O gabinete do Pastor Samuel era um ambiente acolhedor, decorado com estantes repletas de livros teológicos e um aroma suave de madeira. Quando Pedro entrou, foi recebido com um entusiasmo caloroso, mas o olhar atento do pastor indicava que a conversa que estavam prestes a ter não seria levada de forma leviana. Ele pegou duas xícaras e a garrafa de café, pondo na mesa. — Pedro, meu filho, sente-se! Fico feliz que tenha vindo. Vamos tomar um cafezinho. Pedro acomodou-se na cadeira diante da mesa de madeira maciça, sentindo-se mais confortável do que esperava.— Então, como você está? Fiquei sabendo de umas coisas aí sobre você, mas quero saber da fonte. Me conte, quem é essa abençoada que tem mexido com seu coração?Pedro sorriu de leve, seu olhar suavizando instantaneamente ao pensar em Carly.— É Carly, trabalha comigo. Pastor, ela é incrível, determinada… Eu não sei explicar, mas desde o primeiro momento senti que havia uma conexão especial entre nós.O pastor escutava atentamente
Quando Carly chegou em frente à sua casa, Pedro já estava lá, encostado contra o capô de seu veículo, os braços cruzados e o olhar atento. Ele parecia exausto, mas não arredava o pé dali. Assim que ela saiu do carro, não pensou duas vezes.Ela caminhou até ele e se lançou em seus braços, apertando-o com força, como se aquele abraço fosse a única coisa que ainda a segurava no presente. Pedro não esperava por isso. Seu corpo ficou tenso por um instante, mas logo a envolveu, segurando-a firmemente contra si. Foi só quando sentiu o tremor no corpo dela que percebeu que Carly estava chorando. Não eram lágrimas silenciosas. Ela chorava como uma criança, deixando que o peso do dia escorresse de seus olhos sem qualquer resistência. Ele apertou o abraço, murmurando palavras suaves contra seus cabelos, enquanto deslizava a mão gentilmente por suas costas.— Estou aqui. Não se preocupe.Minutos se passaram até que a respiração dela desacelerasse.Carly se afastou devagar, os olhos ainda úmidos,
O hospital estava em seu ritmo habitual quando Carly chegou. Enfermeiros apressavam-se pelos corredores, médicos discutiam diagnósticos entre uma sala e outra, pacientes e acompanhantes preenchiam a recepção. Para muitos, era apenas mais um dia. Para Carly, era um teste de sobrevivência. Ela ajustou a alça da bolsa no ombro e caminhou direto para a sala de fisioterapia. Ela apertou o jaleco contra o corpo, sentindo o peso do dia antes mesmo de começar. E para conseguir lidar com o passado, precisava se ancorar no presente. Respirando fundo, seguiu direto para sua primeira sessão do dia. Carly manteve-se ocupada. Atendeu seus pacientes que tinha pela manhã com precisão e dedicação. Primeiro paciente: um senhor de sessenta e cinco anos, recuperando-se de um AVC. Movimentos leves, repetitivos. Estímulo gradual. Incentivo e paciência. — Você está indo bem, Seu Agenor. Mais uma vez, vamos lá. Amanhã vamos fazer exercícios em grupo na piscina, o que acha? Segundo paciente: uma bai
A lanchonete do hospital estava tranquila naquele fim de expediente. Carly, Gael e Deise estavam reunidos e conversavam animadamente, enquanto terminavam suas bebidas. O ambiente, iluminado de forma aconchegante, era um espaço de tranquilidade antes que cada um seguisse para suas rotinas. Pedro entrou pelo local, ainda vestindo o avental e segurando um copo de café recém-pego na entrada. Ele parou ao lado da mesa e, com as sobrancelhas erguidas, lançou a pergunta como se fosse um grande furo de reportagem: — Vocês sabiam que o governador está internado aqui? Os três se entreolharam, como se estivessem decidindo silenciosamente quem deveria responder primeiro. Gael, sempre o mais direto, bufou teatralmente e cruzou os braços. — Pedro, você está atrasado. Precisamos te atualizar urgentemente, irmão! Pedro franziu o cenho. — Como assim? Todo mundo já sabia? Gael sorriu, inclinando-se na cadeira. — Claro! Quem entra aqui que eu não saiba? Aliás, ele tentou dar o golpe, mas
O dia começava com a cidade ainda despertando lentamente. O ar fresco da manhã misturava-se ao cheiro de pão recém-saído do forno que escapava da pequena padaria da esquina. Serina estava ali, sentada próxima à entrada, mexendo distraidamente no celular enquanto bebia um cappuccino. Seu olhar pairava sobre a tela, mas sua mente vagava longe. Havia muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e, por mais que tentasse organizar os pensamentos, as coisas pareciam confusas. O sino da porta tocou e um sopro de ar fresco entrou junto com Carly, que parecia apressada e carregada pela cobrança da rotina. Ela estava no balcão pedindo um café com leite e pão na chapa, pegou o pedido e caminhou até a mesa de Serina. O silêncio inicial revelava o peso daquele momento. Por mais que compartilhassem o mesmo sangue, se tornaram como estranhas depois de tantos anos afastadas. — Bom dia! Indo trabalhar? — Perguntou Serina. — Bom dia! Isso mesmo. Então, quais são as novidades? — Carly perguntou, jogando
A chuva ameaçava cair a qualquer momento. O céu, coberto por nuvens cinzentas, tornava a visão ainda mais sombria. Carly apoiou a testa contra o vidro frio da janela, observando a paisagem do lado de fora, sem realmente enxergá-la. Sua mente estava presa em um passado distante, numa memória que nunca a abandonou. Lembrava-se daquela noite como se fosse ontem.Sua mãe, com os olhos brilhantes e um sorriso doce, entrou em seu quarto com uma caixinha aveludada azul nas mãos. Carly, adolescente, não conteve a curiosidade. — O que é isso, mãe? — perguntou animada, estendendo as mãos para pegar o presente. A mãe sentou ao lado da filha na cama, segurando suas mãos antes de entregá-lo. — Quero que guarde isso com muito amor. Quero que através desse presente se lembre do quanto eu te amo. Com empolgação, Carly pegou a caixinha e abriu, revelando uma pulseira delicada, feita exclusivamente para ela. Tinha dois pingentes: uma borboleta e uma estrelinha de ouro. — Uau, que lindo. Amei! — ex
Carly caminhava pelos corredores do hospital sentindo um alívio inesperado. Finalmente, aquele dia havia chegado. Seu pai receberia alta e sairia de sua vida mais uma vez. Depois de dias suportando sua presença, cumprindo seu papel profissional por obrigação, ela poderia voltar à sua rotina sem se preocupar com ele. Ao entrar na sala de fisioterapia, encontrou Joseph sentado em uma das cadeiras acolchoadas, aguardando pacientemente. Seu semblante era tranquilo, mas seu olhar afiado a acompanhou desde o momento em que a porta se abriu. Ao lado dele, estava seu mordomo, pronto para auxiliá-lo assim que a sessão terminasse. — Bom dia, pai. Quer dizer, senhor Joseph. — Carly disse formalmente, ajustando os equipamentos para iniciar a última sessão no hospital. — Bom dia, doutora Carline. Que milagre você lembrar que sou seu pai. — Ele respondeu, com um tom carregado de ironia. Ela o ignorou. A relação deles se resumia àquilo: distanciamento e formalidade. Começou os exercícios com a m
Pedro dirigia pelas ruas tranquilas da cidade, sentindo-se aliviado por finalmente ter um momento para respirar. A última semana tinha sido um turbilhão de acontecimentos. Desde sua conversa com o pastor Samuel até o inesperado encontro com Serina, sem falar nas constantes dúvidas sobre seu relacionamento com Carly.Ele estacionou em frente à casa de Felipe e tocou a campainha. O amigo não demorou a atender, abrindo a porta com um sorriso acolhedor.— Finalmente apareceu, hein? Já estava achando que tinha sumido do mapa.Pedro riu, entrando.— Quase isso. Tenho andado com a cabeça cheia ultimamente.Felipe fechou a porta e o conduziu até a sala, onde o sofá de couro e os quadros nas paredes davam ao ambiente um ar aconchegante. Era um lar acolhedor, refletindo não só a fé de Felipe e Sofia, mas o amor que os unia.— Senta aí e me conta tudo. O que anda acontecendo? — Felipe sentou no sofá, desligando a tv.Pedro soltou um suspiro, passando a mão pelos cabelos.— Muita coisa. Mas a mai