- Não tem lugar para você nesta casa. – Anya me olhou com desdém.- Ela pode dormir conosco. – Monique sugeriu.- Na minha cama. – Kimberly sorriu e pegou a minha mão, feliz.As meninas eram queridas. E era visível que gostavam da minha presença na casa.- Posso dormir no sofá – sugeri – Melhor que dormir na rua. – Dei de ombros.- Peça dinheiro para Theo. – Anya sugeriu.- Ela está puto comigo, já que tive um filho de outro homem.- Como pôde fazer isso? – Daltro me olhou – Como conseguiu ser tão burra?- Deve ser os genes dos Hernandez. – Falei.- Sua desgraçada – ele aumentou o tom de voz e apontou o dedo na minha direção, furioso – Exijo que dê um jeito nesta situação a faça as pazes com os Casanova. Isso não vai ficar assim, sua vadiazinha inútil.- Família é família... Precisamos cuidar uns dos outros. – Ironizei, mesmo amedrontada.Sandro Hernandez gargalhou, sentando-se confortavelmente no sofá:- Eu concordo com a filha de Salma. Família é família... Vamos viver esta porra de
Engoli em seco, sentindo meu coração acelerar. Ele me olhou:- Eu não me arrependo. Acabar com alguém que você odeia é a melhor coisa que pode fazer na vida. Cumpri minha pena sorrindo, acredite.- Está querendo dizer que a prisão pode ser um lugar legal? – Fiquei surpresa.- Era melhor do que morar com esta família.- Salma... Morava aqui?- Não. Morávamos em outra casa e em outro bairro quando ela partiu. Senti muita falta dela. Minha irmã foi uma guerreira... E forte.- Você... Chegou a conhecer Babi?- Não! Eu era pequeno na época em que Salma ainda morava conosco. Mas já ouvi falar de Babi, sua amiga inseparável. – Ele sorriu.- Posso considerar que... Mesmo tendo matado Breno... Você é um dos irmãos do bem?Ele gargalhou e tragou profundamente o cigarro, batendo na minha perna:- Ninguém é totalmente do bem, nem totalmente do mau, querida sobrinha. Nem sempre é preciso escolher um lado. – Levantou-se e espreguiçou-se, retirando em seguida a jaqueta, deixando os braços completame
À noite andei pelo corredor malcheiroso e estreito, pouco iluminado, tentando encontrar um lugar para dormir e pôr as malas. Eu não havia levado tudo que tinha para aquele lugar, tampouco meus sapatos mais caros e estimados. Mas a quantidade de coisas era suficiente para surtar um pouco Anya, já que boa parte das malas ficaram na sala. Fiz questão de deixar duas no corredor e outras duas levei comigo, junto do meu cão da montanha dos Pirenéus.Abri uma porta improvisada e encontrei uma cama pequena. Apesar de estar com lençol, tirei-o e pus um trench coat para forrar. Por sorte eu tinha trazido uma almofada do carro, que serviria de travesseiro. Olhei para os lados, confusa:- Onde fica o banheiro deste quarto?Gatão observou-me e depois olhou para a cama, recusando-se a subir.- Sei que é horrível, Gatão. Mas é o que temos! Poderia ser pior... Tipo, não ter uma cama. Só não sei onde fica o banheiro nesta porra.A lâmpada tinha um tom fraco e amarelado. Quando se mirava fixamente nela
Voltei para o quarto e fechei a porta capenga. Quando deitei na cama, senti a presença do meu cão da montanha dos Pirenéus.- Gatão, você é grande demais para dividir esta cama. Esqueça a proposta que lhe fiz mais cedo.Ele rosnou e se ajeitou. Encontrei um cantinho e o abracei. Ele gostava de carinho. E eu de um amigo leal e companheiro. Gatão era tudo que eu tinha naquele hospício.Torci para Anya morrer, mesmo sabendo que não seria o sal em excesso que faria aquilo acontecer.No dia seguinte, levantei cedo e tomei um banho gelado na porra do banheiro esquisito. Esmurrei a parede e não consegui aquecer a água. Pus uma boa roupa, sapatos com saltos mais grossos para não afundar no mato ou ser tragada pela areia movediça que era aquele pátio.Estava saindo quando as meninas vieram correndo atrás de mim:- Malu, leva a gente junto! – Kim pediu, mesmo sem saber onde eu iria.- Mas não posso levá-las assim, sem avisar Anya.- Ela não se importa com isso. A gente vai onde quer. – Moni exp
— Se encostar um dedo nela, quebro toda esta porra! — Sandro disse cruzando as pernas, pondo todo o sanduíche na boca, empurrando com os dedos para que coubesse.— Obrigada, tio. — Sorri na direção dele. — Eu sempre tive festa, a vida inteira. Papai e mamãe cuidavam de tudo e nunca faltou nada... Bolo, bebidas, balões, palhaços... Claro que conforme fui crescendo algumas coisas foram sendo substituídas.— Tipo os palhaços por strippers? — Sandro riu.— Nem tanto... — Sorri.— Acho justo que tenha uma festa — Sandro falou de boca cheia. — Já que sempre teve. Como infelizmente sua família biológica não pode custear, que venda seu carro. O que posso fazer para ajudar na organização?— Contratei uma organizadora. Mas não sei muito bem quais as bebidas que as pessoas daqui mais gostam. Poderia me ajudar nesta parte?— Só entendo de bebidas que se bebem na cadeia. — Ele riu, balançando a cabeça. — Mas antes de ser trancafiado, lembro bem que o povo gostava de cerveja gelada. — Os olhos dele
— Você começou isso, “vovó”. E eu vou terminar. — Sorri, passando por ela e fazendo questão de bater meu corpo na sua direção, fazendo-a desequilibrar-se e quase cair.Fiquei sem celular e isso me deixava incomunicável com Ben e Anon, que eram quem me auxiliavam no plano. E me preocupava ainda não conseguir saber o estado de saúde de meu pai.Sandro não tinha telefone e pensei em pegar o celular de Anya, sem sucesso, já que eu não sabia a senha.Então não havia alternativa a não ser usar um telefone público. Mas naquela semana não deu tempo, já que realmente me envolvi com a organização da festa.Ben mandou uma organizadora de festas conhecida, mas que eu não tinha muita intimidade. Para não ser reconhecida, decidi fazer uma mudança no visual. Para isso, depois de quase 25 anos, pela primeira vez cortei os cabelos com alguém que não era meu cabelereiro. O salão era pequeno e ficava na rua detrás da casa dos Hernandez. As meninas me acompanharam. Aliás, para tudo eu precisava delas e p
Kimberly e Monique me ajudaram a escolher o sabor do bolo de aniversário e o tema: Barbie. Elas lamentaram o fato de meus cabelos não terem mais mechas rosas, mas ficaram empolgadas e felizes com os vestidos novos que receberam em casa, certamente enviados por Ben e Anon.Nós três começamos a nos arrumar cedinho para a festa. O espelho disponível na casa sequer dava para se admirar de corpo inteiro, pois era pequeno demais. As meninas estavam radiantes.- Eu nunca fui numa festa de aniversário. – Kimberly disse, enquanto girava em torno de si mesma, fazendo o vestido rodado de renda e tule levantar.- Você está me dizendo que nunca teve uma festa para comemorar seu próprio aniversário? – Parei, observando-a, com o batom que passava nos meus lábios na mão, completamente incrédula com a revelação.- Eu não sei quando é o meu aniversário. – Ela sorriu, ainda rodando, pouco se importando com qualquer coisa a não ser a roupa que vestia naquela noite.- Mas você sabe quando é o seu aniversá
- E o bebê? – Perguntei-lhes, lembrando que não havia visto a criança ao longo do dia.- Talvez Anya tenha trancado ele no quarto. – Moni respondeu.- Mas... Ela faria isso?- Sim... Mas só faz quando ele incomoda demais.- E o que seria incomodar demais?- Quebrar alguma coisa... – Kim respondeu – Chorar muito...- Afinal, qual o nome do bebê?- Bebê! – Kim encolheu os ombros, achando engraçado minha pergunta.- Sim, ele é um bebê. Mas deve ter um nome, assim como vocês.- Anya sempre o chamou de “Bebê”. – Monique explicou.- Ok, mas certamente ele tem um nome. E espero, do fundo do coração, que não esteja trancado no quarto e sim com Anya. Ou mesmo com o pai dele.- O pai dele não o busca. – Monique comentou.- Mas... Daltro mora tão perto e não leva o próprio filho para casa?Kimberly riu:- Daltro não é pai do bebê.- Quem é o pai? Ou mesmo a mãe?- O papai dele mora longe. A mamãe também.- E... Deixam a criança aos cuidados de Anya? – Fiquei apavorada.- Sim... – a mais velha le