Luna Medeiros
Depois do episódio na sala de jantar, não o vi mais nem mesmo no almoço, dona Sônia que levou seu almoço para o escritório, e lá ele ficou durante toda a tarde. Fiquei tão perdida em pensamentos que me esqueci totalmente das horas e vi que iria me atrasar para a apresentação.
— Droga! — Xingo vendo que vai ser impossível pegar um ônibus e metrô, e ainda chegar na hora, o que eu faço?
— Tudo bem, menina? — Na hora me dou conta da dona Sônia e dele sentados à mesa da cozinha, ele toma uma xícara de café enquanto me encara como se quisesse me devorar. — Está, sinto muito pelo linguajar. — Acabo dizendo depois que coloco a minha cabeça (mesmo que levemente) no lugar.
— Não parece tudo bem. Algum problema? — Henry diz e fico mais nervosa ainda, porque ele falou com aquela voz rouca que mal parecia real.
— É que acabei me atrasando, tenho uma apresentação de um trabalho e não vou conseguir chegar a tempo.
— Não seja por isso, eu levo você. — Diz, se levantando e percebo que está sem o paletó, agora, sim, eu consigo enxergá-lo como ele é.
— O quê? Não precisa, senhor Henry.
— Já disse, me chame apenas de Henry — ele me corrige mais uma vez — E vamos, não aceitarei um não como resposta. — Fala saindo na frente e fico parada no mesmo lugar. Olho para dona Sônia que faz um gesto com a mão para que eu vá.
Isso é loucura.
O encontro no estacionamento do lado seu carro, pode ser loucura da minha mente, mas esse homem fica um gostoso de terno, olhando de perto eu vejo nossa diferença de altura. Jesus, Maria, José, isso não é um homem, é uma geladeira electrolux.
— Pode entrar. — Ele fala abrindo a porta para mim, e sinto seu perfume forte me inebriar. Entro no carro e me acomodo, segurando com força a minha bolsa no colo. Ele entra depois de fechar a porta do meu lado e fecha a sua colocando o cinto de segurança, fazendo-me lembrar que não tinha colocado o meu.
Só que a vida não queria colaborar comigo, porque eu puxo e puxo, mas não consigo fechar o cinto, e por conta disso, acabo sentindo a sua proximidade.
Perto demais. Merda, ele está muito próximo de mim! Olho para o seu rosto, sério e focado em fechar o cinto de segurança e me perco em cada traço seu, nos cabelos castanhos meio loiros nas pontas, e na barba marcada, até ele virar o rosto para mim e eu sentir que estou perto de ter um infarto.
— Podemos ir? Pode colocar o endereço da faculdade no GPS?
— Sim… é claro. — Digo desconcertada, e logo o GPS começa a nos guiar.
A viagem é silenciosa, o frio dentro do carro me faz congelar.
”Logo hoje eu tinha que esquecer meu casaco?” Eu acabo pensando, apenas para ver aqueles olhos de topázio virem até mim.
— Está com frio? — Ele pergunta sério.
— Um pouco, esqueci meu casaco na mansão.
— Pegue então meu paletó, pode usá-lo. — Fala pegando seu paletó no banco de trás e me entregando.
— Não precisa, é sério, senhor Henry, eu estou bem. — Digo, mas ele apenas continua com aquela expressão intensa no rosto, me fazendo desistir e só aceitar sem mais protestos. — Tudo bem, obrigada. — Coloco o paletó enquanto ele continua com seus olhos em mim e vejo algo passar por eles, me deixando em dúvida sobre qual emoção era aquela.
Logo chegamos na minha faculdade e me assusto com a rapidez, vejo ele sair para abrir a porta para mim, enquanto sinto que tudo para por um minuto até vê-lo estender a mão para me ajudar a sair do carro.
— Obrigada pela carona. — Digo nervosa e começo a tirar seu paletó para entregá-lo a ele.
— Não precisa, você me entrega amanhã. — Diz e concordo, me afastando dele. — Até amanhã, Henry. — Me viro sem olhar para trás, mas eu sinto seu olhar em mim.
O resto da minha noite foi apenas repleta de pensamentos sobre ele, ao ponto de eu quase não ter sido capaz de apresentar o meu trabalho, porque aquele rosto ficou vindo à minha mente junto daquele perfume que parecia me intoxicar.
E assim que eu acabei de apresentar o trabalho – de alguma forma – eu voltei para casa, apenas para ver a mesma cena do dia anterior, da minha mãe deitada no sofá, só que dessa vez eu a acordo e a ajudo a se deitar em sua cama.
— Mãe, o que está acontecendo? A senhora nunca dormiu cedo desse jeito… — pergunto preocupada, enquanto a cubro com a coberta.
— São os remédios, filha, estão me deixando mais cansada.
— Não se preocupe com isso, descanse, e… amanhã vou para o trabalho cedo de novo, tudo bem ?
— Tudo bem.
— Mesmo? Não está dizendo isso só para eu não me preocupar?
— Sim, filha… eu realmente me sinto bem — ela diz junto de um suspiro. — E está tudo bem com você? Está tudo certo no trabalho?
— Está, mamãe. Boa noite. — Beijo sua testa e saio, indo direto para o meu quarto, tomo um banho para que eu possa ir logo dormir, e por conta do cansaço eu quase não demoro para adormecer.
(...)
No dia seguinte, na mansão dos Mendonça.
Passei a manhã toda esperando o senhor Henry para entregar o seu paletó, mas ele não apareceu na mansão naquele dia. E quando eu fui notar, já estava no final do meu expediente, então eu precisava ir até despensa para organizar as prateleiras. É quando sinto aquela mesma corrente eletrizante e viciosa… e como um vagalume em busca de luz, eu me viro, ficando de cara com ele…
Não pensei que o veria aqui. Ainda mais com ele me olhando tão intensamente. Contudo, eu vejo na sua expressão que não estou sentindo essa conexão louca e forte sozinha. Eu sabia que aquele olhar que me direcionou desde o momento que nos vimos pela primeira vez tinha algo a mais, escondia algo, mas sequer passou pela minha cabeça que isso fosse desejo. O mesmo desejo que eu sentia.
Ele me prende contra a parede numa despensa minúscula, o pavor de alguém nos ver aqui e achar algo errado me aterroriza. Mas também sou preenchida por essa sensação latente e perigosa.
— Você está louco, o que pensa que está fazendo? Me solta.
Não. Não... Eu definitivamente não posso ficar com ele presa desse jeito aqui. Estou me sentindo à beira de sucumbir aos meus desejos mais obscuros.
— Eu não estou pensando em nada, querida, eu vou te fazer minha. Você não deveria ter aceitado esse emprego, Luna. Você me fez sentir o que ninguém nunca fez. Mexeu com algo aqui dentro de mim. Quem é você? — Diz e me pega totalmente desprevenida. Eu também não saberia explicar o seu questionamento, nem se quisesse muito.
— Não. — Falo me tremendo.
Não sei o que está acontecendo comigo. Minha mente fala algo, mas meu corpo diz outra coisa. Eu preciso desse trabalho, não posso me deixar levar por essa loucura.
— Não? Luna, eu sei que você sente isso, vai negar que sente também? Eu vi como olhou para mim. — Ele me dá um sorriso discreto e convencido, esperando minha resposta. E sinto ele me consumir por inteira com apenas um olhar.
— Não sou cega, Dr. Henry. O senhor é um homem bonito, mas não sou como as mulheres com quem o senhor está acostumado a sair, então peço, por favor, que me solte. — digo bem séria, esquecendo o quanto ele me afeta.
Ele me observa. É quando escuto passos. É a dona Sônia me chamando.
Ele continua me encarando.
— Me solte, por favor. — Peço para ele.
E então ele me solta sem dizer nada, e eu saio, o deixando lá. Vou em direção a sala de jantar em busca de dona Sônia.
— Menina, onde você estava?
— Na despensa, fui deixar as prateleiras organizadas.
— Ahhh, sim! Você já vai?
— Sim, só vou trocar de roupa. — Digo ainda nervosa.
— Menina?
— Oi, dona Sônia.
— Está tudo bem? — Pergunta, me analisando. E tento ao máximo sorrir, não querendo demonstrar a bagunça que estou.
Henry me fez querer tentar, me fez sentir coisas das quais eu nunca havia sentido. Mas só em lembrar que posso me machucar mais uma vez, eu apenas afasto essa hipótese enquanto as minhas mãos tremem sem parar.
— Sim está. — Falo com a voz embargada, enquanto a minha mente vira um completo turbilhão.
Meu Deus, não acredito que quase me deixei envolver por ele.
Não posso negar que ele me atrai, mas… o que está acontecendo comigo? Henry Mendonça não é homem para mim e nem eu sou mulher para ele.
Somos de mundos diferentes, independentemente do que eu sinta, não posso me deixar enganar mais uma vez.
O pânico vem com tudo enquanto eu me lembro do passado, e sinto uma falta de ar que me consome inteira.
Henry MendonçaMas que merda!Fico me perguntando o que eu estava pensando para encurralar essa menina e dizer o que eu disse.Droga! Tenho que parar de pensar nela! Reúno todas as minhas forças e saio da despensa sem me verem, devo ficar longe dessa mulher ou então ela será a minha ruína.— Henry. — Viro e dou de cara com o meu pai.— Pai? — Falo um tanto surpreso, afinal… eu não esperava ver ele hoje…— Quero falar com você lá no escritório. Vamos, seu tio e seu primo estão nos esperando.— Certo…. — Fiquei um tanto desconfiado ao ouvir aquelas palavras do meu pai, mesmo assim, fui até o escritório com ele (e ali já percebi que a conversa não seria nada boa).— Sentem-se. — Meu tio fala com uma expressão séria.— Bom, eu vou ser direto no assunto.— Pode dizer, pai.— Eu quero tanto você quanto o Igor longe da Luna. — Ele aponta para nós dois. Mas que porra é essa? Eu virei um adolescente para ser repreendido desse jeito?— Posso saber o porquê disso, tio? — Meu tio vira para o Ig
Luna MedeirosDepois daquele episódio onde eu tive uma crise de pânico, tentei ao máximo me acalmar porque ainda tinha que ir para a faculdade. Não vejo a hora de me formar logo. Eu estou cada vez mais perto de ter o meu diploma, por isso me sinto cada vez mais ansiosa. Então, fui à faculdade, mas nem assim aqueles malditos olhos azuis saíam da minha cabeça. O que está acontecendo com você, Luna? O que tem de diferente naquele homem que te fez se sentir assim?Mesmo me perguntando isso milhares de vezes, eu ainda não sei como responder. Voltando para casa, eu tentei tirar ele da minha cabeça, esquecê-lo, – mas logo me lembro de tudo que minha mãe e eu temos passado por causa do seu problema de saúde, e isso tem me tirado o sono há muito tempo. Talvez fosse até melhor continuar pensando em Henry Mendonça. Ou era o que eu estava pensando antes de escutar de longe a voz da minha mãe me chamando.— Oi, mãe. Como se sentiu hoje? Os remédios ainda estão te deixando sonolenta?— Oi, filh
Henry MendonçaAssim que saí do escritório, a única coisa que eu queria era chegar logo em casa e tomar um longo banho, mas como sempre, nada na minha vida acontece como eu quero, já que eu tenho uma pedra no meu caminho e essa pedra se chama Igor Mendonça. E claro que quando eu entrei em casa, a primeira coisa que eu encontrei foi ele muito bem sentado no meu sofá, como se fosse a porra do dono do lugar.— Não sabia que eu tinha visita. — Entro, batendo a porta com força e o desgraçado sorri.— Calma, cara, vim aqui te chamar para dar uma volta.— Não estou muito afim, Igor.— Ahhhh... Cara, fala sério, vai ser divertido.— É sério, Igor, não estou afim. — Falo, me jogando no sofá.— Ahhh... Moreno, não se faz de difícil comigo. — Ele diz, zoando com a minha cara e eu o fulmino com o olhar.— Vai se ferrar, Igor, já disse que não. Eu disse, porque ele já ia começar com a putaria. — Me fala, isso é pela conversa que tivemos na casa da vovó?— Também.— Também? E qual é o outro mot
Luna Medeiros A noite de ontem foi horrível, a briga com o Henry mexeu comigo, e o jeito que ele falou me trouxe lembranças que eu sempre quis esquecer, enterrar no mais profundo do meu consciente, mas ainda não consigo. O passado ainda é uma área delicada da minha vida, e eu sei que não estou bem há anos, mas não consigo encarar todos os meus medos e traumas de frente.É difícil ter que admitir isso tudo e por mais que eu saiba que preciso, sim, de tratamento psicológico — não tenho tempo e nem dinheiro para isso. Eu tenho que cuidar da minha mãe, tenho que terminar minha faculdade, tenho que fazer coisas demais por mim e por ela. São prioridades nas quais os meus problemas relacionados ao meu passado não podem se intrometer. Ainda assim, eu decidi que não vou dar esse gosto para ele; não vou desistir. Por mais que aquela briga tenha acabado comigo. Não. Eu preciso do trabalho e não vou deixar mais homem nenhum me tratar assim. Ele até pode achar que está fazendo o melhor para mim
Henry MendoçaA Luna vai ser minha, ela quer tanto quanto eu, vejo em seus olhos e sei que ela também sente esse magnetismo que nos leva até o outro.Não vou desistir, eu tentei lutar contra isso, e acabei sendo impulsivo por achar que estava fazendo a coisa certa, mas depois de sentir o gosto dela, não posso perdê-la.Mesmo com uma papelada enorme para ser analisada, é difícil esquecer o beijo que dei nela… porque Luna parecia uma droga no meu organismo, completamente viciante, ao ponto de fazer a minha cabeça girar. Eu apenas afrouxo a gravata e tiro uns minutos de descanso. Até que meu estresse diário passa pela porta como um furacão.— Licença que eu já tô entrando — ele diz ao se aproximar da minha mesa, colocando alguns papéis em cima dela — E dê uma olhada nessa pasta, parece que outro caso chegou pra você, e aparentemente é um dos grandes. — Bom, vamos ver… — eu abro levemente a pasta, dando uma olhada por cima — Um homem foi acusado de assassinar a própria filha?— Algo do
Luna MedeirosTalvez eu e o Henry tenhamos avançado rápido demais em nossa relação. Mas ainda que eu queira negar, não consigo ficar mais nem um minuto longe dele — mesmo que a ordem certa na perspectiva da sociedade seria nos conhecermos melhor, ficarmos e só então namorar. Com o Henry não existe essa palavra no dicionário, já que falei que o certo seria nos conhecermos, mas ele disse que poderíamos fazer isso enquanto namorávamos.Eu entendo.Nem todo mundo vê um relacionamento casual com bons olhos, — e sinceramente? Eu gosto do preceito de namorar apenas alguém que você queira em sua vida de forma permanente. Henry parece ver as coisas desse modo também — mas ainda existe aquele medo dentro de mim. Tudo está diferente dessa vez, mas eu não sei o que sentir, só sei que meu coração quer estar perto dele, mesmo com o medo de que algo dê errado, mesmo com o passado me assustando. Ele me pergunta se aceito ser sua e me deixo cair na imensidão dos seus olhos… o que sinto agora não é
Henry MendonçaFinalmente ela disse sim!A noite apenas tinha acabado de começar, mas eu ainda posso sentir o cheiro dela em meu corpo, ao ponto de fazer a minha cabeça girar, enquanto imagino ela nos meus braços. “Como alguém pode querer tanto uma pessoa assim em tão pouco tempo?” Acabou vindo à minha mente, porque tudo em mim chama por ela, e isso até agora parece loucura para mim — principalmente pelo fato de que eu faria qualquer coisa para fazê-la feliz. E agora eu posso porque ela é minha. Só minha. Mas assim que chego em casa, percebo que a noite vai ser longa, porque não paro de pensar nela um só minuto.Ou pelo menos, foi o que eu pensei, até ser pego de surpresa por alguém — vulgo, o meu estresse diário. — Caralho, Igor, está fazendo o quê aqui? — Acabo levando um susto com esse imbecil sentado no meu sofá, no escuro, como se fosse uma assombração.— Te esperando.— Me esperando para quê, porra? Virou esposa de filme de terror agora?— Estava com saudade de você, moreno
Clara D'LeonMas que merda! Tinha que ser aquela desgraçada! Desde que consegui ter minha tão sonhada noite com Henry, eu achei que tudo estaria resolvido, e que não demoraria muito para eu conseguir ele para mim, mas não… aquela sem classe tinha que estragar tudo na minha vida! Aquela desgraçada!Ela sempre fica no meu caminho, mas não dessa vez, Luna Medeiros! Você não vai ficar com o homem da minha vida! Ele é só meu!— Eu serei a futura senhora Mendonça e ninguém mais! Se para isso, tiver que te tirar do caminho, eu farei, ou eu não me chamo Clara D'Leon! — Eu acabo resmungando, enquanto cerro os meus punhos e penso em acabar com a vida daquela vadia! E por sorte, o meu apartamento não é tão longe do de Henry, então eu logo cheguei no meu apartamento e lembrei que preciso lidar com o Igor. “Achei que ele estaria do meu lado para conquistar o Henry, mas não... ele preferiu a morta de fome!” Acabo pensando, enquanto me pergunto o que todo mundo vê naquela mulherzinha sem sal! Ela