Ahhh, sim! Você já vai?

— Sim, só vou trocar de roupa. — Digo ainda nervosa.

— Menina?

— Oi, dona Sônia.

— Está tudo bem? — Pergunta, me analisando. E tento ao máximo sorrir, não querendo demonstrar a bagunça que estou. 

Henry me fez querer tentar, me fez sentir coisas das quais eu nunca havia sentido. Mas só em lembrar que posso me machucar mais uma vez, eu apenas afasto essa hipótese enquanto as minhas mãos tremem sem parar.

— Sim está. — Falo com a voz embargada, enquanto a minha mente vira um completo turbilhão.

Meu Deus, não acredito que quase me deixei envolver por ele.

Não posso negar que ele me atrai, mas… o que está acontecendo comigo? Henry Mendonça não é homem para mim e nem eu sou mulher para ele.

Somos de mundos diferentes, independentemente do que eu sinta, não posso me deixar enganar mais uma vez. 

O pânico vem com tudo enquanto eu me lembro do passado, e sinto uma falta de ar que me consome inteira. 

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo