Meus Sentimentos e suas Crenças
Meus Sentimentos e suas Crenças
Por: G. Rodrigues
Meu erro foi te conhecer

As perguntas ecoavam na mente de Carly enquanto encarava seu reflexo no espelho, com um penteado deslumbrante, um vestido de gala brilhante de cor pêssego, ressaltando sua silhueta esbelta, com um vislumbre do salto escarpin e a maquiagem impecável, que ressaltavam seus olhos azuis e traços de tons claros. Ela se perguntava: "será possível conseguir conquistar o que tanto desejo? E se eu falhar? Qual será o destino traçado para mim? Espero ter sorte." Faltavam poucas horas para a premiação do ano. Ela deveria estar contente. Já havia conquistado tanto, mas algo ainda parecia incompleto em sua jornada e isso a deixava pertubada. Ela encarava o silêncio de sentir-se só, mas fingia que estava tudo bem.

— Foco, você é incrível! Alguém que tem destaque, sucesso e muito profissionalismo. A carreira vem em primeiro lugar... Na verdade, é o que tenho de mais importante no momento. — murmurou para si mesma, tentando se encorajar e afastar a inquietação.

Ela havia conseguido o que muitos almejavam: uma vaga de destaque no El Dourado, um dos hospitais mais prestigiados do país e o melhor da região metropolitana da cidade de Porto. Era uma honra, um sonho, um recomeço. Ainda assim, a aflição insistia em atormentá-la. Algo estava estranho, mas ela não sabia direito o que podia ser. Talvez a ansiedade de ir ao evento sozinha. Ela chamou um táxi e seguiu para confraternização da noite de premiações, ela sentiu um encômodo ao notar os colegas chegando acompanhados pelos seus familiares, prestigiando aquele momento tão aguardado. Ela se via envolta por estranhos à mesa, enquanto bebia uma taça de vinho tinto, na tentativa de embriagar os seus pensamentos e esquecer que sentia falta de ter uma família ao seu lado. Logo após receber o prêmio de fisioterapeuta do ano, ela pegou sua bolsa clutch e seguiu ao banheiro, evitando os olhares e as felicitações de seus amigos. Ela aproveitou o momento para chamar um carro, saindo direto dali para casa como tentativa de fulga, sem se despedir de ninguém. Apenas se isolar do mundo.

Nos dias que sucederam, notou ao atravessar os corredores uma presença marcante, ao som de risadas que chamaram sua atenção. Curiosa, ela se aproximou e viu um homem de jaleco colorido com semblante leve, cabelos ondulados e estatura que lhe agradava, brincando com algumas crianças no setor da traumatologia. Seu sorriso era cativante, seu jeito espontâneo fazia os pequenos rirem sem reservas. Ele tinha uma presença marcante — atraente de um jeito difícil de explicar, foi o que Carly mencionou ao encontrar Deise. Ela ficou ali, observando de longe, sentindo uma estranha familiaridade naquela cena. Mas, logo afastou os pensamentos e seguiu para casa, tentando esquecer o que lhe atraiu, por alguma razão, ele ficou marcado em sua mente. Logo pela manhã, Carly recebe uma mensagem para se dirigir ao setor de oncologia pediátrica. Assim que entrou, seu olhar foi direto para ele. O mesmo homem da noite anterior. Seu coração acelerou.

— Carly, você escutou o que eu disse? — a voz firme da Dra. Deise trouxe-a de volta à realidade.

Deise, ortopedista com anos de experiência e subdiretora do setor. Ela tinha uma comunicação e simpatia destacável. Seus traços eram de uma morena, alta e empoderada. Ela era uns doze anos mais velha que Carly, mas se deram muito bem juntas e acabaram se tornando amigas.

— Sim, desculpe, fiquei um pouco distraída. Pode repetir?

Ela cruzou os braços, analisando-a com um olhar clínico e sarcástico. "O que foi que viu? Esquece, quero que acompanhe aquele Dr. Gato, ele vai te orientar com as crianças. Aliás - aqui entre nós - entendo a sua surpresa, não é todo dia que temos um cara bonitão e charmoso desses! Vamos lá, vou te apresentar para o novo pediatra e, se tudo correr bem, será parte oficial da nossa equipe. Mostre competência!" Elas seguiram tentando conter as risadas.

Carly tentou conter as emoções. O nervosismo misturava-se à empolgação. Agora, mais do que nunca, precisava se concentrar para não parecer deslumbrada.

— Prazer, sou Pedro Castello. Mas dispense as formalidades. — ele disse, estendendo a mão com um sorriso amigável.

— O prazer é meu, sou Carly Ramires. Mas, também sem formalidades. Ela deu um sorriso sutil, tentando disfarçar o olhar para a mão dele. Ela queria certificar-se que ele não era comprometido. O aperto de mão foi rápido, mas causou um efeito inesperado nela. Ele tinha olhos castanhos e Carly os olhou hipnotizada, sentindo aquele olhar fluir no seu subconsciente. Eles seguiram calados a voz da Dra. Deise.

Ao longo dos dias, Carly o observava discretamente, enquanto trabalhavam juntos. Pedro era diferente, parecia saber equilibrar o profissionalismo com diversão. As crianças o amavam. Os pais confiavam nele. E, como se não bastasse, ele possuía um currículo impecável. Ao final do expediente, a curiosidade falou mais alto. Carly queria ter certeza se ele era solteiro e resolveu pesquisar suas redes sociais, mas eram privadas. Com as informações repassadas por Deise, descobriu que Pedro havia estudado em outros países, era fluente em três idiomas, tinha diversas publicações científicas e envolvimento em missões e projetos sociais. Ele era academicamente brilhante! Parecia inalcançável, "como conquistar um homem desses?" Retrucou ela. Mas, o que mais lhe intrigava era a postura reservada dele. Diferente dos outros, Pedro parecia imune aos olhares e insinuações alheias. Mesmo quando ela tentava puxar assunto para conversarem, ele a tratava com a mesma educação que qualquer outro colega. Ela queria ser mais que uma simples colega, queria poder se aproximar mais dele, quebrar as barreiras.

Ela questionava, "Ele realmente não percebeu ou simplesmente se fez de desentendido?" A dúvida a consumia. E, quando percebeu que seus sentimentos estavam tomando um rumo perigoso, tomou uma decisão: afastar-se. Poucos dias depois, conseguiu uma troca de turnos. Evitaria Pedro a todo custo.

Seis meses se passaram, ela permanecia distante, raramente cruzava com Pedro. Até que uma substituição inesperada a colocou novamente no caminho dele. Carly precisou cobrir o turno de uma colega na traumatologia que estava grávida, no entanto, para chegar ao local precisava atravessar o corredor da pediatria. Quando ela menos esperava, ouviu aquela voz familiar interrompendo sua fala.

— Carly, quanto tempo! Estava se escondendo de mim? - Pedro perguntou em tom de brincadeira e deu um sorriso de descontração, enquanto voltava-se para as suas anotações no tablet. - Será que você poderia me ajudar por um instante aqui?

As crianças vibraram ao ver o médico.

— Ebá, Dr. Pe! — gritavam, animadas.

Ela revirou os olhos. "Dr. Pe, só se for P de pedra, Fala sério!" Ela se incomodou, devolvendo o tablet e resmungando, tentando se acalmar. Minutos depois, Pedro surge no corredor risonho com a situação, se aproximando dela.

— Senhorita, já pode voltar. Bela companheira você, hein? Disse Pedro, sussurrando ao seu ouvido.

Carly se arrepiou, cruzando os braços, mordendo o lábio, irritada. — O que deu em você? Quem você pensa que é? Eu também tenho sentimentos, quer dizer, horários a cumprir!

Pedro arqueou uma sobrancelha, sem se abalar. — Infelizmente, não tenho tempo para discutir, mas você está em dívida comigo, dá licença. - Ele retrucou, - Mulheres são complicadas! E saiu sem dar explicações.

— Grosso! — murmurou, sentindo o sangue ferver.

Mas, depois que a raiva passou, Carly se pegou refletindo ao caminho de sua casa. "Por qual motivo ele me incomoda tanto? Será que ele se chateou comigo, por isso resolveu implicar agora? Ele é muito ousado. O príncipe virou sapo, realmente imperfeito!"

Ela se jogou na cama, olhando para o teto. Deduzindo que a verdade era que Pedro nunca demonstrou interesse, talvez tudo estivesse apenas em sua cabeça. Ela voltou com uma única certeza: Pedro continuava ocupando um espaço grande demais em seus pensamentos e talvez já fosse tarde demais para impedir isso. Para ela, o "homem da sua vida" parecia impossível. Mas, não iria desistir facilmente. Ela estava disposta a conquistar ele a qualquer custo.

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